Com arte ciência e paciência mudaremos o mundo

Célio Turino – Cultura a unir povos


Célio Turino é historiador, escritor, um semeador de políticas públicas em duas dezenas de países da América Latina. Criador dos Pontos de Cultura, quando foi secretário do MinC e agora, em tempos de pandemia, um dos principais ativistas na luta pela aprovação da Lei Aldir Blanc, auxílio de emergência que assegurou R$ 3 bilhões aos artistas, produtores e espaços atingidos. Turino aceitou o convite para ser o reitor da Escola Superior da Paz, uma das frentes de ação do movimento EGC. Os Estados Gerais da Cultura representam uma mobilização de artistas, intelectuais, profissionais do setor artístico e de todos os que usufruem da cultura e da arte, indignados com o desmonte do setor cultural pelo atual governo. “Com arte, ciência e paciência mudaremos o mundo”.

Paulo Freire, Tantos Anos Depois…

Carlos Rodrigues Brandão é licenciado em psicologia pela PUC/RJ, é mestre em Antropologia Social e possui doutorado em Ciências Sociais, com pós-doutorado em História Contemporânea pela Faculdade de Geografia e Historia da Universidad de Santiago, em Santiago de Compostela, Espanha. Envolveu-se com cultura e educação popular no Movimento de Educação de Base (MEB), em janeiro de 1964. Desde então participa como assessor e como autor de livros e escritos sobre os temas. Na Universidade Estadual de Campinas, está vinculado ao GEPEJA, Grupo de Pesquisa de Educação de Jovens e Adultos Um de seus mais de 50 livros publicados é intitulado O que é Método Paulo Freire.

CULTURA É VIDA! É POLÍTICA! com Leonardo Boff e Adair Rocha

Política, cultura e arte: MST na transformação social, com Douglas Estevam

Douglas Estevam, coordenador nacional da Brigada de Teatro do MST, é formado em Direção teatral, História pela (UFFS) e Economia Política (Enff). Tem mestrando em filosofia (USP) e é membro do coletivo nacional de cultura do MST. Como coordenador de teatro participou do processo de formação com Augusto Boal. Também é co-organizador de Agitprop: Cultura Política, Lunatchárski: Revolução, Arte e Cultura e Teatro e Transformação Social. Contaremos também com a participação de Felinto Procópio, conhecido como Mineirinho, que fará a apresentação artística. Mineirinho é apaixonado pela viola e como integrante também do MST já alegrou muita festa por lá. Para ele, a paixão pela viola define-se assim: retrata o lúdico de forma poética, canta o sertão, a felicidade e a alegria de viver. “A viola caipira tá ligada à essência da vida, a reprodução da vida, na sua essência e na sua beleza.”

Mauro Iasi – O “ser comunista” nos dias de hoje

Uma conversa sobre o comunismo e sua produção de subjetividade no capitalismo contemporâneo

Forró – Patrimônio Cultural Brasileiro, com Joana Alves

Forró é alegria e a marca do povo brasileiro, sobretudo na região nordeste. Há mais de 10 anos grupos e pessoas que representam setores da cultura popular lutam para registrar o Forró de raiz, o pé-de-serra, como patrimônio brasileiro no IPHAN – Instituto de Patrimônio Histórico e Artístico. *Joana Alves*, artesã, produtora e articuladora cultural, é uma dessas grandes defensoras para preservar o Forró como cultura imaterial. Ela atua frente a Associação Balaio do Norteste. A gestora cultural, militante, ativista e pesquisadora da cultura popular Rejane Nóbrega será a mediadora desse bate-papo. Forró é uma cadeia produtiva que envolve dança, participação feminina, além das matrizes, xaxado, baião, xote e dentro dessas matrizes têm o Forró de oito baixos. Neste sentido tem Luizinho Calixto que é um dos últimos mestres da sanfona de oito baixos. Outro forrozeiro será *Mô Lima*, músico e filho de Francisco Ferreira Lima, que era mais conhecido como Pinto do Acordeon da Paraíba, um dos grandes nome do Forró no Brasil.

Lucidez não ocorre sem conflito!

Qual é o ponto que orienta a tua vida? Para dar lucidez você precisa ter uma luz. O que é que ilumina? Quais são os seus critérios éticos, quais são os seus critérios de humanização.

Lucidez é, nesse momento da História, nessa cultura que vivemos, é transgressão. Não tenham medo de lucidez transgressora, que essa é a lucidez que nós precisamos e devemos de ter nesse momento.

Aroeira, Laerte e Latuff – Humor é Resistência

https://www.youtube.com/watch?v=n_OupLWMf0s

Conceição Evaristo – A Gente Combinamos de Não Morrer

Um bate-papo com Conceição Evaristo, que irá nos falar sobre ancestralidade, resistência e luta das minorias sociais, em especial da mulher negra, tema central e urgente em nosso país, que carrega 500 anos de racismo e misoginia nas costas. Conceição Evaristo, a romancista, poeta e contista premiada, é também educadora aposentada e pesquisadora da cultura afro-brasileira. Reconhecida com um dos expoentes nos estudos da temática da ancestralidade negra e da luta antirracista, a autora, nascida em Belo Horizonte e radicada no Rio, é mestra em Literatura Brasileira pela PUC/RJ e doutora em Literatura Comparada pela UFF.

Hamlet, a Cena é Cura, com Vitor Pordeus

Vitor Pordeus, 40 anos, é ator e médico psiquiatra. Pesquisador do Laboratório de Imunobiologia da Universidade Federal de Minas Gerais desde 2003. Formado em Teatro pelo Instituto Tá Na Rua para as Artes, Educação e Cidadania; fundou em 2008 o Laboratório TupiNago de Arte e Ciência, foi Coordenador-Fundador do Núcleo de Cultura Ciência e Saúde do Instituto Municipal Nise da Silveira; Fundador do Teatro de DyoNises, Hotel e Spa da Loucura e Universidade Popular de Arte e Ciência no Rio de Janeiro; Atualmente é Professor do Curso “Arte e Saúde Mental” da Divisão de Psiquiatria Social e Transcultural da Universidade McGill, Montreal, Canada desde 2015. Ganhador do Prêmio Patrícia Accioly de Direitos Humanos conferido pela Associação de Magistratura do Estado do Rio de Janeiro em 2017. Carioca de Realengo, vive e trabalha no Rio de Janeiro como psiquiatra transcultural comunitário e ator.

A era do conhecimento, com Ladislau Dowbor

Renomado economista e professor da PUC-SP, consultor da ONU e com mais de 40 livros sobre o assunto publicados Ladislau Dowbor* considera um escândalo o brasileiro ter fome. Aponta que o país tem uma grande extensão de terras agricultáveis que são subutilizadas. Para ele, acabar com o escândalo da fome não é um desafio técnico ou de falta de recursos, mas de organização política e social. A seção artística de nosso encontro será realizada pela multiartista *Giselle Frufrek*, cantora, compositora, atriz, dançarina, escritora e arteducadora.

Jango

Vinte anos depois do golpe de 1964, o documentário Jango refaz a trajetória política do presidente João Goulart, deposto nas primeiras horas do dia primeiro de abril daquele ano por uma junta militar. A partir de uma extensa pesquisa de arquivo que incorpora cinejornais da época, fotografias e manchetes de jornais, a obra percorre desde o início da carreira de João Goulart, passando pelos governos Getúlio Vargas, Juscelino Kubitschek e Jânio Quadros, até a sua morte, doze anos depois de ter deixado o país rumo ao exílio no Uruguai.

O filme examina a luta ideológica que foi travada durante o governo Jango, onde a máquina de propaganda de setores da direita fez de Cuba, modelo para a esquerda, um pretexto para radicalizar do debate público, vendo em qualquer medida um sinal de comunicação. Jango remonta a escalada de tensão de um governo marcado por forte oposição das classes dominantes, que levou a crises sucessivas desde os primeiros instantes após da renúncia de Jânio Quadros. Através de depoimentos e textos em off, o filme relembra fatos decisivos, como o Comício da Central do Brasil, as marchas pedindo sua deposição, a revolta dos marinheiros e fuzileiros navais, os últimos dias do governo, primeiros instantes após o golpe e as tentativas de resistência ao golpe, avançando até a consolidação do governo Castello Branco. Prêmios: Prêmio Especial do Júri, melhor filme do Júri Popular e melhor trilha sonora do Festival de Gramado (1984). Prêmio Especial do Júri, Festival de Havana (1984).

