O encontro coloca em pauta o assunto privatização da educação pública que hoje preocupa educadores brasileiros pelo rápido, crescente e silencioso movimento feito por grandes corporações de ensino privado. Essas empresas, que mercantilizam a educação, desenvolvem “pacotes educacionais” buscando padronizar o ensino em nosso país, que é lindo e singular pela diversidade. Outro tema em pauta e que preocupa educadores, é o movimento de compra das editoras de livros didáticos por essas corporações privadas de educação e com a declaração do Bolsonaro afirmando que em 2021 os livros didáticos seriam “deles”. A luta é por um Plano Nacional do Livro Didático (PNLD) Democrático!
O que é o PNLD
O PNLD é um programa que formata por segmentos o material didático, pedagógico e literário para as escolas públicas da Educação Básica. Constitui material imprescindível para os/as docentes em suas atividades de ensino e oferecem subsídios fundamentais aos/às estudantes.
O PNLD 2021, apresentado pelo ministério da educação do governo Bolsonaro, representa uma política educacional de mudança estrutural em um contexto de projeto político de desmonte da educação pública, democrática e emancipatória. Orienta o preparo de materiais didáticos e do currículo escolar alinhados à BNCC e à Reforma do Ensino Médio, frutos de uma contra reforma educacional voltada somente para o mercado e de natureza privatista.
O Plano Nacional do Livro Didático proposto dilui o conhecimento escolar pelas chamadas “habilidades e competências” de mercado, reorganizando a lógica do currículo por áreas que têm por foco aligeirar o ensino e, apesar de se propor integrador, destitui qualquer concepção pedagógica interdisciplinar autêntica.
Em algumas instituições de ensino da rede federal já estão chegando os novos livros da área de humanas do Bolsonaro. Um livro de 400 páginas com todas as disciplinas de humanas condensadas e com várias manipulações de conteúdo para se alinhar ao projeto de dominação desse governo autoritário. Esse livro de 400 páginas é para os três anos do ensino médio, 133 páginas por ano para todas as disciplina de humanas.
Como essa investida direta do capital na educação pública afeta o desenvolvimento cultural independente e emergente de um povo e o direito ao conhecimento?
Prof. Fábio Bezerra – Professor de Filosofia da Tecnologia no CEFET, Mestre em Educação Profissional e tecnológica e membro do Conselho Municipal de Educação de Belo Horizonte e da Coordenação da Rede Tecnológica de Extensão Popular ( RETEP) e do Conselho Editorial da revista Novos Temas do Instituto Caio Prado Júnior.
Profa. Lucília Machado – Pós-doutora em Sociologia do Trabalho, doutora e mestre em Educação, graduada em Ciências Sociais, é professora titular aposentada da UFMG. Atua principalmente nos seguintes temas: pedagogia do trabalho; trabalho-educação; formação humana; trabalho como princípio educativo; escola unitária; politecnia; educação profissional e tecnológica; formação de professores da educação profissional; políticas públicas.
Qual é a visão de política pública que está colocada? Dificilmente vai se encontrar pessoas no Leblon para articular e ver como é que resolve os problemas dos moradores dos territórios vulneráveis. O que significa essa grande parte da cidade? Estamos aqui hoje diante de dois intelectuais orgânicos, da cidade, que recriam junto e ao mesmo tempo coordenam esse processo da organicidade da cidade, essa discussão de que favela é cidade e da cidade multicêntrica. Mostrando como essa visão de centro e periferia, que sempre foi colocada, ela serve apenas pra reproduzir uma visão de que lá na periferia é que tá o perigo, é que tá o risco.
Que papel que o estado e a sociedade têm sobre isso?
Quando eu escrevi “Cidade Cerzida: a costura da cidadania no morro Santa Marta” eu falava nessa singularidade do Rio que é o que se pode chamar da “imagem invertida do espelho”, diferentemente das outras grandes cidades, aqui pra Leblon, tem Vidigal, pra Gávea e São Conrado, tem a Rocinha…e daí por diante. Essa cidade está muito mais costurada no dia a dia, no cotidiano mesmo. É só olhar o que significa a grande festa que a própria televisão transmite e retransmite pro mundo do carnaval. Se não é essa interação com a favela? O que significa o próprio conceito de carnaval, e a relação que isso tem com a História, que histórias são contadas, que enredos são esses?
A própria Lagoa, esse espaço tão caro nos mais diferentes níveis, tem ali no lugar da Praia do Pinto a Selva de Pedras, salva pela Cruzada ali. Da Praia do Pinto vai ter gente na Cidade de Deus, na zona oeste e tal. Por que será que se vê com tanta normalidade a existência da favela como um projeto urbano? Daquilo que foi a resistência, que foi a forma que todo mundo fez para poder se situar e viver na cidade? Aliás pelo apelo que o próprio crescimento econômico trouxe que fez toda essa passagem do rural pro urbano, e não é à toa que lá do lado do Porto que tá o Morro da Providência, e que providência é essa que foi tomada?
Essa construção da cidade, e essa normalidade, ela é fruto do processo de comunicação, de produção do imaginário. Como é que cada noticiário fala da cidade: o quê que se fala do asfalto e o quê que se fala da favela? Que imagem que fica criada? Claro que a questão do risco, do medo e daí por diante… E transforma numa coisa normal que de fato a favela seja uma coisa que não tem o mesmo atendimento da cidade. Normaliza a incompletude do Estado.
