Quilombolas da Amazônia: vida e luta

A presença de uma importante ativista e quilombola Wal Cruz, no encontro de domingo, demonstra a preocupação do coletivo Estados Gerais da Cultura em dar prioridade aos debates sobre as questões culturais, ambientais, assim como as desigualdades e injustiças sociais do Brasil.

Waldirene Cruz é uma corajosa militante em defesa dos quilombos do Baixo Tocantins, na Amazônia, educadora popular, agroecologista, negra, que vive no quilombo de Nova Esperança, em Cametá, no Pará. É técnica em agricultura da Casa Familiar Rural de Cametá, atua em Pedagogia da alternância, defensora dos pobres e minorias. Também contribuiu para o movimento político de esquerda como ex-diretora da CUT/PA. Esta matriculada no curso de Agronomia UFPA, Campus Cametá PA e tem participado de várias lutas de movimentos sociais, especialmente o de mulheres.

A formação de quilombos na Amazônia deu-se com a expansão do cultivo do cacau e com isso a escravidão de negros e índios. Durante muito tempo, os quilombolas foram perseguidos e muitos quilombos destruídos pelos fazendeiros brancos, porém isso não os fez desaparecerem como comunidade. Hoje, quilombolas lutam pela defesa de seus direitos constitucionais.

Quilombos eram as aldeias onde se refugiavam os escravos em fuga, e onde hoje vivem seus descendentes. Durante a época colonial e mais além, africanos foram escravizados e traficados para o Brasil aos milhões. Apenas 130 anos atrás a escravatura foi abolida no país. No entanto isso não resultou em melhores condições de vida para os libertados.

“No Brasil, simplesmente não há sentimento de culpa por se ter escravizado certos grupos por tanto tempo. Os políticos não consideram tarefa deles integrar essas pessoas, eles simplesmente as deixam excluídas e vulneráveis a tomadas de terra, latifundiários e empresas mineradoras. É uma catástrofe”, diz Raquel Araújo Amaral, diretora do Setor Quilombola do Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária (Incra), em Santarém, Pará. Fonte: DW

Apesar das perseguições e lutas constantes, as comunidades quilombolas têm alegria e gostam de festa à sua moda. Exemplo disso, o samba de cacete que é um ritmo criado por eles, inspirado no samba africano.

Pelos olhos da fotografia

Os Estados Gerais da Cultura reúnem num só encontro três grandes nomes da fotografia brasileira, Firmo, Scorza e Ripper. Suas imagens registram flagrantes repletos de conteúdos que revelam as emoções desapercebidas pelo corre-corre da vida. Firmo, o fotógrafo que mais mostrou a negritude e alegria brasileira, Scorza entre os incríveis do fotojornalismo e Ripper, com suas fotos eloquentes que defendem os direitos humanos.

Walter Firmo

Fotógrafo várias vezes premiado e um dos mais importantes autores a trabalhar com fotografia colorida no Brasil, e um dos primeiros a valorizar e divulgar a contribuição da cultura negra em seu trabalho, Walter Firmo nasceu na cidade do Rio de Janeiro, em 1937. Autodidata, começou a carreira no jornal carioca Última Hora, em 1957, passando a colaborar com o Jornal do Brasil em 1960. Cinco anos mais tarde integrou a equipe inaugural da revista Realidade, que o tornou nacionalmente conhecido. Com uma carreira brilhante e vertiginosa na imprensa foi também diretor do Instituto Nacional de Fotografia da Fundação Nacional de Arte, publicou livros: Walter Firmo: Antologia Fotográfica, Nas Trilhas da Rosa, entre outros.

Antonio Scorza

Está há trinta e dois anos fotografando. De estagiário no jornal Última Hora a editor da Agência France Presse, onde esteve por 26 anos. Atualmente trabalha no jornal O Globo. Participou de 6 Copas do Mundo e 5 Olimpíadas, ganhou um prêmio da World Press para Meio Ambiente e passou 72 dias na guerra do Iraque. Também tem um prêmio da Associação Nacional de Fotógrafos de Imprensa dos EUA. Como um bom jornalista operário, já esteve em palácios e favelas e espera ter mais 32 anos para contar boas histórias.

João Roberto Ripper

Trabalha fazendo documentações e workshops pelo Brasil. Formado em Jornalismo pela Faculdade de Comunicação Hélio Alonso, trabalhou nos jornais O Globo, Última Hora, Luta Democrática e Diário de Notícias. Participou da F4, uma das primeiras agencias de fotografia independente do Brasil. Criou a ONG Imagens da Terra, que teve como proposta colocar a fotografia a serviço dos direitos humanos. Idealizador do Projeto Imagens do Povo, uma Agência-Escola de Fotógrafos Populares do Observatório de Favelas, localizada no complexo de favelas da Maré. Hoje mais de 40 fotógrafos oriundos de espaços populares estão vivendo de fotografia a partir deste projeto. Desde 2011 desenvolve a oficina Bem Querer onde analisa o trabalho de fotógrafos humanistas e sua importância na quebra de estereótipos e no uso da fotografia como ferramenta de transformação social.

