14 de março: alegrias e lamentos. Glauber Rocha presente!

Chico Mário, Glauber Rocha, Castro Alves, imagens via internet

Hoje é um dia de muitas emoções. Muitas homenagens. Alegrias e lamentos!

Lamentamos profundamente o assassinato da Marielle que nos dá este sorriso, com qual abrimos esse encontro, mas até agora os mandantes do seu assassinato estranhamente não foram encontrados. Continuamos lutando por justiça para Marilelle, justiça para Anderson e que logo uma investigação verdadeira, aprofundada, encontre e puna os seus assassinos.

Estamos abrindo esse encontro com essa homenagem. Hoje também é dia de homenagear os nascimentos de Glauber Rocha e Castro Alves, que nasceram neste 14 de março. Ambos, um poeta com imagens, Glauber, Castro Alves com palavras. Glauber sempre disse que morreria com a mesma idade que Castro Alves. Glauber morreu com 42 anos e Alves com 24 anos.

Homenageamos também o músico Chico Mário que morreu há 32 anos, irmão do Henfil, do Betinho. O Chico Mário era um virtuoso da música, um compositor maravilhoso, um batalhador pela música independente . Ele que inventou a ‘vaquinha’ para compor e editar as músicas, livres das gravadoras. Chico Mário abriu este caminho na arte, que aos 39 anos morreu da AIDS por conta da doença que ele tinha e pegou o vírus mortal por uma transfusão de sangue, num banco de sangue e estava contaminado.

Depois, graças ao SUS os bancos de sangue foram estatizados e graças ao batalhador incansável Sérgio Arouca, que lutou pela estatização do sangue e tirou daqueles vampiros que faziam do sangue um comércio. Graças essa ação do SUS e do Arouca muitas vidas foram salvas.

Hoje vivemos uma nova pandemia por conta desse descaso desse governo com a saúde da população. Estamos abrindo este encontro com estas manifestações de solidariedade aos aniversariantes, aos que morreram por conta desse descaso público.

Os Estados Gerais da Cultura que nasceram para ajudar a recriar o Ministério da Cultura saúda com muita alegria e emoção a demissão do genocida do Ministério da Saúde e exige a recriação do MinC, com a demissão daquele ator de quinta categoria que ocupa a Secretaria da Cultura, uma gaveta do Ministério do Turismo.

Precisamos de um Ministério de verdade para transformar a Cultura num grande encontro das artes, do teatro, da dança, do cinema, das artes plásticas, da música, de tudo e não esse arquipélago dilacerado por este governo irresponsável.

Então seguimos juntos! Temos também neste encontro a Amanda, uma jovem estudante de teatro, que está sendo proibida de frequentar o curso na UniRio, por conta de um reitor bolsonorista que esta negando a matrícula. Ela passou no vestibular em primeiro lugar e seu direito a estudar não está sendo respeitado.

Texto: Silvio Tendler

Esta foi a fala de Silvio Tendler na abertura do encontro que contou a presença de três agitadores culturais, Maurício, Cavi e Jota, para falar sobre as bibliotecas comunitárias.

14 de março: Marielle presente!

Os Estados Gerais da Cultura nasceram como uma reação da sociedade. O Estado tira e a sociedade vai lá e constrói porque nós acreditamos que a cultura é a base de tudo. A cultura é a base da família, que o presidente tanto preza, é a base da economia, da qual ele tanto fala. Tudo se resume na cultura de um povo.

E toda a cultura de todos os povos foram feitas de baixo para cima. Foram feitas pelo povo. Nós temos hoje aqui o exemplo da Amanda que está vendo que o Estado está recusando o seu direito de estudar. O exemplo do Maurício, do Cavi, das pessoas que fazem acontecer porque o nosso povo cria as suas alternativas. A rapaziada vai lá e faz as suas bibliotecas.

Hoje nós estamos comemorando três anos que Marielle floresceu. Marielle é fruto de um movimento desse; de uma biblioteca ou de um curso de preparação para o vestibular, para passar e vencer as etapas. É uma luta de toda a sociedade.

