Carajás, Carandirú, Colniza, Pau d’Arco, Candelária, Henry Borel

foto: MST – todos os direitos reservados

Dia 17 de abril de 2021, completaram-se 25 anos do dia em que 19 trabalhadores sem-terra foram brutalizados e assassinados pela polícia militar paraense, no crime que ficou conhecido como o Massacre de Eldorado dos Carajás. Alguns dias depois, mais dois trabalhadores que estavam entre os quase setenta violentamente feridos, morrem, registrando 21 mortes no total, todos executados a mando da máfia que detém o poder no país e pelas mãos daqueles que trazem como lema – infeliz ironia – a expressão “proteger e servir”.

A violência contra as classes oprimidas faz parte de nossa história. É quase possível dizer que está na natureza do Brasil, colonizado, subjugado aos interesses dos poderosos, essa chaga da violência e do extermínio.

A terra, que até então nunca havia sido de apenas um dono, e que era compartilhada por grupos sociais diversos, mas que a reverenciavam e respeitavam, foi pilhada por invasores, dividida em capitanias e explorada, assim como o foram os que por aqui habitavam.

Não satisfeitos, os invasores importam vidas humanas e as escravizam por mais de trezentos anos para depois abandoná-las à própria sorte, uma violência inominável que até hoje produz reflexos profundos na estrutura social do país.

Aos primeiros habitantes lhes foi negada a terra. Aos que para cá vieram sob o jugo do chicote e do açoite, o acesso à terra jamais foi sequer cogitado. Sem direito ao retorno e sem direito a uma pátria.

A terra, assim como a vida, sempre foram sugadas, aviltadas, suprimidas, por quem não respeita a primeira e não valoriza a segunda.

Hoje, um dia da triste lembrança dos vinte e cinco anos daquele 17 de abril fatídico na curva do S, região de Eldorado dos Carajás, estamos diante de um país que assiste impassível ao extermínio que ultrapassa 370 mil vidas, tratadas com desprezo, deboche e desumanidade por um facínora que comanda uma gangue de genocidas sanguessugas que exploram, desprezam, humilham e matam brasileiros e brasileiras pela mesquinhez e interesse, seja ele do capital predatório, seja pelo simples prazer da prática do sadismo.

Os 21 mártires de Eldorado dos Carajás devem ser lembrados, assim como devem ser lembrados os 111 presos do Carandirú, os 8 meninos da Candelária, as 9 lideranças indígenas de Colniza, os 10 trabalhadores sem-terra de Pau d’Arco, a criança de quatro anos recentemente trucidada por seu padrasto miliciano, os cinco meninos de Costa Barros, as dezenas de crianças mortas pelos tiros da PM nas comunidades, os jovens negros que morrem a cada minuto pelas mãos dos agentes de Estado, os mais de 500 mil mortos que logo logo veremos, fruto da ação direta e da omissão voluntária do genocida bolsonaro.

Todos eles têm nomes e sobrenomes. Todos são vítimas desse mesmo Brasil que há quinhentos anos sequestra, tortura e mata corpos, almas, sonhos, futuro.

Que jamais se esqueça.
Que nunca mais se repita.

Pensata lida por Eduardo Tornaghi no encontro com a escritora Conceição Evaristo – “A gente combinamos de não morrer”.

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