O encontro contará com apresentação artistica de Vinicius Oliveira, cantor, compositor, músico e pesquisador. Ao longo dos seus 10 anos de carreira já desenvolveu projetos musicais dos mais variados (tanto em solo como em grupo) visando dar vazão as suas diversas áreas de interesse.
Como compositor, foi um dos premiados em 2013 no Soulvision Festival ao lado do Trio de Couro e Cordas com a música “Com elegância”. Possui músicas gravadas por outros intérpretes e parcerias com compositores como João Cavalcanti, Rodolpho Dutra e Claudinho Guimarães. Ao lado de Raphael Moreira participou da criação da trilha sonora do musical infantil “Samba Menino” baseada em livro homônimo.

“O futuro é algo que faz com que a gente não se comprometa com as coisas ao nosso redor”

Daniel Munduruku. Foto Maira Mago/2009 – Por “Isto é Independente”

Essa ideia do bem viver está muito presente nas populações indígenas. É um conceito que nasceu na América Latina e que tem a ver com a compreensão de um tempo circular, que vai construir um modo de existir que tem a ver com parentesco, o parente cuida do parente… Uma amiga pesquisadora chamou isso de “pedagogia do parente”: esse olhar pro mundo a partir da ideia de que nós somos parte de uma grande teia. Todos somos parte do mesmo mundo e temos que estar atentos para não destruir a teia. O sistema cosmológico que a gente entende existir.

“Hoje é domingo, domingo eu não choro, domingo eu não sofro… Se o amor quer me deixar, me deixe no domingo” – *Maria Bethânia interpretando composição de Roque Ferreira

Dormir na rede é uma filosofia. Levar uma vida mais coletiva. Os povos indígenas trazem um conhecimento tão importante para a gente tirar da vida experiências e sabedorias. Porque afinal de contas é o que mais interessa, nossa realização como ser humano, individual e coletivamente. Atentos e olhando pros lados, isso faz com que a gente não solte a mão de ninguém. E leve uma vida coletivamente mais digna

Assim são as placas que delimitam a Terra Indígena Sawre Muybu, dos Munduruku. Foto via Conexão Planeta

Um milhão de pessoas vivendo em contexto tanto de aldeia como urbanos. 305 povos, 274 línguas. Essa diversidade já foi muito maior. No século XVI éramos 5 milhões. Cerca de 1000 línguas. Quando chegaram os alienígenas. A História foi apagando a presença desses povos, suas vozes… Foram muito usadas. Sempre resistiram mas foram vozes vencidas. E a História acabou sendo contada pelo vencedor, pelo colonizador. Quem conta um conto, aumenta um ponto… A História do Brasil teve muitos pontos, quem contou, contou favoravelmente a si. Um grupo que vem fazendo manobras para sempre se manter no poder, silenciando outras vozes e toda vida, física e simbólica, que essas vozes carregam consigo.

Os povos indígenas aprenderam nos últimos 3 mil anos a olhar para o mundo e para si mesmos tentando dar respostas às angústias que todo ser humano tem.  Não são passivos. Têm uma consciência muito clara de que é preciso lutar para manter sua cultura porque ela que é contrária à visão maniqueísta ocidental que defende o egoísmo, a disputa, que a gente precisa progredir pra satisfazer a nós mesmos e acumular riqueza. Isso se dá por conta dessa visão de tempo que nós temos. Como cada povo pensa o tempo. É aí que mora a grande incompreensão sobre as sociedades indígenas.

O Tempo

Foto de Claudia Andujar. Mostra sobre Indígenas – especial Yanomami GaleriaI Inhotim foto via Pan-horamarte

O tempo ocidental é um tempo linear, que “anda pra frente”. O passado vale muito pouco, o presente é um corisco de um relâmpago. O que mais interessa ao mundo ocidental é o que ele não tem, é o que ele chama “futuro”. É o tempo do relógio, que sempre anda pra frente. Da riqueza, da produção, do acúmulo, o tempo de correr atrás do tempo. É o que nos ensinam nessa sociedade em que tempo é dinheiro.  Educamos a criança assim, Perguntamos às crianças: “O que você vai ser quando crescer?” Considerando que ela não é nada. Ela é um projeto. Se tornará algo se “for alguém na vida”, tiver um império, patrimônio, status social… Para chegar nisso, o Ocidente tem uma trajetória que ele vai estimulando, de formação, de corrupção das pessoas, “os fins justificam os meios”. Nós só podemos ser felizes amanhã. A escola de hoje é a escola que prioriza a ideia do futuro, do amanhã, o investimento que os pais fazem nos filhos. O futuro é algo que temos que colocar como objetivo, que temos que alcançar, e isso faz com que a gente não se comprometa com as coisas ao nosso redor.

O tempo indígena é o tempo circular. O tempo da natureza. E ela não anda pra frente. Ela anda sobre si mesma, “pra trás” nesse sentido. “Natura non facit saltus”. A Natureza não faz saltos. Ela não vive o tempo pensando no que vem pela frente. Ela vive o tempo onde ela está. O inverno não precisa ser outra coisa a não ser inverno. Ele não tem saudade do outono que se foi.  Os indígenas seguem a lógica do tempo da natureza. A partir desses olhares sobre a natureza. Ela não dá saltos. Ela precisa respeitar a si mesma para continuar existindo. Ela precisa viver plenamente o tempo, das estações, da reprodução… Os animais, as árvores, precisam de um tempo. E o indígena sabe que ele também precisa desse tempo. Ele vai percebendo que a natureza também organiza sua vida como se fossem estações.

