Teatro Remoto e Resistência Artística

Os Estados Gerais da Cultura reúnem um grupo exemplar na produção de arte como militância em política e questões sociais, para falar sobre Teatro Remoto e Resistência Artística. Será um encontro memorável com a filha de Luiz Carlos e Olga Prestes, que carrega na sua trajetória parte relevante da história do comunismo no Brasil e junto com ela três nomes do mundo artístico, Fernanda, Vera e Fábio, que colocam em primeiro plano a poética da vida refinada pela arte.

Anita Leocadia Prestes nasceu em 27 de novembro de 1936 na prisão de mulheres de Barnimstrasse, em Berlim, na Alemanha nazista, filha dos revolucionários comunistas Luiz Carlos Prestes, brasileiro, e Olga Benario Prestes, alemã. Autora de vasta obra sobre a atuação política de Luiz Carlos Prestes e a história do comunismo no Brasil, é doutora em história social pela Universidade Federal Fluminense, professora do Programa de Pós-Graduação em História Comparada da UFRJ e presidente do Instituto Luiz Carlos Prestes. Publicou, pela Ed. Boitempo Luiz Carlos Prestes: um comunista brasileiro (2015), Olga Benario Prestes: uma comunista nos arquivos da Gestapo (2017) e Viver é tomar partido: memórias (2019).

Vera Novello é atriz, autora, produtora e professora. Há 26 anos à frente da Lúdico Produções, realizou mais de 130 projetos de teatro, ballet, ópera, patrimônio. Em 2019 produziu e atuou em “Vianinha conta o último combate do homem comum” – dir. Aderbal Freire Filho no Sesc 24 de maio (SP). Escreveu em parceria com Ana Velloso o premiado musical infantil “O Choro de Pixinguinha”, que circulou no SESC Rio também em 2019. Durante a pandemia produziu espetáculos online como “Segredo de Justiça” inspirada no livro da Juíza Andréa Pachá; “The And”, de Isabel Cavalcanti de Cláudio Gabriel, a partir da obra de Beckett; “Mãe-De-Ninguém” projeto do grupo Yonis Magníficas; entre outras. Em 2021, atuou e produziu “Atlântida – uma radionovela”, em cartaz no Canal Sesc /Youtube.

Fábio Ferreria é diretor teatral, dramaturgo, tradutor e professor universitário. Escreveu crítica teatral em publicações como o Jornal do Brasil/Caderno B, Revista Bravo!, Revista Gesto e Revista Questão de Crítica. Doutor em Literatura, Cultura e Contemporaneidade pela PUC Rio/ Universidade de Copenhagen. Professor da PUC Rio/Artes Cênicas e Letras, atuando também no Curso de Especialização em Arte e Filosofia, do Departamento de Filosofia, da PUC Rio. É diretor artístico da Cia Bufomecânica junto com Claudio Baltar. Criou os Festivais Rio
Cena Contemporânea e ArtCena: Processos de Criação. É curador internacional de artes da cena.
Pesquisador do Grupo de Estudos sobre Samuel Beckett, da USP/CNPq.

Fernanda Azevedo é atriz, professora e pesquisadora teatral. Mestre em teatro pela Unesp. Integrante Movimento de Teatro de Grupo de São Paulo e do Coletivo Comum.

O encontro contará com a dupla musical da Associação Zona Franca, Alejandra e Bruno Menagatti, uma Pensata na voz de Eduardo Tornaghi, abertura pelo cineasta Silvio Tendler, e mediadores.

Paulo Freire, tantos anos depois

O encontro com Carlos Rodrigues Brandão é para conjugar o verbo esperançar como defendia seu velho amigo Paulo Freire, companheiro de tantas lutas e muitos projetos de educação popular para construir um Brasil melhor. Esperançar no sentido de agir, de ir atrás, se juntar, não desistir… não somente ter esperança da espera, mas da ação, do movimento. Esse lema é palavra de ordem para o professor Brandão até hoje, assim como foi no passado acompanhando Paulo Freire na sua trajetória profissional.

