Paulo Freire, o visionário da educação popular

Nosso encontro, o 41, relembra o Professor Paulo Freire, um visionário que entendeu a importância do conhecimento e da competência como alavanca fundamental da transformação da história e da tomada  em mãos pelos Homens e Mulheres do seu próprio destino.


As elites brasileiras também entenderam e deram o golpe de 1964 para evitar justamente que o povo construísse seu próprio caminho. Tinha 14 anos de idade quando a direção da escola reuniu os alunos e a professora de desenho saudou a ‘revolução” sem lagrimas nem sangue”, que havia deposto o governo constitucional, cassado, prendido, torturado, enviado para o exílio os que resIstiram ao golpe.


Cassado e perseguido o professor Freire foi exercer seu talento mundo afora. Reconstruímos a democracia e hoje, nós dos Estados Gerais da Cultura nos encontramos para celebrar seu centenário com a certeza  de que com “Arte, Ciência e  mudaremos o mundo”.


O dia 29 de maio, um dia antes deste encontro, foi um dia especial em nossas vidas. Milhares de brasileiros se expuseram ao terrível vírus que nos assola para dar um basta ao governo de vermes que tomou de assalto a república. 


Épico o dia 29 de maio. Ver nossos companheiros e companheiras velhinhos, lenços nos rostos, como nos antigos seriados que assistíamos nas matinês da nossa adolescência . Desta a vez afrontando a “república dos vermes milicianos’, com garra e tenacidade.  Aplaudi os mais jovens em seu levante contra a tirania.
Rendo minhas homenagens e solidariedade a vereadora de Recife Liana Cirne agredida com spray de pimenta pela PM.


Os crimes contra o povo, a violência policial não pode continuar impune. Marielle, Jacarezinho, a farsa da facada de juiz de fora devem ser apuradas com rigor.
Termino rendendo homenagens ao cineasta MAURICE Capovilla, falecido ontem.
Repito: Com Arte, Ciência e Paciência, mudaremos o mundo.

Texto de Sílvio Tendler lido por Eduardo Tornaghi no quadragésimo primeiro encontro dos Estados Gerais da Cultura.

A pessoa de Paulo Freire – Memórias

“Na fotografia estamos em Managua, na Nicarágua, em um evento internacional de apoio à Revolução Sandinista. Paulo Freire está entre jovens (é em 1982) que vieram a recriar com ele o que veio a ser a Educação Popular. O que está sentado e humildemente olha para o chão (talvez prestando atenção em alguma formiga passageira), sou eu”, Brandão.

Aqui apresentamos o início de um texto de Carlos Rodrigues Brandão, professor e escritor, nosso convidado no encontro sobre Paulo Freire, tantos anos depois, cujo conteúdo completo poderá ser disponibilizado a quem interessar via e-mail e contato pelo site da EGC. Segundo Brandão, os escritos foram feitos para “voar nas nuvens” e para partilhar livremente. Ele oferece artigos, livros e escritos sobre a educação, a antropologia e a literatura que podem ser acessados e copiados no seu site Partilha da Vida . Numa pequena trova talvez, cordel, pequeno poema, Carlos Rodrigues Brandão resume com poética o que representou e falou seu amigo Paulo Freire.

Viver a sua vida
Criar o seu destino
Aprender o seu saber
Partilhar o que aprende
Pensar o que sabe
Dizer a sua palavra
Saber transformar-se
Unir-se aos sues outros
Transformar o seu mundo
Escrever a sua história

Tantos anos depois

“Bem que eu gostaria de começar este apanhado ao acaso de memórias e depoimentos sobre não tanto a obra, mas a pessoa de Paulo Freire, tratando quem me leia como ele costumava falar. . Paulo usava o “tu”, das pessoas de fala espanhola, dos gaúchos, das paraenses e de mais alguns brasileiros, inclusive do Nordeste. Assim ele deixava de lado o “você”, tão mais nosso, e ao falar nos olhava na cara e dizia: “Tu, Carlos, tu, o que pensas sobre isto?”

