Cineclube MuiraquitÃ: debate sobre o filme A Bolsa ou a Vida

O cineclube Muiraquità realiza nesta terça-feira(01), 19:30, o debate sobre o filme A Bolsa ou a Vida. No futuro pós pandemia do novo coronavírus, a centralidade será o cassino financeiro e acumulação de riqueza por uma elite ou uma vida de qualidade para todos, com menos desigualdade? O Estado mínimo se mostrou capaz de atender ao coletivo? Como garantir a vida sem direitos sociais e trabalhistas? Em qual modelo de sociedade queremos viver? “A Bolsa ou a Vida” aborda o desmonte do conceito de bem-estar social e nos faz refletir sobre a incompatibilidade do neoliberalismo com um projeto humanista de sociedade.

Debatedores: Silvio Tendler Maurício Fagundes (Soca) Hélène Pailhous Antero Cunha.

Apoio: Zeze sack – Vera perfeito Moema Coelho -Janine Malanski

Estamos na bifurcação. Em 2020, a pandemia da COVID-19 escancarou as mazelas de um modelo político-econômico que, desde a sua gênese, se anunciava incapaz de atender à coletividade. Afetadas por sucessivas crises financeiras globais e amparadas por poucos direitos sociais, milhões de pessoas em todo o planeta enfrentam o vírus em sistemas falidos que salvam bancos no lugar de garantir condições mínimas de bem-estar para a população. “A Bolsa ou a Vida” é um filme-manifesto que incorpora diferentes olhares em um quebra-cabeças sobre o Estado, a financeirização, a desigualdade, a vida nas cidades, nas florestas e no campo e as portas de saída para o pandemônio em que vivemos.

Silvio Tendler

Nem o isolamento por conta da pandemia foi capaz frear a inquietação do genial cineasta, seu pensamento crítico, utopias, sensibilidade diante das desigualdades sociais que não o deixam parar de documentar, sobretudo nesse momento sombrio na história da humanidade. O seu isolamento foi apenas físico, considerando que nunca esteve tão presente e ativo no mundo virtual. Pela internet coordenou ações, entrevistou, definiu filmagens, dados, vivências, opiniões nacionais e internacionais, para denunciar um sistema genocida que valoriza mais o mercado financeiro do que a vida.

O filme é comovente e ao mesmo tempo um ‘soco na boca do estômago’ de quem assiste, para fazê-lo acordar do marasmo ao qual se encontra e se perguntar que futuro deseja construir.

No futuro pós pandemia do novo coronavírus, a centralidade será o cassino financeiro e acumulação de riqueza por uma elite ou uma vida de qualidade para todos, com menos desigualdade? O Estado mínimo se mostrou capaz de atender ao coletivo? Como garantir a vida sem direitos sociais e trabalhistas? Em qual modelo de sociedade queremos viver?“, convida Silvio Tendler à reflexão.

Os entrevistados mostram a realidade nua e crua. Emocionam inúmeras vezes como o Padre Júlio Lancellotti que conta de uma família de moradores de rua e onde vivem penduraram um crucifixo num poste luz. “Apesar da miséria absoluta, eles têm fé”.

A indignação aflora quando Rita Von Hunty, professora e celebridade Drag Queen, fala que o número de bilionários no planeta conseguiriam acabar com a pobreza do dia para noite vezes sete. 

A reflexão surge quando a indígena Márcia  Mura, nos remete a ditadura de costumes e hábitos impostos pelo colonizador. Quando o  chefe do povo indígena Suruí, Almir Narayamoga, reconhece que a Terra e Água não podem ser privatizadas. A revolta é inevitável quendo o economista americano,  Jeffrey Sachs, fala sobre a fortuna de Jeff  Bezos, proprietário da Amazon, que cresceu em 2020 em 80 bilhões de dólares

E quando a Terra voltar a ser redonda?

Aguardo ansioso esse dia que não representará o fim de todos os males mas o reencontro com o caminho do bem.
Poderemos construir escolas maravilhosas para nossas crianças, casas bonitas, confortáveis e aconchegantes para nosso povo.
Teatros, cinemas, espetáculos nos grandes salões e bibocas vão gerar empregos e prazer.
Hospitais bem equipados, sem fila, com profissionais bem remunerados servirão a nosso povo.
Transporte público gratuito circulará pelo país dando a nossa gente a carta de alforria assegurado o direito de ir e vir a todos e todas.
Muitos itens devem se acrescidos trazidos por cada um de nós.
Atenção, esse não e um programa político mas um projeto de nação.
Reflorescer após estes tempos trágicos. Reflorestar para salvar a vida pois Vida acima de tudo e nosso projeto maior, sem fome, sem miséria, com muito amor.
Assim somos os do Estados Gerais da Cultura

‘Saúde tem cura’. Filme feito para todo brasileiro lutar pelo SUS

‘Saúde tem cura’ é o mais recente filme do cineasta Silvio Tendler, que emociona ao mostrar a luta histórica para criar o Sistema Único de Saúde (SUS). Não para por aí, vai mais além…É um filme que estimula o brasileiro a defender seu bem mais precioso e gratuito. #euamoSUS.