“Convivi com Paulo Freire apenas após seu retorno do exílio. Convivi com suas ideias desde muito antes, quando trabalhava como educador popular no Movimento de Educação de Base e era um “militante engajado” na Juventude Universitária Católica. Entre voos (alguns longos), viagens por terra, salas de aulas, locais amplos de encontros, congressos e semelhantes, ou mesmo ao redor de uma mesa de bar, nós compartimos horas e horas da vida. O que trago aqui é a memória de fatos e o depoimento de feitos deste homem que de tanto ser lembrado como um militante da educação, um professor e um escritor de livros que ajudaram o mundo a ser melhor e mais consciente de si-mesmo, acabou sendo quase esquecido de ser também uma pessoa que numa mesa de bar, ou em uma viagem de avião, gostava de conversar muito sobre a vida… e muito pouco sobre a educação”, trecho do texto A Pessoa de Paulo – memórias – depoimentos, de Brandão.

Carlos Rodrigues Brandão é licenciado em psicologia pela PUC/RJ, é mestre em Antropologia Social e possui doutorado em Ciências Sociais, com pós-doutorado em História Contemporânea pela Faculdade de Geografia e Historia da Universidad de Santiago, em Santiago de Compostela, Espanha. Envolveu-se com cultura e educação popular no Movimento de Educação de Base (MEB), em janeiro de 1964. Desde então participa como assessor e como autor de livros e escritos sobre os temas. Na Universidade Estadual de Campinas, está vinculado ao GEPEJA, Grupo de Pesquisa de Educação de Jovens e Adultos Um de seus mais de 50 livros publicados é intitulado O que é Método Paulo Freire.

“Mas na parede de minha casa os únicos diplomas que tenho pendurados são: o de escoteiro, o de guia excursionista, o de guia escalador, o de haver escalado do Dedo de Deus, e o de haver percorrido o Caminho de Santiago” , afirma ele, no final de sua brilhante biografia no site A Partilha da Vida e no qual coloca à disposição do público uma série de publicações gratuitamente.

Fogo no Museu

Siron Franco é um dos artistas mais importantes no cenário das artes plásticas do Brasil e também reconhecido internacionalmente. É pintor, escultor, ilustrador, desenhista, gravador e diretor de arte. Marcou em sua trajetória artística o testemunho de um tempo, sobretudo social e ambiental. Em 1974 foi considerado o melhor pintor nacional em sua participação na 12o. Bienal de São Paulo. No ano seguinte, com o prêmio viagem ao exterior, reside entre capitais européias e o Brasil.

Entre as obras que se destacam, a série Rua 57, sobre o acidente com Césio-137 em Goiânia na cidade onde nasceu, chama atenção para o maior acidente radioativo do país. Nesse trabalho ele reafirma o potencial da arte em registrar tragédias humanas e sociais. A série completa foi exposta na 33a. Bienal de São Paulo- 2018. Além das telas, Siron coloca em debate a importância dos médicos de Cuba em ações de amplo caráter social. “O paralelo entre Cuba e a obra de Siron é para refrescar a memória, para dar um ‘soco na boca do estômago’ de quem questiona a competência do sistema de saúde cubano”.  mais sobre o assunto em PanHoramarte.

O testemunho de Siron Franco na Rua 57 , nos remete a Cuba porque foram os médicos cubanos que trataram das pessoas atingidas pela radiação, considerando que era, na época, o único país no mundo a ter experiência em tratamentos adequados em casos de radiação. Quando ocorreu o vazamento de Chernobyl, na Russia, Cuba montou uma clínica próximo a Havana para atender mais de 3000 vítimas do acidente russo

O artista, hoje com 74 anos, acredita que a arte tem a finalidade de trazer dias melhores para o homem. Numa entrevista ao Itaú cultural ele afirmou : “eu tento, ao meu modo, testemunhar a minha época, o que faço é uma crônica subjetiva da época em que vivo”. Nesse aspecto vale lembrar que foi com o tema relacionado à tragédia do Césio-137 que enfrentou o maior desafio, o de pincelar algo que era invisível. “Quando lida com água, com o fogo, você vê o problema. Quando lida com o material radioativo não”. Fonte: Nexo.