Se fundamenta lá, na Carolina de Jesus que depois ‘boom’ inicial foi esquecida, deixada de lado, não tinha importância e precisou de repente Marielle morrer para o movimento negro renascer e para Carolina voltar às estantes das bibliotecas.

Não adianta eles matarem Marielle e a luta do Abdias do Nascimento (negro, poeta, escritor, ativista) também não foi em vão; o que Carolina Maria de Jesus( negra, escritora e poetisa) escreveu não foi apagado. Tem toda uma geração construindo este país de baixo para cima. Então, queria sugerir a todos os meus compatriotas que seguissem o exemplo de Mário de Andrade, Villa Lobos, Guimarães Rosa…

Vamos ficar mais perto do povo. Aprender e não ensinar!

Tá na hora de aprender com as pessoas de Paraisópolis como se organiza isso. Tá hora de aprender com estes meninos que estão falando hoje para nós como a gente organiza a educação popular. Vamos aprender com a luta da Amanda como lutamos por um espaço nesta país que ainda fecha as portas.

Quero dedicar minha homenagem também a um cidadão: José Carlos Brasileiro, jovem, negro, que criou mais que uma biblioteca numa penitenciária, mas um projeto de educação.

  • Pensata colocada no encontro Bibliotecas Comunitárias: Leitura e pensamento nos territórios e lida por Eduardo Tornaghi

OAB, sociedade civil e EGC unem-se para lutar pelas vidas brasileiras

Assine aqui o manifesto pela Vida Acima de Tudo https://forms.gle/H8Y8pQMe3WhYjQrZA

Num encontro histórico na luta pela vida de milhares de brasileiros, os Estados Gerais da Cultura, médicos sanitaristas, intelectuais e a igreja entregaram ao presidente da OAB, Felipe Santa Cruz, o manifesto “Vida Acima de Tudo“. O ato solene de entrega foi feito online simbolicamente pelas mãos de Dom Mauro Morelli, bispo católico que se dedica às causas sociais.

Num discurso emocionado e eloquente de alguém que passou mais de 40 anos de sua vida defendendo as comunidades periféricas, quilombolas e excluídos, Dom Mauro ressaltou a importância desse encontro, como um grande passo de cidadania no Brasil, sobretudo pelo perfil dos representantes reunidos com um único propósito de bem estar social, num sadio e harmônico pluralismo.

“Somos centenas e milhares de pessoas, de crenças diferentes, de não crentes, de posições ideológicas das mais diversificadas”, ressaltou ele. “Assim é a democracia. Uma sociedade formada pelas diferenças comprometidas em resgatar a cada dia a dignidade e a esperança”.

Mais adiante lembrou que o Poder é um serviço e não um meio de ganhar a vida. “Queremos, sim, uma República que não seja do setor privado e nem particular. Queremos que se trate com o máximo respeito aquilo que é de todos e para o bem de todos. Queremos que uma sociedade pluralista reine com Vida Acima de Tudo”.

A carta aberta entregue a Felipe Santa Cruz já têm mais de 140 mil assinaturas de cientistas, médicos, políticos, personalidades de destaque até a presente data do encontro, em menos de dois dias que circulou. Mas além de importantes cientistas, artistas, assinam também simples e anônimos cidadãos brasileiros que se sentem sufocados, indignados, diante da tragédia da pandemia e o descaso do governo em relação às políticas de prevenção para frear a disseminação do Covid !9.

A médica sanitarista da Fundação Oswaldo Cruz, Lucia Regina Souto, que preside o Centro de Estudos de Saúde, alertou para situação intolerável que o povo brasileiro enfrenta, com a triste realidade de chegar ao patamar de 2000 mortos por dia. “O Brasil não pode se calar diante dessa calamidade. O governo está com projeto de saúde intencional”, afirmou indignada.