Festival Internacional Del Nuevo Cine Latinoamericano de Cuba (1984), Prêmio especial do júri. Troféu Margarida de Prata – C.N.B.B. (1984). Bilheteria: 1 milhão de espectadores.

FICHA TÉCNICA Direção: Silvio Tendler Fotografia Adicional: Edgar Moura / Nonato Estrela Mixagem: Roberto Carvalho Edição de Som: Francisco Sergio Moreira Equipe de Produção: Maria Paula Araújo / Toninho Muricy / Sergyo Rocha Montagem de Negativo: Reginalda dos Santos Rocha Laboratório de Imagem: Lider Laboratório de Som: Rob Filmes / Álamo Laboratórios Trucagens: Lynxfilm / Truca Animação e Apresentação: Prisma Programação Visual: Tatiana Junod / Lula Vieira Equipamento de câmera: Ultima Filmes Agradecimentos Especiais: Caetano Veloso / Eduardo Chuahy Musicas Cedida Pela EMI – ODEON: Menino (Milton Nascimento e Ronaldo Bastos), Trem Mineiro (Wagner Tiso)Musicas Cedida pela POLYGRAM: Enquanto seu lobo não vem (Caetano Veloso) – Temas Musicais de Milton Nascimento, Abertura: Tema de Che Guevara (Versão de San Vicente) Tema Final – Músicos de Milton Nascimento: Paulinho Carvalho/ Neném / Marcos Viana / Paulinho Santos / Tulio Mourão / Sergio Alves – Temas Musicais de Wagner Tiso: Noites Moscou ( tema Original de Soloviev e Sedoy) – O Encouraçado PotemKim ( Tema Original de Dmitri Shostakovich)Músicos de Wagner Tiso: Ari Sperling / André Sperling / Mauro Senize Material Fotográfico e Documentação da época cedidos Por: Arquivo Nacional / Arquivo Nosso Século ( Editora Abril) / Arquivo Sonoro da radio Jornal do Brasil / Arquivo sonoro do Senado da Republica / Biblioteca Nacional / Biblioteca da Musica ( Consulado Geral do EUA) / Centro de Memória social / CPDOC Fundação Getúlio Vargas / Cinemateca do Museu Guido Viaro, Paraná / Cinemateca do Mam, Rio de Janeiro / Jornal do Brasil / Odilon Lopes / Revista Manchete ? Silvio Da-Rin / Tv Gaúcha / Tribuna da Imprensa / Ultima Hora.

Assista no link abaixo o encontro:

https://www.youtube.com/@EstadosGeraisdaCultura/videos

Chico Mário, a melodia da liberdade

“Chico Mário, a Melodia da Liberdade”, documentário de Silvio Tendler será exibido na terça-feira (6/12), a partir das 10h no Cineclube Muiraquitã O filme lembra a trajetória de um músico reconhecido por seus pares como um dos mais talentosos do seu tempo e que precisa ser descoberto por quem gosta de música de qualidade. Francisco Mário de Souza (1948-1988) tinha um DNA marcadamente mineiro e uma forte vertente instrumental, mas era fluente em vários idiomas da música brasileira, do popular ao erudito, e apostou na diversidade de ritmos, estilos e formas harmônicas. Compositor e violonista com uma imaginação sempre em ebulição, percorreu caminhos melódicos da música clássica e da nordestina, do choro, do sambando, em uma catarse que resultou em oito discos autorais em apenas nove anos. Irmão do cartunista Henfil e do sociólogo Betinho, Chico Mário teve trajetória marcada pelo sentido de urgência que a hemofilia impõe aos seus portadores. Assim como seus irmãos, foi contaminado pelo vírus da AIDS no final dos anos 1980 em uma transfusão de sanguessuga. Seus 39 anos foram de luta pela vida, por uma sociedade mais justa e pela música no final dos anos 1970, quando a música instrumental não encontrava espaço nas rádios e gravadoras, Chico Mário abriu espaço para o gênero. Foi fiel aos seus ideais de não compor apenas para atender à dinâmica do mercado fonográfico, mas sim em função das suas inquietações como artista. Em sua curta, mas intensa carreira musical, fez parcerias com artistas como Joyce, Quarteto em Cy, Antônio Adolfo, Aldir Blanc, Ivan Lins, MPB-4, Boca Livre, Danilo Caymmi. Foi um dos nomes centrais do movimento pela música independente e precursor do financiamento coletivo, que hoje chamamos de crowdfunding. Sem fazer concessões ao mercado de consumo, costumava dizer que Bach só foi reconhecido cem anos depois da sua morte. O documentário conta com a participação da Orquestra Ouro Preto, que homenageou o artista com o concerto “Ressurreição: Chico Mário 70 anos”, apresentado no Sesc Palladium, em Belo Horizonte, em 2018. O cantor e compositor Lenine e a atriz Bárbara Paz leem trechos de diários e cartas de Chico Mário. Seus filhos Marcos, que assina a idealização do projeto, e Karina Souza interpretam canções. Os violonistas Gilvan de Oliveira, Geraldo Vianna, Weber Lopes e João Camarero falam sobre a importância de Chico Mário para a canção e para a música instrumental e também interpretam músicas. Familiares e amigos de longa data, como crítico musical Tárik de Souza e o músico e arranjador Jaime Alem, participam do documentário, que foi um convite da família Souza ao cineasta Silvio Tendler. No documentário há entrevistas com Ana Souza, Antônio Adolfo, Filó de Souza, Geraldo Vianna, Gilvan de Oliveira, Glória Souza, Jaime Alem, João Camarero, Karina Souza, Marcos Souza, Nívia Souza, Regina Souza, Rodrigo Toffolo, Tarik de Souza e Weber Lopes. Às 19h30min nos canais do YouTube da Rádio Navarro e/ou dos Estados Gerais da Cultura haverá um debate sobre o documentário, com a participação do diretor Silvio Tendler, autor de mais de 300 documentários; Marcos de Souza, filho de Chico Mário e idealizador do projeto; e Antero Cunha, jornalista, advogado, cinéfilo e um dos fundadores do Cineclube Macunaíma. O mediador é o jornalista Marcus Miranda, que trabalhou em diversas assessorias de comunicação e foi subsecretário de Comunicação do prefeito Cesar Maia.

INFÂNCIAS PERDIDAS NO BRASIL

“Em 1998, o historiador Sydney Aguilar ensinava sobre nazismo alemão para uma turma de ensino médio quando uma aluna mencionou que havia centenas de tijolos na fazenda de sua família estampados com a suástica, o símbolo nazista. Esta informação despertou a curiosidade de Sidney e desencadeou sua pesquisa. Pouco a pouco, o filme mostra como o historiador avançou com a sua investigação, revelando que, além de fatos, ele também descobriu vítimas. Sidney mostrou que empresários ligados ao pensamento eugenista ( integralistas e nazistas) removeram 50 meninos órfãos do Rio de Janeiro para Campina do Monte Alegre/SP para dez anos de escravidão e isolamento na Fazenda Santa Albertina de Osvaldo Rocha Miranda. O trabalho de Sidney vai reconstituir laços estreitos entre as elites brasileiras e crenças nazistas, refletidos em um projeto eugênico implementado no Brasil. Aloísio Silva, um dos sobreviventes, lembra a terrível experiência que escravizou os meninos ao ponto de privá-los do uso de seus nomes, transformando-o no “23”. Sidney e outros historiadores e especialistas irão delinear os contextos históricos, políticos e sociais do Brasil durante os anos 20 e 30, explicando como um caldeirão étnico como o Brasil absorveu e aceitou as teorias de eugenia e pureza racial, a ponto de incluí-los em sua Constituição de 1934. A investigação culmina com a descoberta de Argemiro, outro sobrevivente do projeto nazista da Cruzeiro do Sul. Sua trajetória reforça ainda mais como os conceitos de “supremacia branca” e as tentativas de “branqueamento da população” marcaram nossa sociedade deixando sequelas devastadoras até os dias de hoje. Sendo o racismo e – mais ainda – a negação do mesmo, as mais permanentes.” Equipe Técnica: Direção: Belisario Franca Roteiro: Bianca Lenti e Belisario Franca Produção: Maria Carneiro da Cunha Produção Executiva: Cláudia Lima Edição: Yan Motta Musica: Armand Amar Fotografia: Thiago Lima, Mário Franca e Lula Cerri.