Entre 1985 e 1987, faz direção de arte para documentários de televisão como Xingu, concebido por Washington Novaes, premiado com medalha de ouro no Festival Internacional de Televisão de Seul. Desde 1986, realiza monumentos públicos, baseados na realidade social do país. Entre 1992 e 1997, ilustra vários livros, como O Desafio do Branco, de Antonio Carlos OsórioO Forasteiro, de Walmir Ayala (1933-1991), e Contos que Valem uma Fábula: História de Animais Animados, de Katia Canton (1962), entre outros.

Culto aos Orixás: patrimônio imaterial brasileiro.

Os Estados Gerais da Cultura colocam em pauta a importância cultural e histórica das religiões de matriz africana. Culto aos Orixás é tema para uma boa prosa entre cinco convidados, sobretudo pelo viés do titulo: patrimônio imaterial do povo brasileiro, especialmente pelo destaque do sincretismo.

Luzia Cruz Pereira – Conhecida na Umbanda como Luzia de Iemanjá e no Candomblé com Luzia Omindewá ou só Omindewá. Aos 17 anos começou na Umbanda (hoje tem 63 anos) e em 1981 fez iniciação no Candomblé e daí por diante permaneceu por mais de 30 anos no Ilé de iyá Omindarewá até a morte dela. Em 1994 fundou o Centro de Umbanda, com conhecimento de Iyá. Em 18 de junho de 1994 nasce o Centro Espírita e Cultural Recanto de Oxalá, “aonde cultuo com todo Amor a minha Umbanda querida. Hoje tenho 40 anos de iniciada no Candomblé e 47 de Umbanda”.

Luiz Rufino – Professor da UERJ-FEBF (Faculdade de Educação da Baixada Fluminense) vinculado ao Departamento de Ciências e Fundamentos da Educação. Autor de 6 livros e dezenas de artigos sobre educação, crítica ao colonialismo, relações Étnico-raciais, culturas e filosofias populares brasileiras. Para saber mais sobre Luiz Rufino clique aqui

Professor Pós-Doutor Babalawô Ivanir dos Santos- É autor do livro “Marchar Não é Caminhar:  interfaces políticas e sociais das religiões de matriz africana no Rio de Janeiro”, atualmente é Pós-Douor em História Comparada pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (PPGHC/UFRJ).  Pesquisador e coordenador de área de pesquisa no Laboratório de História das Experiências Religiosas da Universidade Federal do Rio de Janeiro (LHER/UFRJ). Membro da Associação Brasileira de Pesquisadores Negros (ABPN). Conselheiro Estratégia do Centro de Articulação de Populações Marginalizadas (CEAP).

Maria Cristina Mendes – Mãe Pequena do Terreiro Pai Maneco, do qual participa como médium desde 1992; além da participação nos trabalhos mediúnicos, atua na organização de publicações e na gravação de pontos cantados. Professora no Programa de Pós-Graduação CINEAV – FAP/ UNESPAR e do curso de Licenciatura em Artes Visuais – DEARTES/ UEPG. Tem Doutorado e Mestrado em Comunicação e Linguagens na UTP/ PR (2014 e 2010), Especialização em História da Arte do século XX (2000) e Graduação em Pintura na EMBAP/ PR (1984). É membra da SOCINE e da ANPAP. Participa dos seguintes grupos de pesquisa: Eikos: imagem e experiência estética; Educação, Trabalho e Sociedade; INTERART – Interação entre arte, ciência e educação. Desenvolve pesquisa em Adaptação cinematográfica, Poéticas Artísticas e Arte-Educação.