Eu queria falar da importância do poder público: o quê que significa política de estado e o quê que significa as coisas que são feitas e que acabam no campo da assistência – mesmo que você tenha setores mais à esquerda, mais progressistas, no comando. Como é que essas coisas podem ser feitas? O que precisa ser cada vez mais buscado, é que você precisa fazer a passagem do quê significa apenas política de assistência pra política pública onde moradores de todos os lugares tenham a mesma possibilidade de acesso.
No caso do Rio que as principais escolas que dão acesso às universidades, os CAPs os Pedro IIs, que eles estejam também nos chamados “complexos”. Quando vai se falar de Ipanema, Copacabana, Leblon, nunca se fala Complexo Zona Sul. Mas a Maré são diferentes bairros chamados de “complexo”. Ali está o lugar do risco, esse imaginário que tá sendo produzido, ele normaliza a escravização, ainda hoje! É só olhar onde que a maioria da população negra está vivendo. E como é que a ideia de serviço, ou de baixos salários, ainda tá relacionada com as pessoas que moram nos piores lugares, do ponto de vista do acesso à coisa pública, e do acesso à moradia, e às coisas todas que ele tenha direito.
Essa concepção de segurança acaba ficando reduzida à polícia. Você cuida apenas da repressão. Cadê o cuidado com as pessoas que tão vivendo ali e que teriam o direito de viver, como todo mundo tem o direito de viver? Segurança é se você tem escola para os seus filhos, cultura, diferentes expressões, diferentes espaços onde você possa cuidar da sua saúde, não cuidar da doença, cujo resultado mais direto é a morte. Nosso grande psicanalista Hélio Pellegrino dizia para não se confundir o sintoma com a causa. Como se a favela fosse a causa da violência: ela é o sintoma. Porque violência mesmo é sistematizar um processo urbano onde pra algumas pessoas há segurança, nesse sentido mais amplo, e pra outras a segurança é reduzida à polícia.
Como é que você tá falando de uma mesma cidade? Como é que é essa interação favela-asfalto? Nunca ninguém vai perguntar pelas outras interações dos outros bairros da cidade.
Aquilo da produção do imaginário acaba definindo muito essas interações – porque se dá de forma tão profunda no cotidiano: o morro desce todo dia e faz todas as coisas acontecerem. Numa produção de imaginário tal que uma família é capaz de deixar um filho com uma pessoa mas que se encontra na rua e tiver do outro lado da calçada pode correr o risco de esconder a bolsa. Que questão é essa que está colocada que traz essas contradições todas? Perceber essas contradições não é uma coisa da favela.
O asfalto entenderá o que significa a favela, no dia em que o morro não descer. Na verdade a favela já está dizendo o que é centro na cidade!
Fala de Richarlls Martins
A magnitude trazida pelo Censo, por uma aproximação que nós não teremos esse ano, mostra que no último levantamento de aglomerados subnormais do IBGE aproximadamente 17% da população fluminense reside nas favelas, ou seja, a gente tá falando de quase três milhões de cidadãos e cidadãs no Estado do Rio de Janeiro.
A gente fala de favela hegemonicamente a partir de uma vinculação pela lógica da segurança, não por uma perspectiva de pensar a favela pela lógica da política urbana, de direito à cidade e toda concepção de direitos humanos que se relacionam.
Isso é central no momento em que a gente tá vivenciando a impossibilidade de garantir políticas de enfrentamento aos efeitos da pandemia nos territórios de favela, a partir das evidências de seriam desproporcionais, essa articulação formada por instituições PUC, UERJ, UFRJ, Fiocruz, Abrasco e articuladores de territórios de favela, teve um papel muito central de diálogo com o parlamento fluminense, especialmente com a ALERJ, a partir de um diálogo de produção interinstitucional, com uma doação de 20 milhões de reais da ALERJ à Fiocruz. Essa é a primeira iniciativa de uma doação de um órgão legislativo para uma instituição para ações específicas de ampliação dos direitos humanos nas favelas. Esse recurso ele vai ser 80% direcionado para as organizações de favela, que atuam diretamente nas favelas, produzirem suas ações de enfrentamento à pandemia. A gente entende que a melhor resposta é você incluir os sujeitos na construção de ações de vigilância em saúde de base territorial.
Nesse momento o edital está com inscrições abertas, o prazo é até dia 29 de abril de 2021, a próxima sexta-feira. O edital aberto à organizações da sociedade civil do Estado do Rio de Janeiro, encontra-se no Portal da Fiocruz com uma dotação de 17milhões para 170 projetos que tenham como objetivo enfrentar a COVID-19 nas favelas.
A gente entende que essa articulação ela pode produzir uma ação de monitoramento e de centralidade da pauta da favela no interior das políticas públicas no enfrentamento da pandemia.
Quando a gente pensa na história da favela e na relação dela com essa cidade, objetivamente, a favela não só reinventa como ela redesenha a cidade, provocando a descentralização do centro. Não é uma questão sociológica, é uma questão física também.
Eu sou de um tempo em que eu dizia: eu moro no Morro do Santa Marta. Hoje, a favela virou uma marca pra todas as favelas. Mas eu gosto muito de fazer essa distinção porque tem a ver com a origem dessa cidade. Os morros são os lugares que não tinham nenhuma importância pro capital imobiliário, por isso foi possível ocupar a cidade pelas frestas, onde essa população estava protegida do olhar autoritário e do processo remocionista que funcionou muito fortemente entre os anos 60 e 70, principalmente na zona sul da cidade.
Hoje a gente fala de “complexos”. Então as pessoas moram no Complexo do Alemão, no Complexo da Maré, no Complexo da Rocinha… Qual é o significado disso? A cidade multicêntrica é porque essa disputa ela está justamente em não ter um ponto privilegiado, seja na zona sul, na zona norte, na zona oeste, na baixada… A possibilidade de construir vida, relações sociais e disputar sentidos na cidade, ela acontece de forma múltipla.
