Precisamos falar de Monteiro Lobato

Monteiro Lobato provocou maior debate na preparação, entre os integrantes dos Estados Gerais da Cultura. Esse é um poder genuíno de um agitador cultural, considerando que os EGC dedica-se a levantar a importância da cultura brasileira.

Monteiro Lobato fez isso a vida inteira e com muito sucesso!

O escritor veio à tona por conta das discussões do preconceito de cor, do racismo brasileiro. Mais uma vez, ele presta um serviço ao Brasil. Ao escrever os seus livros como homem de sua época que era, refletiu um país profundamente racista e discriminatório, no qual violências enormes eram naturalizadas. E que é nossa origem!

Esse debate é importante, necessário, atual. Mas me preocupa que de repente, a gente fulanize o debate, discutindo se Lobato era ou não racista. Acho isso irrelevante.

Lobato, com toda sua obra, sua vida, nos revelou o nosso retrato. o retrato de um povo racista ou com um viés racista naturalizado que somos.

À parte isso, camarada, este homem renovou a indústria editorial brasileira. Lobato, talvez mais que tudo, tenha sido um empresário, sendo que empresou a vida inteira: de fábrica de doce a companhia de petróleo. Ele fez de tudo, tragava tudo. Só a literatura que vencia. O homem fez e correu atrás.

Sou suspeito para falar. Sou um menino de classe média, dos anos 50, do século passado, que foi para um sítio, onde a sua mãe lhe contou histórias. Ela lia Monteiro Lobato e reproduziu para mim a Dona Benta e este costume de reunir as crianças para ouvir histórias.

Isso me aproximou afetivamente de um universo brasileiro, do qual Monteiro Lobato me revelou: o Saci, a Cuca, a realidade de uma outra sabedoria subjacente daquela lá. Viva Monteiro Lobato!

Adoro que estejamos discutindo Monteiro Lobato, mas não vamos fulanizar. O problema não é se ele era racista ou não. Não pode cancelar suas obras. Se for cancelar Lobato vai ter que cancelar Camões!

“As terras viciosas andaram devastando e a fé e o império foram espalhando…(…)”

Não é isso que a gente continuando fazendo? Espalhando a fé e o império e devastando as terras viciosas das nossas periferias, por exemplo. Será que a gente não é herdeiro disso e apagando isso não nos vai impedir enxergar as nossas vergonhas?

Então não vamos apontar as dele, não. Vamos enxergar as nossas e lembrar que ele, principalmente, foi um grande contador de histórias para crianças e não há nada mais construtor de cultura do que isto!

Pensata comentada e de autoria de Eduardo Tornaghi, colocada em discussão no 23o. Encontro: Precisamos falar de Lobato. Assista abaixo o debate na íntegra.

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