Lucilia Guimarães – É foto jornalista desde a década de 1970, atuando hoje na Comunicação Social da prefeitura de Curitiba. Em 1988 participou com seu pai, Fernando Guimarães, da criação do Terreiro Pai Maneco; foi cruzada Mãe de Santo em 1999 e desde 2012 é a dirigente espiritual do Terreiro. Participa de vários movimentos contra a intolerância religiosa, promove eventos culturais e criou o movimento “Bandeira da Amizade”, uma forma de aproximar e estabelecer laços entre as casas de Umbanda de Curtitba. Pesquisou a história da religião in loco, participando, na década de 1990, de trabalhos com D. Zulmeia e D. Zélia, filhas do criador da Umbanda, Zélio de Morais, promovendo uma história que é hoje repostada em vários sites de Terreiros. Por diversas vezes levou médiuns do Terreiro Pai Maneco para conhecer a Festa da Boa Morte, na cidade de Cachoeira, na Bahia, maior exemplo de sincretismo religioso do Brasil. É uma batalhadora da cultura dentro da religião, por acreditar que esta é a grande saída para levar o conhecimento sobre a Umbanda.

A Favela Resiste: Solidariedade e Luta nas Comunidades

A edição especial dos Estados Gerais da Cultura, coloca em pauta o urgente debate sobre a questão da extrema violência de Estado aplicada às comunidades das favelas e periferias, cujo exemplo foi a operação policial mais letal da história do Rio de Janeiro, que deixou 28 mortos, na quinta-feira do dia 6 de maio, na favela do Jacarezinho. O evento será protagonizado por lideranças ativas das favelas carioca.

Rumba Gabriel (Jacarezinho) é fundador do Portal Favelas e do Movimento Popular de Favelas, Compositor da Mangueira, jornalista, teólogo e formando em Direito. Jaime Muniz, Ativista Social e um dos Coordenadores do Movimento FAVELAÇÃO, mais Thiago Baia (Jacarezinho) é mestre Capoeira ativista de Favela Movimento favelação, Giselle Florentino (Maré) e Jaime Muniz (movimento Favelação).

Nos están matando. Que o mundo saiba!

Colombia pede socorro: “Nos están matando. Que o mundo saiba!

O apelo é feito por artistas, intelectuais e cidadãos com o objetivo de mostrar ao mundo e expor aos órgãos internacionais o que está acontecendo na Colômbia. Os Estados Gerais da Cultura solidarizam-se com os ativistas em defesa dos direitos humanos e realizam uma edição especial no sábado, às 17h, para dar visibilidade e denunciar as atrocidades cometidas por governos neoliberais e neofascistas.

A edição extra do encontro de sábado abriu uma pauta para debates sobre a situação política de governos autoritários na América Latina. É urgente que se faça algo para salvar nossos irmãos colombianos, chilenos e salvadorenhos dos ataques praticados por desmandos da extrema-direita, principalmente nos países do terceiro mundo. O debate será realizado em caráter excepcional um dia antes do tradicional encontro, desta vez o 38o. sobre Culturas Populares: Um Brasil Profundo, todos os domingos às 17h.

São convidados dos Estados Gerais da Cultura Francisco Prandi, sociólogo e mestre em Sociologia pela USP e músico. Marisol Molina, ativista e Observadora de DDHH, encarregada orgânica do partido comunista de Los Ríos y Educadora de Párvulos de Profesión e integrante da Rede Continental de Solidariedade. Judith Cartagena Ospina, poetisa e amante da liberdade. É também jornalista diretora do La Chambrana, programa que mantém um canal no Youtube, nas redes sociais, nos quais realiza o trabalho de comunicadora para o Eje Cafetero, Valle del Cauca e outras regiões da Colômbia. Sebastian Calderon, Professor Universidad Pedagogica Nacional, em Bogota. Mais a cantora e ativista dos direitos humanos, colombiana Salomé Valdés e o brasileiro Paulo Cannabrava, jornalista e agitador cultural.


Culturas populares: um Brasil profundo

Os Estados Gerais da Cultura convidam para uma conversa com agentes culturais, artistas e pesquisadores do diverso e complexo campo das culturas populares no Brasil. O encontro acontecerá no domingo, dia 9 de maio, às 17h pelo canal do Youtube e FB.