Regina ainda complementa: “nós temos hoje um Sistema Único de Saúde que teria condições de ser exemplar e se não fosse a Fundação Oswaldo Cruz e o Instituto Butantã, há tempos atrás, terem feito seus contratos para produzir as vacinas que estão hoje em território nacional, não teríamos nem esta disponibilidade de agora, no entanto, muito aquém do que necessário, finalizou o seu depoimento, reforçando o apoio a Vida Acima de Tudo. “Estamos hoje irmanados com todos que estão aqui porque não há espaço para tolerar os inúmeros crimes de responsabilidade contra saúde pública brasileira e a vida da população”.

Ao receber o documento, Felipe Santa Cruz garantiu que vai levar a carta aberta ao Conselho Federal da Ordem e solicitar que a OAB faça a sua adesão formal ao documento e a divulgação. “Os advogados brasileiros estão numa batalha pela sobrevivência física das famílias brasileiras e, sobretudo da Democracia”. Estiveram presentes, além de Felipe Santa Cruz, Dom Mauro Morelli e a médica Lucia Regina Souto, o cineasta Silvio Tendler, o professor da UFRJ, Adair Rocha, a jurista e professora, Carol Proner, o jornalista Marcelo Auler, a cineasta e produtora Martha Alencar. Assista abaixo o encontro na íntegra e não deixe assinar o nosso manifesto no link inicial.

MANIFESTO: VIDA ACIMA DE TUDO

Carta Aberta à Humanidade

Assinem nosso Manifesto neste link https://docs.google.com/forms/d/e/1FAIpQLSeAUTbllrhdBSuBMceaIxrzcSHff70-5uLxVM7LCIhlXWV9ig/viewform

“Vivemos tempos sombrios, onde as piores pessoas perderam o medo e as melhores perderam a esperança.” Hannah Arendt

O Brasil grita por socorro.

Brasileiras e brasileiros comprometidos com a vida estão reféns do genocida Jair Bolsonaro, que ocupa a presidência do Brasil junto a uma gangue de fanáticos movidos pela irracionalidade fascista.

Esse homem sem humanidade nega a ciência, a vida, a proteção ao meio ambiente e a compaixão. O ódio ao outro é sua razão no exercício do poder.

O Brasil hoje sofre com o intencional colapso do sistema de saúde. O descaso com a vacinação e com as medidas básicas de prevenção, o estímulo à aglomeração e à quebra do confinamento, aliados à total ausência de uma política sanitária, criam o ambiente ideal para novas mutações do vírus e colocam em risco os países vizinhos e toda a humanidade. Assistimos horrorizados ao extermínio sistemático de nossa população, sobretudo dos pobres, quilombolas e indígenas.

O monstruoso governo genocida de Bolsonaro deixou de ser apenas uma ameaça para o Brasil para se tornar uma ameaça global.

Apelamos às instâncias nacionais – STF, OAB, Congresso Nacional, CNBB – e às Nações Unidas. Pedimos urgência ao Tribunal Penal Internacional (TPI) na condenação da política genocida desse governo que ameaça a civilização.

Vida acima de tudo.

Assinam esse manifesto:

