Reflexões sobre Formação Política por uma Democracia Participativa

Individualmente, somos um composto de saberes e ignorância derivados da cultura daqueles grupos aos quais pertencemos. Tudo que sabemos e conhecemos como verdades e incertezas nos foram transmitidos culturalmente por nossas sociedades.

Xilogravura de J. Borges. Foto via Instagram oficial do artista pernambucano J.Borges – Brasilidade Invade Sua Casa

Por que somos animais gregários – seres gregários? Na diferença genética, somos diferentes, porque somos superiores? E somos humanos como seres sociais. Mas porque somos sociais, somos resultado de nossos grupos de convivência, i.é, somos interdependentes como resultado de nossa vivência cultural. E, por isso, individualmente, somos um composto de saberes e ignorância derivados da cultura daqueles grupos aos quais pertencemos.

Então aquela estória de meritocracia não procede e nem se sustenta cientificamente, né? Tudo que sabemos e conhecemos como verdades e incertezas nos foram transmitidos culturalmente por nossas sociedades.

A superioridade cognitiva da espécie humana desde o homo sapiens na sua vivencia errante de erros e acertos produziram grandes descobertas. Mas a genialidade dessas descobertas não é exclusiva de seus criadores. Sempre foram resultados da evolução política cultural de suas sociedades, em constante transformação. Isto é porque cultura é política e sempre será. Então, aquela soberba e arrogância de suposto saber são sempre relativas, porque dialeticamente o tal saber não pode ser absoluto. E, portanto, traz em si a ignorância no balanço contraditório das certezas e incertezas.

Ora, diria eu: então o “saber científico” pode pasteurizar o “saber empírico” por suposta superficialidade e erro? Não, nos revela o materialismo histórico: todos nós temos saberes e ignorância, que na sua oralidade política cultural nos tem sido transmitidos como conhecimentos tradicionais. E, é para alguns recalcitrantes da oralidade do saber, como saber primitivo.

Como entender a complexidade da nossa sociedade sob um sistema capitalista, sem contestar esse saber ideologizado de dominação de classe, opressão, desigualdade, miséria e morte? Coloquialmente, “baixando a bola” e depois nos “dedos da palma da mão” a formação o edus de educar deve ser, antes de tudo, questionadora, insurgente, conscientizadora, emancipadora e libertadora.

Os Grandes Pensadores do materialismo histórico e sua dialética em evolução ponderaram que, apesar das incertezas, nosso processo de conscientização deve se pautar na observação rigorosa das contradições sociais, evitar sua superficialidade e buscar o concreto de suas causas e efeitos para sua compreensão e transformação pela liberdade, igualdade e fraternidade.

Então, como criar um grupo de formação política sem considerar essas individualidades do animal gregário que somos? É fundamental que isso seja posto em prática, porque nessa prática de luta transformadora, há confrontos e troca de saberes dessa vivência de cada participante na sua expressão oral ou escrita pautada na sua prática política, sua maneira de viver e ser para sua transformação compartilhada para a consolidação dessa formação política gregária.

É um erro pensar e propor grupos de trabalho herméticos, fechado no pequeno de seu saber, sem capilaridade e intercambio com outros grupos de trabalho de cultura, comunicação e ação política, porque todos são interdependentes e constituem a cultura política do grupo maior, núcleo e ou partido político.

Flavio W. Lara

Rio de Janeiro, 1º de junho de 2021

Flávio W. Lara integra a equipe dos Estados Gerais da Cultura, é ativista político e tem experiência em projetos social e ambiental. Atualmente trabalha como voluntário no complexo da Penha, Rio de Janeiro, presta consultoria e colabora com o Instituto Mirico Cota, no Baixo Tocantins (na áreas de engenharia econômica e tecnologia de recursos e produtos florestais).

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