Rejane Nóbrega (PB) apresentará um breve mapa das expressões e saberes tradicionais brasileiros e um histórico das políticas públicas para o campo das culturas populares no século XXI. Joana Corrêa (MG) abordará as singularidades de linguagens e cosmologias que o campo das culturas populares abarca. Rosildo Rosário (BA) trará perspectivas de afirmações Identitárias a partir das expressões populares. E Isaac Loureiro (PA) falará sobre a importância das políticas públicas para as culturas populares e o patrimônio imaterial, e o cenário atual de destruição dessas políticas pelo governo Bolsonaro.

Durante o encontro também serão exibidos alguns vídeos que homenageiam mestras, mestres, detentores e grupos relacionados aos saberes e expressões da cultura popular.

Rejane, Joana, Rosildo e Isaac se conheceram como militantes que apoiaram a construção de políticas públicas para as culturas populares em âmbito federal durante a gestão do Ministério da Cultura de Gilberto Gil e Juca Ferreira.

Isaac Loureiro

Pesquisador e ativista das culturas populares tradicionais amazônicas, educador popular, produtor cultural, consultor técnico na área de gestão cultural, membro da Irmandade do Carimbó de S. Benedito de Santarém Novo/PA, produtor do grupo de Carimbó “Os Quentes da Madrugada”, integrante do Comitê Gestor da Salvaguarda do Carimbó, coordenador da Campanha Carimbó Patrimônio Cultural Brasileiro – movimento protagonizado pelos grupos e comunidades carimbozeiras do Pará que conquistou o registro do Carimbó como Patrimônio Imaterial Nacional. Atuou como coordenador regional na Rede Ação Griô Nacional e na Rede Nacional das Culturas Populares.

Joana Corrêa

Gestora cultural e doutora em antropologia. Foi uma das idealizadoras do Museu Vivo do Fandango, reconhecido pela Unesco como boa prática na salvaguarda de bens imateriais. Atualmente integra a equipe de gestão do Instituto Milho Verde (Serro) e atua como pesquisadora do processo de registro do Choro como patrimônio cultural brasileiro (Acamufec e CNFCP/IPHAN) É pesquisadora do núcleo de estudos Ritual e Sociabilidades Urbanas (PPGSA/UFRJ) e participa dos grupos de pesquisa acadêmica Observatório de Festas na Pandemia, Observatório de Patrimônio Cultural no Sudeste, MinasMundo e Mukuá – Laboratório sobre Vissungo.

Rejane Nóbrega

Gestora, militante e ativista cultural, pesquisadora das culturas tradicionais e populares brasileiras; arte educadora. Licenciada em Artes Visuais (FAP/PR); foi assessora de cultura da Comissão de Educação Cultura da Câmara dos Deputados; Assessora Especial da Secretaria da Cidadania e Diversidade Cultural do MinC; Assessora da Secretaria de Cultura de SP; Diretora de Cultura de Campo Largo, PR; Assessora Especial de Cultura de Conde, PB.

Rosildo Rosário

Mestre do Grupo Cultural Chegança dos Marujos Fragata Brasileira, Professor, Pedagogo, Mestre em História da África da Diáspora e dos Povos Indígenas (UFRB). Atua como professor nas redes municipais de ensino das cidades de Santo Amaro e Saubara no Recôncavo da Bahia. Atuou como mediador cultural na implementação do Plano de Salvaguarda do Samba de Roda, sendo o primeiro. Coordenador Geral da Associação dos Sambadores e Sambadeiras do Estado da Bahia. Coordenou o Processo de Patrimonialização dos Grupos de Cheganças, Marujadas e Lutas entre Mouros e Cristãos da Bahia. Atualmente é membro do Conselho Estadual de Cultura do Estado da Bahia.