Mas qual é o lugar que as favelas ocupam no imaginário dessa cidade? É uma disputa em torno às narrativas que colocam esses territórios no lugar da pobreza absoluta, da marginalidade, da não possibilidade, e a resposta que esse território tem dado é exatamente o contrário.
As favelas tem dados respostas no campo da cultura, fazendo com que essas vozes consigam ultrapassar a barreira do preconceito, da imposição do gueto. Se vai falar de Brasil ou de Rio de Janeiro, indiscutivelmente você tem que falar do funk, do samba, não tem outra possibilidade. Mas ao mesmo tempo há uma permanência de uma negação da favela como cidadania. O número de mortes violentas pela polícia que acontece nas favelas é absurdo. Em nenhum outro lugar isso seria aceito passivamente pelo conjunto da sociedade.
Quando eu passo pela Lagoa, eu vejo ali o Parque da Catacumba e imagino o que seria daquele espaço se a favela não tivesse sido removida nos anos 60. Essa cidade seria muito mais rica e muito mais diversa se ela pudesse conter nesse espaço essa diversidade, garantindo ali qualidade de vida.
Essa reconfiguração a partir de 80 é uma reconfiguração mais evidente porque a gente consegue perceber a consolidação das favelas. Remove? Tem que construir uma outra cidade! Em termos numéricos elas são muito grandes, é impossível pensar. Em termos organizativos elas são muito fortes. Essa terminologia redutora das favelas como lugar da violência vai ganhando espaço na mídia nos anos 80, nos anos 90 está carregada com essa marca, e vai até os dias de hoje. Ao mesmo tempo que a gente vai acompanhar esse processo, dos mutirões, das associações de moradores, que nos anos 80 foram fundamentais para colocar a favela no centro da discussão pública… O favela bairro é de 1996, e é resultado do movimento de favelas.
Em meados dos anos 80 mudou a configuração do tráfico no Rio de Janeiro e o armamento ficou muito mais pesado. A vida ficou mais difícil. Mas ao mesmo tempo tinha nesse subterrâneo acontecendo o espalhamento da milícia. Isso foi denunciado. Teve várias CPI denunciando a questão da milícia. Mas institucionalmente… eu lembro do César Maia dizendo é preferível a milícia porque ela não permitia o consumo de drogas nesse território. Só que a milícia ela é uma dinâmica que se embrenhou pelo aparelho de Estado, não só está nos territórios, está no Legislativo, no Executivo… E tem assumido práticas muito parecidas com o próprio tráfico. Hoje é muito difícil você separar o que é uma prática de milícia e uma prática do tráfico. Ambas lidam com a exploração do próprio território, usam o território como escudo. Isso tem que ser enfrentado a partir do Estado pra que a gente tenha algum tipo de retorno de impacto nos territórios.
O Santa Marta teve um período em que tinha baile que vinha mil jovens da classe média. Mas quantas pessoas daquelas estão sensibilizadas pras dificuldades daquele território? Quantas são aliadas? Eu tenho muitas críticas a esse tipo de conexão. Mas também tenho a maior rejeição à abordagem de que os favelados sabem tudo, são bons, por princípio. Quem chega “eu não sei nada”… Não.
Cada um que chega de fora traz o seu conhecimento, a sua vivência, e é uma abertura ao diálogo. O quanto você está disposto a ouvir, a entender o outro e o quanto que ele também está disposto a ouvir e entender o que está chegando e fazer uma construção a partir desse encontro. Essa é a grande dificuldade. Porque pra isso você precisa acreditar que o outro tem capacidade. Seja o de fora, seja o de dentro. A gente tem que ter coragem de produzir o encontro.
Eu não espero nada da elite brasileira. Eu não tenho mais nenhuma paciência. A mudança está acontecendo por iniciativa da favela. A favela não espera, ela está se impondo. Tem uma nova conformação de jovens reagindo, que batem no peito e dizem: “Eu tenho orgulho de ser favelado”. E faz disso uma militância política. Eu nasci no Santa Marta, eu fui pra universidade, eu era o único do Santa Marta na universidade. Eu não batia no peito: “Eu sou da favela”. Eu fui construindo essa minha percepção e essa minha forma de me colocar muito lentamente. Hoje a galera entra na universidade, encontra um coletivo de jovens negros e favelados e já vem com tudo pra cima. O acesso à universidade. A produção intelectual acadêmica a partir de intelectuais negros. O enfrentamento do racismo estrutural, e a denúncia das consequências disso sobre a formação da realidade brasileira, tem sido um elemento importante para esse fortalecimento de uma identidade local, seja da favela, seja da Baixada Fluminense, para a valorização do território como produção de conhecimento. Certamente tem outros elementos. Faz falta dialogar de uma forma menos pré-normatizada. Me senti muito bem e me sinto bem que existam espaços como esses aqui.
A gente precisa ter novas possibilidades de pensar a nossa cidade e com isso, colocar a favela onde ela merece, que é em todos os lugares.
Ideias sobre Cidade Multicêntrica apresentadas no 36o Encontro do EGC, com a edição de Maria Rita Nepomuceno.