Padre Julio Lancelotti
Leonardo Boff, teólogo
Dom Mauro Morelli
Miguel Nicolélis, cientista
Frei Betto, escritor
Chico Buarque, compositor, escritor, cantor
Silvio Tendler, cineasta
Nilton Bonder, rabino
Celso Amorim, diplomata, ex-chanceler
Jessé de Souza, sociólogo
Zélia Duncan, cantora, compositora
Silvia Buarque, atriz
Milton Hatoum, escritor
Eric Nepomuceno, jornalista, escritor
Marieta Severo, atriz
Edu Lobo, compositor, músico
Camila Pitanga, atriz
Paulinho da Viola, cantor, compositor
Ivan Lins, compositor, músico
Gregorio Duvivier, ator , escritor
Edino Krieger, compositor
Antonio Carlos Secchin, escritor e professor
João Bosco, compositor, músico
José Luis Fiori, cientista político
Patricia Pillar, atriz
Jorge Durán, cineasta
Fernando Morais Jornalista e Escritor São Paulo/SP
Ricardo Coutinho – EX-GOVERNADOR DA PARAÍBA E PRESIDENTE DA FUNDAÇÃO JOÃO MANGABEIRA
Gisele Cittadino, jurista, ABJD
Marta Skinner, economista
Murilo Salles cineasta
Lucia Murat, cineasta
José Joffily, cineasta
Carol Proner, jurista
Francis Hime, compósitos, músico
Olivia Hime, cantora
Wagner Tiso, musico
Frei Atílio Battistuz, Francisco Missionário
Hildegard Angel, Jornalista
Chico Diaz, Ator
José de Abreu, Ator
Marcelo Barros, teólogo
Maria Victoria de Mesquita Benevides, cientista política São Paulo/SP
André Constantine, Movimento Nacional de Favelas e Periferias.
Marcelo Barros , Monge e Teólogo Recife/PE
Ivo Herzog, Engenheiro São Paulo/SP
Marcio Pochmann Economista Campinas/SP
Siro Darlan de Oliveira Desembargador TJRJ Rio de Janeiro/RJ
Isabel Salgado, Técnica de Vôlei Rio de Janeiro/RJ
Carol Solberg, Vôlei de Praia Rio de Janeiro/RJ
Joel Cornelli , Técnico de Futebol Caxias do Sul/RS
Acioli Cancellier de Olivo Servidor Público Federal Aposentado, São José dos Campos/SP IRMÃO DO REITOR CANCELLIER
Sérgio Pinto, Presidente da Associação dos Servidores da Cultura Brasilia/DF
Chico Alencar, Professor, escritor e vereador Rio de Janeiro/RJ
Wilson Ramos Filho, Xixo , Professor, escritor e vereador Curitiba/PR
Frei Atílio Battistuz, Francisco Missionário Marajó/PA
Afonso Borges Escritor e Gestor Cultural Belo Horizonte/MG
Tiago Maiká Muller Schwade Geógrafo Amazonas
Carolina Kotscho Roteirista São Paulo/SP
Luiz Fernando Emediato Escritor e Editor São Paulo/SP
Hélio Doyle Jornalista Brasília/DF
Regina de Assis Professora/Doutora Rio de Janeiro/RJ
Geraldo Mainenti Jornalista Rio de Janeiro/RJ
Eva Doris Rosental Gestora da Área Cultural Rio de Janeiro/RJ
Benedito Tadeu César Professor da UFRGS Porto Alegre/RS
Padre Niraldo Lopes de Carvalho Religioso Rio de Janeiro/RJ
Deyvid Bacelar, Petroleiro e Coordenador da FUP Feira de Santana – BA
Affonso Henriques Guimarães Correa , Economista Rio de Janeiro/RJ
Marina Maluf, Historiadora São Paulo/SP
Olivia Byington, cantora e escritora
Daniel Filho, diretor

e outras milhares cidadãs e cidadãos do Brasil e do mundo que acreditam na vida acima de tudo.

Leitura do Manifesto, Vida Acima de Tudo foi feita pelo ator Eduardo Tornaghi no 29o. Encontro sobre Teatro Cego: você precisa não ver!

Poucas Linhas para o Amor

O amor é imã atraindo almas irmãs

Manto aquecendo corpos: luz e lã

O amor é o dia-a-dia sem armadilhas

Nova trilha e estrela nas manhãs

O amor é matriz e matiz de sentimentos              

Mantimento, enlace, elã

O amor não procura o par perfeito

Sem preconceitos, refaz o humano

O amor é casamento: o sagrado com o profano

Mais que dois, nós – seu rio e leito

O amor, enquanto dura, é infinito e eterno,

Diz o poeta, ou, terno, como quis Frei Betto

O amor não cabe neste torto verso

Plaina e pousa no acaso dos encontros:

De átomos, moléculas, células, seres, únicos

E vários, transformados em Universo

                                Delayne Brasil

(Poema publicado no seu livro Em Obras pela Oficina Editores, em 2013)

Ilustração: Marcela Weigert – Projeto de Educação Instituto Paulo Freire

Um poema para reflexão sobre o amor e declamado pela voz eloquente de Eduardo Tornaghi deu o tom a nossa Pensata sobre “Rompendo Barreiras e Preconceito”. Um papo com Zezé Motta.