O que desejo partilhar com vocês são algumas memórias minhas e alguns depoimentos a respeito da “Pessoa de Paulo”. Pequenos fatos, alguns triviais e quase pitorescos, outros mais sérios, mas sempre pouco acadêmicos e ortodoxos. Convivi com Paulo Freire apenas após seu retorno do exílio. Convivi com suas ideias desde muito antes, quando trabalhava como educador popular no Movimento de Educação de Base e era um “militante engajado” na Juventude Universitária Católica.

Entre voos (alguns longos), viagens por terra, salas de aulas, locais amplos de encontros, congressos e semelhantes, ou mesmo ao redor de uma mesa de bar, nós compartimos horas e horas da vida. O que trago aqui é a memória de fatos e o depoimento de feitos deste homem que de tanto ser lembrado como um militante da educação, um professor e um escritor de livros que ajudaram o mundo a ser melhor e mais consciente de si-mesmo, acabou sendo quase esquecido de ser também uma pessoa que numa mesa de bar, ou em uma viagem de avião, gostava de conversar muito sobre a vida… e muito pouco sobre a educação.

Não pretendo de modo algum escrever aqui um “livro para ser publicado”. Quando ele ficar pronto eu o vou enviar a um ramalhete de pessoas amigas. E desde já gostaria de desafiar aquelas que, como eu, algo tivessem a narrar a
respeito da “Pessoa de Paulo”, que se animassem a somar aos meus, os seus depoimentos. E, às minhas, as suas memórias compartidas. O próprio Paulo gostava muito de se autobiografar em momentos de seus livros. No entanto, observem que são mais memórias de infância e juventude do eu as de quando já era “o professor Paulo Freire”. De resto, em suas inúmeras biografia há muitos momentos de suas memórias. Sem falar na completa e
excelente biografia de Paulo escrita por Ana Maria Freire. Faltam, no entanto, “depoimentos de vida” que em diferentes situações nos ligar a este homem irrepetível.

Campinas, outono de 2018
Carlos Rodrigues Brandão

Um homem conectivo

Em muitas ocasiões a imagem de Paulo Freire colocada na capa de seus livros, em programas de encontros e em trabalhos escritos sobre a sua obra Paulo Freire aparece quase sempre sozinho. E, notemos bem, quase sempre o mesmo rosto de um homem já com os cabelos e as barbas brancas e com um sereno ar de profeta pensativo. São raras as fotos de Paulo Freire mais jovem. Raras também, a não ser em livros biográficos, as imagens de Paulo Freire em meio a outras pessoas.

Ora, esta desigualdade de proporções entre tipos de imagens revela uma falsa realidade. Paulo Freire gostava de dizer de si mesmo que sempre foi “um homem conectivo”. Um “homem-ponte”, um “homem-elo”.Convivi com ele o suficiente para reconhecer que à diferença de intelectuais (categoria da qual ele nunca gostou de pertencer), solitários, ilusoriamente autossuficientes e amantes da mesas redondas com no máximo três pessoas e dos palcos solitários com focos de luzes caindo sobre uma única pessoa, Paulo sempre foi uma pessoa “ao redor de”. E o círculo de cultura sempre foi o lugar mais fecundo e feliz que ele imaginou. Assim como “estar em equipe” foi antes do exílio, durante o exílio e depois dele, até sua partida, o seu lugar de vida e trabalho preferido.

Quantas vezes convivemos situações de partilha de palavras e de ideias, e sou testemunha de que em nenhuma delas ele guardava a pose pedante de que fica em aparente silêncio enquanto as outras pessoas falam, para então esperar o silêncio respeitoso e o foco de todas as atenções para “dizer a palavra essencial do mestre”. Ao contrário, lembro-me de diferentes situações em que sua preocupação eram muito mais a de conectar as diferentes palavras de quem partilhava um diálogo coletivo “ao redor de”, para então dizer “a sua palavra” bem mais como uma síntese do que se disse do que como a sábia e exclusiva fala de quem se guardou para afinal dizer o que todos vieram ouvir.