Saúde tem Cura

“Saúde tem Cura”, dirigido por Silvio Tendler com o apoio da Fiocruz, aborda a potência e as fragilidades do Sistema Único de Saúde (SUS), o único sistema de saúde do mundo que atende a mais de 190 milhões de pessoas gratuitamente. O filme mostra como era o Brasil antes do SUS, fala da luta para a sua criação, traça um panorama da atualidade e pensa o futuro da saúde pública. Conta com depoimentos de profissionais que participaram da sua criação; de médicos como Drauzio Varella, Paulo Niemeyer e Margareth Dalcolmo; de profissionais que atuam no dia a dia do sistema; de representantes da sociedade civil e de usuários.

A Bolsa ou a Vida

Militares da Democracia

Militares da Democracia resgata através de depoimentos e registros de arquivos as memórias repudiadas, sufocadas e despercebidas dos militares perseguidos, cassados, torturados e mortos por defenderem a ordem constitucional e uma sociedade livre e democrática. Eles lutaram pela Constituição, pela legalidade e contra o golpe de 1964, mas a sociedade brasileira pouco ou nada sabe a respeito dos oficiais que, até hoje, buscam reconhecimento na história do país. O filme reconstrói os momentos finais do governo João Goulart, quando atuação de integrantes das Forças Armadas foi decisiva. Em uma reunião em Porto Alegre, o general do Exército Ladário Pereira Telles se colocou favorável a organizar uma resistência ao golpe, posição diferente de outros três generais presentes na reunião. Ao conduzir o presidente de Porto Alegre para São Borja, o comandante do avião se colocou à disposição para levar Jango para onde quisesse porque cumpria ordens do comando militar, fiel ao presidente, mas Jango disse que seguiria com seus próprios meios quando fosse configurado um golpe de Estado.A série “Militares Da Democracia – Os Militares Que Resistiram Ao Golpe”, de Silvio Tendler, foi ao ar entre os dias 31 de março e 04 de abril de 2014 na TV Brasil. Episódio 4: “OUSAR LUTAR, OUSAR VENCER” A resistência de alguns setores das Forças Armadas continua mesmo depois do Golpe Militar. O Episódio discute a resistência armada e a dita resistência política, mostrando como alguns suboficiais subalternos foram o grande celeiro da luta armada. Vemos, também, como o processo de tortura, praticado desde os primeiros momentos do Golpe de Estado, é intensificado pela Ditadura com o decorrer dos anos. FICHA TÉCNICA Direção, Argumento, Roteiro e Texto: Sílvio TendlerDiretor Assistente: Luis Carlos de Alencar e Vladimir SeixasProdução Executiva: Ana Rosa TendlerProdução: Maycon AlmeidaDireção de Fotografia: Lúcio KodatoFotografia Adicional: Fabiana Fersasi, Cleumo Segond, Xeno Veloso e Vladimir SeixasNarração: Aline de Luna, Eduardo Tornaghi, Paulo César Pereio, Sérgio Ricardo e Michele Raja GebaraEdição: Daniel Haimson (Episódio 01, 02), Isac Maia (Episódio 03, 05), Ricardo Moreira (Episódio 04, 05)Edição adicional: Isac Maia (Episódio 01, 02), Ricardo Moreira (Episódio 01, 02) e Silvania Azevedo (Episódio 01, 02)Técnicos de Som: Aloísio Compasso, Fernando Basso, Francisco Graesmeyer, Gabriela Damasceno, Henrique Ligeiro, Leonardo Gomes, Phelipe Joannes, Rafael Alves Ribeiro, Rodrigo Manta e Vitor KruterAssistente de Produção: Aline Santos, Carolina Calcavecchia e Pablo MarkwaldTrilha Sonora: Vinicius Junqueira e Henrique PetersEdição de Som: Benhur Machado e Lulu FarahMixagem: Benhur MachadoDireção de Arte e Videografismo: Renato Viralouca e Rico VilaroucaCorreção de Cor: Anuar Marmo e Hebert MarmoEdição Online: Renzo MachadoCoordenação de Finalização: Vladimir SeixasAssistente de Videografismo:Thiago SacramentoTratamento de Imagem: Adão Santana e Pedro SarmentoCâmera Adicional: Maycon Almeida, Pablo Markwald, Fabio Fantauzzi e Fabiana FersasiFinanceiro: Darlene SantosAuxiliar de Escritório: Felipe NettoAuxiliar de Pesquisa: Joao CoutoPesquisa: Alessandra Schimite, Carla Siqueira, Lilia Diniz e Vladimir SachettaAssistente de Pesquisa: Clóvis Gorgonio, Laura Cantal e Maycon AlmeidaConsultoria: Alfredo Daudt, Fernando de Santa Rosa, Jair Krischke, Karla Carloni, Paula Cunha, Paulo Ribeiro, Pedro Moreira Lima, Wilma Antunes e Vladimir Sacchetta.

Buscar no canal dos Estados Gerais da Cultura, no Youtube os 4 episódios desse documentário.

Quilombolas da Amazônia: Vida e Luta

Waldirene Cruz é uma corajosa militante em defesa dos quilombos do Baixo Tocantins, na Amazônia, educadora popular, agroecologista, negra, que vive no quilombo de Nova Esperança, em Cametá, no Pará. É técnica em agricultura da Casa Familiar Rural de Cametá, atua em Pedagogia da alternância, defensora dos pobres e minorias. Também contribuiu para o movimento político de esquerda como ex-diretora da CUT/PA.

Portinari e os Direitos Humanos

Um encontro com João Candido Portinari, para falarmos sobre a obra e o legado de seu pai, o genial artista plástico Candido Portinari. Cândido Portinari foi pintor, gravador, ilustrador e professor. Nascido em Brodowski/SP, foi dos mais importantes nomes do modernismo brasileiro, reconhecido internacionalmente. Mudando suas técnicas ao longo do tempo, Portinari nunca perdeu o foco no povo brasileiro, suas mazelas sociais e na questão dos direitos humanos. O filho, João Candido Portinari, trabalha há décadas na catalogação do acervo de Portinari. Graças ao levantamento minucioso feito por ele, foi possível catalogar mais de cinco mil pinturas e 30 mil documentos. João Candido possui Ph.D. pelo Massachusetts Institute of Technology (MIT/EUA) e está a frente do Projeto Portinari, que desde 1979 dedica-se à democratização da vida e obra de seu pai.

Sobre Piolhos e Outros Afagos, com Daniel Munduruku

Daniel Munduruku é um premiado escritor e professor, pertencente ao povo indígena Munduruku. Autor de 54 livros publicados no Brasil e no exterior, é graduado em Filosofia, História e Psicologia, possui Mestrado e Doutorado em Educação e Pós-Doutorado em Linguística, além de ser um ativista incansável do Movimento Indígena Brasileiro. A participação artística ficará por conta da maravilhosa multi-artista e arte educadora *Nani Braun*.

Somos todos Sacis

Não é por acaso que o saci tem espaço presente no dia 31 de outubro. O símbolo dos Estados Gerais da Cultura, ilustração de Fúlvio Pacheco, foi tema do nosso encontro-celebração que marcará uma pausa nos bate-papos de domingo. “Xô Haloim”, diz saci. Xô cultura que não é nossa e que foi imposta pelo consumo. Portanto, ‘Somos todos Sacis’- poderá ser afirmação ou pergunta – e nossos seguidores só descobrirão se assistirem o debate que será apresentado pelo professor e historiador, José Carlos S. B, Meihy, um dos idealizadores da Associação Brasileira e História Oral (ABHO).

Hino dos Estados Gerais da Cultura

Filha de Prestes emociona-se ao ler a carta de sua mãe Olga Benario

A emoção não foi somente da filha ao ler fragmentos da carta de Olga, sua mãe, como de todos que a assistiam e também compartilhavam da intensidade das palavras escritas pela revolucionária comunista semanas depois que conseguiu entregar sua filha a avó.

A voz dela tremeu um pouco e embargada pela emoção fez a leitura da carta de Olga Benario Prestes para seu marido Luiz Carlos Prestes: “Que Anita Leocádia seja a representante do nosso amor e da nossa solicitude junto a nossa mãe”.

Com essa frase Olga Benário Prestes encerra a primeira carta dirigida ao líder comunista, Luiz Carlos Prestes, datada de 12 de fevereiro de 1938, escrita logo após a entrega da filha Anita Leocádia para sua avó paterna, uma grande conquista da alemã-judia Olga, que se encontrava numa prisão nazista e precisava proteger seu bebê do encaminhamento a um orfanato na Alemanha, no qual seria criado na época de acordo com os interesses de Hitler.

