Cineclube MuiraquitÃ: militares que foram contra o Golpe de 64

https://www.youtube.com/watch?v=uedU5PPxZRg

Num momento em que nossa democracia está em risco os Estados Gerais da Cultura, Caliban e Rádio Navarro, promovem a estreia do novo CineClube MuiraquitÃ, com um debate sobre o filme Militares da Democracia, de Silvio Tendler, nesta terça-feira, às 19:30, no Canal do Youtube da Rádio. O documentário, em cinco episódios de 50 minutos, revela os bastidores da trama que depôs o então presidente Jango Goulart em 31 de março de 1964, com depoimentos contundentes de militares que foram contra o Golpe Militar de 64, que resultou numa ditadura militar de 21 anos.

“Anos de Chumbo” assim ficou conhecido esse período, cujo comando do governo brasileiro era militar e pode ser considerado como uma mancha de sangue na história do Brasil deixando marcas que jamais serão esquecidas, sobretudo por aqueles que foram torturados e perderam seus ‘entes queridos’ pela violência e repressão de militares da extrema-direita. É um alerta à sociedade brasileira que pouco ou nada sabe a respeito dos oficiais que se opuseram ao golpe de 1964.

Um dos depoimentos é do capitão Sérgio Carvalho, o Sérgio Macaco, paraquedista da Força Aérea Brasileira (FAB) e do Para-Sar, que se recusou a cumprir ordens do brigadeiro João Paulo Moreira Burnier, em 1968, para explodir o gasômetro do Rio de Janeiro, dinamitar a represa de Ribeirão das Lages e jogar 40 líderes políticos no oceano para depois pôr a culpa na esquerda. Na lista dos alvos, estavam Carlos Lacerda, Juscelino Kubitschek, D. Hélder Câmara e o líder estudantil Vladimir Palmeira. O filme pode visto pelo Canal Youtube Estados Gerais da Cultura ou pela Caliban, ou Rádio Navarro até a meia-noite do dia 25/10 (terça-feira).

O cineasta Silvio Tendler com mais de 300 documentários em seu currículo, entre eles JK, Jango e Tancredo, participa do debate. E ainda o jornalista e escritor Cid Benjamin, exilado que participou da luta armada e do sequestro do embaixador americano Charles Elbrick no Rio. Também o general de brigada Bolivar Marinho Soares de Meirelles, preso e afastado das Forças Armadas ao se envolver na luta pela anistia dos militares cassados e perseguidos, além do economista Pedro Moreira Lima que falará de seu pai o brigadeiro da Aeronáutica Rui Moreira Lima, preso e cassado pelo golpe militar após a recusa de entregar a base aérea de Santa Cruz, no Rio de Janeiro, da qual era comandante.

Muiraquitã é o amuleto que Makunaími, personagem indígena que tornou-se conhecido dos brasileiros por intermédio do livro do escritor modernista Mário de Andrade Macunaíma, o herói sem nenhum caráter. Até então. Mas no mundo contemporâneo, que indígenas conseguiram ter mais voz, o artista plástico Jaider Esbell (1979-2021), que se coloca como neto de Makunaími, trata do personagem como um ser divino, incontornável do imaginário indígena da região de Circum-Roraima, na área da tríplice fronteira entre Brasil, Venezuela e Guiana.

Reflexões sobre Formação Política por uma Democracia Participativa

Individualmente, somos um composto de saberes e ignorância derivados da cultura daqueles grupos aos quais pertencemos. Tudo que sabemos e conhecemos como verdades e incertezas nos foram transmitidos culturalmente por nossas sociedades.

Xilogravura de J. Borges. Foto via Instagram oficial do artista pernambucano J.Borges – Brasilidade Invade Sua Casa

Por que somos animais gregários – seres gregários? Na diferença genética, somos diferentes, porque somos superiores? E somos humanos como seres sociais. Mas porque somos sociais, somos resultado de nossos grupos de convivência, i.é, somos interdependentes como resultado de nossa vivência cultural. E, por isso, individualmente, somos um composto de saberes e ignorância derivados da cultura daqueles grupos aos quais pertencemos.

Então aquela estória de meritocracia não procede e nem se sustenta cientificamente, né? Tudo que sabemos e conhecemos como verdades e incertezas nos foram transmitidos culturalmente por nossas sociedades.