Silvio Tendler na estréia na Rio de Janeiro. Atrás a equipe que participou da elaboração do filme: Lilia Diniz, Ana Rosa Tendler, Taynara Mello, Tao Burity, Bruno Karvan. foto by Lilia Diniz

Roteiro excelente, ilustração, depoimentos e argumentação ao documentar a história, destacar a importância ao comparar o povo brasileiro sem assistência médica gratuita no passado, com hoje, cujo avanço em programas de vacinação, transplantes, e controle de doenças crônicas mudou nos números e mortalidade.  Isso sem citar as campanhas de vacinação que salvaram milhares de crianças e a atuação do SUS na pandemia.

Um filme que convence o brasileiro a lutar por sua manutenção e exigir do poder público mais investimentos. Tenho certeza disso, mesmo reconhecendo as lacunas e falhas do sistema.

O SUS é maior projeto de saúde pública do mundo. O brasileiro que ama seu próximo e defende a igualdade social dirá NÃO com todas as letras a sua privatização. 

‘Saúde tem Cura’ foi realizado em parceria com a Cebes e apoio da Fiocruz.  O documentário está disponível no canal de Youtube da produtora cinematográfica Caliban. Um filme que  aborda a potência e as fragilidades do Sistema Único de Saúde (SUS), o único sistema de saúde do mundo que atende a mais de 190 milhões de pessoas gratuitamente.  Conta com depoimentos de profissionais que participaram da sua criação; de médicos como Drauzio Varella, Paulo Niemeyer e Margareth Dalcolmo; de profissionais que atuam no dia a dia do sistema; de representantes da sociedade civil e de usuários”. 

Arte Versus Pulsão de Morte

Antonio Quinet

Estamos vivendo um tempo de incitação ao ódio e a violência e como vocês sabem não começou hoje, ele é velho como o mundo.

Os EGC é um movimento muito bem vindo e muito necessário nestes tempos de ódio, ignorância violência e ataque, não só a democracia, mas a cultura e a humanidade. Estamos vivendo um tempo de incitação ao ódio e a violência e como vocês sabem não começou hoje, ele é velho como o mundo. Só que a diferença dos tempos atuais para os velhos tempos de sempre, é que hoje há, e não estamos oficialmente em guerra, mas hoje existe um discurso legitimador do ódio e da violência que apresenta uma sinistra evolução do mal dirigido ao outro. O mal é autorizado, banalizado e legalizado. E a intolerância ao diferente não é excepcional e sim, a regra.

O ódio que pode se expressar, que vai do xingamento ou linchamento ao cancelamento, até o assassinato, está ligado a uma estrutura subjetiva e social da relação do sujeito com o outro e que é uma forma de gozar. E que é estrutural e que nós temos que levar isso em consideração. É uma expressão daquilo que nós todos temos, que é a pulsão de morte. Só que o tratamento dessa pulsão que todos temos, pode ser, pode ir em duas direções: na direção da exclusão do outro ou da consideração e da inclusão do outro no laço afetivo e no laço social, ou seja na sociedade e nos discursos do nosso tempo.

O ódio é uma expressão daquilo que todos nós temos, que é a pulsão de morte.

Bom, não é à toa, que hoje em dia, nós falamos muito desse governo atual, que é um governo comandado por uma necropolitica, o termo criado por Achille Mbembe, grande filósofo e sociólogo africano, que fala do terrorismo do estado e da necropolítica, que é uma política de destruição a serviço do capital, do consumismo e do neoliberalismo. O que nós estamos vendo hoje de uma forma bastante desvelada nesses governos de extrema-direita, do fascismo, às vezes nem tão disfarçado assim, como no s Estados Unidos e no Brasil, é que o capitalismo, o neoliberalismo se tornou a maior arma de uma necropolítica, que está a serviço de uma satisfação própria do homem que goza mesmo com isso, não só, digamos para obter seus benefícios de capital, mas tem um gozo pulsional.