O direito ao conhecimento e a anticultura no Ministério da Educação

O encontro coloca em pauta o assunto privatização da educação pública que hoje preocupa educadores brasileiros pelo rápido, crescente e silencioso movimento feito por grandes corporações de ensino privado. Essas empresas, que mercantilizam a educação, desenvolvem “pacotes educacionais” buscando padronizar o ensino em nosso país, que é lindo e singular pela diversidade. Outro tema em pauta e que preocupa educadores, é o movimento de compra das editoras de livros didáticos por essas corporações privadas de educação e com a declaração do Bolsonaro afirmando que em 2021 os livros didáticos seriam “deles”. A luta é por um Plano Nacional do Livro Didático (PNLD) Democrático!

O que é o PNLD

O PNLD é um programa que formata por segmentos o material didático, pedagógico e literário para as escolas públicas da Educação Básica. Constitui material imprescindível para os/as docentes em suas atividades de ensino e oferecem subsídios fundamentais aos/às estudantes.

O PNLD 2021, apresentado pelo ministério da educação do governo Bolsonaro, representa uma política educacional de mudança estrutural em um contexto de projeto político de desmonte da educação pública, democrática e emancipatória. Orienta o preparo de materiais didáticos e do currículo escolar alinhados à BNCC e à Reforma do Ensino Médio, frutos de uma contra reforma educacional voltada somente para o mercado e de natureza privatista.

O Plano Nacional do Livro Didático proposto dilui o conhecimento escolar pelas chamadas “habilidades e competências” de mercado, reorganizando a lógica do currículo por áreas que têm por foco aligeirar o ensino e, apesar de se propor integrador, destitui qualquer concepção pedagógica interdisciplinar autêntica.

Em algumas instituições de ensino da rede federal já estão chegando os novos livros da área de humanas do Bolsonaro. Um livro de 400 páginas com todas as disciplinas de humanas condensadas e com várias manipulações de conteúdo para se alinhar ao projeto de dominação desse governo autoritário. Esse livro de 400 páginas é para os três anos do ensino médio, 133 páginas por ano para todas as disciplina de humanas.

Como essa investida direta do capital na educação pública afeta o desenvolvimento cultural independente e emergente de um povo e o direito ao conhecimento?

Prof. Fábio Bezerra – Professor de Filosofia da Tecnologia no CEFET,  Mestre em Educação Profissional e tecnológica e membro do Conselho Municipal de Educação de Belo Horizonte e da Coordenação da Rede Tecnológica de Extensão Popular ( RETEP) e do Conselho Editorial da revista Novos Temas do Instituto Caio Prado Júnior.

Profa. Lucília Machado – Pós-doutora em Sociologia do Trabalho, doutora e mestre em Educação, graduada em Ciências Sociais, é professora titular aposentada da UFMG. Atua principalmente nos seguintes temas: pedagogia do trabalho; trabalho-educação; formação humana; trabalho como princípio educativo; escola unitária; politecnia; educação profissional e tecnológica; formação de professores da educação profissional; políticas públicas.

Na Cidade Multicêntrica, favela é cidade

Os projetos urbanos brasileiros reproduzem ainda a lógica da Casa Grande (asfalto) e Senzala (favela) com suas variações em cada território. O termo ‘ cidade multicêntrica’ cunhado pelo professor de Comunicação da PUC-Rio, e da UERJ, Adair Rocha, dá significado às favelas como verdadeiras cidades dentro de uma cidade, ambas dependentes uma da outra. Uma interessante tese sobre o racismo urbano-territorial, suas consequências e interrelações sociais. O 36o. encontro dos Estados Gerais da Cultura promove um diálogo direto entre Adair Rocha e os sujeitos da multicentralidade representados por: Itamar Silva e Raul Santiago.

“O contexto da cidade, em tempo pandêmico, escancarou-se. A política pública de saúde e dos quesitos básicos, em geral, são propriedade do asfalto, com condições de isolamento doméstico social, como vacina antes da vacina, com seus cuidados sanitários, garantidos pelo poder econômico e pela infraestrutura pública. Favelas e periferias “se viram” na solidariedade e em parcerias institucionais e suas formas de organização locais. Assim, quando pronunciamos a palavra “cidade”, explicitamos sua inspiração e significado, que é cidadania. Portanto, há relação direta entre direito e acesso”, pontua o professor. O termo Cidade Multicêntrica é verbete do Dicionário de Favelas Marielle Franco. Se você quer ler mais sobre o assunto acesse a matéria Por que favela é cidade.