A gente olha apenas o passado e o presente. Entre os indígenas não existe a palavra futuro. Eles nomeiam as coisas a partir da experiência vivida. Como não se experimentou o futuro, não existe uma palavra que o nomeie. Não existe essa ideia de futuro. Claro que cada povo tem a sua dinâmica de compreensão cosmogônica. Mas costuma ser assim. O passado é fundamental porque é o tempo da memória, é essa memória que vai dizer quem eu sou e o que eu faço nesse mundo. Sem apressar, sem querer dar salto, mas se percebendo parte da natureza. Uma visão que olha pra trás. É esse passado que nos impulsiona para frente, para aquilo que há de vir. O indígena nunca pergunta para uma criança sua, pois de antemão ela já sabe que essa criança não será nada, porque ela já é tudo o que ela deveria ser. Porque ela é criança, e precisa viver essa estação plenamente. Brincar.  Quando a uma criança indígena foi perguntado o que ela queria ser quando crescer, ela respondeu “avô”.

Educação

Claudia Andujar – Galeria Inhotim via site Pan-horamarte

A sociedade toda é educadora. Cabe aos pais e à sociedade oferecer todas as condições para que a criança seja plena, que o adolescente seja pleno, para que ela não sinta falta de ser criança e não seja um adulto antes da hora. Porque já já ela vai ter um rito de passagem.. Porque mais tarde ela será um pai e um avó que tenha vivido todas as estações para ser o conselheiro e o sábio de sua cultura. Que cada estação seja vivida com plenitude. Isso cria uma responsabilidade. Para que cada pessoa viva o seu presente.

Meu avô dizia sempre: “Se o momento atual não fosse bom, não se chamaria presente”. O presente como tempo e o presente como dádiva. Quando a gente ganha um presente nós temos a obrigação de usá-lo imediatamente. Os avós justificam que é o único momento que aquele que te ofereceu aquele presente vai ficar feliz de verdade, porque vai saber que você gostou do que recebeu. Cabe ao avô educar. E ele educa as crianças. Cabe educar o corpo das crianças, o princípio de sobrevivência: plantar, caçar, subir na árvore. E a educação do espírito. O que é isso? Dar sentido à existência.

No reino da natureza, o ser humano talvez seja o mais incompleto, todos os outros vieram completos, ele tem mais necessidade de dar sentido à sua existência. Como? Nas histórias narradas pelos ancestrais. A criança vai aprendendo o que fazemos nesse mundo e a resposta simbólica à existência é coletiva. Não se trata apenas dos indígenas brasileiros. Essa sabedoria está na constituição do ser humano. Desde que ele vai se compreendendo no mundo de acordo com o tipo de sociedade. 

Marco Temporal

Foto via site De olho nos ruralistas

O Marco Temporal é um instrumento legal que vai praticamente oficializar o genocídio das populações indígenas. Os indígenas estão lá em Brasília se sacrificando. O que afeta a Terra, afeta os filhos da Terra. Quando a gente não se considera filho, a gente olha a árvore e vê lucro, não vê um irmão. Essa sociedade cria essa tipo de entendimento sobre o território e vira um objeto, vira posse… Quando eles dizem “os índios são os verdadeiros donos do Brasil” eles usam essa mesma concepção cultural de posse. É uma forma de jogar a sociedade brasileira contra os povos indígenas. Essa luta indígena é para defender o território. O mundo todo está pedindo para o Brasil resgatar essa ancestralidade.  Não tem a ver com um tempo específico como querem os reguladores do Marco Temporal: “a terra é só para quem estava aqui em 1988…” Uma lei não pode estar acima da vida simbólica dessas populações.

Os indígenas são contemporâneos. Estamos aqui e agora. Muitas das incompreensões tem a ver com essa ideia que o indígena é escravo do passado, um ser atrasado, condenado a viver no passado. E a cultura é dinâmica. Está em constante transformação. Nós podemos sim utilizar todos os instrumentos que essa sociedade e a ciência tem e esse uso não nos torna menos indígenas. Podemos usar sem abrir mão da nossa ancestralidade. “Posso ser quem você é, sem deixar de ser quem eu sou”, como diria o movimento indígena ali nos anos 80. Nós precisamos revisitar e olhar o tempo inteiro para essas ideias de indígenas que foram colocadas dentro da gente. Foram criados dois índios dentro da gente que a gente não consegue se libertar com facilidade.

Esterótipos

Claudia Andujar – Galeria Inhotim

Um é o índio romântico. Do dia 19 de abril. Celebrado nas escolas. O índio do século XVI. Fictício. O índio vira folclore, porque é pensado na memória a partir de um tempo. E ele ficou preso nesse tempo como um personagem. Essa ideia do índio folclorizado é uma ideia que é repetida à exaustão na nossa sociedade e que acaba fazendo morada no coração das pessoas graças ao trabalho da narrativa dos vencedores que foi se impondo e acabou se estabelecendo na gente como uma tatuagem ancestral que está dentro da gente.