Os projetos urbanos brasileiros reproduzem ainda a lógica da Casa Grande (asfalto) e Senzala (favela) com suas variações em cada território. O termo ‘ cidade multicêntrica’ cunhado pelo professor de Comunicação da PUC-Rio, e da UERJ, Adair Rocha, dá significado às favelas como verdadeiras cidades dentro de uma cidade, ambas dependentes uma da outra. Uma interessante tese sobre o racismo urbano-territorial, suas consequências e interrelações sociais. O 36o. encontro dos Estados Gerais da Cultura promove um diálogo direto entre Adair Rocha e os sujeitos da multicentralidade representados por: Itamar Silva e Raul Santiago.
“O contexto da cidade, em tempo pandêmico, escancarou-se. A política pública de saúde e dos quesitos básicos, em geral, são propriedade do asfalto, com condições de isolamento doméstico social, como vacina antes da vacina, com seus cuidados sanitários, garantidos pelo poder econômico e pela infraestrutura pública. Favelas e periferias “se viram” na solidariedade e em parcerias institucionais e suas formas de organização locais. Assim, quando pronunciamos a palavra “cidade”, explicitamos sua inspiração e significado, que é cidadania. Portanto, há relação direta entre direito e acesso”, pontua o professor. O termo Cidade Multicêntrica é verbete do Dicionário de Favelas Marielle Franco. Se você quer ler mais sobre o assunto acesse a matéria Por que favela é cidade.
Adair Rocha integra o coletivo Estados Gerais da Cultura. Nascido em Pouso Alegre, em 1950, vive há bastante tempo no Rio onde firmou forte interação da atividade acadêmica com o processo sociopolítico e cultural. É pós-doutor em comunicação pela UFRJ; professor adjunto de na PUC-Rio e na UERJ, ambas no departamento de Comunicação Social. É fundador do Núcleo de Comunicação Comunitária da PUC-Rio; autor de vários artigos publicados em revistas e em jornais periódicos e capítulos de livros nas áreas de comunicação, cultura e movimentos sociais. Gestor público de Cultura do Estado do Rio de Janeiro e no Ministério da Cultura do governo Lula.
Raul Santiago é um dos 50 profissionais mais criativos do Brasil pela revista WIRED (2020). Gestor de projetos sociais do terceiro setor, produtor cultural e audiovisual, consultor de marketing, ativista pelos direitos humanos, mudanças climáticas, negritudes, vida na favela e empresário – CEO da Agencia Brecha – Hub de Favela.
Itamar Silva é comunicador e representa o Grupo ECO, Santa Maria, criado em 1976. Foi coordenador do Instituto Brasileiro de Análises Sociais e Econômicas (Ibase). Itamar Silva nasceu e mora na favela Santa Marta, na zona sul do Rio de Janeiro. Desde os anos 1970 participa dos movimentos sociais e chegou a ser presidente e diretor da Associação de Moradores ao longo da década de 80. Participou de importantes documentários realizados pelo cineasta Eduardo Coutinho e outros, bem como de seminários nacionais e internacionais.
“A gente combinamos de não morrer”. Conceição Evaristo
O tema do 35o. encontro dos Estados Gerais da Cultura é título de um conto da escritora, poetisa, ensaísta, Conceição Evaristo, grande romancista e ativista na luta contra o racismo no Brasil. Sobretudo nesse conto, parte dos 15 incluídos no livro Olhos D’Água, a autora dá voz às mulheres negras e narra o drama e o desamparo de pretos e pretas que vivem na linha de morte numa sociedade desigual. Com a toda a licença poética que lhe confere, Conceição Evaristo quebra o ‘combinado’ daqueles que se negam a ver a fome, a miséria, a violência e o genocídio do povo negro.
Nascida em uma família pobre e é a segunda de nove irmãos, sendo a primeira de sua casa a conseguir um diploma universitário. Ajudava sua mãe e sua tia com lavagem de roupas e as entregas, enquanto estudava. É mestra em Literatura Brasileira pela PUC- Rio, é doutora em Literatura Comparada pela Universidade Federal Fluminense. Suas obras, em especial o romance, Ponciá Vicêncio foi foco de pesquisa acadêmica pela primeira vez, no Brasil, em 2007. A obra foi traduzida para o inglês e publicada nos Estados Unidos em 2007.
“Aos 71 anos, ela acredita que escrever e contar histórias é a melhor maneira de enfrentar o preconceito. Agora, trabalha em dois romances e um livro de contos e se sente perseguida por duas ideias que ainda vai executar. Uma delas é escrever um romance que mergulhe em histórias da escravidão. Não um romance histórico, mas uma ficção com pitadas de história, coisa que sempre esteve presente na obra de Conceição. Seus dois primeiros romances, Ponciá Vicêncio e Becos da memória, foram inspirados em histórias contadas pelos velhos da família. Ali, narrativas herdadas do período da escravidão eram comuns e faziam parte de experiências muito recentes. Outra ideia que a persegue é a vontade de escrever ensaios sobre livros de autoras negras.Isso é um compromisso que quero cumprir”. Fonte: Correio Braziliense
Eu não sabia que “Romaria” fosse fazer o sucesso que fez, eu tinha ideias meio radicais, né. Eu não queria facilitar. Olha só onde é que eu fui mexer. Eu fui mexer num símbolo, Nossa Senhora Aparecida,
Quando foi ali no começo dos anos 70, eu tinha vindo de Taubaté pra São Paulo e comecei a andar e a conviver com aquele pessoal que tava começando aquela fase gloriosa da MPB: Chico, Caetano, Gil… E foi ali que eu percebi que eu não estava sendo um bom compositor, porque eu estava fazendo um tipo de música que não tinha vínculos com a minha cidade, com a minha terra, com a minha cultura. Então eu resolvi me dedicar a cultura do interior, eu tinha essa preocupação acadêmica porque eu vinha da MPB, aquela coisa muito sofisticada.