Cultura é vida! É Política

“Os ingredientes da Guerra são o ouro e as bombas. Os ingredientes da paz, são o pão e o amor”. Desta frase inspirada em Josué de Castro, Padre Julio Lancelotti trava seu bom combate. Defende as populações de rua, os sem teto e combate a política armamentista de um grupo que a partir de um golpe de estado assaltou o poder para exercer uma política necrófila de extermínio dos mais pobres e agora prepara seus seguidores para uma guerra civil.


A asfixia das atividades artísticos, culturais e educativas é parte essencial da construção deste abominável mundo novo. Menos as pessoas entendem o que está acontecendo, mais vulneráveis elas se tornam.
O caos no processo de vacinação da população é construído de forma minuciosa e faz de um vírus letal, poderosa arma para colaborar no extermínio dos mais vulneráveis produzidos a custa do desemprego, da fome e da ignorância.


A recriação do Ministério da Cultura com funções de Estado, o relançamento de todas as atividades criativas, a ANCINE funcionando a todo vapor serão a vacina que precisamos para sustentar o  debate nacional sobre o futuro que desejamos.

Tenho acompanhado através da mídia nacional a discussão estabelecida em torno do preço do petróleo. Sim, a verdadeira questão é esta: num país onde a economia derrete a olhos visto, o dólar valoriza a cada dia, devemos pagar o combustível que move nosso país em valores nacionais ou pagamos pautados pelas bolsas internacionais para que essa abstração chamada “mercado”, continue lucrando com a fome alheia.


Sem Arte e Cultura livres e pulsantes não haverá debate sobre nação, liberdade, ecologia, direitos da natureza, direitos humanos, futuro….
O 26o. Encontro dos Estados Gerais Da Cultura recebe hoje com muita alegria Leonardo Boff . Seguimos nessa caminhada com o tema Cultura é Vida, é Política.


P.S. Neste caos, um única boa notícia: o funesto ministro da economia já derreteu. Basta ensacá-lo e jogar fora.

Texto de Silvio Tendler lido por Eduardo Tornaghi, que com o poema de Braulio Tavares

O caso dos 10 negrinhos (Romance Policial Brasileiro)

Nove negrinhos fugindo e um deles, o mais afoito,
dançou: cruzou com uma bala…Correram oito.

Oito negrinhos trabalham de revólver e canivete;
roupa cáqui vem chegando, fugiram sete.

Sete negrinhos passando pela rua de vocês;
alguém chamou a polícia, correram seis.

Seis negrinhos dão o balanço:bolsa, anel, relógio, brinco…
Houve um erro na partilha, sobraram cinco.

Cinco negrinhos de olho na saída do teatro.
Um vacilou, deu bobeira…Correram quatro.

Quatro negrinhos trombando,todos quatro de uma vez.
Um deles a gente agarra,mas fogem três.

Três negrinhos que batalham feijão, farinha e arroz.
Um se deu mal: a comida dava pra dois.

Dois negrinhos se embebedam de brahma, cachaça e rum.
Discussão, briga, navalha…e fica um.

E um negrinho vem surgindo
no meio da multidão.
Por trás desse derradeiro…
vem um milhão.

Introdução com poesia para Lava Jato?

Introdução com poesia para Lava Jato? Sergio Moro…..como se faz isso.

Lembrei do Lobato…

Acabamos de discutir se ele era racista ou não era racista?

Caramba!

É essa armadilha que caímos com a Lava Jato, fulanizar. A questão não era se o Monteiro Lobato era racista ou não era racista. Brasil é racista.

Ele era racista, como nós somos na medida do hoje. Nós achávamos há poucos anos atrás que quartinho de empregada não era senzala, por favor. Achávamos que estávamos acolhendo alguém.

