Como Ferreira Gullar: Digo Sim

foto via internet – Fronteiras do Pensamento

A cultura brasileira é resultado dessa fricção entre aqueles que as terras  de Ásia e de África andaram devastando de um povo por baixo. Primeiro os índios foram devastados…

Mas a gente toma banho. Vamos lembrar que quando os portugueses chegaram aqui, tomar banho era sinal de paganismo, era motivo pra fogueira.

Então quem é que ganhou?

Nesse momento ainda sombrio, mas com essa lufada… ufa… de ar que a gente teve, momento em que a decência se impôs… a gente às vezes duvidava da decência, da força da decência nos últimos tempos, não!  Foi ela que derrubou o Trump.

Então eu recorro a Guimarães Rosa que nos ensinava que o correr da vida embrulha tudo. A vida é assim: esquenta, esfria, aperta, daí afrouxa, sossega, depois desinquieta… o que ela quer da gente é coragem.

Pra chamar um homem com coragem acima de toda prova, Ferreira Gullar, que nos ensinou nos tempos sombrios da ditadura: um Digo sim.

Poderia dizer
que a vida é bela, e muito,
e que a revolução caminha com pés de flor
nos campos de meu país,
com pés de borracha
nas grandes cidades brasileiras
e que meu coração
é um sol de esperança entre pulmões
e nuvens

Poderia dizer que meu povo
é uma festa só na voz
de Clara Nunes
no rodar
das cabrochas no Carnaval
da Avenida.
Mas não. O poeta mente.

A vida nós a amassamos em sangue
e samba
enquanto gira inteira a noite
sobre a pátria desigual. A vida
nós a fazemos nossa
alegre e triste, cantando
em meio à fome
e dizendo sim
– em meio à violência e a solidão dizendo
sim

pelo espanto da beleza
pela flama de Thereza
pelo meu filho perdido
neste vasto continente
por Vianinha ferido
pelo nosso irmão caído
pelo amor e o que ele nega
pelo que dá e que cega
pelo que virá enfim,
não digo que a vida é bela
tampouco me nego a ela:
– digo sim

Coragem é dizer sim em tempos sombrios e temos aqui um exemplo. Vamos ouvir a voz de Celso Amorim que disse muito sim em tempos muito sombrios e construiu a melhor imagem e a maior respeitabilidade que o brasileiro já teve no mundo. Obrigado Celso!

Silvio Tendler

*Leitura feita no encontro com Celso Amorim que falou sobre As Relações do Brasil no Panorama Internacional Pós Eleições nos EUA