Eu via que a música caipira estava cumprindo um ciclo e que essa cultura estava sendo meio que descartada e tratada com certo descaso. Eu me propus a investir nisso copiando o mesmo formato da Bossa Nova, que pegou o jazz aplicou no samba e transformou. Eu peguei a MPB e apliquei a música caipira.
Na minha geração, a grande influência foi Luiz Gonzaga. No meu caso, foi Noel Rosa. Dorival Caymmi. Pixinguinha, as valsas. A grande influência da minha vida foi um disco, que eu ouvi no fim dos anos 60, que era “Os 10 maiores sucessos de Tunico e Tinoco”. Me mostrou o caminho que eu estava procurando. Volte pra casa. Assuma suas condições, sua história. Eu sou fiel, eu sou uma caipira de Taubaté.
No começo dos anos 60 o mercado da música brasileira sofreu um grande golpe com o AI-5. A música meio que acabou no Brasil.
Minha carreira estava indo bem. Eu já tinha feito uma música que o Roberto Carlos tinha gravado: “Madrasta”, com meu parceiro Beto Ruschel. Quando o mercado fechou e eu me vi mudando prum outro ramo da música que é publicidade. Me transformei num publicitário. E a publicidade me ajudou muito a atravessar aquele período de repressão e acessar muita informação. Chegavam os filmes, as revistas, as publicações, se discutia muito. Mas a partir daquele momento eu perdi um pouco o contato com a tribo da MPB, da qual eu fazia parte. A maior parte foi pro Rio, a coisa foi se desmembrando. E eu fiquei em São Paulo atuando como publicitário.
Não era nem minha intenção fazer uma música tão popular. Eu estava apaixonado por poesia concreta. Eu estava apaixonado por Décio Pignatari. Esse negócio “Caipira pira pora nossa”.
Eu não sabia que “Romaria” fosse fazer o sucesso que fez, eu tinha ideias meio radicais, né. Eu não queria facilitar. Olha só onde é que eu fui mexer. Eu fui mexer num símbolo, Nossa Senhora Aparecida, era uma cidade vizinha. A gente ia pra lá todo fim de semana, passear. Aí você vai descobrir que o Brasil começa a se conscientizar como nação, quando começa o culto de Nossa Senhora lá pra 1700. A gente começa a perceber que a gente não era Portugal.
O milagre começa quando você pega um corpo sem cabeça e bota uma cabeça e essa imagem vira o símbolo de um povo. Une esse povo. Eu não imaginava com quem eu estava mexendo. E o que é mais interessante é que eu não fiz um hino pra Nossa Senhora. Ela tem lindos hinos. O meu hino é pro romeiro, não é pra Nossa Senhora.
Eu tava em casa e compus a canção. Pensando em fazer uma canção moderna, uma música caipira que o Flávio Cavalcanti não quebrasse o disco no programa dele. Eu tinha um encontro naquela tarde com o Marcos Pereira, benfeitor da música regional brasileira, eu fiz a letra, mas quando chegou no fim “mas como eu não sei rezar, só queria mostrar, meu olhar.” Ótimo. E agora? Aí eu não conseguia achar mais nada pra mostrar a ele. Eu sou assim. Quando empaca, eu dou um tempo que vem.
Então eu dobrei a letra, botei no bolso, e fui encontrar com o Marcos. Aí eu falei assim: “Só que eu não terminei”. Ele falou: “Não faz mal”. Abri e cantei, lendo a letra: “É de sonho e de pó”. E no final “lalala”, terminei com “lalala”. Mas nisso, quando eu tava terminando a música, o Marcos levantou da cadeira, deu a volta na mesa, chegou perto de mim, me deu um beijo na testa, e falou: “Pô, cara, você não sabe o que você fez”. Eu não sabia mesmo. Pra mim eu tinha feito só mais uma música. Ele sentiu que eu tinha feito uma grande canção.
A banda que tocava comigo, o “Água”, eram todos publicitários. Ninguém precisava de cachê pra viver, a gente vivia de publicidade. Talvez o “Água” tenha sido a primeira banda acústica brasileira, assumida, porque com a gente tocavam Oswaldinho do Acordeon, o Papete, o Sérgio Mineiro, o Carlão de Souza, pessoas que tem uma história linda dentro da música brasileira.
O nosso show chamava “Romaria”. Foram três anos fazendo isso. Algumas cantoras assistiram. Ninguém reparou na musica. Aí quando foi meu irmão Roberto de Oliveira. Era agente da Elis, produtor da Elis. Meu irmão que produziu aquele LP “Elis e Tom”. Ela sabia que eu era compositor. Mas nunca falamos de música. Eu tinha o meu estúdio, que era na frente do Teatro Bandeirantes, e ela tava fazendo “O Falso Brilhante”. A banda da Elis durante o dia gravava jingles no meu estúdio. E ela disse: “Olha, eu vou gravar um disco…”, ela tava grávida de 7 meses da Maria Rita. “Vai lá em casa pra você me mostrar música”. Eu tava inédito, ninguém me gravava, eu era publicitário. A minha carreira de compositor estava estagnada, por várias razões. E aí eu fui gravando.
