“Dia D” para o fundador da Wikileaks. #FreeAssange

O “Dia D” para Julian Assange será nesta terça-feira (20), quando os juízes britânicos do Tribunal Superior de Justiça de Londres examinarão um novo recurso do australiano contra sua extradição para os Estados Unidos. Paralelamente ao julgamento do recurso, entidades de jornalistas e movimentos populares estarão mobilizados no mundo, sobretudo no Brasil em prol da liberdade do fundador da Wikileaks.

“Se Assange falhar nesta última tentativa perante a justiça britânica, ele terá esgotado todas as vias de recurso no Reino Unido. No entanto, um último recurso ao Tribunal Europeu de Direitos Humanos (TEDH) “ainda é possível”, afirmou o grupo de apoio “Free Assange” em um comunicado divulgado em dezembro.

Com 52 anos, Assange está sendo processado nos Estados Unidos por ter publicado, desde 2010, mais de 700 mil documentos confidenciais sobre as atividades militares e diplomáticas do país norte-americano, especialmente no Iraque e no Afeganistão. Ele foi detido pela polícia britânica em 2019, atualmente está preso na penitenciária de segurança máxima Belmarsh, em Londres. Antes passou sete anos confinado na embaixada do Equador em Londres, onde se refugiou para evitar extradição para a Suécia. Caso seja extraditado, ele poderá ser condenado a uma pena de 175 anos em prisão de segurança máxima em condições desumanas”, fonte BdF.( clique aqui para saber mais)

Dom Mauro Morelli aplaude e apoia candidatura de Silvio Tendler à UNESCO

O bispo católico Dom Mauro Morelli, que dedicou parte de sua vida na luta contra fome e desnutrição materno-infantil no Brasil, apoia e aprova a candidatura do cineasta Silvio Tendler para embaixador junto à UNESCO. Em seu manifesto publicado no Twitter, Morelli faz um apelo ao presidente Lula para que indique o nome do cineasta como representante brasileiro da instituição internacional porque reconhece em Tendler competência e ética para tratar do desafio da questão cultural. No seu raciocínio cultura deve ser evidenciada como ação de cidadania e não atropelada pela economia. Cita os filmes de Silvio Tendler, O Veneno está na Mesa e a Bolsa ou a Vida, como documentários insuperáveis na forma e conteúdo.

Dom Mauro Morelli

O voto favorável de Dom Mauro Morelli é mais um estímulo para o cineasta seguir em frente na sua candidatura. “A paz é a meta e a transversalidade o caminho. Em 2023 lembraremos do Chile de Salvador Allende, de Pablo Neruda, Victor Jara e Josué de Castro. Uma pessoa, uma causa não morre quando não é esquecida. Nossa luta é universal e a UNESCO pode ser o ponto de encontro de todas as artes, ciência, cultura, educação e tecnologia”, afirma Silvio Tendler.

Em toda sua trajetória no episcopado Dom Mauro Morelli teve atuação destacada na área social, sobretudo na questão da fome e miséria. Foi responsável pelo projeto Fome Zero e Ação da Cidadania junto com Hebert de Souza, o Betinho e membro do Comitê Permanente de Nutrição da ONU, entre outras atuações de destaque. Atualmente reside na cidade de São Roque de Minas, na Serra da Canastra e é bispo emérito residente da Diocese de Luz. Em seu perfil no twitter publicou seu apoio a Silvio Tendler e define-se como um peregrino em busca de um mundo novo com a Diaconia Franciscana Arca de Noé – Instituto Hárpia Harpyia.

Por que Silvio Tendler é candidato a Embaixador do Brasil na UNESCO?

” A arte não muda o mundo. Influencia as pessoas que mudam o mundo”, Silvio Tendler. A frase é do ‘cineasta dos sonhos interrompidos’ e também pensamento de todos que fazem parte dos Estados Gerais da Cultura, que apoiam a sua candidatura para Embaixador do Brasil na UNESCO. “A vida hoje exige uma transversalidade que a globalização na qual vivemos, faz da UNESCO, o organismo internacional adequado para construir esse debate que íntegra arte, educação, ciência e tecnologia”, afirma ele.

“Por que sou candidato a Embaixador na UNESCO?

Um dos fundadores da Unesco e um dos seu mais marcantes diretores foi o químico, Paulo Carneiro.
Faz parte dos costumes que o Embaixador Brasileiro não seja necessariamente um embaixador de cadeira.Posto em tempos recentes a Embaixada foi ocupada pelo cientista Israel Vargas, que substituiu o escritor e jornalista Fernando Pedreira.Sou candidato a embaixador Brasileiro na UNESCO para defender internacionalmente um projeto para o cinema cultural, que a cada dia tem menos espaço nas salas de arte, filmes imprensados pela indústria do entretenimento e guetificados em espaços restritos.A UNESCO foi fundamental para o cinema cultural no pós guerra e no estímulo aos cineclubes na formação de plateias e cineastas.Quero ajudar a desenvolver esse trabalho internacional e aos 72 anos de idade com ampla obra de criação premiada mundo afora, 41 anos como professor universitário e gestor público, ocupando diversos cargos na área cultural, me apresento como candidato a Embaixador do Brasil na  UNESCO.”

Silvio Tendler é um dos mais renomados documentaristas brasileiros e produziu filmes que são relatos e análises preciosas dos mais importantes momentos da história política e social de nosso país. Filmes memoráveis como Jango, Os anos JK, Militares da democracia, Privatizações: a distopia do capital e O veneno está na mesa e os mais recentes: A Bolsa ou a Vida e Saúde tem Cura. Todos podem ser assistidos no Youtube, no canal Caliban, cinema e conteúdo.

O cineasta dos ‘sonhos interrompidos’, como é conhecido pelos temas de seus filmes que destacam personalidades que não conseguiram concretizar seus projetos utópicos em prol de um mundo melhor, provocou um despertar entre artistas, intelectuais e profissionais. Um chamamento para que saíssem do estado de passividade e reagissem contra a destruição cultural no país. Uma convocação, um convite que resultou nos Estados Gerais da Cultura.

O movimento criado em 2020 – durante a pandemia, é amplo e plural em defesa da arte e cultura como valores coletivos, públicos, um direito constitucional e universal. Fazem parte dele artistas, intelectuais, profissionais e todos que acreditam na arte como meio de transformação social. “Somos pela liberdade e a paz dos povos, sem distinção de raça, credos e nacionalidade. Nosso lema é: ‘Com arte, ciência e paciência mudaremos o mundo’”.