Anita Leocádia Prestes hoje tem 84 anos. Vive no Brasil, é escritora, professora e historiadora. Sua vida foi marcada pela trajetória revolucionária dos pais e graças ao poder da literatura e da arte, pode contar a história de seus pais, um casal que em nenhum momento desistiu de lutar pela igualdade e liberdade de um povo

A leitura das cartas dos dois revolucionários foi um presente a todos que assistiram o encontro promovido pelos Estados Gerais da Cultura, num fim de tarde dominical, um dos mais emocionantes debates, entre os maravilhosos já realizados, que nos trouxe alguns fragmentos de uma história desumana e injusta sobre equívocos do poder e abusos cometidos pelos homens em nome de causas políticas, inserido no tema Teatro Remoto e Resistência Artística.

Luiz Carlos Prestes foi um militar e político brasileiro, comunista e uma das personalidades políticas das mais influentes no Brasil durante o século XX. Olga Benario, sua companheira, foi militante política alemã-judia da Internacional Comunista, juntos tiveram uma filha Anita Leocádia, cujo parto foi feito numa prisão na Alemanha.

A primeira carta lida por Anita foi a de Luiz Carlos Prestes dirigida à sua mãe Leocádia, que estava no México, em novembro de 1940. Uma preciosidade histórica, na qual Prestes revela de si uma tenacidade fora do comum e um espírito de humildade e esperança. Em nenhum momento percebe-se palavras de desalento e a vontade de desistir. Ele tinha sido condenado já por 16 anos e oito meses de prisão e quando escreve a carta soube de uma nova sentença que lhe condenava a cumprir mais 30 anos, num total 46 anos de prisão.

“Quero que tenha a certeza de que apesar que tudo que há de triste e desagradável na situação em que me encontro não me sinto absolutamente infeliz e não há nada que consiga a levar ao desespero. Cada vez compreendo mais, claro e nitidamente os acontecimentos e isso me dá uma grande força. Além do mais, tudo que me acontece na vida. por mais que negativo que nos pareça, tem sempre seu lado positivo e é sobre ele que devemos refletir quando nada mais podemos fazer. Esta última condenação, pela própria brutalidade de sua grandeza muito me tem feito pensar. Seja ela definitiva ou transitória eu bem sinto que marcou definitivamente a minha vida. Parece que assim como a morte, esta grande niveladora que a todos, pobres e ricos, sábios e ignorantes, a todos nos iguala. Esta sentença livrou-me agora do resto do orgulho e ou de vaidade que certamente ainda possuía e atirou-me definitivamente no mar imenso dos mais humildes e desprotegidos. E isto sinceramente não me desagrada.

A primeira carta de Olga Prestes depois da entrega do bebê, a mãe Leocádia, um mês depois, expõe a mulher forte e determinada que foi essa alemã-judia em sua militância, sobretudo o grande amor que unia o casal. Anita Leocádia saiu da prisão em 21 de janeiro de 1938 e Olga escreveu a carta em 12 de fevereiro do mesmo ano. É uma carta que se lê deixando lágrimas escorrerem livremente pela face, tal é a intensidade de sentimentos misturados com o afeto pelo marido e pela filha, expressa na mensagem. Olga escreve que o período mais negro de sua vida foi de março de 1936 a fevereiro de 1938, período da prisão dos dois. Mal ela sabia, que ainda viveria por mais quatro anos suportando todo o tipo de tortura praticados nos campos de concentração nazistas, na Alemanha, contra os judeus.

“Certamente já sabe há muito tempo, pela nossa querida mãe, que a nossa pequenina não está mais comigo. Posso afirmar, com certeza, que de 5 de março de 1936 a 21 de fevereiro de 1938, atravessei o período mais negro de minha vida. Entende certamente, o quanto um homem pode compreender o que se passou em mim e o que se percebe e o que significa ser mãe. Diante de tais acontecimentos tem-se a seguinte alternativa: o bem se é cobrado o bem te endurece. Tu sabes que somente a segunda alternativa pode a mim colocar. Para isso sou ajudada firmemente pelo fato de que ainda sou capaz de distinguir entre pouco significado do que diz respeito a uma pequena pessoa em particular e os acontecimentos que interessam em geral a todo e ao inverso. Mas já imaginaste alguma vez, como são extraordinários os azares do destino. Nós dois estamos atrás dos muros de uma prisão em dois continentes diferentes. Da nossa vida em comum nasceu um pequeno ser e agora este ser encontra-se seguro nos braços da nossa querida mãe. Que Anita Leocádia seja a representante do nosso amor e da nossa solicitude junto a nossa mãe”.

Como é para você Anita revendo este passado dos seus pais, como é para você que continua na luta que eles tiveram?

Desde muito pequena fui educada pelas minha avó e minha tia. Desde a mais tenra infância, dentro do entendimento de uma criança, eu sabia da história dos meus pais que estavam numa prisão, um no Brasil e outro na Alemanha e tinha uma ideia simplificada do que era o nazismo, o fascismo- no olhar de uma criança. Mas sempre me orgulhei da luta deles empenhados num futuro melhor para todas crianças do mundo.

Eu sempre fui criada numa família comunista, minha avó e minha tia. Eu fui criada neste clima de muita solidariedade. Os exemplos de meus pais sempre orientaram a minha vida. Nunca pretendi ser igual a eles, evidentemente, mas seguir o exemplo. E sempre tive e continuo tendo muita admiração por eles. E hoje em dia que já estou com muita idade, 84 anos, às vezes relembro estas cartas e as coisas que eles escreveram e realmente relendo aqueles textos agora, os entendo de maneira diferente. Compreendo-os com mais profundidade, a grande profundidade dos sentimentos, do sofrimento e mesmo da firmeza destes dois revolucionários. Acima de tudo, o Prestes e a Olga já eram revolucionários. O Prestes antes de ser comunistas já era revolucionário. A Olga desde os 15 anos já tinha saído de casa para participar dos movimentos revolucionários na Alemanha. Eu fui educada neste ambiente e hoje relendo esses documentos, essas cartas, claro que frequentemente me emociona, apesar de já conhecer a história de longa data, me surpreendo com a firmeza deles. Este meu último livro, a comunista Olga nos arquivos da Gestapo, foi para complementar o livro de Fernando Moraes, com essa documentação que estava desconhecida. Uma documentação riquíssima que traz informações sobre Olga que nós não tínhamos. Ela não saiu do campo de concentração como outras colegas conseguiram sair para países que ofereciam asilo político porque ela nunca concordou em delatar os companheiros da Internacional Comunista e os dela .Tem vários depoimentos dela e a Gestapo pressionava neste sentido. “Se outros se tornaram traidores eu jamais serei”. Por isso não saiu da Alemanha, e por isso que foi assassinada em abril de 1942 numa câmara de gás. Então, essa firmeza deve ser um exemplo para novas gerações. Por isso, procuro aproveitar os espaços para que estas informações cheguem as novas gerações. Acho muito importante teatro, cinema, arte, trabalhos culturais, porque é uma forma de levar para as grandes massas, para juventude, o conhecimento. O conhecimento chega de forma muito mais palatável, muito mais compreensível, através da arte, de um bom filme, do teatro, da música, muitas mais do que como nós, historiadores, escrevemos longos tratados. Isso não quer dizer que uma coisa invalida a outra. Mas a forma de chegar ao povo, às grandes massas, que a cultura a arte permitem, é insubstituível. Não é por acaso que um governo que caminha para o fascismo como este do Bolsonaro, atinge, grandemente, em grande parte, prioritariamente, a cultura e a arte. O cerco é de desmantelar. Depoimento de Anita Leocádia.

Confiram mais no vídeo:

‘A gente combinamos de não morrer’

foto via Feira do Livro de Porto Alegre – todos os direitos reservados

A frase original é marcada por essa dicção popular: “A gente combinamos de não morrer”.  São marcas de oralidade que eu quero levar pro texto. Para chegar a esse conceito, de “escrevivência”, eu vou pra História das mulheres escravizadas na casa grande. O corpo delas estava inscrito na economia de produção, do lazer, do prazer, da educação… Seus corpos produziram trabalhos. Mas não só os seus corpos: as suas palavras. A palavra dessas mulheres vai influenciar muitíssimo a nacionalidade brasileira a partir da língua, é o que Lélia Gonzalez fala: que nós falamos o pretoguês.