Cheguei lá era uma música assim: “sentimental…eu fico quando pouso na mesa de um bar, eu sou um lobo cansado”. Eu tava nas nuvens, eu tinha sido gravado pela Elis. Aí no outro dia ela me liga de novo: “O que você vai fazer hoje à noite?”. Eu falei: “Nada”. “Então vai no estúdio que eu vou gravar outra música sua”. Era “Romaria”. A Elis gostou tanto que convidou a gente pra tocar. Se vocês quiserem ouvir o “Água”, escutem “Romaria” com a Elis, com a gloriosa participação de César Camargo Mariano e Nathan Marques. Eu entrei em estado de graça. Pra mim tava pronto. Podia voltar pra Taubaté que tava tudo certo.
Daí a música fez sucesso. Eu devia ter uns 31, 32 anos… Aí eu fui abrir um show pro Luiz Gonzaga. Encerrei o meu show com “Romaria” que era a música que tava bombando. Quando eu sai do show, seu Luiz estava se preparando para cantar o show dele. Aí ele virou pra mim e falou assim:
“Cantou sua Asa Branca, hein, Seu Teixeira?”. Aí eu achei que ele tava tirando sarro: “Ô Seu Luiz você tá brincando comigo, querendo comparar minha música com a sua”. Ele falou assim: “Eu não estou tirando sarro”. Ele ficou até meio invocado. “Sr. Teixeira eu não estou tirando sarro, eu estou te falando uma coisa muito séria. O Sr. espere. Daqui a 30 anos você vai ver o que vai acontecer com a sua música”.
O cara cantou a bola. “E outra coisa, Seu Teixeira, isso é sorte. Caiu no seu colo. E o senhor faça o seguinte, Seu Teixeira, toda vez que o Sr. for tocar essa canção, o senhor toque como se fosse a primeira vez. Porque isso aí é sorte. Isso é pura sorte”. Até hoje, toda vez que eu vou cantar “Romaria”, eu lembro do Seu Luiz. Porque de uma certa forma ele carimbou minha música.
Não estava sozinho nesse momento. Já tinha o Sérgio Reis ali do lado fazendo uma coisa mais jovem guarda. E uma dupla chamada Leo Canhoto e Robertinho que desmontaram aquele personagem do caipira com chapéu de palha, botaram guitarra nas canções, que eram essencialmente caipiras, se vestiram de cowboy, subiram em cima de uma moto em vez de um cavalo, e foi assim que a gente deu continuidade ao sonho do pessoal mais antigo de ter uma representação musical através da cultura dos caipiras. Quando surgiu o sertanejo universitário: Luan, Theló, Paula Fernandes, Vitor e Leo, essa moçada toda.
Em que momento que isso começa a acontecer? Lá no final dos anos 60, com um taubatiano chamado Tony Campello, um produtor maravilhoso. Que era produtor da Celi e já tinha sido um dos lançadores do rock’n’roll no Brasil. Ninguém conhecia rock’n’roll como ele. Depois ele teve a seguinte ideia: eu vou pegar uma dupla da Jovem Guarda e vou fazer eles cantarem sertanejo.
E foi lá e convidou uma dupla chamada Deny e Dido, que na época estava fazendo um grande sucesso com uma música chamada “Coruja”. Eles não toparam, estavam no auge do sucesso. Então Tony procurou o Sérgio Reis. O Tony tinha sido o produtor de “Coração de Papel” do Sérgio Reis. E a partir dali começa a surgir uma música que hoje domina 70% do mercado da música no Brasil. E a coisa começa a crescer, crescer, pra chegar nesse volume que chegou hoje. O que eles chamam de “agronegócio” não apoia essa cultura, precisava apoiar essa cultura. Cadê o memorial do Tunico e Tinoco? Os grandes mestres. Cadê Raul Torres? Foi um cara super importante, ele fez uma rádio em São Paulo tão forte como era a Rádio Nacional no Rio de Janeiro. Em termos de talento.
Eu acho que a música é uma missão, uma missão bonita. Não existe música feia, existe música que você não gosta. Todos os povos cantam, todas as ideologias cantam, todas as religiões cantam. Todo mundo canta. A música ela é um todo.
Não existem dois compositores. É um espírito só dividido em vários segmentos, é a mesma ideia que se pratica. Eu sou que nem um grão de areia na praia. O que dá pra se enxergar é muito pouco, a coisa é muito grande. Quando Luis Gonzaga chegava, todo o Nordeste chegava com ele. O mesmo Sérgio Reis, todo o Centro Oeste chega com ele. E o Gonzagão e o Luiz Gonzaga (Gonzaguinha) eles já trocavam figurinha, um já gravava o outro.
Essa unidade musical que tem o país através do idioma. Porque a música brasileira não é pra principiantes. É um gênero que já mudou três vezes o destino da música no mundo.
Quando Carmem Miranda inaugurou a performance dela ela tava gestando a Madonna, Elvis Presley, Mick Jaguer, todos esses bailarinos de palco… etc. Tava tudo vindo naquela de se fantasiar e fazer um grande espetáculo. A performance. Depois a Bossa Nova transformou tudo. Mudou a música do mundo. Todo mundo tocou. Antigamente todo mundo tocava só com 3 dedos. A Bossa Nova botou 5 dedos, criou harmonias lindas. Eu acho o Tom Jobim o maior compositor popular da história da mundo, da história da música, não só do Brasil. Pra mim ele é o maior de todos. Foi a Bossa Nova que nos deu isso. Pro mundo. Aquele momento do Tom Jobim com Frank Sinatra. Durou uns 5 anos. Naquele momento, Tom Jobim era o maior compositor da Terra, e Frank Sinatra o maior cantor. Eu acho que a MPB tem alguns fundadores. Um é a gravadora Elenco, outro é o Aloysio de Oliveira. O Walter Silva. O próprio Roberto de Oliveira, meu irmão, é um pessoal que fez um trabalho ali que caracterizou a MPB. Montou a MPB. Antes disso aí não tinha a MPB. Ninguém falava MPB.