A superioridade cognitiva da espécie humana desde o homo sapiens na sua vivencia errante de erros e acertos produziram grandes descobertas. Mas a genialidade dessas descobertas não é exclusiva de seus criadores. Sempre foram resultados da evolução política cultural de suas sociedades, em constante transformação. Isto é porque cultura é política e sempre será. Então, aquela soberba e arrogância de suposto saber são sempre relativas, porque dialeticamente o tal saber não pode ser absoluto. E, portanto, traz em si a ignorância no balanço contraditório das certezas e incertezas.

Ora, diria eu: então o “saber científico” pode pasteurizar o “saber empírico” por suposta superficialidade e erro? Não, nos revela o materialismo histórico: todos nós temos saberes e ignorância, que na sua oralidade política cultural nos tem sido transmitidos como conhecimentos tradicionais. E, é para alguns recalcitrantes da oralidade do saber, como saber primitivo.

Como entender a complexidade da nossa sociedade sob um sistema capitalista, sem contestar esse saber ideologizado de dominação de classe, opressão, desigualdade, miséria e morte? Coloquialmente, “baixando a bola” e depois nos “dedos da palma da mão” a formação o edus de educar deve ser, antes de tudo, questionadora, insurgente, conscientizadora, emancipadora e libertadora.

Os Grandes Pensadores do materialismo histórico e sua dialética em evolução ponderaram que, apesar das incertezas, nosso processo de conscientização deve se pautar na observação rigorosa das contradições sociais, evitar sua superficialidade e buscar o concreto de suas causas e efeitos para sua compreensão e transformação pela liberdade, igualdade e fraternidade.

Então, como criar um grupo de formação política sem considerar essas individualidades do animal gregário que somos? É fundamental que isso seja posto em prática, porque nessa prática de luta transformadora, há confrontos e troca de saberes dessa vivência de cada participante na sua expressão oral ou escrita pautada na sua prática política, sua maneira de viver e ser para sua transformação compartilhada para a consolidação dessa formação política gregária.

É um erro pensar e propor grupos de trabalho herméticos, fechado no pequeno de seu saber, sem capilaridade e intercambio com outros grupos de trabalho de cultura, comunicação e ação política, porque todos são interdependentes e constituem a cultura política do grupo maior, núcleo e ou partido político.

Flavio W. Lara

Rio de Janeiro, 1º de junho de 2021

Flávio W. Lara integra a equipe dos Estados Gerais da Cultura, é ativista político e tem experiência em projetos social e ambiental. Atualmente trabalha como voluntário no complexo da Penha, Rio de Janeiro, presta consultoria e colabora com o Instituto Mirico Cota, no Baixo Tocantins (na áreas de engenharia econômica e tecnologia de recursos e produtos florestais).

Espaços Públicos de Convivência e Democracia

Instalação de Edgar de Souza – Bronze (2000), Inhotim

Por Flávio Lara

O inchaço dos grandes centros urbanos nos países subdesenvolvidos, no último quartel do Século XX e nesse Século XI, provocados pela intensificação do processo de urbanização e o crescimento desordenado de seu povoamento por maciços movimentos migratórios decorrentes do empobrecimento das áreas rurais, especialmente aquelas da pequena propriedade familiar e camponesa, tem provocado um agravamento da qualidade de vida desses centros urbanos com um crescente déficit habitacional e a consequente degradação dos espaços públicos de convivência e sua privatização.

No Brasil, esse fenômeno é particularmente mais grave nas grandes regiões metropolitanas do Rio de Janeiro e São Paulo. Mas está difundido na maioria das suas cidades de porte grande e médio e até nas mais novas como Brasília – DF e sua periferia.

A degradação da qualidade de vida de suas populações no seu empobrecimento pela incapacidade dessas áreas urbanas e sua política para proverem trabalho, moradia, educação, saúde e outras necessidades socioeconômicas básicas na mesma intensidade e volume dos contingentes migratórios, tem provocado uma intensificação da violência e proliferação de atividades criminosas.

Esse quadro político socioeconômico tem gerado comportamentos sociais desagregadores e uma retração da mobilidade dessas populações em detrimento do seu direito por espaços públicos de convivência em favor de espaços privados como, condomínios fechados, “shopping centers” e clubes privados como áreas de lazer. È o fortalecimento do individualismo e da privatização das relações sociais, chegando a aberração da “privatização da violência” através da “indústria” dos equipamentos de segurança e seus equipamentos.