Um autor que a gente lê com muito cuidado é o Gilberto Freyre. Ele fala em “Casa Grande & Senzala” que a descendência dos colonizadores aprendia a falar o português muito mais com essas mulheres do que nos próprios espaços de educação que a casa grande reservava pra eles, que eram os colégios religiosos. Elas foram também as primeiras professoras da prole da casa grande. Elas tinham que contar as histórias pra prole da casa grande. Tinham seus corpos escravizados e tinham também a palavra direcionada, a palavra delas cumpria uma função.

A nossa “escrevivência” não é pra adormecer os da casa grande, e sim para acordá-los de seus sonhos injustos. A nossa palavra hoje quer borrar essa palavra que ficou pra trás, essa palavra escravizada, mas ao mesmo tempo essa palavra escravizada que nos deu sustança, que foi o nosso fio de prumo.

A potência da palavra dessas mulheres também foi usada no processo de escravização. Então até a palavra delas tinha um dono, era o senhor. Se elas quisessem guardar silêncio naquela noite, não podiam. Pelo menos enquanto aquelas crianças não dormissem. É a famosa Mãe Preta tão incensada na literatura brasileira, que pensa nessa mulher com tanta abnegação.

O que que eu quero contrapor a isso? A escrita das mulheres negras. É como se a nossa escrita borrasse esse quadro. Nossa escrevivência não é para adormecer os da casa grande, e sim para incomodá-los nos seus sonos injustos. O que as mulheres negras estão produzindo hoje a partir de seus lugares de pertença, é uma produção que não tem esse compromisso de apaziguar a casa grande, pelo contrário, incomoda a casa grande. Nossa escrevivência nasce dessa coletividade negra que traz toda uma herança, uma ancestralidade, dos povos afro-diaspóricos.

Eu quero pensar a escrevivência político-partidária das mulheres negras. Como a morte de Marielle, o sacrifício de Marielle, acabou sendo fecundante. A gente sabe que a presença das mulheres negras em partidos políticos elas não são facilitadas. Essa escrivência ainda é uma busca de afirmação. Nas convenções partidárias elas não recebem tanto apoio. E é bom lembrar que a presença de mulheres negras em partidos políticos populariza esses partido. Nós sabemos muito bem como Marielle popularizou o partido dela, como Benedita popularizou o partido dela…

A política cultural que Tia Ciata fez  marcou o Rio de Janeiro e a cultura brasileira. Qualquer brasileiro que saia do Brasil, seja ele branco ou negro, a primeira coisa que se pergunta é se ele sabe sambar. E se a cultura africana marca profundamente a nacionalidade brasileira, ela tem que marcar profundamente também os espaços de poder.

Como essa escrivivência negra se dá na literatura brasileira, na própria instituição literária? Como a crítica literária trata essa produção de autoria negra? Que produção de autoria negra essa crítica literária se debruça pra ler, pra compreender, pra valorizar. Não é comum as escritoras negras estarem presentes nessa organização das feiras literárias. Quem acompanha a história da FLIP sabe que isso se deu apenas a partir do momento em que as intelectuais negras passaram a reivindicar esses espaços.

Apesar do primeiro romance brasileiro ter sido escrito por uma autora negra, que é Maria Firmina dos Reis. Nós temos tido avanços. A UFRJ conceber o título de Doutor Honoris Causa a Carolina Maria de Jesus eu acho que isso denota um avanço mas não denota que nós estamos satisfeitas, que isso nos basta.

Na Universidade, os reitores, os chefes de departamento, são ocupados por homens, depois tem uma presença das mulheres brancas, e raramente das mulheres negras. Sem falar na pobreza em si, grande parte das mulheres negras ainda está desempenhando funções importantíssimas, mas subalternizadas pelo imaginário da sociedade brasileira.

Eu não gosto muito do termo “contribuição”, contribuição das culturas negras, ou a contribuição dos povos africanos na formação brasileira. Não é contribuição! É presença ativa mesmo.

Hoje aos 74 anos eu vejo uma menina vivendo as mesmas angústias: que é um discurso que ainda precisa afirmar a condição dela como negra, precisa ainda afirmar a dignidade dela enquanto pessoa negra. Quando nós vamos realmente nos construir enquanto nação? Quando nós vamos realmente poder pensar: existe uma pátria mãe gentil? Para todas, para todos e para todes? Há uma certa dificuldade nos espaços de poder na sociedade brasileira de encampar essa questão da negritude brasileira, não só no nível do discurso, mas no nível das ações. Me chamou muita atenção que intelectuais brasileiros, que conhecem a história da escravização no Brasil, por que no momento de assinatura das ações afirmativa eles recusaram? Quando as cotas passaram a ser implementada nas Universidades houve um abaixo-assinado com intelectuais, artistas brasileiros, é fácil acessar essa lista pra ver. O abaixo-assinado gerou um espanto para muitos de nós.

Fica uma certa curiosidade e até uma dolorosa incompreensão como intelectuais brasileiros recusaram-se a apoiar as cotas, e a gente tem sempre afirmado que a questão negra no Brasil não é uma questão para o negro resolver, é uma questão para  a sociedade brasileira resolver. Assim como a questão indígenas não é uma situação para os povos indígenas resolverem, é uma situação para a nação inteira resolver.

As ações afirmativas começam a ser discutidas em termos de Estado brasileiro, no governo Fernando Henrique e vão se concretizar com mais veemência no governo Lula e no governo Dilma. As pessoas pensavam as ações afirmativas somente como a questão das cotas. Um dos efeitos das ações afirmativas no campo da saúde foi a obrigatoriedade do teste para detectar a anemia falciforme na medida em que tem uma incidência muito forte na população negra. As ações afirmativas não nascem de cima pra baixo. A lei 10.639 que institui o estudo das culturas africanas e afro brasileiras, e mais tarde das culturas indígenas, não nasceu de cima. Essas demandas populares são atualizadas em governos. Houve pesquisadores que trabalharam com Carolina de Jesus que não estavam no movimento negro. Mas essa reivindicação vem sobretudo de alunos que ingressaram pelas cotas. Isso também acontece dentro dos partidos, reserva de vagas para mulheres, negros e indígenas.Hoje também a gente já vai perceber um número maior de pessoas negras apresentando produtos, saindo dos lugares comuns na propaganda.

Qualquer atitude do Estado não é favor. É muito estranho dizer que o Estado está demarcando as terra indígenas. As comunidades indígenas é que teriam direito de demarcar terras para brancos. Não é favor. Não é privilégio. O Estado está devolvendo tardiamente e de maneira incompleta o que sempre foi tomado dessas populações.

Foi muito simbólica a minha candidatura na Academia Brasileira de Letras. Eu não entrei mas eu tenho certeza que vai ter um momento que a Academia vai ter que pensar o que foi a minha candidatura. Muitas pessoas me ligaram: você não vai dizer nada? Não. O interessante não é ser o primeiro, mas é abrir caminhos. Eu tenho certeza que a minha candidatura abre caminho para organizar outras candidaturas. Eu acredito que um candidato tem que ser avaliado a partir das obras. O resto, se acontece, não faz sentido. Quem perdeu foi a Academia, de afirmar a diversidade da literatura brasileira, perdeu o bonde da História, infelizmente. Não há como conceber uma casa que represente a literatura brasileira, inclusive com a ausência de mulheres. O mundo está mudando e a Academia vai mudar também.

Estamos o tempo todo buscando e sendo impedidos em nosso direito de ser. Emocionalmente isso é muito doloroso. Ceifa nossa saúde emocional e nossa saúde física. Nós não podemos falhar, a sociedade não tem nenhuma complacência conosco. Estamos o tempo todo buscando o direito de sermos, com nossas potencialidades e imperfeições. O ser humano é feito de potencialidades e de limitações.

Me angustia muito o modo como Carolina morreu, ela morreu de síndrome asmática. Por mais que ela tenha dito e escrito, ficou muita coisa engasgada. Ela poderia ter mais, ser mais, dizer mais. Se ela tivesse tido a recepção de uma carreira mais duradoura, sem sombra de dúvida o direito de ser dela teria sido vivido plenamente. Dizem que a vida começa aos 40 anos. A vida começa aos 70. Porque foi depois dos 70 anos que eu passei a ter mais oportunidades na literatura.