Eu tenho a obra inteira do Raul Torres, que pena que a pessoas não possam usufruir dessa beleza toda. O Cornélio Pires nos anos 20/30 juntava multidões de 20 mil pessoas pra ouvir ele. Inventou a dupla caipira. Botou chapeuzinho nos caras. Pegou os caras que trabalhavam na olaria do pai dele, montou personagem, trouxe pra SP, botou na rádio. Esse gênero já deu artistas do nível de um Tonico e Tinoco. De um Raul Torres, Rolando Boldrin, Almir Sater, Geraldo Roca, Dércio Marques, não pára. Tunico e Tinoco falaram pra mim “Ô Renato, você conhece o Milton? E o Chico? E o Caetano? Você conhece o Gil? Então liga pra eles e pede pra eles compor uma moda pra nós? Eles manda a fita cassete pra nós, nós pega a moda deles, conserta e grava”. E quando eu comecei a fazer esse trabalho com Pena Branca e Xavantinho, eles pegaram o cio da terra e consertaram, e fizeram aquela maravilha. Eles consertaram.
Eu fiz um DVD, com Sérgio Reis, e nós convidamos o Tinoco para nos assistir. E aí ele foi no camarim e perguntaram: “Tinoco, como é que você descobriu a música?” Ele respondeu que na casa dele, quando ele e o irmão eram crianças, eles gostavam de correr atrás de galinha, correr atrás do porco, subir em árvore, e faziam música com isso. Um dia, um deles perguntou pra mãe,: “Mãe, quem inventou a galinha, a minhoca que a gente brinca tanto? Quem inventou?” E mãe respondeu: “Olha, quem inventou isso aí foi Deus”. “Por isso, cara, que quando a gente canta, a gente canta em nome de Deus”.
Eu quero tirar aquele ranço, aquela inocência que às vezes prejudica um pouquinho, que faz o povo achar que o caipira é um sub ser. O caipira é um super ser. A grande mentora é Inezita Barroso. Inezita Barroso é nós.
ideias de Renato Teixeira e resumo com edição da cineasta Maria Rita Nepomuceno, que faz parte dos Estados Gerais da Cultura, atua na área de criação e curadoria em audiovisual.
Renato Teixeira fez história no cenário musical brasileiro ontem, hoje e fará sempre. Um artista que “assimilou o espírito da cultura caipira para projetá-la de uma forma contemporânea”, como conta sobre sua vida no site oficial. O autor de Romaria, música ícone dos anos 80, que mexe com a questão da fé do brasileiro, um hino a Nossa Senhora Aparecida, imortalizada na voz de Elis Regina, é um exemplo típico de sua característica como compositor e cantor, que transita entre o singelo, o caipira e o moderno.
Numa entrevista ao Globo Rural confessou que não tinha ideia que a música ia fazer tanto sucesso. “Eu quis fazer uma coisa sofisticada. Nunca imaginei que fosse se transformar numa canção tão popular. Eu acho que a força dela está exatamente em mexer com um símbolo brasileiro muito forte, que é Nossa Senhora. Era uma canção do romeiro, aquele que vai para Aparecida. Aí você começa a ver como ela penetra no inconsciente coletivo do povo brasileiro.”
No entanto, Romaria foi apenas o começo de uma carreira talentosa e com muito sucesso. Renato Teixeira que pretendia ser arquiteto e a música não lhe deu essa chance, tornou-se quase um menestrel da alma brasileira, cantando em versos a fé de gente simples que tinha gosto pela vida no campo. No entanto, canções que também encantavam e ainda encantam o povo da cidade. Muitas dessas músicas são hoje clássicos do cancioneiro popular como Amanheceu, Peguei a Viola, Romaria, Cuitelinho, entre muitas outras.
O psiquiatra e psicoterapeuta Joel Birman lançou recentemente o livro O Trauma na Pandemia do Coronavírus, com análises sociais, políticas, econômicas, éticas, científicas, e as consequências para a condição humana e a modernidade. Como escritor, Birman foi ganhador do prêmio Jabuti, em 2013, na categoria Psicologia e Psicanálise, com a obra Sujeito na Contemporaneidade.
“As políticas neoliberais de destruição dos direitos sociais se fundem às tecnologias de poder que apelam para o complemento do uso da força para realizar as cruzadas morais com mais intensidade. A retórica religiosa de tipo neopentecostal se associa sempre às tendências de fascismo social e ao modo de comando que resultaram na ideia de soluções de distanciamento vertical ao gosto de um darwinismo social atualizado“. Fonte: Conexão UFRJ – artigo Cunca Bocayuva, professor do Nepp-DH.
Joel Birman está construindo, no Collège International de Philosophie, em Paris, uma linha de pesquisa interdisciplinar em psicanálise e filosofia em torno da questão das ‘Novas condições do mal-estar na civilização’. Fonte: Wikipédia.
Padre Julio Lancellotti e o Pastor Henrique Vieira estarão juntos num debate imperdível sobre como é difícil humanizar a vida numa sociedade que perdeu-se num total individualismo. A ação representa o sentido do trabalho social realizado pelos dois religiosos.
Sobretudo do Padre Lancellotti com a população em situação de rua de São Paulo. Por realizar um ato de compaixão, amor ao próximo, é criticado por alguns setores da sociedade.