Segundo SEGRE (2005) “… centros urbanos e espaços públicos constituíram duas questões essenciais nas agendas urbanísticas dos anos oitenta e noventa do Século XX. Estes, assumidos como o âmbito da sociabilidade, da expressão política e cultural e como o lugar de condensação da identidade da cidade; ficaram inseridos nas políticas orientadas para a melhoria da qualidade ambiental das cidades com relação às atividades dos habitantes, dos fluxos turísticos, revertendo assim as deformações provocadas pelos investimentos imobiliários.”

“…O lugar público deve ser concebido como um espaço urbano acessível onde se produz o encontro da diversidade. Neste sentido, é um reflexo direto da essência da cidade – segundo Colin Rowe (2004), geradora do domínio público – que provém da presença e coexistência de uma multiplicidade de pessoas, ofícios, comunidades e culturas que se complementam mutuamente. Por isto, a qualidade urbana de uma cidade é avaliada a partir do significado e da riqueza dos lugares públicos que a compõem*.” “…os espaços públicos como os locais da sociabilidade democrática, do convívio e do intercâmbio social. Nos anos 90, inúmeros projetos urbanos foram propostos no Brasil e na América Latina para recuperar e criar espaços públicos, …não apenas no resgate das praças e parques existentes, mas também na transformação dos vazios dos espaços intersticiais e residuais em áreas multifuncionais apropriadas ao uso coletivo da população.” Fonte: Roberto Segre

Mas o seu abandono e déficit ainda são muito maiores que a sua oferta social.

O advento de espaços “públicos” privatizados nas galerias e praças internas de grandes ‘shoppings centers’ representa um padrão de vida atrelado a um padrão de consumo que não minimiza os conflitos do confinamento das comunidades carentes e excluídas dos usos de espaços públicos de convivência. Cria uma química comportamental de ansiedade pela frustração da incapacidade de consumir aqueles bens de referência de suposto status social ditado pelos modismos do consumismo de massa, agravados pela insegurança e tendência à adoção dos espaços privados, “mais seguros”, contra a violência urbana. E não cria harmonização de convivência e integração dessas comunidades.

A revitalização de espaços e equipamentos urbanos deve buscar esses objetivos contidos no regaste de sua memória cultural, na satisfação de pertencimento aos espaços recuperados e ou criados e adoção pelas comunidades na elevação de sua consciência sobre a esta utilidade pública e sustentabilidade para a melhoria da sua qualidade de vida. E, principalmente, estimular através daquelas atividades que valorizem a ação coletiva, tais como “futebol de quadra”, “handebol”, “Vôlei”, “rodas de leitura” (para discussão de temas estimuladores da consciência e direitos da inclusão social), “contadores de estórias”, grupos musicais e teatrais, danças, grafitagem, cinematografia e fotografia entre outras.

Em face destas considerações e levado em conta o papel do êxodo e migração rural como uma das determinantes do processo brasileiro de urbanização nos últimos 30 anos, , pode-se afirmar que a revitalização desses espaços públicos de convivência e a criação de novos espaços devem valorizar ações tais como:

  • Identificar comunidades urbanas carentes de espaços públicos de convivência e as parcerias no setor privado e no setor público interessadas no seu desenvolvimento.
  • E, a partir destas, projetar revitalização e ou construção destes espaços incorporados às suas demandas sociais, culturais e econômicas. Demandas sociais porque vão fortalecer sua integração e organização sociopolítica e o nível de sua cidadania. Culturais porque poderão resgatar suas tradições abandonadas e ou em risco de extinção e ou desenvolver novas tradições, tudo para a consolidação de sua identidade municipal dentro da multi-culturalidade das populações urbanas. E econômicas porque, além da mistura de funções nas áreas centrais, poderão gerar novas qualificações profissionais e respectivas geração de renda para aquelas parcelas da comunidade alvo diretamente ligada a implementação dos projetos e sua sustentação posterior.
  • Articular essas demandas para possibilitar o surgimento de funções sócio profissionais novas, tais como expressões nas artes plásticas, no teatro, eventos culturais, música, dança, esportes, artesanato, jardinagem, produção de mudas entre outras. E estimular a capacitação de pessoas da comunidade e servidores públicos e, especialmente, jovens adolescentes para essas oportunidades profissionais.
  • Identificar parcerias privadas (empresas, proprietários de prédios – unidades e ou condomínios e outras) e estimular a adoção e ou “apadrinhamento” de logradouros públicos (praças, jardins, ruas arborizadas), equipamentos urbanos identificados para sua recuperação e revitalização, assim como de vazios urbanos e espaços subocupados, ou de ocupação inadequada para serem recuperados e construídos para o uso como espaços públicos de convivência.
  • Priorizar, desenvolver e executar projetos pontuais e específicos que valorizem o foco mais adequado, atrativo e convincente, tais como meio ambiente, educação, saúde, cultura e outros para satisfação da melhoria da qualidade de vida da comunidade alvo.