“A gente está num momento de recriação do nosso Universo, do mundo como um todo. Estamos precisando lutar de forma internacional contra as guerras hoje simbolizadas, sobretudo pela Rússia e pela Ucrânia. Mas têm muitas guerras pelo mundo. Você tem hoje o drama dos imigrantes, que é universal, o drama da fome. Acho que a UNESCO pode ajudar nisso tudo, não como um órgão burocrático, mas sim como um órgão que atua na recriação de um mundo de paz e para promover a paz no mundo, deve-se passar  por tudo que a instituição trata – arte, ciência, educação e tecnologia. Para isso, precisamos trabalhar de forma conjunta e integrada com essas áreas e reviver e lutar, sobretudo por uma coisa que foi muito trabalhada pelo UNESCO nos anos 70, que foi a democratização da informação. Tem tudo a ver com os princípios dos Estados Gerais da Cultura. Quando pensei nos EGC, pensei muito na UNESCO. Nós fizemos durante um ano ou mais, durante a pandemia, uma espécie de UNESCO. Ouvimos cientistas, políticos, pesquisadores, artistas, com poucos meios que tínhamos e provocamos o debate. Assim, quero fazer de forma internacional”.

A Bolsa ou a Vida – qual é a escolha? Debate no Cineclube MuiraquitÃ

Um debate que mostrará ao público quanto vale a Vida no cassino financeiro para aquele que escolher a Bolsa… A cantautora Katya Teixeira, que participou da trilha sonora do filme A Bolsa ou a Vida, faz essa pergunta no início da sua canção. Beleza de música! É nesta terça-feira (01), às 19:30, que o cineclube MuiraquitÃ, do EGC, em parceria com a Rádio Navarro, promove um debate imperdível sobre esse documentário de Silvio Tendler feito durante o período de pandemia no Brasil. O economista Eduardo Moreira, o Soca, idealizador da Casa da Cultura na comunidade da Rocinha, no Rio de Janeiro, Silvio Tendler, Hélène Pailhous, e as apoiadoras Zeze Sack, Vera Perfeito, Moema Coelho, Janine Malanski. Uma parceria de Estados Gerais da Cultura e Rádio Navarro, farão a análise sobre o documentário.

Nem o isolamento por conta da pandemia foi capaz frear a inquietação do genial cineasta, seu pensamento crítico, utopias, sensibilidade diante das desigualdades sociais que não o deixam parar de documentar, sobretudo nesse momento sombrio na história da humanidade. O seu isolamento foi apenas físico, considerando que nunca esteve tão presente e ativo no mundo virtual. Pela internet coordenou ações, entrevistou, definiu filmagens, dados, vivências, opiniões nacionais e internacionais, para denunciar um sistema genocida que valoriza mais o mercado financeiro do que a vida.

Os entrevistados mostram a realidade nua e crua. Emocionam inúmeras vezes como o Padre Júlio Lancellotti que conta de uma família de moradores de rua e onde vivem penduraram um crucifixo num poste luz. “Apesar da miséria absoluta, eles têm fé”.

A indignação aflora quando Rita Von Hunty, professora e celebridade Drag Queen, fala que o número de bilionários no planeta conseguiriam acabar com a pobreza do dia para noite vezes sete. 

A reflexão surge quando a indígena Márcia  Mura, nos remete a ditadura de costumes e hábitos impostos pelo colonizador. Quando o  chefe do povo indígena Suruí, Almir Narayamoga, reconhece que a Terra e Água não podem ser privatizadas. A revolta é inevitável quendo o economista americano,  Jeffrey Sachs, fala sobre a fortuna de Jeff  Bezos, proprietário da Amazon, que cresceu em 2020 em 80 bilhões de dólares

“Vamos juntos nessa! Uma Frente para criar Forças AMADAS e Escola Superior de Paz “. Silvio Tendler

POR UM MUNDO DE PAZ:
uma proposta da Escola Superior de Paz dos Estados Gerais da Cultura

por Silvio Tendler

“Quelle connerie la guerre!”
(“Que babaquice a guerra!”) Jacques Prévert

Por um mundo sem a existência das Forças Armadas e no seu lugar Forças AMADAS. Por um mundo que a Escola Superior de Guerra seja transformada numa ESCOLA SUPERIOR DE PAZ.

Durante a pandemia, todos nós que saíssemos vivos tínhamos uma promessa de um mundo melhor. Já passa da hora de nos voltarmos a um crescimento centrado nas preocupações sociais humanitárias e voltado para o desenvolvimento sustentável. 


O século XXI chegou e as guerras continuam a colocar em risco a vida no planeta. Ainda pior, com uma potente aliada virtual, a guerra híbrida, que criou o lawfare e que inunda os lares e envenena a mente das pessoas com conteúdo tóxicos, mentiras e ódio verbal. Só privilegia regimes autoritários e enriquece as mega plataformas – mídias sociais. 

Acreditamos na UTOPIA  como acreditaram dois jovens, nos anos 60, ao criarem o movimento Provos.

Uma iniciativa que provocou grandes transformações na Holanda e inspirou importantes movimentos de contracultura no mundo. Tudo começou na década 60, na cidade de Haia, Holanda, quando os jovens, ainda estudantes e brincavam, viram passar mísseis da Otan. Ficaram surpresos ao ver o país ser ocupado por aquele arsenal nuclear.  Se o final da Segunda Guerra Mundial e da Guerra da Coréia representavam um mundo de paz, o que era aquilo? Não estávamos a caminho de um mundo sem guerras?A resposta que receberam a esses questionamentos foi a expulsão da escola. O Provos começou a tomar forma, como provocação, porém pacífica. Diante da difusão de armas nucleares pela Europa e a ameaça à prometida paz, o grupo propunha a construção de uma sociedade alternativa ao mundo bélico.

Para eles, os movimentos anarquistas anteriores defendiam ideias já superadas pelo tempo. Decidiram, então, fazer um jornal e, para comprar uma máquina de escrever, um deles foi trabalhar em uma fábrica de cerveja, em Amsterdã, com a função de colocar chapinhas nas garrafas. Ao perguntar aos seus colegas operários o que fariam se fossem pagos para escrever, ler, pensar e se dedicar a atividades criativas, ouviu a negativa “nós não podemos abandonar nossa classe, não podemos abandonar o nosso trabalho”. Foi ali que perceberam que a conservadora classe operária jamais mudaria o mundo, e avançaram a discussão sobre os movimentos sociais, questionando as formas de contestação política tradicionais.