Sua rotina diária começa com uma missa todos os dias na Igreja São Miguel Arcanjo, da qual é pároco. Ali, no bairro da Mooca, zona leste de São Paulo, mantém há 35 anos um compromisso constante com a população em situação de vulnerabilidade. Costumava servir um café da manhã na própria igreja para cerca de 200 pessoas. Veio a pandemia e o número praticamente triplicou. As atividades tiveram de ser transferidas, com o aval da Prefeitura, para o centro comunitário a algumas quadras dali. “Eu não trabalho com morador de rua. Eu convivo com eles. Porque trabalhar parece que são objetos. É preciso olhar para a vida de forma humana. Isso não é tarefa só para os religiosos. Mas eu não conseguiria viver a dimensão religiosa sem humanizar a vida”, explica. Fonte: El Pais
O jovem pastor Henrique Vieira é ator e pastor da Igreja Batista do Caminho, e surge na contramão do conservadorismo evangélico que assola o país atualmente. “O Evangelho provoca a solidariedade, não pode suscitar ódio e intolerância. Isso é contrário aos ensinamentos de Jesus.” , disse ele numa entrevista ao Diário de Pernambuco.
“O teólogo é bisneto de evangélicos e teve a infância construída sobre o tradicionalismo e os preceitos religiosos. A trajetória de Jesus se transformou na sua inspiração, e a leitura do Evangelho ganhou, a partir de sua tradução, dispositivos para a promoção da paz. Aos 16 anos, foi diagnosticado com neurite óptica, uma inflamação que atingiu nervos dos dois olhos. A possibilidade de perder a visão fez Vieira passear por centenas de questionamentos, desaguando no sentimento de desamparo e de solidão do ser humano, que despertou o olhar sobre as classes mais marginalizadas da sociedade”.
Dois batalhadores na luta pela transformação social por meio da arte e da cultura. Tanto Ludemir como Veríssimo atuam nas favelas do Rio com projetos de teatro, dança, literatura e vão contar suas experiências e as vitórias desta batalha árdua, porém com a glória de descobrir os verdadeiros talentos escondidos nas periferias brasileiras.
Julio Bernardo Ludemir nasceu no Rio de Janeiro, mas foi criado em Olinda, Pernambuco. Estudou jornalismo, mas nunca concluiu o curso. Tem dez livros publicados, a maioria dos quais ambientada nas favelas cariocas.
A reportagem Rim por Rim foi finalista do Prêmio Jabuti de 2008. É um dos roteiristas de 400 contra um, que o cineasta Caco de Souza adaptou da autobiografia de William da Silva Lima, um dos criadores do Comando Vermelho. É um dos idealizadores da FLUP, festa literária cuja principal característica é acontecer em favelas cariocas, com a qual ganhou o Faz Diferença de 2012 do jornal O Globo, o Excellence Awards de 2016 da London Book Fair, Retratos da Leitura de 2016 do Instituto Pro-Livro e o Jabuti de Fomento à Leitura de 2020.
Também é um dos idealizadores da Batalha do Passinho, que levou para Londres e Nova York. Com os dançarinos do Passinho, criou o espetáculo Na Batalha, primeiro grupo de funk a se apresentar no Teatro Municipal do Rio deJaneiro, tema de documentário que estreou em 2016.
Veríssimo Junior, diretor da Escola do Teatro da Laje, fala sobre o trabalho potente realizado com a juventude da Vila Cruzeiro. Veríssimo Júnior é ator e trabalha como professor de teatro da rede municipal do Rio de Janeiro. “Nosso camarim é a rua, nossos palcos são os becos, nossa sede é toda a comunidade da Vila Cruzeiro!” #NaFavelaTemVida #NaFavelaTemArte #EscolaTeatroDaLaje”.
Em 2018 recebeu o prêmio de categoria especial na 12ª edição Prêmio APTR (Associação dos Produtores de Teatro). A cerimônia foi realizada no Teatro Net-Rio, em Copacabana. Veríssimo recebeu o prêmio pelo trabalho realizado na Vila Cruzeiro, no Complexo da Penha.
Três jovens que têm o olhar para o futuro do planeta e apostam na educação, em projetos como Bibliotecas Comunitárias para melhorar o mundo. Uma experiência que vale ser compartilhada.
“Quem não lê, aos 70 anos terá vivido uma só vida: a própria! Quem lê terá vivido 5000 anos: existiu quando Caim matou Abel, quando Renzo casou com Lucia, quando Leopardi admirava o infinito….. porque a leitura é uma imortalidade de trás para frente”, Umberto Eco.
Maurício Camilo, Educador Social, Assistente Social, se formou nos trabalhos sociais nas periferias e nas ruas há 40 anos. O público beneficiado sempre fora, majoritariamente, crianças, adolescentes, jovens, idosos de ambos os sexos, oriundos dos segmentos mais empobrecidos da classe trabalhadora brasileira… Nesta trajetória destaca-se a participação da fundação de uma biblioteca popular, no Centro Comunitário do Salgueiro em São Gonçalo.
Cavi Borges é diretor e produtor de cinema. Fundador da Cavideo, já produziu 77 longas e 154 curtas. Já dirigiu 16 longas e 54 curtas. Seu trabalho na Cavideo abrange também distribuição e exibição se utilizando sempre de caminhos alternativos.
Jota Marques, 28 anos, morador da Cidade de Deus, educador popular, comunicador comunitário, criador de uma Biblioteca Comunitária e Conselheiro Tutelar eleito mais jovem do Rio de Janeiro. É estudante de pedagogia, na UERJ, ativista dos direitos humanos e gestor de projetos e tecnologias sociais de educação e começou participar de política há 11 anos, ainda muito jovem, em favelas, em sistemas socioeducativos e escolas públicas.