A outra visão é mais ideologizada. De que índio é preguiçoso. Que tem muita terra e não sabe o que fazer com ela. Que índio bom é indio morto. Para justificar junto à opinião pública porque não precisa demarcar as terras indígenas… Porque precisa fazer eles se tornarem “civilizados”, como diz atual o presidente ressuscitando uma ideia que é muito forte no inicio dos anos 70 “de que os índios precisavam se tornar brasileiros para terem direito à cidadania”. Tem a ver com uma politica integracionista que vem sendo ressuscitada para justificar a falta de política ambiental que seria a não demarcação do território.

Essa visão ideologizada da desqualificação, e a do índio idealizado, vivem muito dentro da gente. Ela não está falando de um índio que é o seu contemporâneo. Quantas vezes eu ouvi “eu esperava um outro índio” quando chegava para dar minhas palestras. Um índio que foi pra universidade, fez doutorado… “Ah, então ele não é mais índio de verdade, ele é um dos nossos, ele se modernizou!”. As pessoas não se dão conta que estão pensando como um colonizador, que elas aceitaram esse pensamento colonizador.

Grande Teia

No meu livro “Catando piolhos, contando histórias”, quando eu me refiro a essa ideia de catar piolho,  é uma proposta de pedagogia porque catar piolho é uma forma de trazer a cabeça pra junto do seu peito. E você só dá a sua cabeça a quem você confia. É também uma forma de interação com quem a gente aprende a confiar e crescer junto. Sem precisar que as riquezas sejam individuais. Uma ideia do coletivo que se realiza quando todos têm abundância. Quando todos podem correr, ter um rio, uma casa… Uma educação da acolhida, do respeito, do coletivo. Não quer dizer que os indígenas são perfeitos. Eu estaria fazendo a mesma afirmação daqueles que pensam o índio como sendo o bom selvagem que vive no paraíso.  Porque onde tem gente, tem conflito. Estou dizendo que essa populações encontraram um jeito próprio de resistir, um sistema próprio para resolver esses conflitos. Relações de crença, espiritual, social, política também.  A história do índio genérico, como sendo uma coisa só, também tem que ser combatida. Nós somos diferentes uns dos outros. Mas temos pontos em comum como a ideia de que somos parte de uma mesma teia da vida.

Você pode encontrar a obra “Catando piolhos, Contando histórias” através desse link, Livraria Maraca assim como outras obras do escritor com 20 anos de produção e de outros autores indígenas

Ideias de Daniel Munduruku editadas pela cineasta Maria Rita Nepomuceno, que é integrante do coletivo Estados Gerais da Cultura e atua na área de criação e curadoria em audiovisual.

“Sobre piolhos e outros afagos: educação para o bem-viver”

O coletivo dos Estados Gerais da Cultura terá como convidado no tradicional encontro dominical, o genial escritor de literatura infanto-juvenil, Daniel Munduruku, que é antes de tudo um importante ativista pelos direitos da causa indígena. Além de escritor, professor e filósofo, Daniel pertence a etnia Munduruku e se destaca por mostrar a importância em preservar a genuína ancestralidade brasileira por intermédio de seus livros publicados e premiados. Em sua maioria, transfere as histórias indígenas repassadas oralmente aos jovens e crianças nas aldeias para literatura.

Hoje com 57 anos é uma voz potente que se manifesta contra as injustiças e atitudes arbitrárias cometidas pelo atual governo aos povos da floresta. Se diz socialista por duas vezes: a primeira por nascença e a segunda por opção.

“Vivendo na periferia de Belém, no bairro da Sacramenta, Munduruku foi “uma criança feliz, aliás, como todas deveriam ser”, trepado em mangueiras em flor, que lhe forneciam deliciosos frutos, e divertindo-se com os pés cravados nos quintais da vizinhança. As memórias ruins surgem quando a escola dos brancos vem à recordação. Apesar de todos ali se parecerem com ele, Daniel foi apontado como “índio”, pelos coleguinhas, por ter vindo de uma aldeia de fora de Belém. No começo, não entendeu aquela palavra: “índio”. Tampouco as risadas dos meninos que compartilhavam com ele a pele bronze, os olhos puxados, os cabelos negros lisos. Não sabia o que era ser “índio”, costumava achar que era Não sabia o que era ser “índio”, costumava achar que era “gente” mesmo. Matutou, então, que “índio” era o nome de algum passarinho que ainda não conhecia, até entender que a piada de que todos riam era ele. Em seu livro “Memórias de índio: uma quase autobiografia” (Edelbra, 2016) existe um capítulo chamado “Nunca gostei de ser índio” que narra o pesado bullying e a discriminação racial de que Munduruku foi alvo na infância”. Fonte Fred di Giacomo

Daniel Munduruku (Belém, 28 de fevereiro de 1964) é um escritor e professor paraense, pertencente ao povo indígena Munduruku. Autor de 54 livros publicados por diversas editoras no Brasil e no exterior, a maioria classificados como literatura infanto-juvenil e paradidáticos. É Graduado em Filosofia, História e Psicologia. Tem Mestrado e Doutorado em Educação pela USP – Universidade de São Paulo e Pós-Doutorado em Linguística pela Universidade Federal de São Carlos – UFSCar.