O primeiro ato que promoveram foi pintar uma bicicleta de branco e deixá-la pelas ruas de Amsterdã para uso coletivo, quem precisasse a usava. Foram acusados de tentar destruir o capitalismo e seus princípios essenciais de propriedade e lucro. O protesto ganhou vida própria e as bicicletas brancas se multiplicaram pela cidade. Publicaram um manifesto, que logo foi proibido pelo prefeito da cidade de ser distribuído. Os jovens, então, distribuíram rolos de papel higiênico sem palavras, aprofundando o protesto. Fundaram a “Igreja da Dependência Consciente da Nicotina”, cujo templo era aos pés da estátua Lieverdje, que representa um menino de rua, e havia sido doada para Amsterdã por uma indústria de tabaco responsável por uma quantidade expressiva de pessoas com doenças pulmonares. Lá, entoavam semanalmente o mantra “cof, cof, cof, cof”, dançavam, cantavam, jogavam e faziam discursos, o que virou a religião do Cof-cof.

Seus protestos, inteligentes e pacíficos, continuamente denunciavam a violência policial. A popularidade dos Provos chegou ao nível de tornarem-se uma atração turística. Com isso, consideraram que suas ações começaram a servir ao capitalismo e decidiram pela dissolução do grupo, mas como uma pedra que se joga num lago de águas plácidas e provoca ressonâncias, novas ideias espraiaram mundo afora. Guy Debord, filósofo e sociólogo, escreveu “A Sociedade do Espetáculo” inspirado nesses movimentos. Também foram a fonte da Internacional Situacionista.

As guerras só se justificam contra as tiranias. Contra a violência dos tiranos, não há paz possível. Hoje, o mundo observa perplexo o recrudescimento dos movimentos fascistas em todas as partes. Lutar contra esses movimentos é tarefa essencial de todos os democratas. Na Europa, plantam-se raízes para uma terceira guerra mundial. No conflito entre EUA, Rússia, Ucrânia e Otan, não há mocinhos nem bandidos. Em todos os territórios, quem perde é o povo.

Biden “precisa salvar a economia” instigando mais um conflito de proporções globais. Incita a guerra entre Rússia e Ucrânia para vender armas da indústria bélica americana e assim gerar emprego nos EUA, ao mesmo tempo em que testa a eficácia de suas armas às custas do sangue alheio, para no futuro ainda serem pagos pelos ucranianos a um “preço justo” pela “gentileza” de terem cedido o armamento.

Putin “precisa provar” algo que o leva a destruir, sem cerimônia, casas e habitantes do país vizinho. Caso seja derrotado, terá que assumir com os EUA uma dívida de guerra. Zelensky é o tolo que puxa o saco dos EUA e da Europa às custas da vida de seu povo. A Otan, instrumento criado durante a Guerra Fria para lutar contra o comunismo, mesmo depois do fim da URSS, continua mobilizada e agressiva, incentivando o ódio e ameaçando nações.  

Todos posam de santo em uma guerra que de santa não tem nada. A “neutra” Suécia vende aviões militares para o Brasil. A “neutra” Finlândia leva água das veredas de nosso sertão sob a forma de eucalipto para fabricar papel, assassinando a natureza através do desequilíbrio ecológico que provocam. Uma guerra onde toda a população perde e só os governantes, que não estão nas frentes de batalha, tem seus ganhos. Nada disso se justifica em 2022!


Enquanto isso, um “tiranossauro fascista” na presidência do Brasil e seu grupo de devotos aniquilam o país à força, destruindo a natureza, os seres humanos e as fibras da sociedade. Em pleno ano de eleição, ameaçam nosso tão arduamente reconquistado direito ao voto. Através da truculência como arma de persuasão, ensaiam um golpe de estado que arruinará o pouco de democracia que ainda nos resta. Junto a ele, as Forças Armadas do Brasil, tradicionalmente se posicionam contra os interesses dos brasileiros, com um modelo militar arcaico e de formação antidemocrática. E ainda, a cobiça pela Amazônia – menos pelo que ela representa para a natureza, e mais pela exploração de seus valiosos recursos – é o que pode fazer do Brasil foco da iminente terceira guerra mundial.

Sejamos inteligentes! Só uma outra sociedade poderá nos salvar de toda a destruição que nos vem sendo imposta! 
A política que precisamos é a dissolução das Forças Armadas, transformando-as em Forças AMADAS, em defesa da vida. Uma academia que, em vez de guerra, promova a paz e resguarde seres humanos, mamíferos, carnívoros, granívoros, minerais, vegetais, líquidos, sólidos, gasosos… As academias militares convertidas em academias de preservação da vida nos livrarão da política predatória que concentra dinheiro nas mãos de poucos em detrimento de todo um ecossistema. A Escola Superior de Guerra extinta e a fundação de uma Escola Superior de Paz é o que efetivamente poderá proteger a todos e todas que ocupam esse planeta chamado Terra, nesse pedacinho chamado Brasil. Concentrar nossas forças na valorização à vida é o que de fato nos fará melhores!

A construção de uma nova sociedade, uma sociedade harmônica, focada na civilidade, é o nosso objetivo. Educação e moradia de qualidade, emprego, água limpa, saneamento básico, saúde, arte, cultura e tecnologia a serviço de todos! Corro o risco de cometer uma heresia, porém, afirmo: o que é ruim não é o agronegócio, mas sim o latifúndio improdutivo, a imensa concentração de propriedades nas mãos de apenas alguns, que impedem que milhões tenham acesso à terra para viver e cultivar. O que é ruim é o uso de agrotóxicos, que envenena e mata todo tipo de vida sobre a terra. O que é ruim não é a indústria da construção, mas a destruição inescrupulosa dos ecossistemas, a exploração das terras de nossos povos originários pela mineração absolutamente predatória, que assassina, que ceifa vidas, que destrói a natureza. O valor da propriedade urbana deve ser medido pela necessidade de fornecer moradia a todos, e não como produto para uma mera especulação imobiliária.

A todos que trazem dentro de si a certeza sobre a preciosidade de nossas vidas, convido a endossar esse manifesto. A criação de uma frente que una todos em defesa da democracia, que junte todas as forças anti-fascistas, é fundamental nesse momento para evitarmos o pior. 


Uma FRENTE AMPLA DEMOCRÁTICA!  Essa chamada, essa frente, é uma convocatória àqueles que queiram se juntar em defesa do direito de viver, a todos que reconhecem a importância de seguir em frente com nossos princípios: com arte, ciência e paciência mudaremos o mundo! Escrevo com a certeza de que cabemos todos nesse imenso território chamado Brasil. Vida acima de tudo!