Então quero lembrar, ao entrar nesta conversa, para tomar muito cuidado para não fulanizar.

A Lava Jato, Monteiro Lobato, nós, somos sintomas… Atrás de nós tem uma história. A mesma potência midiática que criou a campanha de difamação que a Lava Jato se apoiou, aconteceu com Canudos, com Getúlio. Aconteceu cada vez que a direita resolveu passar a ‘faca em alguém’.

Mas como eu peço a vocês para não fulanizar eu vou me permitir de entrar nesta conversa fulanizando.

Ahhh… eu vou dizer um poema que vou gostar de dizer não só para estes cidadãos, uns palavrões da vida, e também este cidadão Daniel quem????

(…)Somente a Ingratidão – esta pantera –
Foi tua companheira inseparável!

Acostuma-te à lama que te espera!
O Homem, que, nesta terra miserável,
Mora entre feras, sente inevitável
Necessidade de também ser fera.

Toma um fósforo. Acende teu cigarro!
O beijo, amigo, é a véspera do escarro,
A mão que afaga é a mesma que apedreja.

Se a alguém causa inda pena a tua chaga,
Apedreja essa mão vil que te afaga,
Escarra nessa boca que te beija!

Parte do poema Versos Íntimos (Augusto dos Anjos)

Reflexão e narração de Eduardo Tornagh, a nossa Pensata do 25o. Encontro sobre Mídia e Democracia – a farsa da Lava Jato, com a presença dos jornalistas, Marcelo Auler, Cristina Serra, Fátima Lacerda.

Precisamos falar de Monteiro Lobato

Monteiro Lobato provocou maior debate na preparação, entre os integrantes dos Estados Gerais da Cultura. Esse é um poder genuíno de um agitador cultural, considerando que os EGC dedica-se a levantar a importância da cultura brasileira.

Monteiro Lobato fez isso a vida inteira e com muito sucesso!

O escritor veio à tona por conta das discussões do preconceito de cor, do racismo brasileiro. Mais uma vez, ele presta um serviço ao Brasil. Ao escrever os seus livros como homem de sua época que era, refletiu um país profundamente racista e discriminatório, no qual violências enormes eram naturalizadas. E que é nossa origem!

Esse debate é importante, necessário, atual. Mas me preocupa que de repente, a gente fulanize o debate, discutindo se Lobato era ou não racista. Acho isso irrelevante.

Lobato, com toda sua obra, sua vida, nos revelou o nosso retrato. o retrato de um povo racista ou com um viés racista naturalizado que somos.

À parte isso, camarada, este homem renovou a indústria editorial brasileira. Lobato, talvez mais que tudo, tenha sido um empresário, sendo que empresou a vida inteira: de fábrica de doce a companhia de petróleo. Ele fez de tudo, tragava tudo. Só a literatura que vencia. O homem fez e correu atrás.

Sou suspeito para falar. Sou um menino de classe média, dos anos 50, do século passado, que foi para um sítio, onde a sua mãe lhe contou histórias. Ela lia Monteiro Lobato e reproduziu para mim a Dona Benta e este costume de reunir as crianças para ouvir histórias.

Isso me aproximou afetivamente de um universo brasileiro, do qual Monteiro Lobato me revelou: o Saci, a Cuca, a realidade de uma outra sabedoria subjacente daquela lá. Viva Monteiro Lobato!

Adoro que estejamos discutindo Monteiro Lobato, mas não vamos fulanizar. O problema não é se ele era racista ou não. Não pode cancelar suas obras. Se for cancelar Lobato vai ter que cancelar Camões!

“As terras viciosas andaram devastando e a fé e o império foram espalhando…(…)”

Não é isso que a gente continuando fazendo? Espalhando a fé e o império e devastando as terras viciosas das nossas periferias, por exemplo. Será que a gente não é herdeiro disso e apagando isso não nos vai impedir enxergar as nossas vergonhas?

Então não vamos apontar as dele, não. Vamos enxergar as nossas e lembrar que ele, principalmente, foi um grande contador de histórias para crianças e não há nada mais construtor de cultura do que isto!