Já recebeu vários prêmios nacionais e internacionais por sua obra literária: Prêmio Jabuti CBL – Câmara Brasileira Do Livro, Prêmio da Academia Brasileira de Letras – ABL, Prêmio Érico Vanucci Mendes – CNPq, Prêmio Madanjeet Singh para a Promoção da Tolerância e da Não Violência – UNESCO, Prêmio da Fundação Bunge pelo conjunto de sua obra e atuação cultural, em 2018, entre outros. Muitos de seus livros receberam selo Altamente Recomendável da Fundação Nacional do Livro Infantil e Juvenil – FNLIJ. Ativista engajado no Movimento Indígena Brasileiro, reside em Lorena, interior de São Paulo, desde 1987. Cidade onde é Diretor-Presidente da ONG e selo editorial Instituto Uka – Casa dos Saberes Ancestrais, também é membro-fundador da Academia de Letras de Lorena. Atualmente Daniel administra uma livraria online especializada em livros de autores indígenas e promove há 17 anos, o Encontro de Escritores e Artistas Indígenas no Rio de Janeiro em parceria com a FNLIJ.

Ousar e Resistir: Mulheres e Memórias

Um encontro memorável de mulheres é a proposta dos Estados Gerais da Cultura no domingo. Serão professoras, pesquisadoras, ativistas, artistas, militantes, mães, representantes de diferentes grupos e coletivos que irão colocar em pauta o protagonismo feminino no Brasil de hoje, um país com uma das mais altas taxas de feminicídio e onde a discriminação e a violência ainda fazem parte do dia a dia de muitas mulheres brasileiras.

Quem matou Marielle?

Fabiola Notari é artista visual, professora e pesquisadora. Doutora em Literatura e Cultura Russa (FFLCH/USP), mestre em Poéticas Visuais pela Faculdade Santa Marcelina e bacharel em Artes Visuais pelo Centro Universitário Belas Artes de São Paulo, onde lecionou de 2012 a 2020. Desde 2014 coordena o Grupo de Estudos Livros de artista, livros-objetos: entre vestígios e apagamentos e em 2018 criou o Núcleo de Livros de Artista. Ambas as iniciativas são apoiadas e realizadas na Casa Contemporânea, espaço multidisciplinar localizado no bairro de Vila Mariana em São Paulo-SP. É co-fundadora e diretora administrativa do Instituto Angelim. www.fabiolanotari.com.

Mirlene Fátima Simões. Doutora em Sociologia (UNESP/CAr). Docente no ensino universitário em instituições públicas e particulares. Escreveu livros, capítulos de livros. Coordenou publicações de livros e de revistas acadêmicas. Coordenou pesquisa nacional de Políticas Públicas para Mulheres (2012-2015). É membro da Sociedade Brasileira de Sociologia – SBS (2015-atual) onde coordena Grupos Temáticos e Mesas-Redondas. É membro da Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência – SBPC (2020-atual). Membro Coordenadora do 500 Women Scientists (2021-atual). É co-coordenadora do Grupo de Pesquisa CNPq/Unesp/CAr Juventude e Prevenção do Delito. É Diretora Presidente do Instituto Angelim. www.institutoangelim.org

Franciéle Garcês. Bibliotecária negra, doutoranda em Ciência da Informação na UFMG. Integrante do GT Relações Étnico-raciais e Decolonialidades da FEBAB, idealizadora do Quilombo Intelectual e uma das coordenadoras do Selo Nyota. Integrante do Coletivo Nacional de Bibliotecários e Bibliotecárias Negras. Pesquisa a Biblioteconomia Negra Brasileira e Americana, Estudos Críticos da Branquitude e Ensino e Relações Étnico-raciais em Biblioteconomia.

Keila Pereira, 24 anos, estudante de Letras na USP e moradora de Parelheiros, extremo sul da capital paulista. Foi Diretora de Cultura da UMES de São Paulo (2016-2018), cofundadora do Sarauê e atualmente é Agente Cineclubista da Spcine, empresa pública de audiovisual da cidade.

Vivian dos Santos Queiroz, mulher, mãe, operadora de telemarketing, sindicalista presidente do Sintratel – Sindicato dos trabalhadores em telemarketing de Campinas e Região e Secretaria Nacional da Mulher da CGTB.

Miguela Peralta Moura é mãe e artista visual. Do povo Guarani, do Estado de Mato grosso do Sul, nascida na região de fronteira com o Paraguai. Vive hoje no sul da Bahia. Suas pinturas, carregam traços e cores que permeia a compreensão da sua própria ancestralidade, vestindo-se da cultura fronteiriça para fortalecer sua identidade.
Estudante de Ciências Sociais e atuante no movimento indígena.

RE-ACORDAR

As asas que ali caíram

Foram asas que me deram.

Minhas asas verdadeiras,

 As que comigo vieram,

No chão rasteiro e sem fim

Jamais poderão cair.

São as asas da esperança

De um futuro que há de vir.