Silvio Tendler é cineasta e autor de memoráveis documentários sobre ativismo social e político. Também idealizador dos Estados Gerais da Cultura, movimento criado para contrapor as medidas de destruição aniquilamento da cultura brasileira colocado em prática no governo de Jair Bolsonaro. Siga o EGC nos Youtube, Instagram, Facebook, Twitter. As obras de Silvio Tendler, filmes como Jango (premiado), A Bolsa ou a Vida, sobre a pandemia, estão disponível em seu canal Calibancinema (clique aqui)

Em defesa do #ArquivoNacionalNosso

Os Estados Gerais da Cultura apoiam o movimento em defesa do Arquivo Nacional e manifestam repúdio ao desmonte e a perseguição aos funcionários pela nova direção. O Arquivo Nacional vem sendo ameaçado na sua integridade e nas suas atribuições como instituição que preserva a memória e a história brasileira.

ATO EM DEFESA DO ARQUIVO NACIONAL – LOCAL: Escadaria do Arquivo Nacional. Praça da República, 173 – Centro. Dia: 11/01/22. Horas: 10:30 às 12hrs.

Contra o desmonte do Arquivo Nacional e a perseguição a trabalhadores do órgão, a sociedade civil e diversas entidades convocam para manifestação presencial em defesa da preservação da história e memória brasileiras.

Nossa homenagem a Bira Carvalho, o poeta da fotografia

foto by Bira Carvalho- todos os direitos reservados

Bira Carvalho partiu sem nos dar tempo para despedidas. Sabia ele, na sua simplicidade existencial, que despedidas são dolorosas e resolveu sair rapidamente de cena, assim como foi ágil e sensível em descobrir que a arte seria bálsamo e caminho para superar as limitações como cadeirante, em consequência de um tiro que levou na juventude. Grande artista, poeta da fotografia que colocou a favela em pauta ao retratar com carinho e paixão o lugar onde sempre viveu, a favela Nova Holanda, a rua, basicamente todo o Complexo de Favelas da Maré.

foto by Bira Carvalho/ Prêmio Pipa

Num depoimento emocionante, Bira Carvalho deixou claro que a arte é o caminho e a cura. “Eu, com a fotografia e com a arte comecei a perceber belezas aonde eu nem sempre via, na minha família, na favela onde moro, em mim mesmo”, falou Bira no vigésimo encontro dos Estados Gerais da Cultura. O seu trabalho colaborou no processo de colocar nas mãos dos moradores a narrativa da favela e não sendo feita por pessoas de fora. Para ele foi a grande revolução, silenciosa, porém potente. “O morador de favela se reconhece como morador da favela, que antes tinha vergonha, agora se vê belo, sendo ‘black’, gosta da cultura produzida na própria favela e também curte outras (…). Quando você começa ter acesso a isso, acontece o enraizamento, já não é tão fácil derrubar”.

Ana Maria Nogueira, que integra os Estados Gerais da Cultura, conta que conheceu Bira Carvalho no encontro dos EGC. “Me impressionou a maestria e sensibilidade das fotos dele”, afirma. “Minha primeira impressão foi de um homem forte, muito sensível e extremamente tímido. Lembro que ele quis se juntar a nós depois da live, num bate papo que fazíamos sempre para avaliar os encontros dos EGC. Foi uma surpresa agradável e claro que muito valiosa para o grupo, já que os comentários do Bira trouxeram a preciosa “visão de fora”.
A partir daí comecei a seguir o Bira no Instagram. E a trocar impressões com ele, fazer perguntas sobre as fotos. Sempre me respondia. O que me impressionou em suas fotos foi a delicadeza no registro do dia a dia da favela. As diferentes formas de trabalho, as brincadeiras de crianças, os homens e as mulheres. Peguei o hábito de dar uma olhada nas fotos do Bira todos os dias. E pretendo continuar a fazer isso. Bira merece uma exposição. Seu trabalho nos dá oportunidade de conhecer a intimidade de um lugar muito desconhecido da maioria dos brasileiros, demonizado ou romantizado, mas pouco conhecido”.

Os Estados Gerais da Cultura não poderiam deixar de prestar homenagem a esse poeta da imagem, a voz do povo e reforçar o que o Complexo da Maré todo diz: “cria da Maré não morre, vira lenda”. Seu depoimento emociona e preenche um pouco o vazio da falta física ao assistir de novo o seu depoimento sincero para perceber que suas ideias permanecem para sempre. Confiram abaixo:

Fundamentos da Escola Superior da Paz

(proposta elaborada por Madseilva Feiges, educadora e professora aposentada da UFPR)

A Escola Superior de Paz é o núcleo estruturante dos Estados Gerais da Cultura.

Nasce da necessidade de resistir aos avanços da destruição do patrimônio cultural e artístico imposta por grupos governantes inimigos do direito à acumulação e apropriação da cultura como bem inerente à vida humana.

A Escola Superior de Paz pretende construir uma “doutrina” da paz, do afeto, da igualdade, da liberdade, da autonomia, da justiça social e da solidariedade, via reconhecimento dos valores culturais de populações afrodescendentes, populações ribeirinhas, populações indígenas, quilombolas, juventudes das periferias urbanas, população idosa, população com deficiências e outras, amplamente ignoradas pelas atuais políticas culturais. Igualmente, dar visibilidade para outros seguimentos populacionais como pessoas com transtorno mental, populações carcerárias; refugiados, milhões de trabalhadores informais, crianças, adolescentes e jovens com baixos resultados de aprendizagem, populações expostas às condições precárias de moradia, alimentação e segurança pública.

Enfrentar a violência e a exclusão imposta a estas populações significa (re)construir espaços democráticos como lócus de exercício de múltiplas vozes com a finalidade de reconstruir e recriar suas identidades culturais em condições de igualdade.

 A Escola Superior de Paz nasce da necessidade de recriar espaços abertos ao diálogo, ao trabalho criador resultante do esforço espontâneo e autônomo, onde o processo inventivo possa revelar iniciativas individuais e coletivas com função social reconhecida como direito à criação e à aprendizagem de múltiplas experiências culturais. A necessidade é o princípio que reflete as lutas por transformação.

 Assim, todas as ações formativas da ESP se fundamentam no princípio da horizontalidade, onde o diálogo, além de ser um instrumento de interação entre diferentes pessoas, é também um mecanismo de acolhimento das diferenças e, neste caso, um espaço de criação e recriação da cultura. Pensar a cultura, hoje, demanda romper com atitudes silenciosas e excludentes que perpetuam os graves problemas decorrentes das desigualdades sociais que ameaçam a vida social e emocional da população. A Escola Superior de Paz é um convite para adentrar ao território da Cultura do povo brasileiro.

O maior desafio da Escola que pressupõe realizar itinerários formativos mediados pelas diversas manifestações culturais construídas com base na prática social, portanto, fundada no respeito e reconhecimento às aprendizagens significativas resultantes de processos democráticos que possibilitam o direito ao exercício de voz e voto nas lutas pelo acesso e apropriação dos bens culturais de natureza material e imaterial, em condições de igualdade.

