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Hoje não é um dia qualquer. Nem deveria se chamar domingo. Tem outro nome: desejo de mudança.
E essa esperança vem de São Paulo, Recife, Porto Alegre, Belém, Vitória e de mais algumas grandes cidades do país.
É a oportunidade de vermos o Brasil resgatar o compromisso com seus valores mais nobres. Chega de fundamentalismos. Estamos cansados de tanto descaso com nossa cultura, nossa saúde, nossa economia, nosso orgulho e nosso povo.
Pensar o Brasil é colocar nossa capacidade transformadora à serviço do país e de sua libertação desse sistema de exploração que nos faz dependentes cíclicos do centro capitalista.
O Brasil não precisa disputar espaço no centro do capitalismo mundial. Nosso papel como Estado e nação é maior. Subvertendo a singeleza aritimética, o que queremos é inverter a ordem dos fatores e colocar, no centro, a periferia.
Entenda-se por periferia, tudo o que é genuinamente nacional, porque integra como nação o nosso território, o nosso povo a nossa cultura!
O Brasil será livre, independente e autônomo quando virmos nossas comunidades indígenas, quilombolas, imigrantes, todas as etnias e gêneros com acesso às mesmas oportunidades, com trabalho, saúde, escola, moradia, saneamento, transporte, dignos e de qualidade. O Brasil será feliz quando sua força criativa estiver a serviço do bem viver de todo o povo, indistintamente.
Um Brasil que assume e tem orgulho de suas origens, de seu povo mestiço, é um Brasil do mundo.
Que o Brasil da esperança tenha se reecontrado consigo mesmo a partir de hoje, do exercício básico da democracia, pelas mãos de brasileiras e brasileiros, no voto.
Já nos disse uma vez o jornalista Walter Veltroni “O passado pode ser um bom refúgio. Mas o futuro é o único lugar que nos abrigará.”
Em nome de Celso Furtado, nosso homenageado de hoje, um brasileiro imprescindível, que nos forneceu base crítica e científica para corroborar essa esperança, encerramos com o também centenário, também nordestino e, acima de tudo, um brasileiro, cidadão do mundo, João Cabral de Melo Neto.
TECENDO A MANHÃ
Um galo sozinho não tece uma manhã:
ele precisará sempre de outros galos.
De um que apanhe esse grito que ele
e o lance a outro; de um outro galo
que apanhe o grito de um galo antes
e o lance a outro; e de outros galos
que com muitos outros galos se cruzem
os fios de sol de seus gritos de galo,
para que a manhã, desde uma teia tênue,
se vá tecendo, entre todos os galos.
E se encorpando em tela, entre todos,
se erguendo tenda, onde entrem todos,
se entretendendo para todos, no toldo
(a manhã) que plana livre de armação.
A manhã, toldo de um tecido tão aéreo
que, tecido, se eleva por si: luz balão
(João Cabral de Melo Neto)
- Pensata sobre o encontro que fez uma Homenagem ao Centenário de Celso Furtado, com Rosa Freire d’Aguiar, Inês Patrício e Saturnino Braga