Escrever é uma maneira de sangrar. Escrever é um processo muito doloroso. As personagens que eu crio são personagens que estão muito próximos de uma vivêcia coletiva, muitas coisas não são uma vivência pessoal, eu componho com uma herança histórica que eu trago em mim. Mas também é o que me dá alívio. Então escrever é a minha zona de prazer e é também a minha cena de dor. Esse nó na garganta ele tem que ser muitas vezes engulido para sair de uma outra forma.

Grande parte dos meus morrem sufocados, essa morte física e simbólica. Quando você não tem esse espaço para ser. Isso dá uma canseira, um desânimo, um aborrecimento. Ajuntando sua precariedade você constroe algo melhor pra você. O silêncio dói mas ele nos compõe. Muitas vezes é preciso ficar silenciosos. As comunidades quando estão silenciosas, estão se fortalecendo, se recuperando, se alimentando. O silêncio e o grito nos constituem, a literatura é muito isso também, silêncio e grito.

Ideias de Conceição Evaristo, com edição da cineasta Maria Rita Nepomuceno, que faz parte dos Estados Gerais da Cultura, atua na área de criação e curadoria em audiovisual.

Carnaval é multicêntrico!

Embaixadores da Alegria Foto via Silvio Tendler

A interrupção abrupta de dois anos sobre o Carnaval, provocado pela pandemia covid19, tem sido pedagógico para a compreensão profunda desse fenômeno tão importante no significado da vida da população brasileira. Ele mobiliza crianças, jovens e adultos na produção dessa arte cênica que revira as vísceras do cotidiano, como processo político mais participativo, na expressão da identidade mais límpida do que significa o Brasil.Pode-se dizer que no Carnaval, politica, religião, não só se discute mas é inspiração profunda, transversalizada na potência da sexualidade, no milagre das máscaras, que INVERTE a burocracia do dia a dia

Flavio Lara, dos EGC, e a Velha Guarda das favelas Cantagalo Pavão e Pavãozinho. Segundo ele, foi acolhido e com eles foi desfilar pelo Alegria da Zona Sul lá em Madureira as 6:00 do domingo de carnaval. (imagem cedida por Flávio)

Pode-se dizer que no Carnaval, politica, religião, não só se discute mas é inspiração profunda, transversalizada na potência da sexualidade, no milagre das máscaras, que INVERTE a burocracia do dia a dia.

É no Carnaval que a história originária do Brasil e sua sequência vêm à tona, inclusive, de forma mais compreensível e universal do que nas instituições escolares. Também pudera, sem grade curricular e carga horária, que controlam as disciplinas, a música, a dança e liberdade “libidinosa”, literalmente, ganham corpo.

Silvio Tendler no Embaixadores da Alegria

A visão crítica do cotidiano obtuso e da estrutura que o condiciona, é feita com arte e de forma explícita. Todavia, a “Inversão” de classe que se verifica é de impressionar os clássicos: o asfalto se representa nas ruas, com blocos da diversidade, enquanto a grande arte cênica da Avenida Sapucaí e outras pelo país, é protagonizada pelas favelas e periferias (apelidada de “comunidades”), organizada em Escolas de Samba, que “negociam” as condições de mercado, inclusive, as transmissões visuais, com TV, marketing, design…, enfrentando as contradições do Samba Enredo e e suas Representações.

Bloco do Cccp.Comuna que os Pariu. A turma do EGC caiu na folia, Silvio Tendler, Rubens Ragone, Vladimir Santafé, Fabiana, Flávio, Tornaghi, e muito gente alegre.

Entre os tratamentos acadêmicos, destaque para o clássico do antropólogo Roberto da Matta, com Carnavais, Malandros e Heróis. O significado da casa é da rua se preenche de rituais com máscaras, estolas ou vestes brancas, deuses, demônios e “ovnis”, habitam, à vontade, a terra Brasil. Ao tratarmos do maior acontecimento nacional, banhado na diversidade e na diferença, estamos falando de um plus econômico, com dimensões quase imprevisíveis, nas relações de mercado na verba pública e na economia familiar. Os números totais são definitivos nas dimensões brasileiras da economia global.

Alegoria sobre Lampião. Imperatriz Leopoldinense, a grande vencedora do Carnaval do Rio de janeiro . foto via internet todos BdF.

A arte exibida na Sapucaí é em outros Sambódromos pelo país e a expressão popular do Pelourinho, Ondina….o Galo da Madrugada, Ponto Zero e osBonecid DF, Olinda, é produzida durante o ano todo, nas Escolas de Samba é com os diferentes trabalhadores da Cultura em todo país. A rede hoteleira e as redes de comunicação e propaganda dão conta de outra grande arrecadação e emprego de força de trabalho. Os Blocos de rua têm gastos sazonais, mas de grande porte, com milhões de participantes.
Esse acontecimento pleno e abrangente inunda o Brasil de ponta a ponta, com destaques, no entanto, para Sudeste e Nordeste, este, a bola da vez no reconhecimento de sua potência política e cultural!

E LAMPIÃO continua trazendo o Nordeste para a multicentralidade do Brasil, dessa vez, através da IMPERATRIZ!

Texto de AdairRocha
Professor titular da UERJ e
Diretor doDepartamento Cultural, da Sub Reitoria de Extensão e Cultura.

Movimento contra a vergonhosa venda da área verde da UFRJ

A reitoria da UFRJ está chamando de “equipamento cultural”. A reforma do campus vai do antigo Canecão até o Hospital Deolindo Couto, numa área hoje murada com desenhos de ídolos do Botafogo — paredão este que será derrubado. É no final do parque que ficará a casa de espetáculos, a ser administrada pela iniciativa privada por cerca de 25 anos. Intelectuais e artistas estão contra o projeto, incluindo o cineasta Silvio Tendler, o urbanista Edesio Fernandes, o ex-Ministro da Cultura, Juca Ferreira.

Tomem vergonha senhores professores!

Edésio Fernandes escreveu:

“Há muitos anos tenho comentado sobre a saga do Canecão/Campus da Praia Vermelha da UFRJ, destacando a maneira incompetente e pouco transparente com que a Reitoria – em mandatos sucessivos – tem tratado da questão
Depois de um projeto megalomaníaco há uns dois ou três anos, uma novo projeto foi anunciado recentemente e eu mesmo fui enganado pelas notícias que davam a entender que um novo equipamento cultural para substituir o Canecão em ruínas seria construído – ainda que maior e mais alto – no mesmo local
Mas não, na verdade a proposta é de que o novo equipamento seja com construído numa área livre e verde do campus que seria leiloada
Proposta absurda que, espero, seja rejeitada
E continuo procurando o posicionamento dos dois cursos de Urbanismo da UFRJ…”

Edésio Fernandes é Bacharel em Direito, especialista em Urbanismo pela UFMG e doutor e mestre em Direito pela Universidade de Warwick (Reino Unido), autor e organizador de diversas obras sobre Direito Urbanístico.

Ex-Ministro da Cultura, Juca Ferreira

Assine manifesto de apoio a Silvio Tendler para representar o Brasil na UNESCO

Para apoiar a candidatura de Silvio Tendler a Embaixador Brasileiro na UNESCO, basta entrar no link ao final do texto

“Por que sou candidato a Embaixador na UNESCO?
Sou candidato a embaixador Brasileiro na UNESCO para defender internacionalmente um projeto para o cinema cultural, que, a cada dia, tem menos espaço nas salas de arte, filmes imprensados pela indústria do entretenimento e guetificados em espaços restritos. A UNESCO foi fundamental para o cinema cultural no pós guerra e no estímulo aos cineclubes, na formação de plateias e cineastas. Quero ajudar a desenvolver esse trabalho internacional e, aos 72 anos de idade, com ampla obra de criação premiada mundo afora, 41 anos como professor universitário e gestor público, ocupando diversos cargos na área cultural, me apresento como candidato a Embaixador do Brasil na UNESCO.”

Entre neste link para assinar

Por que Silvio Tendler é candidato a Embaixador do Brasil na UNESCO?

” A arte não muda o mundo. Influencia as pessoas que mudam o mundo”, Silvio Tendler. A frase é do ‘cineasta dos sonhos interrompidos’ e também pensamento de todos que fazem parte dos Estados Gerais da Cultura, que apoiam a sua candidatura para Embaixador do Brasil na UNESCO. “A vida hoje exige uma transversalidade que a globalização na qual vivemos, faz da UNESCO, o organismo internacional adequado para construir esse debate que íntegra arte, educação, ciência e tecnologia”, afirma ele.