Nesta perspectiva, a Escola Superior de Paz traduz uma visão de mundo que se estrutura em dois grandes eixos: Território e Sociedade entendidos como espaços de produção da existência                                                                                                                                                       humana[1]lócus de criação de bens materiais e imateriais para atender às necessidades da vida humana na perspectiva de Bem-Viver Social[2] enquanto princípio orientador da qualidade de vida para todos – segurança emocional.

A Cultura é produto da existência humana. O ser humano mediado pelo trabalho criativo produz tudo aquilo que a natureza não lhe oferece. Essa produção constitui conhecimentos e saberes que traduzem os campos da Ciência, Tecnologia, Educação e Cultura e, no contexto da Escola Superior de Paz é o fundamento do próprio processo formativo do ser humano.

No entanto, a apropriação e usufruto desses bens ocorre de forma desigual, produzindo injustiças sociais, econômicas, políticas, educacionais e culturais que atuam de forma cruel no modo de vida da população.

A percepção deste cenário de desigualdade e de desconstrução de direitos constitui referências para as lutas pela (re)criação de políticas culturais públicas orientadas por diretrizes capazes de mediar os interesses e necessidades fundados nos princípios da liberdade, da igualdade, da inclusão e da autonomia e da solidariedade como pauta de políticas sociais destinadas às camadas populares.

Assumir essa concepção de políticas culturais tem o propósito de reverter práticas hierárquicas e autoritárias pautadas em relações de poder decorrentes de desigualdades sociais. A supressão deste modelo, por outro concebido em relações horizontais, busca o respeito e o reconhecimento das camadas populares como sujeitos criadores de cultura.

Abre-se, portanto, espaço de diálogo com diferentes sujeitos e diferentes manifestações culturais, de modo, a acolher as demandas de movimentos de resistência à opressão, a todas as formas de discriminação, à xenofobia, (citar outras) como também, abre-se um espaço plural para uma participação democrática pautada no direito à voz, por entender que a produção e organização de processos formativos de natureza cultural são partes constitutivas de uma sociedade justa e democrática.

 Conhecer, reconhecer, valorizar e promover manifestações culturais da população é o nosso desafio. Perguntamos:

É possível criar um espaço onde as camadas populares possam expressar seus desejos e necessidades, ou seja, criar um cenário de “escuta”, de “diálogo” de “trocas” de “invenção”, de “recriação dos elementos culturais já existentes”, com base em relações horizontais, onde o poder seja critério do processo formativo?

A Escola Superior de Paz só pode triunfar junto às camadas populares e fazê-las triunfar, se for capaz de comunicar as possibilidades emancipadoras e a alegria das vivências de conteúdos culturais construídos nos diferentes modos de vida da população. Deve ser uma escola que fale deles mesmos, do seu tempo, do seu mundo, das suas lutas – o que exige uma conexão direta entre o que acontece na sociedade e na escola como eixo metodológico de transformação social, ou seja, espaço genuíno de empoderamento das camadas populares (SNYDERS,1976).

A Escola Superior de Paz estimula sonhos. O sonho, a utopia – é o horizonte que amplia nossas lutas pela defesa da vida e da verdade. Verdade que compreende conflitos e contradições. Verdade que não se resume em declarações individuais, mas se expressa na compreensão da realidade que pode e deve ser transformada em favor da construção de mentalidades coletivas que expulsem o medo de enfrentar as injustiças sociais e, reconfigure a importância do Estado na definição e no apoio às políticas públicas de cultura, saúde, educação, transporte coletivo, trabalho digno com base na cooperação solidária para buscar a distribuição dos bens, do ponto de vista de uma política de inclusão real das camadas populares.

Considerar as experiências relevantes e provocar novas vivências das/nas camadas populares como espaços de autonomia são horizontes de um Projeto Social Cultural comprometido com a qualidade de vida para todos.

A Escola Superior de Paz tem como tarefa educativa

                       “Afirmar os valores de efetiva igualdade, qualidade para todos, solidariedade e da necessária ampliação da esfera pública democrática em contraposição à liberdade e qualidade para poucos, regulados pelo mercado e das perspectivas do individualismo e do privativismo” (GENTILI; SILVA,1996, p.94).

 A ideia de cultura é entendida, neste contexto, como território que busca compromisso com a democracia participativa por reconhecer que o poder nasce da capacidade de todos para construir relações de negociação com base na pluralidade e diversidade das experiências e necessidades das camadas populares. O diálogo é o instrumento que respeita as convergências e as divergências e se constitui em ferramenta metodológica que reconhece processos decisórios, onde os arranjos participativos constituem estratégias para ampliar as formas de deliberação coletiva que postulam o equilíbrio entre as formas de pensar atividades econômicas, educacionais, sociais e culturais.

É neste território que pretendemos combater o padrão que concebe o mundo exclusivamente pela ótica da economia, negando, portanto, o direito à qualidade de vida a milhões de pessoas que não têm acesso à moradia; à saúde; à alimentação saudável e adequada às diversas fases etárias; ao emprego e salário dignos; ao saneamento básico; a uma educação que assegure aprendizagem de qualidade social para todos os estudantes, enfim, atendimento a todas as dimensões da vida humana.

No entanto, no campo de políticas públicas, é interessante lembrar as sábias palavras do vencedor do Prêmio Nobel da Economia de 2001,

“Se por um lado, as políticas orçamentárias tanto podem deixar os ricos enriquecer como também limitar o crescimento da desigualdade, por outro, os programas de despesas podem desempenhar um papel especialmente importante na prevenção do empoderamento dos mais desfavorecidos. (STIGLITZ, 1916, p.141).

Na perspectiva de pensar um outro mundo possível – construir uma sociedade com igualdade de oportunidades para todos com bases democráticas mais fortes que privilegiam as lutas de resistência a qualquer forma de exclusão e preconceitos considera-se, portanto, que as práticas da democracia participativa são aliadas do processo por reconhecer a importância de cada sujeito no processo de reversão das desigualdades sociais. A pobreza e a miséria restringem as condições de aprendizagem.

 Assim, construir na/pela ESP um projeto transformador – uma doutrina emocional fundada nos cuidados com o outro, com a vida (relações com a terra, água, moradia, trabalho digno, saúde, alimentação, segurança pública, mobilidade urbana) – ou seja, na superação das desigualdades sociais, econômicas, políticas e culturais.

