Democratização dos desportos em espaços públicos

por Flávio Lara

O resgate, fortalecimento e desenvolvimento das manifestações culturais populares são fundamentais para a reestruturação sócio-política de uma sociedade, seja na preservação e difusão de sua memória e identidade cultural como na estimulaçãode sua criatividade e elevação de sua auto-estima e qualidade de vida expressadas nas suas pessoas e famílias. 

Na primeira década deste século XXI, um dos grandes desafios da gestão sociopolítica das regiões urbanas em suas conurbações e irradiações nas suas redes de cidades em seus núcleos centrais e periféricos é, justamente, a combinação da diversidade cultural dos seus habitantes oriundos de diferentes regiões rurais e urbanas no seu dramático movimento migratório no último quartel do século XX. 

Em determinados núcleos urbanos recém criados a partir da implantação de mega projetos de mineração, agricultura e outras formas de industrialização a complexidade do tecido social dessas novas cidades é agravada pela invertebração dos diferentes grupos sociais “new comers” com suas respectivas origens e tradições culturais. Nestes casos, a tendência à formação de guetos e à elevação do atrito conflituoso entre si é parte do desafio político de gestão citado anteriormente. 

A explosão demográfica nas metrópoles brasileiras e de muitas outras de suas cidades de porte grande e médio não resulta das suas taxas de crescimento de natalidade, mas de grandes contingentes migratórios das mais diversas regiões do país. A diferença do tecido social das “novas cidades” citadas está na vantagem da idade desse processo migratório que já produziu uma e ou duas novas gerações de pessoas adultas nascidas nessas cidades acrescentarem um componente novo e complementar às origens e manifestações culturais parentes ascendentes. 

Em quaisquer dos casos, pode-se observar uma nucleação por origem desses migrantes como nas regiões metropolitanas do Rio de Janeiros e São Paulo, assim como em Paris – FR, Nova Yorque – EUA e Londres – GB, entre outras.

A integração dessas comunidades está intimamente ligada à qualidade urbana de sua cidade avaliada a partir do significado e da riqueza dos lugares públicos que a compõem, onde a presença e coexistência de uma multiplicidade de pessoas, ofícios, comunidades e culturas que se complementam mutuamente nesses espaços públicos como os locais da sociabilidade democrática, do convívio e do intercâmbio social. 

Agora, então fica claro a importância da revitalização dos espaços públicos de convivência e a criação de outros novos para contribuir no resgate cultural dessas sociedades e sua consolidação enquanto um tecido social novo, vivente, criativo e democrático onde a qualidade de vida de sua gente se fortaleceria. 

Assim, a partir dessa premissa, a prática das manifestações culturais e do desporto deve privilegiar aquelas modalidades mais democráticas que favoreçam a participação coletiva de suas comunidades. 

O futebol, amplamente difundido no Brasil e cada vez mais no mundo, é bom exemplo disso, porque é uma modalidade popular, de baixo custo e incentivadora do trabalho de equipe, do respeito e da confraternização entre os seus participantes. E, em sua popularidade, assume uma transversalidade sócio-política que permite a aproximação de diferentes estratos e grupos sociais, oxigenando o tecido sócio-urbano dessas comunidades através de competições esportivas e culturais como a sua melhor costura. 

Outras formas de competição esportiva que favoreçam o espírito da participação coletiva também devem ser incentivadas, assim como manifestações culturais e artísticas tais como “rodas de leitura” (para discussão de temas estimuladores da consciência e direitos da inclusão social), “contadores de estórias”, grupos musicais teatrais, “grafitagem”, cinematografia, videografia, entre outras. 

Finalmente, a maior vantagem do investimento sócio-político e econômico desse polinômio de democratização das manifestações culturais e desportos nos espaços públicos de convivência revitalizados é o resgate da alegria e boa convivência das comunidades com mais saúde mental e física para uma sociedade mais fraterna, cooperativa e criadora e inovadora de seu tecido social. 

Texto por Flavio W. Lara Instituto ComAfrica Rio de Janeiro, Set. 2006, com o título original : A democratização das manifestações culturais e desportos nos espaços públicos de convivência revitalizados

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