“Assim era esse homem de quem, se eu ousasse (e eu vou ousar) sintetizar tudo o que ele disse e escreveu sobre o povo e a vocação de quem dialoga para educar, eu escreveria isto:”

Viver a sua vida
Criar o seu destino
Aprender o seu saber
Partilhar o que aprende
Pensar o que sabe
Dizer a sua palavra
Saber transformar-se
Unir-se aos seus outros
Transformar o seu mundo
Escrever a sua história


Paulo Ricardo Freire

Paulo Ricardo Freire ou Paulinho Kokay é poeta, cantor e compositor amazonense, com 36 anos de profissão. Foi premiado em diversos festivais de música regionais e nacionais, na década de 1990. Seu trabalho se caracteriza por músicas com temas políticos e de críticas sociais. Também é Psicólogo e professor da Universidade Federal do Amazonas. Conheça mais sobre Paulo Ricardo Freire aqui

“Todos nós necessitamos falar ao outro. Mesmo que essa fala seja uma fala silenciosa, velada. Passei a me sentir útil ao mundo não para receber nada em troca, mas para ser simplesmente útil. Cada restinho de memória que as pessoas que passam por mim guardem deverá ser de coisas boas. Quero que as pessoas levem de mim, mesmo no esquecimento, lembranças agradáveis, ainda que a de um simples sorriso”. PRF

Paulo Padilha

Paulo Padilha é professor, educador popular e músico. Diretor do Instituto Paulo Freire e coordenador da EaD freiriana. Autor dos livros “Currículo Intertranscultural” e “Educar em Todos os Cantos”, entre outros. “Educação e música caminham lado a lado, ajudando a construir pontes para um diálogo lúdico e aprendente”, afirma o educador na apresentação de seu site professorpadilha.com

“O que podemos esperar do futuro

O futuro será resultado do que fizemos ontem e do que fizermos hoje. Depende das nossas ações, de nossas omissões, de nossa coragem, de nossa covardia, do tamanho do nosso medo e da nossa ousadia.

O futuro é esperança sem espera, é vento com vela, é luz no fim do caminho, desde que não estejamos sozinhos.

O futuro é mão na massa, é desenferrujar a carcaça, é sair do caminho, é escrever o nosso próprio itinerário, é não fugir da raia, é cumprir o horário, mas também sair do script que alguém escreveu para nós. É ser mais autor além de ator, mais olhar e ainda mais enxergar, não só ouvir, mas principalmente escutar, é saber dizer e silenciar na hora certa… mas a hora certa depende do momento, do contexto, dos comportamentos, dos consensos e dos dissensos.

O futuro é a síntese de nossas alegrias, tristezas, mas também fruto das ironias, da sorte que construímos, do sul, do sudeste, do norte e do nordeste, do leste, do centro, do oeste, do centro oeste, da pessoa que se considera cidad@ do mundo. Falar nisso, nasci paulistano da gema, mas sou hoje nordestino na minha admiração deste povo guerreiro, de sua cultura, desse povo maravilhoso, inteligente, distinto, digno, criativo, trabalhador, artista, sofrido, lutador, gente da mais alta qualidade humana, nem melhor, nem pior que outras gentes. Mas uma gente muito boa gente.

E bem ao contrário do que disse alguém recentemente, cuja alcunha nem sequer merece ser citado aqui, porque mente. Apenas mente.

O que esperar do futuro? Não esperar, mas resistir, cantar, lutar, educar, sonhar e trabalhar. E se não houver trabalho, lutar e trabalhar para que haja, mesmo que seu trabalho seja trabalhar a importância do ócio, ou reinventar a roda, recuperar a vida, manter a dignidade erguida, ganhar as ruas, as escolas e recuperar o tempo perdido, da vida. Ninguém fará por nós. Mas sempre podemos aprender com a nossa experiência, com os saberes e com a história dos nossos avós. O futuro é aqui e agora, mas também é amanhã e depois de amanhã… se houver vida. E vida haverá, mesmo depois de nós, porque somos viventes sementes da esperança.” Fonte: site Paulo Padilha