   A concepção de trabalho, na sociedade capitalista, fundada na exploração do trabalhador e na precariedade das condições de trabalho, nega, por exclusão, as possibilidade de refletir sobre o trabalho humano como atividade criadora não apenas de bens materiais, mas também de saberes/ conhecimentos artísticos culturais. Esta visão de trabalho humano criador recupera a noção de arte/cultura como como capacidade de exercício da memória, da imaginação, da criação.

 Para compreender a totalidade da vida humana recorremos às próprias dimensões da vida, como estratégia de pensamento para explicitar o que é o ser humano, não apenas nos aspectos corpo e espírito – campo de entendimento da versão conservadora, mas entender de maneira ampla, a produção humana inscrita em dimensões “física” (corpo humano – saúde e qualidade de vida); “intelectual” (capacidade de produzir conhecimento); “emocional” (vivência plena de todos os sentimentos); “social” (relação com o outro, o diverso, o diferente); “afetivo” (relação de solidariedade com as outras pessoas); e o material (garantia das condições de cidadania plena: trabalho, moradia, alimentação saudável, segurança pública, transporte coletivo, educação, lazer e cultura).

A tarefa principal é construir um modo de pensar a paz, que possa resistir e se opor ao pensamento belicoso do atual momento brasileiro, considerando as contribuições de brasileiros que pensaram o Brasil em comunhão com saberes e experiências populares.

Nesta ótica, a Escola Superior de Paz é um canal que expressa múltiplas vozes com base nas contribuições de “pensadores seminais – fonte de novas ideias, novas obras que constituem referências para pensar criticamente a realidade brasileira” em pleno diálogo com os saberes da Cultura Popular, normalmente, “desprestigiados, abandonados, desvalorizados e esquecidos” por parte da Academia. Entre os inúmeros pensadores brasileiros, lembramos: Josué de Castro, Milton Santos, Anísio Teixeira, Graciliano Ramos, Nise da Silveira, Darci Ribeiro, Paulo Freire, Ariano Suassuna, Celso Furtado, Florestan Fernandes..

Dar voz a poetas, repentistas, cordelistas, curandeiras, parteiras, benzedeiras, mestres artesãos, pensadores do uso de plantas medicinais, do meio ambiente, dos povos ribeirinhos, indígenas, quilombolas, populações de periferias urbanas, catadores de materiais recicláveis e outras minorias é o desafio da Escola Superior de Paz:  realizar um processo formativo que privilegie o diálogo entre os conhecimentos científicos e saberes populares.

O currículo formativo da Escola privilegia conteúdos e metodologias fundamentadas nas Dimensões da Cultura, a saber:

a) –  Política e Econômica – faces de uma mesma moeda:

Política: Essa dimensão abrange o exercício da liberdade, autonomia, igualdade de condições, qualidade social da vida, respeito às identidades e participação individual e coletiva em diferentes esferas da vida pública, o que exige, por outro lado, convoca a esfera pública do Estado para garantir tais direitos, de acordo com a Carta Constitucional de 1988.  Neste caso, o Estado é responsável pela proposição de políticas públicas que não podem ser confundidas com políticas de governo restritas ao tempo do mandato de determinado governante.  Se uma política de Governo apresenta caráter democrático, emancipador, inclusivo, então deve ser convertida em política de Estado.

Nesses tempos de governo conservador fundado no conceito de economia – enquanto preservação da riqueza de poucos ricos milionários – é preciso destruir direitos nos campos da saúde, do trabalho, da educação, das comunicações, da cultura da participação política como estratégia sequestradora da humanidade de cada cidadão.  Essa tendência produz uma minoria cada vez mais rica, não produz riqueza do ponto de vista do acesso aos bens e serviços públicos. É justamente neste contexto que são ressignificadas as lutas de resistência das camadas populares a todas as formas de destruição de algumas conquistas. É inadiável o enfrentamento à implantação de ideias aliadas ao pensamento conservador que nega a diversidade, rejeita a identidade cultural pautada na pluralidade de experiências dos povos ribeirinhos, indígenas, quilombolas e populações de áreas urbanas periféricas onde as diferentes juventudes constroem suas formas de lutas recorrendo às múltiplas possibilidades do mundo da cultura. Entender a concepção política, enquanto política de emancipação dos grupos e classe social mediados pelo conhecimento histórico-social-cultural.

Econômica: Hoje, mais que em outros tempos, é preciso evidenciar adisputa entre dois projetos políticos. O primeiro articulado às demandas das camadas populares por democracia e justiça social. O segundo, assentado no binômio Economia e Fundamentalismo Religioso pretende favorecer algumas poucas centenas de milionários e ao mesmo tempo, convencer camadas populares profundamente desiguais, com base na fé.

As lutas por qualidade de vida para todos demanda princípios orientadores da construção coletiva de um “viver-bem” enquanto busca da dignidade humana, que por sua vez, exige acesso à educação de qualidade social como mediação de cidadania: acesso e compartilhamento de bens materiais (saúde, moradia, alimentação, vestuário, transporte coletivo, segurança pública, trabalho); simbólicos (educação, cultura e lazer) e sociais (participação política em condições de igualdade para construir o empoderamento nos campos político/cultural/social/ educacional/ econômico).

A verdadeira cidadania cria condições de existência, conquistar direitos civis, sociais e políticos, desenvolvendo formas de participação na vida real. Partindo desses referenciais, Freire (1995) afirma uma metodologia de construção dos processos fundados na prática social, ou seja, “Como sujeito que se dá ao discurso do outro, sem preconceitos, o bom escutador fala e diz de posição com desenvoltura. Precisamente porque escuta, sua fala discordante, em sendo afirmativa, porque escuta, jamais é autoritária.” (Freire,1996, p.135).

b) –  Ambiental/Espacial: É o espaço onde a vida coletiva se realiza. É marcada pelas lutas de poder que representam duas tendências: decisões verticais (a economia por meio do mercado ocupa lugar central na exploração da população e da natureza como se esses dois elementos fossem meros fatores para produção do lucro; decisões horizontais assentadas na ideia de vizinhança como chave para interpretar o mundo, conhecer as pessoas, suas diferenças e, também, o que pode produzir aproximações ou distanciamentos. É neste contexto que as lutas por justiça constituem um movimento de defesa de uma vida respeitosa entre humanos e meio ambiente. Para Ailton Krenak (2020),

“A vida atravessa tudo, atravessa a pedra, a camada de ozônio, geleiras. A vida vai dos oceanos para a terra firme, atravessa de norte a sul, como uma brisa, em todas as direções. A vida é um atravessamento do organismo vivo do planeta numa dimensão imaterial. Em vez de ficarmos pensando no organismo da terra respirando, o que é muito difícil, pensemos na vida atravessando as montanhas, geleiras, rios, florestas. A vida que a gente banalizou, que as pessoas nem sabem o que é e pensam que é só uma palavra. Assim como existem as palavras “vento”, “fogo”, “água”, as pessoas acham que pode haver a palavra vida, mas não, Vida é transcendência, está além do dicionário, não tem uma definição. (KRENAK, 2020, p. 29).