“Por que sou candidato a Embaixador na UNESCO?

Um dos fundadores da Unesco e um dos seu mais marcantes diretores foi o químico, Paulo Carneiro.
Faz parte dos costumes que o Embaixador Brasileiro não seja necessariamente um embaixador de cadeira.Posto em tempos recentes a Embaixada foi ocupada pelo cientista Israel Vargas, que substituiu o escritor e jornalista Fernando Pedreira.Sou candidato a embaixador Brasileiro na UNESCO para defender internacionalmente um projeto para o cinema cultural, que a cada dia tem menos espaço nas salas de arte, filmes imprensados pela indústria do entretenimento e guetificados em espaços restritos.A UNESCO foi fundamental para o cinema cultural no pós guerra e no estímulo aos cineclubes na formação de plateias e cineastas.Quero ajudar a desenvolver esse trabalho internacional e aos 72 anos de idade com ampla obra de criação premiada mundo afora, 41 anos como professor universitário e gestor público, ocupando diversos cargos na área cultural, me apresento como candidato a Embaixador do Brasil na  UNESCO.”

Silvio Tendler é um dos mais renomados documentaristas brasileiros e produziu filmes que são relatos e análises preciosas dos mais importantes momentos da história política e social de nosso país. Filmes memoráveis como Jango, Os anos JK, Militares da democracia, Privatizações: a distopia do capital e O veneno está na mesa e os mais recentes: A Bolsa ou a Vida e Saúde tem Cura. Todos podem ser assistidos no Youtube, no canal Caliban, cinema e conteúdo.

O cineasta dos ‘sonhos interrompidos’, como é conhecido pelos temas de seus filmes que destacam personalidades que não conseguiram concretizar seus projetos utópicos em prol de um mundo melhor, provocou um despertar entre artistas, intelectuais e profissionais. Um chamamento para que saíssem do estado de passividade e reagissem contra a destruição cultural no país. Uma convocação, um convite que resultou nos Estados Gerais da Cultura.

O movimento criado em 2020 – durante a pandemia, é amplo e plural em defesa da arte e cultura como valores coletivos, públicos, um direito constitucional e universal. Fazem parte dele artistas, intelectuais, profissionais e todos que acreditam na arte como meio de transformação social. “Somos pela liberdade e a paz dos povos, sem distinção de raça, credos e nacionalidade. Nosso lema é: ‘Com arte, ciência e paciência mudaremos o mundo’”.

“A gente está num momento de recriação do nosso Universo, do mundo como um todo. Estamos precisando lutar de forma internacional contra as guerras hoje simbolizadas, sobretudo pela Rússia e pela Ucrânia. Mas têm muitas guerras pelo mundo. Você tem hoje o drama dos imigrantes, que é universal, o drama da fome. Acho que a UNESCO pode ajudar nisso tudo, não como um órgão burocrático, mas sim como um órgão que atua na recriação de um mundo de paz e para promover a paz no mundo, deve-se passar  por tudo que a instituição trata – arte, ciência, educação e tecnologia. Para isso, precisamos trabalhar de forma conjunta e integrada com essas áreas e reviver e lutar, sobretudo por uma coisa que foi muito trabalhada pelo UNESCO nos anos 70, que foi a democratização da informação. Tem tudo a ver com os princípios dos Estados Gerais da Cultura. Quando pensei nos EGC, pensei muito na UNESCO. Nós fizemos durante um ano ou mais, durante a pandemia, uma espécie de UNESCO. Ouvimos cientistas, políticos, pesquisadores, artistas, com poucos meios que tínhamos e provocamos o debate. Assim, quero fazer de forma internacional”.

Jango -Como, Quando e Por que se derruba um presidente

O momento político é apropriado e oportuno para debater sobre o ‘filme Jango’, que está na pauta do Cineclube Muiraquitã, para esta terça-feira às 19:30, num encontro online pelos canais do Youtube da Rádio Navarro e dos Estados Gerais da Cultura. Assistí-lo é fundamental para entender a história política brasileira e como se processa nos bastidores um golpe de Estado. Jango é um dos documentários mais emblemáticos dos filmes já produzidos por Silvio Tendler. Não deixe de assistí-lo (clique aqui.), antes de participar do debate.

Duas semanas antes de morrer em 21 de junho de 2004, no Rio, aos 82 anos, Leonel Brizola chamou Denize Goulart, filha do presidente João Goulart, para lhe pedir perdão por ter insistido com o presidente deposto, em 1964, para que resistisse ao golpe militar. ‘Resistir teria sido um erro e, hoje, reconheço que Jango tinha razão’, disse Brizola à sobrinha.

Jango e Brizola não se falaram durante 12 anos e a filha de Jango revelou a conversa pela primeira vez em público durante o debate virtual do Cineclube Macunaíma da ABI, em fevereiro de 2021.O fato aconteceu após a apresentação do documentário Jango, do cineasta Silvio Tendler, que rodou também um filme sobre Brizola.

Jango volta a ser exibido on line no Cineclube Muiraquitã, 54 anos após o decreto do AI-5 nessa data. O filme foi lançado em 1984, tem 117 minutos e mostra a trajetória política de João Goulart, o 24º presidente brasileiro, deposto por um golpe militar nas primeiras horas de 1º de abril de 1964.

Goulart era popularmente chamado de “Jango”, daí o título do filme, lançado exatos vinte anos após o golpe, em 1984. A reconstituição da trajetória de Goulart é feita através da utilização de imagens de época e de entrevistas com importantes personalidades políticas como Afonso Arinos, Leonel Brizola, Celso Furtado, Frei Betto e Magalhães Pinto, entre outros.

Foi também exibido em 1984 na Campanha das Diretas que resgatou a imagem de Jango, mostrando-o como um político hábil e que tomou a atitude certa ao deixar o cargo, exilando-se no Uruguai com a família. Às 19h30, haverá o debate sobre o filme com a participação do diretor Silvio Tendler que sente muita falta do ex-governador do Rio Grande do Sul e do Rio de Janeiro Leonel Brizola, mas acredita que o presidente deposto estava certo ao evitar um “banho de sangue” no país. Participam ainda o político João Vicente Goulart, filho de Jango; a socióloga Bárbara Goulart, neta do ex-presidente; Denize Goulart, mãe de Bárbara e filha de Jango; e o jornalista e escritor Cid Benjamin que será o mediador.

Debatedores

Debatedores Silvio Tendler – é o cineasta com mais de 300 documentários em seu currículo e, além de Jango, filmou, entre eles, JK, Tancredo e seu último filme é sobre o SUS durante a pandemia: A saúde tem cura.. Silvio pertence também à Academia Carioca de Letras e, este mês, fez seu depoimento para a posteridade no Museu da Imagem e do Som.

João Vicente Goulart – é político e filósofo e foi um dos fundadores do Partido Democrático Trabalhista, ao lado do seu tio Leonel Brizola. É fundador e atual presidente do Instituto João Goulart, que tem objetivo voltado para a pesquisa histórica e à reflexão sobre o processo político brasileiro em prol da soberania nacional. Exerceu um mandato de deputado na Assembleia Legislativa do Rio Grande do Sul, em 1982, pelo PDT e fez oposição quando o governo do Distrito Federal barrou a construção do Memorial da Liberdade e Democracia Presidente João Goulart.

Bárbara Goulart – é doutora em Sociologia pela UFRJ e na École des Hautes Études de Paris, mestre e bacharel em Ciências Sociais pelo CPDOC da Fundação Getúlio Vargas e pesquisadora de pós-doutorado no IESP da UERJ. Sua tese de doutorado “O passado em Disputa: Memórias Políticas sobre João Goulart” foi publicada em livro este ano pela Editora 7 Letras. Bárbara também foi co-diretora e co-roteirista do documentário “Terra Revolta: João Pinheiro Neto e a Reforma Agrária” que será lançado no próximo ano.

Denize Goulart – é historiadora formada pela PUC/RJ e também dirige o Instituto João Goulart que difunde a memória de Jango, o único presidente brasileiro a morrer no exílio. Denize também dirigiu o filme Dossiê Jango e produziu Jango.