A sua identificação e construção devem buscar, de forma permanente e progressiva, a adesão das suas comunidades alvo respectivas. Neste sentido, a atração das parcerias possíveis deve ser transparente e objetiva na projeção e construção de seus resultados sob o princípio da conciliação e valorização de seus interesses comuns.

O seu desenvolvimento, assim como os seus respectivos pré-projetos devem trabalhar uma check list das características, tipologias, conteúdos e origem das demandas e carências urbanas por espaços públicos de convivência. Estabelecida esta listagem, deve-se passar à sua análise multicritério, isto é, a ponderação de sua complexidade política, social, econômica, cultural, ambiental e outras que possam definir sua prioridade e o meio e processo de sua execução para produzir o seu melhor resultado.

Nesta check list, por exemplo, identificar melhorias que favoreçam a atratividade e a utilidade dos espaços públicos de convivência tais como:

  • lugares de muita insolação e calor que poderiam receber árvores para sombreamento, melhoria do seu microclima e embelezamento paisagístico com espécies típicas da região, sejam praças, ruas, avenidas e outros;
  • jardins ornamentais que estimulassem a formação de jovens e adolescentes para o seu trato e sustentação – técnicas de jardinagem;
  • equipamentos de lazer diversificados e adequados ao perfil do público usuário potencial tais como bancos, brinquedos, mesas, quiosques, coretos, e outros espaços cobertos ou não para diferentes utilidades culturais e esportivas – todos projetados com a possibilidade de seu aproveitamento para o desenvolvimento de atividades que estimulassem a integração da comunidade usuária e sua qualificação para atuar como multiplicadores nesses campos;
  • estimular a criação de hortos florestais e produção de mudas para a valorização dos espaços urbanos;
  • identificar empresas localizadas na área de influência imediata desses espaços e estimular o seu interesse por sua revitalização ou criação assim como sua sustentação por períodos de apadrinhamento;
  • estimular a Administração Pública para o seu efetivo comprometimento com estas ações, destacando as suas múltiplas vantagens e a importância da preservação de seu patrimônio histórico e o resgate de tradições culturais.

Texto publicado originalmente em Ecodebate

Introdução com poesia para Lava Jato?

Introdução com poesia para Lava Jato? Sergio Moro…..como se faz isso.

Lembrei do Lobato…

Acabamos de discutir se ele era racista ou não era racista?

Caramba!

É essa armadilha que caímos com a Lava Jato, fulanizar. A questão não era se o Monteiro Lobato era racista ou não era racista. Brasil é racista.

Ele era racista, como nós somos na medida do hoje. Nós achávamos há poucos anos atrás que quartinho de empregada não era senzala, por favor. Achávamos que estávamos acolhendo alguém.

Então quero lembrar, ao entrar nesta conversa, para tomar muito cuidado para não fulanizar.

A Lava Jato, Monteiro Lobato, nós, somos sintomas… Atrás de nós tem uma história. A mesma potência midiática que criou a campanha de difamação que a Lava Jato se apoiou, aconteceu com Canudos, com Getúlio. Aconteceu cada vez que a direita resolveu passar a ‘faca em alguém’.

Mas como eu peço a vocês para não fulanizar eu vou me permitir de entrar nesta conversa fulanizando.

Ahhh… eu vou dizer um poema que vou gostar de dizer não só para estes cidadãos, uns palavrões da vida, e também este cidadão Daniel quem????

(…)Somente a Ingratidão – esta pantera –
Foi tua companheira inseparável!

Acostuma-te à lama que te espera!
O Homem, que, nesta terra miserável,
Mora entre feras, sente inevitável
Necessidade de também ser fera.

Toma um fósforo. Acende teu cigarro!
O beijo, amigo, é a véspera do escarro,
A mão que afaga é a mesma que apedreja.

Se a alguém causa inda pena a tua chaga,
Apedreja essa mão vil que te afaga,
Escarra nessa boca que te beija!

Parte do poema Versos Íntimos (Augusto dos Anjos)

Reflexão e narração de Eduardo Tornagh, a nossa Pensata do 25o. Encontro sobre Mídia e Democracia – a farsa da Lava Jato, com a presença dos jornalistas, Marcelo Auler, Cristina Serra, Fátima Lacerda.