Trata-se, portanto de ressignificar as lutas pautadas na proteção ao meio ambiente como ferramenta de combate à pobreza e a desigualdade social – a face perversa e excludente das atuais políticas públicas com propósitos desenvolvimentistas. É uma tendência que almeja a rentabilização de capitais em nome da geração de emprego e renda. Contudo são extremamente danosas por representarem uma arma de destruição da vida. Nesta lógica, a grande agricultura químico-mecanizada destrói recursos em fertilidade e biodiversidade, enquanto nega a função social da propriedade, fortalece uma ferramenta política governamental que destrói a agricultura familiar, inclusive pela valorização da economia do setor elétrico construindo grandes barragens que excluem grupos populacionais do acesso aos bens gerados por essa atividade econômica, além de destruir as experiências de vida e manifestações culturais.  A expulsão das populações tradicionalmente ligadas à agricultura de subsistência para as periferias das grandes áreas urbanas fortalece o discurso fundado no binômio pobreza-violência que por sua vez, ignora a ampliação do contingente populacional exposto às condições de subcidadania.  Interromper a pressão destrutiva sobre o ambiente começa com a proteção aos mais fracos, ou seja, o direito à vida.

  (Trazer a questão das queimadas, extração mineral, criação de gado –  pastagens, da destruição de populações ribeirinhas, quilombolas, indígenas etc.)

C) – Afetiva – Religiosa: um diálogo possível.

Afetiva: A beleza desta dimensão tem raízes profundas na capacidade criativa do ser humano para construir processos de interação com outros espaços e outras pessoas, criando laços de solidariedade, compartilhando as ideias sobre um mundo melhor como território ilimitado para criação artística capaz de respeitar a pluralidade de manifestações culturais e, ao mesmo tempo, dar visibilidade às lutas democráticas por justiça social e paz verdadeira.

A visibilidade   se funda na capacidade de revelação e não no ocultamento do cotidiano. Cabe perguntar: como percebemos a implacável seletividade de dois pés descalços? A exclusão desaparece no silêncio dos que a sofrem e no dos que a ignoram…ou temem?  É possível sentir vergonha por não perceber e existência de dois pés descalços?

A cultura e suas linguagens artísticas podem tornar visível o que o olhar normalizou. Gentili (2001) explicita sua utopia, “uma sociedade na qual a diferença seja um mecanismo de construção de nossa autonomia e nossa liberdade, não a desculpa para aprofundar as desigualdade sociais, econômicas e políticas” (GENTILI, 2001, p.43).

Religiosa: Partimos do princípio constitucional que assegura direito às diferentes manifestações religiosas do povo brasileiro. É justamente neste contexto de pluralidade de manifestações religiosas do povo que são criados espaços de convivência que respeitam os praticantes e os símbolos das diversas matrizes religiosas (ou não religiosas). As manifestações religiosas são manifestações culturais de um povo.

d) – Mobilidade Urbana: Pensar a qualidade do transporte coletivo como mecanismo de criação de qualidade de deslocamento e de acessibilidade aos centros urbanos, especialmente para as populações das grandes periferias urbanas, não apenas como acesso ao trabalho, mas também como acesso aos diferentes equipamentos públicos e privados de natureza comercial, cultural, educacional e de lazer.

e) – Jurídica:  Assegurar princípios e direitos constitucionais.  Trazer a questão das minorias como Sujeitos dos Direitos Humanos

(Perseguição política, encarcerados, refugiados, política de proteção aos doentes com transtorno mental, aos idosos, mulheres, refugiados, populações LGBTQI+, vulnerabilidade dos trabalhadores informais, a questão disciplinar de alunos da escola pública sendo tratada como casos de medicalização, o enfrentamento às violências às questões de gênero e manifestações religiosas de matriz africana etc.

f) –   Vida e Saúde – O Bem-Viver. Abordar questões referentes à Segurança Alimentar, trabalho digno, Consumo Responsável, saneamento básico, água, luz etc.

g) –  Processos de Comunicação Social. Trazer discussões referentes aos diversos tipos de mídias: Rádio, TV, Jornais, Internet, Redes Sociais etc.

O enfoque a determinada dimensão deve configurar possíveis detalhamentos temáticos como forma de evidenciar o diálogo entre as diferentes dimensões da vida humana.  Esses cuidados são necessários para evitar práticas fragmentadas que, por sua vez, “terminam em si mesmas e não provocam reflexões”. É interessante explicitar “o que é entretenimento e o que é uma atividade cultura reflexiva que desencadeia possíveis mudanças”.

O processo formativo que privilegia a cultura como núcleo de atuação busca o compromisso com a democracia participativa por entender que o exercício do poder implica a capacidade de construir relações de negociação com base na pluralidade e diversidade das experiências e necessidades das camadas populares.

Partindo desse pressuposto, o diálogo é a possibilidade abrir-se ao pensar dos outros. Portanto, o diálogo não pode se converter ‘num bate-papo’ que marcha ao gosto do acaso.

Por tratar-se de políticas públicas culturais, busca-se a construção de um projeto cultural

                “Enquanto desenho de mundo “diferente, menos feio, o sonho é tão necessário aos sujeitos políticos, transformadores do mundo e não adaptáveis a ele, quanto, permita-se-me a repetição, fundamental é, para o trabalhador, que projete em seu cérebro o que vai executar antes mesmo de sua execução.” (FREIRE, 1996, p.92).

Certamente, o método adquire valor relevante neste processo formativo por implicar uma tensão entre liberdade e autoritarismo, entre sonhos e frustrações, entre realidade e utopias.

 Assim, o foco na realidade, enquanto tempo presente exige olhares para a construção do futuro, ressignificando a participação das camadas populares. Paulo Freire (1996) nos lembra que                      

                     “Não é o favelado que deve ter vergonha da condição de favelado, mas quem, vivendo bem e fácil, nada faz para mudar a realidade que causa a favela. Aprendi isso com a luta. “É possível que esse discurso do jovem operário nada ou quase nada o militante autoritariamente messiânico. É possível até que a reação do moço mais revolucionarista do que revolucionário fosse negativa à fala do favelado, entendida como expressão de quem se inclina mais para a acomodação do que para a luta […] onde quer que haja homens e mulheres há sempre o que fazer, há sempre o que ensinar, há sempre o que aprender (p.91).