Adair Rocha integra o coletivo Estados Gerais da Cultura. Nascido em Pouso Alegre, em 1950, vive há bastante tempo no Rio onde firmou forte interação da atividade acadêmica com o processo sociopolítico e cultural. É pós-doutor em comunicação pela UFRJ; professor adjunto de na PUC-Rio e na UERJ, ambas no departamento de Comunicação Social. É fundador do Núcleo de Comunicação Comunitária da PUC-Rio; autor de vários artigos publicados em revistas e em jornais periódicos e capítulos de livros nas áreas de comunicação, cultura e movimentos sociais. Gestor público de Cultura do Estado do Rio de Janeiro e no Ministério da Cultura do governo Lula.

Raul Santiago é um dos 50 profissionais mais criativos do Brasil pela revista WIRED (2020). Gestor de projetos sociais do terceiro setor, produtor cultural e audiovisual, consultor de marketing, ativista pelos direitos humanos, mudanças climáticas, negritudes, vida na favela e empresário – CEO da Agencia Brecha – Hub de Favela.

Itamar Silva é comunicador e representa o Grupo ECO, Santa Maria, criado em 1976. Foi coordenador do Instituto Brasileiro de Análises Sociais e Econômicas (Ibase). Itamar Silva nasceu e mora na favela Santa Marta, na zona sul do Rio de Janeiro. Desde os anos 1970 participa dos movimentos sociais e chegou a ser presidente e diretor da Associação de Moradores ao longo da década de 80. Participou de importantes documentários realizados pelo cineasta Eduardo Coutinho e outros, bem como de seminários nacionais e internacionais.

Conceição Evaristo

“A gente combinamos de não morrer”. Conceição Evaristo

O tema do 35o. encontro dos Estados Gerais da Cultura é título de um conto da escritora, poetisa, ensaísta, Conceição Evaristo, grande romancista e ativista na luta contra o racismo no Brasil. Sobretudo nesse conto, parte dos 15 incluídos no livro Olhos D’Água, a autora dá voz às mulheres negras e narra o drama e o desamparo de pretos e pretas que vivem na linha de morte numa sociedade desigual. Com a toda a licença poética que lhe confere, Conceição Evaristo quebra o ‘combinado’ daqueles que se negam a ver a fome, a miséria, a violência e o genocídio do povo negro.

Nascida em uma família pobre e é a segunda de nove irmãos, sendo a primeira de sua casa a conseguir um diploma universitário. Ajudava sua mãe e sua tia com lavagem de roupas e as entregas, enquanto estudava. É mestra em Literatura Brasileira pela PUC- Rio, é doutora em Literatura Comparada pela Universidade Federal Fluminense. Suas obras, em especial o romance, Ponciá Vicêncio foi foco de pesquisa acadêmica pela primeira vez, no Brasil, em 2007. A obra foi traduzida para o inglês e publicada nos Estados Unidos em 2007.

“Aos 71 anos, ela acredita que escrever e contar histórias é a melhor maneira de enfrentar o preconceito. Agora, trabalha em dois romances e um livro de contos e se sente perseguida por duas ideias que ainda vai executar. Uma delas é escrever um romance que mergulhe em histórias da escravidão. Não um romance histórico, mas uma ficção com pitadas de história, coisa que sempre esteve presente na obra de Conceição. Seus dois primeiros romances, Ponciá Vicêncio e Becos da memória, foram inspirados em histórias contadas pelos velhos da família. Ali, narrativas herdadas do período da escravidão eram comuns e faziam parte de experiências muito recentes. Outra ideia que a persegue é a vontade de escrever ensaios sobre livros de autoras negras.Isso é um compromisso que quero cumprir”. Fonte: Correio Braziliense