(Joaquim Cardozo, O Coronel de Macambira)

Re-Acordar conta a história dos integrantes do elenco, desde seu primeiro encontro até os dias de hoje.

Travessia de mais de 50 anos: os anos de ditadura, prisão, exílio, viver no Brasil, e de como, através dessas vivências, chegamos ao hoje.      

Viver vale a pena.

(Re-Acordar)

O texto se compõe de poemas de Joaquim Cardozo, extraídos do bumba-meu-boi O Coronel de Macambira, peça apresentada em 1967 pelo Teatro Universitário Carioca, com direção de Amir Haddad e músicas de Sergio Ricardo. As cenas do Macambira são entremeadas por versos de Marta Klagsbrunn, relatos e reflexões de participantes do TUCA.

Cada verso do poema é iluminado pela vida.

(Re-Acordar)

Re-Acordar tem direção e dramaturgia de Amir Haddad, que também participa da apresentação como seu narrador.

A música original, composta por Sergio Ricardo, tem arranjos e direção musical de Luiz Cláudio Ramos e ponteia a peça.

A editora das músicas e sons e encarregada de sua difusão é Márcia Fiani. A edição de fotos é de Marta Klagsbrunn e a direção de imagem de Máximo Cutrim. Nossa divulgação está sob os cuidados de Mônica Arruda.

Dez de nossos membros constituem o elenco do Re-Acordar:

Alberto Strozenberg, Amir Haddad, Dora Zaverucha, Márcia Fiani, Marta Klagsbrunn, Mônica Arruda, Regina Célia Dantas, Ricardo Valle, Sérgio Alevato e Victor Hugo Klagsbrunn.

A produção é nossa: TUCAARTE – Associação TUCA de Arte e Cultura.

Texto release do TUCAARTE

Forró, Patrimônio Cultural Brasileiro

Os Estados Gerais da Cultura propõem uma boa prosa com dois famosos forrozeiros e gente que gosta da cultura popular para defender o Forró como Patrimônio Imaterial Brasileiro. Certamente com muito baião, xaxado, chote e arrasta-pé ao som das sanfonas de Mô Lima e Luizinho Calixto. Quase uma festa virtual junina para combinar com mês de junho, dos santos festeiros – Santo Antonio e São João.

Forró é alegria e a marca do povo brasileiro, sobretudo na região nordeste. Há mais de 10 anos grupos e pessoas que representam setores da cultura popular lutam para registrar o Forró de raiz, o pé-de-serra, como patrimônio brasileiro no IPHAN – Instituto de Patrimônio Histórico e Artístico. Num inventário preliminar, o IPHAN constatou que a festa do Forró existe no mínimo em 14 estados brasileiros com destaque.

Joana Alves é uma dessas grandes defensoras para preservar o Forró como cultura imaterial. Ela atua frente a Associação Balaio do Norteste. Rejane Nóbrega será a mediadora desse bate-papo e também uma grande militante e ativista de cultura. Juntou toda turma para defender e preservar o que é nosso.

Forró não é só São João. É uma cadeia produtiva que envolve dança, participação feminina, além das matrizes, xaxado, baião, xote e dentro dessas matrizes têm o Forró de oito baixos. Neste sentido tem Luizinho Calixto que é um dos últimos mestres da sanfona de oito baixos.

Outro forrozeiro será Mô Lima, de 42 anos, músico e filho de Francisco Ferreira Lima, pegou o fole da sanfona pelo caminho para continuar o forró deixado pelo pai, que era mais conhecido como Pinto do Acordeon lá da Paraíba, que foi um dos grandes nome do Forró no Brasil.

Joana Alves

Joana Alves da Silva licenciada em Educação Artística pela JUFPB com especialidade em artes plásticas é também artesã, produtora e articuladora cultural. Fundadora e presidente por dois mandatos (de 2008 à 2015) da Associação Cultural Balaio Nordeste (ACBN), instituição cultural sem fins lucrativos, atuou em várias frentes de valorização e promoção da cultura popular à exemplo da criação da Orquestra Sanfônica Balaio Nordeste, da Escola de Música Mestre Dominguinhos, do documentário/DVD do músico Pinto do Acordeon (parceria com o IPHAN), do Fórum de Forró Raiz e do I, II e III Encontro de Foles e Sanfonas daParaíba.

Promoveu ainda diversos eventos tais como: Encontro Nacional para Salvaguarda das Matrizes do Forró como Patrimônio Imaterial Brasileiro (parceria com o IPHAN), Homenagem a Luiz Gonzaga (edições 2012, 2013, 2014 e 2015); Forró Solidário do Balaio Nordeste (edições 2011, 2012, 2013, 2014 e 2015), Mulheres Pintando o Sete (homenagem a cantora Marinês) e Balaio Nordeste Rumo à França.

Rejane Nóbrega

Militante e ativista cultural, gestora de cultura, pesquisadora das culturas tradicionais e populares brasileiras; arte educadora. Foi Assessora de cultura da Comissão de Educação Cultura da Câmara dos Deputados; Assessora Especial de Cultura da Secretaria da Cidadania e Diversidade Cultural do MinC; Assessora de Cultura da Secretaria de Cultura de SP, gestões Erundina/Marilena Chauí; Diretora de Cultura de Campo Largo, PR; Assessora Especial de Cultura de Conde, PB.