É preciso Conhecer, Avaliar, Planejar e Intervir na realidade social mediado pelo conhecimento crítico acerca da realidade. Este conhecimento determina visões de mundo. Assim, o diagnóstico é um juízo de valores sobre uma realidade ou uma prática, à luz de um referencial – conjunto de fundamentos teóricos que orienta essa opção. O conhecimento sobre a realidade não pode ser confundido com o mero levantamento de dados sobre a situação, ou seja, a realidade.

Com base no pressuposto: mudar é difícil, mas é possível, há que se considerar que

                              Para trabalhar produtivamente no mundo nós temos que ser ou pacientemente impacientes ou impacientemente pacientes. Se você for impaciente você destrói seu sonho antes do que ele devesse ser destruído. Mas de você é apenas paciente as outras pessoas vão destruir o seu trabalho. Você tem que ser impaciente para conseguir fazer as coisas e se milhares de pessoas fizerem isto podemos então transformar a sociedade. (FREIRE, 2014, p.84-5).

Ao explicitar os fundamentos da Escola Superior de Paz delineamos nossos referenciais teóricos, ou seja, nosso ideal, nossa utopia, nosso horizonte – o que desejamos alcançar. Para tanto, o diagnóstico deve revelar as condições da nossa realidade. Vale relembrar três questões necessárias ao conhecimento da realidade e formação do pensamento crítico?

O que queremos alcançar? A que distância estamos do que pretendemos alcançar? O que devemos fazer para diminuir a distância entre o que se pretende alcançar e a realidade atual?

Agora, cabe fazer a pergunta: Qual é a distância entre a realidade e o que pretendemos alcançar?

A partir das respostas do coletivo a esta pergunta, podemos selecionar “O que fazer’, isto é, quais são as ações necessárias, portanto, ações a serem desenvolvidas.

Nesta lógica, as ações a serem desenvolvidas expressam a mediação necessária entre o ideal – (nossas utopias) e a realidade a ser transformada. Essas ações constituem um juízo de valor continuado sobre a prática, o que permite verificar sempre, qual a distância em que ela está do ideal estabelecido no referencial/ fundamentos. Isto exige a participação de todos na distribuição do poder entre todos, ou seja, empoderamento[3] dos atores envolvidos. Espera-se que a proposição de atividades formativas possa surgir do diálogo entre dois aspectos: necessidades da população (conhecimento da realidade) e as dimensões da cultura.

As atividades formativas devem articular as linguagens da arte e os símbolos da cultura por meio de cursos, mini-cursos, seminários, palestras, depoimentos, teatro, música, vídeos, filmes, literatura.

9- Referências Bibliográficas

FREIRE, Paulo. Pedagogia da Esperança: um reencontro com a pedagogia do oprimido. 5.ed. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1998.

___________. Pedagogia da autonomia: saberes necessários à prática educativa. São Paulo: Paz e Terra, 1996.

FREIRE, Paulo; FREIRE, Anita Araújo; Oliveira, Walter Ferreira de. Pedagogia da solidariedade. São Paulo: Paz e Terra, 2014.

GANDIN, Danilo. Posição do Planejamento Participativo entre as Ferramentas de Intervenção na Realidade. In:  Currículo Sem Fronteiras, v.1, n.1, pp.81-95, Jan/jun.2001.

GENTILI, Pablo; ALENCAR, Chico. Educar na esperança em tempos de desencanto. Editora Vozes: Petrópolis, 2001.

GRAMSCI, Antonio. Os intelectuais e a organização da cultura. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira,1985, p.117-127.

KRENAK, Ailton. O amanhã não está à venda. São Paulo: Companhia das Letras, 2019.

_____________. A vida não é útil. São Paulo: Companhia das Letras, 2020.

PINTO, Álvaro Vieira. Ciência e Existência. Rio de Janeiro: Paz e Terra,1969.

SANTOS, Boaventura de Souza (org.). Democratizar a democracia: os caminhos da democracia participativa. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 2002, p.13-27; 29-77.

 SNYDERS, Georges. Escola, classe e luta de classe. 2.ed. trad. Maria Helena Albarran. Centauro Editora: São Paulo.1976.

 Santos, Milton. Território e Sociedade – entrevista com Milton Santos. Editora Fundação Perseu Abramo, 1996.

SILVA, Tomás Tadeu da; GENTILI, Pablo (org.). Escola S. A. Quem ganha e quem perde no mercado educacional do neoliberalismo. CNTE: Brasília, 1996.

 STIGLITZ, Joseph. O preço da desigualdade. Trad. Denis Pires. Bertrand Editora: Lisboa, 2016.


[1] Existência Humana é o processo de interação entre a população de uma determinada sociedade, a natureza, as tecnologias e as técnicas para produzir as condições necessárias à sobrevivência.  Este processo ultrapassa o mero atendimento às necessidades básicas de sobrevivência: cria bens materiais e desenvolve. Ideias (conhecimento, valores, crenças, conceitos, símbolos, hábitos, habilidades) que caracterizam a identidade de um povo. A identificação destes bens materiais e culturais constituem o próprio processo de humanização, o que pressupõe questionamentos sobre justiça social, democracia, liberdade, autonomia, direitos humanos e respeito à diversidade.

[2] Bem-Viver Social é o espaço de luta solidária pelo respeito à dignidade humana entendida como conjugação entre desejo pessoal e desejo público. Refere-se aos sonhos, aos horizontes, à utopia pela construção de outros mundos possíveis. Um mundo solidário que lute contra as desigualdades econômicas, sociais, políticas e educacionais; que enfrente a crueldade da destruição ambiental, da discriminação estrutural.

[3] Empoderamento é um sentimento que combina liberdade individual e o desejo social de usar essa liberdade para construir coletivamente processos formativos fundados numa visão crítica da sociedade. Parte do pressuposto que sustenta a ideia de democracia participativa como modelo que envolve a disputa de espaços de participação e deliberação, desafiando a lógica democrática configurada nas representações. Democracia participativa e democracia representativa não se excluem, mas, a primeira visa assegurar espaços para as múltiplas vozes, em condições de igualdade. A democracia participativa parte de uma leitura de mundo fundada na ideia de que a realidade é injusta. Aponta a falta de participação como estratégia de fortalecimento das injustiças. Nesta lógica participação e poder são faces da mesma moeda. Assim, empoderamento é uma ferramenta teórico-metodológica fundada na distribuição do poder que pressupõe conhecer, analisar, planejar e realizar atividades voltadas para a transformação social que, por sua vez, cria a possibilidade de participação e cooperação de todos os agentes do processo formativo.