Pensata comentada e de autoria de Eduardo Tornaghi, colocada em discussão no 23o. Encontro: Precisamos falar de Lobato. Assista abaixo o debate na íntegra.

“Loucura não se prende. Saúde não se vende. Quem está doente é o sistema social”.

Cultura é o fundamento não é adereço para você se divertir. É o que nós somos, é como nós nos comportamos. Cultura é o fundamento de qualquer organização social e da sua economia.

Então… achar que isso é besteira!

A parte mais cultural da cultura, que são as artes, frequentemente é feita pelos loucos. Aqueles malucos desviantes. Espírito do seu tempo, que conseguem colocar numa peça de teatro, numa música, em que a gente ouve e vê e pode dizer:

Ahhhh….. é isso! Entendi o que penso e organizei a minha visão de mundo. Agora posso agir melhor pela cultura.

Mas, fiquei muito feliz em apresentar este encontro de hoje: A cena é cura, discutindo uma montagem de Hamlet e o conceito de loucura pelo queridíssimo Vitor Pordeus.

Vou puxar aqui dona Nise da Silveira:

“Loucura não se prende. Saúde não se vende. Quem está doente é o sistema social”.

Para embasar o meu depoimento: Loucura e teatro, cena é cura, me encaixo perfeitamente aí. Me formei psicólogo. Costumo dizer que me regenerei há mais de 40 anos. Mas entrei na faculdade exatamente depois do AI5. O país estava uma loucura e todos os professores interessantes da Universidade tinham sido expulsos, presos, exilados e um bando de medíocres brigando pelo poder.

E a gente ali, no meio daquela loucura querendo trabalhar o conhecimento. Lembro que estava em plena efervescia de um movimento que questionava a ideia de loucura.

Loucura por que?

É desviante do normal?

Então, existia uma batalha do humanismo contra a loucura, eu estudando psicologia, mas fazia teatro também. Um belo dia percebi que no teatro experimentava e aprendia coisas que na faculdade só ouvia falar, pois só estudava teoria. E aí tive a lucidez de fugir deste mundo maluco que fica procurando cura para a loucura e pude embarcar no mundo sadio do teatro, me salvou de mim mesmo e me transformou numa pessoa útil e produtiva.

A cena é cura, baseada numa montagem de Hamlet, que tem frases ícones:

“Há algo de podre no reino da Dinamarca”.

“Ser ou não ser, o resto é silêncio.”

Eu imagino, mais do que uma cura terapêutica, da qual eu não acredito e o Vitor acha também desnecessária, essa manifestação possa ser uma sacudida na cabeça dos idiotas da objetividade, que ainda acham que os fundamentos de uma nação é a sua economia e não a cultura!

Eduardo Tornaghi

Pensata apresenta para reflexão no vigésimo segundo encontro: Hamlet, a cena é cura. Assista aqui e confira a genialidade de Vítor Pordeus.

Artistas autistas

Ilustração de Fúlvio Pacheco. Texto/ poema: Eduardo Tornaghi

O que é a arte? Não sei….

É a manifestação por demais misteriosa.

Mas penso: o que seria, senão a busca do verso.

O verso…

O outro lado, o lado de dentro, o lado de lá, o oculto no aparente.

O lado maravilhoso cambiante na aparente fixidez prosaica da rotina cotidiana. O que é o artista?

Senão aquele que se dedica a ser antena e transmissor desse brilho.

O que é o autista? Não sei…

Manifestação por demais misteriosa.

Ahhh…. Manifestação por demais misteriosa!

Mas…. será que ele não é o outro lado?

Será que ele não é o verso?

Será que ele não é aquele nosso igual irmão que está lá… onde nós queremos chegar?

Dentro, o lado oculto das aparências, do concreto, o lado maravilhoso!

A vida nas coisas, o brilho!

Nós, artistas afinemos nossas antenas para entrar em contato com esse outro

Maravilhoso!

Pensata lida durante o Encontro: Representatividade dos Artistas Autistas