Artes Visuais, Licenciatura – Faculdade de Artes do Paraná – FAP; Mestrado em Serviço Social de Comunidade – PUC-SP; Bacharelado em Serviço Social – Universidade Federal da Paraíba – UFPB; Diversos Cursos Livres em Artes Visuais e Culturas Populares.

Teatro Remoto e Resistência Artística

Os Estados Gerais da Cultura reúnem um grupo exemplar na produção de arte como militância em política e questões sociais, para falar sobre Teatro Remoto e Resistência Artística. Será um encontro memorável com a filha de Luiz Carlos e Olga Prestes, que carrega na sua trajetória parte relevante da história do comunismo no Brasil e junto com ela três nomes do mundo artístico, Fernanda, Vera e Fábio, que colocam em primeiro plano a poética da vida refinada pela arte.

Anita Leocadia Prestes nasceu em 27 de novembro de 1936 na prisão de mulheres de Barnimstrasse, em Berlim, na Alemanha nazista, filha dos revolucionários comunistas Luiz Carlos Prestes, brasileiro, e Olga Benario Prestes, alemã. Autora de vasta obra sobre a atuação política de Luiz Carlos Prestes e a história do comunismo no Brasil, é doutora em história social pela Universidade Federal Fluminense, professora do Programa de Pós-Graduação em História Comparada da UFRJ e presidente do Instituto Luiz Carlos Prestes. Publicou, pela Ed. Boitempo Luiz Carlos Prestes: um comunista brasileiro (2015), Olga Benario Prestes: uma comunista nos arquivos da Gestapo (2017) e Viver é tomar partido: memórias (2019).

Vera Novello é atriz, autora, produtora e professora. Há 26 anos à frente da Lúdico Produções, realizou mais de 130 projetos de teatro, ballet, ópera, patrimônio. Em 2019 produziu e atuou em “Vianinha conta o último combate do homem comum” – dir. Aderbal Freire Filho no Sesc 24 de maio (SP). Escreveu em parceria com Ana Velloso o premiado musical infantil “O Choro de Pixinguinha”, que circulou no SESC Rio também em 2019. Durante a pandemia produziu espetáculos online como “Segredo de Justiça” inspirada no livro da Juíza Andréa Pachá; “The And”, de Isabel Cavalcanti de Cláudio Gabriel, a partir da obra de Beckett; “Mãe-De-Ninguém” projeto do grupo Yonis Magníficas; entre outras. Em 2021, atuou e produziu “Atlântida – uma radionovela”, em cartaz no Canal Sesc /Youtube.

Fábio Ferreria é diretor teatral, dramaturgo, tradutor e professor universitário. Escreveu crítica teatral em publicações como o Jornal do Brasil/Caderno B, Revista Bravo!, Revista Gesto e Revista Questão de Crítica. Doutor em Literatura, Cultura e Contemporaneidade pela PUC Rio/ Universidade de Copenhagen. Professor da PUC Rio/Artes Cênicas e Letras, atuando também no Curso de Especialização em Arte e Filosofia, do Departamento de Filosofia, da PUC Rio. É diretor artístico da Cia Bufomecânica junto com Claudio Baltar. Criou os Festivais Rio
Cena Contemporânea e ArtCena: Processos de Criação. É curador internacional de artes da cena.
Pesquisador do Grupo de Estudos sobre Samuel Beckett, da USP/CNPq.

Fernanda Azevedo é atriz, professora e pesquisadora teatral. Mestre em teatro pela Unesp. Integrante Movimento de Teatro de Grupo de São Paulo e do Coletivo Comum.

O encontro contará com a dupla musical da Associação Zona Franca, Alejandra e Bruno Menagatti, uma Pensata na voz de Eduardo Tornaghi, abertura pelo cineasta Silvio Tendler, e mediadores.

O menino conectivo

Se for pensar em alguém que tem muitas histórias para contar sobre Paulo Freire, certamente o antropólogo e professor, Carlos Rodrigues Brandão, será o primeiro a ser lembrado por sua incrível capacidade de produção e por ter vivido inesquecíveis momentos com Freire, entre sonhos e utopias para construir um mundo melhor.

Iniciou sua conversa com a turma do EGC contando que e o patrono da educação brasileira gostava de ser chamado de o ‘menino conectivo – o menino e o outro’.

Brandão é um estudioso incansável da vida e do mundo e acima de tudo, um produtivo escritor com inúmeras publicações, livros e conteúdos preciosos que, na maioria, registra um período fecundo e próspero em ideias na área de educação popular no Brasil e o mais importante, ele disponibiliza a maior parte desse material gratuitamente para deixar “voando nas nuvens”, como diz.

O encontro realizado pelos Estados Gerais da Cultura, do qual o escritor e pesquisador participou relatando suas experiências e o que significou para a educação popular as ideias do grande pensador Paulo Freire, foi agradável, uma boa prosa, com muita poesia e reflexões citadas por ele, considerando que 2021 celebra-se o ano do centenário de nascimento de Paulo Freire.

