Carnaval é multicêntrico!

Embaixadores da Alegria Foto via Silvio Tendler

A interrupção abrupta de dois anos sobre o Carnaval, provocado pela pandemia covid19, tem sido pedagógico para a compreensão profunda desse fenômeno tão importante no significado da vida da população brasileira. Ele mobiliza crianças, jovens e adultos na produção dessa arte cênica que revira as vísceras do cotidiano, como processo político mais participativo, na expressão da identidade mais límpida do que significa o Brasil.Pode-se dizer que no Carnaval, politica, religião, não só se discute mas é inspiração profunda, transversalizada na potência da sexualidade, no milagre das máscaras, que INVERTE a burocracia do dia a dia

Flavio Lara, dos EGC, e a Velha Guarda das favelas Cantagalo Pavão e Pavãozinho. Segundo ele, foi acolhido e com eles foi desfilar pelo Alegria da Zona Sul lá em Madureira as 6:00 do domingo de carnaval. (imagem cedida por Flávio)

Pode-se dizer que no Carnaval, politica, religião, não só se discute mas é inspiração profunda, transversalizada na potência da sexualidade, no milagre das máscaras, que INVERTE a burocracia do dia a dia.

É no Carnaval que a história originária do Brasil e sua sequência vêm à tona, inclusive, de forma mais compreensível e universal do que nas instituições escolares. Também pudera, sem grade curricular e carga horária, que controlam as disciplinas, a música, a dança e liberdade “libidinosa”, literalmente, ganham corpo.

Silvio Tendler no Embaixadores da Alegria

A visão crítica do cotidiano obtuso e da estrutura que o condiciona, é feita com arte e de forma explícita. Todavia, a “Inversão” de classe que se verifica é de impressionar os clássicos: o asfalto se representa nas ruas, com blocos da diversidade, enquanto a grande arte cênica da Avenida Sapucaí e outras pelo país, é protagonizada pelas favelas e periferias (apelidada de “comunidades”), organizada em Escolas de Samba, que “negociam” as condições de mercado, inclusive, as transmissões visuais, com TV, marketing, design…, enfrentando as contradições do Samba Enredo e e suas Representações.

Bloco do Cccp.Comuna que os Pariu. A turma do EGC caiu na folia, Silvio Tendler, Rubens Ragone, Vladimir Santafé, Fabiana, Flávio, Tornaghi, e muito gente alegre.

Entre os tratamentos acadêmicos, destaque para o clássico do antropólogo Roberto da Matta, com Carnavais, Malandros e Heróis. O significado da casa é da rua se preenche de rituais com máscaras, estolas ou vestes brancas, deuses, demônios e “ovnis”, habitam, à vontade, a terra Brasil. Ao tratarmos do maior acontecimento nacional, banhado na diversidade e na diferença, estamos falando de um plus econômico, com dimensões quase imprevisíveis, nas relações de mercado na verba pública e na economia familiar. Os números totais são definitivos nas dimensões brasileiras da economia global.

Alegoria sobre Lampião. Imperatriz Leopoldinense, a grande vencedora do Carnaval do Rio de janeiro . foto via internet todos BdF.

A arte exibida na Sapucaí é em outros Sambódromos pelo país e a expressão popular do Pelourinho, Ondina….o Galo da Madrugada, Ponto Zero e osBonecid DF, Olinda, é produzida durante o ano todo, nas Escolas de Samba é com os diferentes trabalhadores da Cultura em todo país. A rede hoteleira e as redes de comunicação e propaganda dão conta de outra grande arrecadação e emprego de força de trabalho. Os Blocos de rua têm gastos sazonais, mas de grande porte, com milhões de participantes.
Esse acontecimento pleno e abrangente inunda o Brasil de ponta a ponta, com destaques, no entanto, para Sudeste e Nordeste, este, a bola da vez no reconhecimento de sua potência política e cultural!

E LAMPIÃO continua trazendo o Nordeste para a multicentralidade do Brasil, dessa vez, através da IMPERATRIZ!

Texto de AdairRocha
Professor titular da UERJ e
Diretor doDepartamento Cultural, da Sub Reitoria de Extensão e Cultura.