Cid Benjamin – é jornalista e escritor e em seu livro Gracias a la vida conta o sequestro do embaixador norte-americano Burke Elbrick, em 1969, do qual participou, além de sua prisão, tortura, exílio e volta ao Brasil. É ainda autor de outros livros e, entre eles, O ovo da Serpente: a Ameaça Neofascista no Brasil de Bolsonaro.

Cineclube MuiraquitÃ: Chico Mário é o filme para debate

“Chico Mário” é o filme do Cineclube Muiraquitã

“Chico Mário, a Melodia da Liberdade”, documentário de Silvio Tendler será exibido na terça-feira (6/12), a partir das 10h no Cineclube Muiraquitã pelo link https://www.youtube.com/watch?v=6kGCBLff7cw

O filme lembra a trajetória de um músico reconhecido por seus pares como um dos mais talentosos do seu tempo e que precisa ser descoberto por quem gosta de música de qualidade.

Francisco Mário de Souza (1948-1988) tinha um DNA marcadamente mineiro e uma forte vertente instrumental, mas era fluente em vários idiomas da música brasileira, do popular ao erudito, e apostou na diversidade de ritmos, estilos e formas harmônicas.

Compositor e violonista com uma imaginação sempre em ebulição, percorreu caminhos
melódicos da música clássica e da nordestina, do choro, do sambando, em uma catarse que resultou em oito discos autorais em apenas nove anos.

Irmão do cartunista Henfil e do sociólogo Betinho, Chico Mário teve trajetória marcada pelo sentido de urgência que a hemofilia impõe aos seus portadores. Assim como seus irmãos, foi contaminado pelo vírus da AIDS no final dos anos 1980 em uma transfusão de sanguessuga. Seus 39 anos foram de luta pela vida, por uma sociedade mais justa e pela música no final dos anos 1970, quando a música instrumental não encontrava espaço nas rádios e gravadoras, Chico Mário abriu espaço para o gênero.

Foi fiel aos seus ideais de não compor apenas para atender à dinâmica do mercado fonográfico, mas sim em função das suas inquietações como artista. Em sua curta, mas intensa carreira musical, fez parcerias com artistas como Joyce, Quarteto em Cy, Antonio Adolfo, Aldir Blanc, Ivan Lins, MPB-4, Boca Livre, Danilo Caymmi.

Foi um dos nomes centrais do movimento pela música independente e precursor do financiamento coletivo, que hoje chamamos de crowdfunding. Sem fazer concessões ao mercado de consumo, costumava dizer que Bach só foi reconhecido cem anos depois da sua morte.

O documentário conta com a participação da Orquestra Ouro Preto, que homenageou o artista com o concerto “Ressurreição: Chico Mário 70 anos”, apresentado no Sesc Palladium, em Belo Horizonte, em 2018. O cantor e compositor Lenine e a atriz Bárbara Paz leem trechos de
diários e cartas de Chico Mário.

Seus filhos Marcos, que assina a idealização do projeto, e
Karina Souza interpretam canções. Os violonistas Gilvan de Oliveira, Geraldo Vianna, Weber Lopes e João Camarero falam sobre a importância de Chico Mário para a canção e para a música instrumental e também interpretam músicas.

Familiares e amigos de longa data, comoo crítico musical Tárik de Souza e o músico e arranjador Jaime Alem, participam do documentário, que foi um convite da família Souza ao cineasta Silvio Tendler.

No documentário há entrevistas com Ana Souza, Antonio Adolfo, Filó de Souza, Geraldo Vianna, Gilvan de Oliveira, Glória Souza, Jaime Alem, João Camarero, Karina Souza, Marcos Souza, Nivia Souza, Regina Souza, Rodrigo Toffolo, Tarik de Souza e Weber Lopes.

Às 19h30min nos canais do YouTube da Rádio Navarro e/ou dos Estados Gerais da Cultura haverá um debate sobre o documentário, com a participação do diretor Silvio Tendler, autor de mais de 300 documentários; Marcos de Souza, filho de Chico Mário e idealizador do projeto; e Antero Cunha, jornalista, advogado, cinéfilo e um dos fundadores do Cineclube Macunaíma. O mediador é o jornalista Marcus Miranda, que trabalhou em diversas assessorias de comunicação e foi subsecretário de Comunicação do prefeito Cesar Maia.

“Eles não usam Black-tie” no Cineclube MuiraquitÃ

O bate papo no Cineclube Muiraquitã desta terça-feira, às 19:30, será sobre um filme brasileiro que marcou época na década de 80 e foi destaque no Festival de Veneza, além de ter conquistado outros prêmios internacionais. “Eles não usam Black-tie”, de Leon Hirszman, baseado na peça homônima de Gianfrancesco Guarnieri, aborda os conflitos, contradições e anseios da classe trabalhadora no final dos anos 1970, no período da ditadura militar no país. O cineasta Silvio Tendler, a atriz Bete Mendes, que participou do filme, e a crítica de arte Maria Hirszman, filha do diretor, são os convidados para o debate que será mediado pelo jornalista e escritor Cid Benjamin. O encontro realizado nos canais do EGC e da Rádio Navarro, no Youtube.

O ator já falecido Gianfrancesco Guarnieri é um pai, militante e corajoso, que entra em conflito com o filho (Carlos Alberto Riccelli), dividido entre suas aspirações por uma vida pequeno-burguesa ao lado da noiva Maria (Bete Mendes) e as exigências do movimento grevista. Guarnieri compôs com Fernanda Montenegro o casal que proporcionou um dos momentos de maior expressividade do cinema: a cena em que ambos, desolados por causa da ruptura com o filho e pela morte do amigo Bráulio (Milton Gonçalves) se põem a catar feijão. Clique para assistir o filme a partir das 10 horas desta terça feira (15).

FILME E CINEASTA

O Muiraquitã, criado pelo cineasta Silvio Tendler, tem apoio do Estados Gerais da Cultura, da Rádio Navarro e dos jornalistas Zezé Sack, Vera Perfeito, Antero Cunha, Humberto Navarra, Marcus Miranda, Janine Malansky, Moema Coelho, Andrea Penna e Cid Benjamin.

Leon Hirszman foi um dos principais expoentes do movimento Cinema Novo. Militante do Partido Comunista Brasileiro, sua obra é marcada pela influência de teses marxistas centrais nos debates políticos da América Latina e pela representação politizada da classe trabalhadora, caso do filme em debate.

Fez dezenas de outros filmes importantes como o longa de ficção A Falecida, uma adaptação de Nelson Rodrigues, sobre a alienação das classes populares, um de seus temas preferidos. Realizou também “S. Bernardo”, baseado na história homônima de Graciliano Ramos e “O ABC da Greve”, sobre o movimento operário da região do ABC paulista.

E, em 1981, recebeu a consagração por três prêmios no Festival de Veneza, sendo também indicado ao Leão de Ouro, com o filme “Eles não usam black-tie”, “Eles não usam black-tie”. Recebeu outros importantes troféus como: Grande Prêmio Coral Negro no 3º Festival Internacional do Novo Cinema Latino-Americano, em 1981; Grande Prêmio do Festival dos Três Continentes e Espiga de Ouro do Festival Internacional de Vallodolid, também em 1981, além do Prêmio Air France de 1982.

O cineasta teve um papel extremamente importante na afirmação do cinema brasileiro e deixou vários textos onde se pode ler reflexões sobre as condições da produção cinematográfica no Brasil, o mercado nacional e sua respectiva legislação de proteção, a Embrafilme, as correntes de criação cinematográfica e o cinema político. Leon morreu em 1987, aos 50 anos, deixando três filhos: Irma, João Pedro e Maria.

Do debate participam o cineasta Silvio Tendler com mais de 300 documentários em seu currículo. Entre eles, Jango, JK e Saúde tem cura.

Maria Hirszman é repórter, crítica de artes plásticas e cuida da obra cinematográfica de seu pai, Leon Hirszman.

Bete Mendes, atriz do filme e de diversas novelas é também ex-deputada federal que lutou contra a ditadura, foi presa e torturada pelo coronel Brilhante Ustra a quem acusou publicamente durante uma visita ao Uruguai onde ele era adido militar. Foi ainda uma das fundadoras do PT e dirigiu diversos órgãos culturais no Rio e em São Paulo.

Cid Benjamin é jornalista, professor e escritor, tendo diversos livros em seu currículo e, entre eles, Gracias a la vida, onde conta sua passagem pelo MR-8, a prisão, a tortura, o exílio e a volta ao Rio. Cid foi também vice-presidente da Associação Brasileira de Imprensa (ABI).