Depois de ouvir fatos sobre Paulo Freire, a conclusão é de que esse visionário que viveu para educação no Brasil, foi perseguido, exilado e torturado, era uma personalidade única, um homem com incrível sensibilidade na defesa dos “esfarrapados”.

Segundo Brandão, Paulo Freire tinha uma capacidade de ajuste e integração nos lugares por onde passava incorporando a cultura local, seja no Brasil ou no exílio. Quando se rastreia a vida do educador pernambucano, embora transformado em cidadão do mundo, é possível perceber a sua conexão com mundo a que vivia no momento.

Recife, na universidade atuando no serviço de extensão cultural com mais três pessoas, no exílio se integra no Instituto de Colonização e Cooperativas Agrárias e trabalha “chilenamente com chilenos” como afirma Brandão. Exilado para Genebra, cria o IDAC, inclusive com brasileiros. Volta ao Brasil, aqui imediatamente se integra na equipe de Secretaria da Educação, com a então prefeita Luiza Erundina. Pouco depois, cria o Instituto Paulo Freire, em São Paulo. Até partir, sempre pensou e agiu todo o tempo em equipe.

Carlos Rodrigues Brandão nos oferece inúmeros publicações para serem aproveitadas aos leitores do EGC. Tentaremos na sequência colocá-las com alguns comentários. Entre muitas publicações que disponibilizou, algumas estarão em PDF aqui, logo no final da matéria.

“Aos esfarrapados do mundo”
Em tempos em que entre nós – tanto militantes cristãos quanto marxistas – as categorias de ordem eram: povo, massa popular, classe, classe operária, proletariado, campesinato (eu mesmo empreguei muito essas palavras em meus primeiros livros sobre a educação popular), Paulo Freire dedicou o Pedagogia do Oprimido… “aos esfarrapados do mundo…”. Desde Educação como prática da Liberdade os seus sujeitos serão: “o homem”, “o povo”, “os oprimidos”, “os subalternos”.

Ação revolucionária, escrita a mão no original e esquecida na imprensa
Na página 322 de Pedagogia do Oprimido (o manuscrito) Paulo Freire traça dois desenhos, dois pequenos esquemas. A “Teoria da Ação Revolucionária” e a “Teoria da Ação Opressora”. Será uma das ocasiões em que a palavra “revolucionária” aparecerá em Pedagogia do Oprimido. Estes dois esquemas e mais os escritos textuais que os acompanham nunca aparecerão nas edições a seguir impressas como livros: primeiro em edição em inglês, depois em Espanhol e apenas mais tarde em Português.

Aqui temos o PDF dos textos completos de Carlos Rodrigues Brandão, Qual Paulo Freire, Que Educação – O Menino Que Lia o Mundo

Paulo Freire, tantos anos depois

O encontro com Carlos Rodrigues Brandão é para conjugar o verbo esperançar como defendia seu velho amigo Paulo Freire, companheiro de tantas lutas e muitos projetos de educação popular para construir um Brasil melhor. Esperançar no sentido de agir, de ir atrás, se juntar, não desistir… não somente ter esperança da espera, mas da ação, do movimento. Esse lema é palavra de ordem para o professor Brandão até hoje, assim como foi no passado acompanhando Paulo Freire na sua trajetória profissional.

“Convivi com Paulo Freire apenas após seu retorno do exílio. Convivi com suas ideias desde muito antes, quando trabalhava como educador popular no Movimento de Educação de Base e era um “militante engajado” na Juventude Universitária Católica. Entre voos (alguns longos), viagens por terra, salas de aulas, locais amplos de encontros, congressos e semelhantes, ou mesmo ao redor de uma mesa de bar, nós compartimos horas e horas da vida. O que trago aqui é a memória de fatos e o depoimento de feitos deste homem que de tanto ser lembrado como um militante da educação, um professor e um escritor de livros que ajudaram o mundo a ser melhor e mais consciente de si-mesmo, acabou sendo quase esquecido de ser também uma pessoa que numa mesa de bar, ou em uma viagem de avião, gostava de conversar muito sobre a vida… e muito pouco sobre a educação”, trecho do texto A Pessoa de Paulo – memórias – depoimentos, de Brandão.

Carlos Rodrigues Brandão é licenciado em psicologia pela PUC/RJ, é mestre em Antropologia Social e possui doutorado em Ciências Sociais, com pós-doutorado em História Contemporânea pela Faculdade de Geografia e Historia da Universidad de Santiago, em Santiago de Compostela, Espanha. Envolveu-se com cultura e educação popular no Movimento de Educação de Base (MEB), em janeiro de 1964. Desde então participa como assessor e como autor de livros e escritos sobre os temas. Na Universidade Estadual de Campinas, está vinculado ao GEPEJA, Grupo de Pesquisa de Educação de Jovens e Adultos Um de seus mais de 50 livros publicados é intitulado O que é Método Paulo Freire.

“Mas na parede de minha casa os únicos diplomas que tenho pendurados são: o de escoteiro, o de guia excursionista, o de guia escalador, o de haver escalado do Dedo de Deus, e o de haver percorrido o Caminho de Santiago” , afirma ele, no final de sua brilhante biografia no site A Partilha da Vida e no qual coloca à disposição do público uma série de publicações gratuitamente.