É sobre isso que eu gostaria de falar, sobre o conceito freudiano de pulsão de morte que todos temos, insisto, só que nem todos utilizamos a sua força destruidora. Nós vamos falar um pouco sobre o conceito de pulsão de morte em Freud e falar em seguida sobre a arte – um assunto bastante vasto. Quem me conhece sabe que eu sou professor, que eu posso falar horas sobre o mesmo tema, eu por isso que eu comecei a fazer umas lives há seis meses não parei mais, todo domingo estou fazendo porque realmente temos que falar muito, sobre muita coisa atualmente e não vai ser a quarentena e o confinamento que vai confinar, nem o nosso pensamento e nem o nosso desejo.

Essas tecnologias que nós estamos utilizando atualmente são uma prova disso, utilizamos isso e é por isso que estamos juntos aqui porque nada vai nos confinar porque eu sou do grupo do Silvio, o grupo da utopia. Utopia que é o que precisamos para vencer essa necropolítica comandada por uma coisa que a gente vê, uma necrofilia, é uma filia em relação a morte.

Uma política de destruição que que está sendo devastadora. Devastadora do ser humano, devastadora da nossa cultura e devastadora do nosso meio ambiente. Ou seja, tá bem tá acabando com a terra, tá acabando com a humanidade. E nós realmente temos que nos unir e a cultura – eu vou falar um pouco sobre isso – é uma arma fortíssima contra isso.

Então eu queria dar uma retomada, antes mesmo de Freud colocar o conceito de pulsão de morte tem uma grande e de fato que aconteceu no mundo ocidental, que foi a Primeira Guerra Mundial daí a sua repercussão em Freud no artigo que ele escreveu e que é pouco conhecido, de 1915, chamado “Sobre guerra e a morte: temas da atualidade,” parece que é hoje, de 1915, aonde Freud mostra de forma como ele está absolutamente chocado com poder destruidor da guerra. A guerra começou há um ano atrás- 1915. Como ele mesmo diz: nunca antes, no mundo ocidental, um acontecimento havia destruído tanto o custoso patrimônio da humanidade. Ele fica chocado, como de uma hora para outra, na guerra, aquele outro que era seu amigo do país vira seu inimigo e você pode matar e como foi feito, você pode destruir completamente a cultura do outro.

A questão da Guerra, não é à toa que eu estou começando com o com esse tema da guerra, que eu vou voltar porque há guerra, se não é uma guerra declarada e a guerra não é contra o vírus, é uma guerra avassaladora do capital, da destruição do capital humano e patrimonial e cultural que nós temos. Essa onda de destruição que aconteceu na guerra, na primeira guerra mundial, fez Freud colocar a questão: afinal de contas o que que acontece que é o homem dito civilizado, de uma hora para outra, ele perde completamente a civilidade e a cultura. A cultura aqui é sinônimo de civilização em Freud.

O ‘cultur‘ em alemão pode ser traduzido como cultura e civilização se aproximam. Eu acho que o Estados Gerais da Cultura utiliza muito cultura no sentido de civilização.

Ai o que Freud chama de aptidão para cultura – nós temos uma aptidão para a destruição dessa pulsão de morte, que eu vou falar daqui a pouco, mas temos uma aptidão para cultura. Essa aptidão para cultura é a capacidade do ser humano de reformar e as suas pulsões egoístas sob a égide de Eros. Ou seja, transformar aquilo que é egoísta baseado em Eros, que é o amor e o desejo e a conexão com o outro no laço social. É a consideração pelo outro. Isso é aptidão a civilidade. De você levar o outro em consideração e ele se transformar para você em alguém digno de amor, de desejo. Como a guerra , essa guerra como que nós estamos vivendo, como é que destrói esse tipo de coisa.

Ou seja, transformar aquilo que é egoísta baseado em Eros, que é o amor e o desejo e a conexão com o outro no laço social.

Freud chama atenção, como aptidão para cultura, a que foi organizado pelos homens, não foi suficiente para conservá-la e como ela, Freud chama atenção, como existe muito mais os hipócrita da cultura, do que homens realmente cultos. Interessante isso. O que que são os hipócritas da cultura, que diz que gosta da cultura, mas na hora de defender, ele é o primeiro na verdade a destruir.

Então, o primeiro choque que foi a primeira guerra mundial, que fez Freud se perguntar, gente, mas o que que é isso? Por que? Ele vai começando a falar e dessa tendência da agressividade, ao mesmo tempo, ele desenvolve os textos mais importantes sobre a pulsão, sobre a pulsão sexual e seus destinos. Todos temos pulsões sexuais mas elas têm destinos diferentes. O sexo direto, a satisfação direta. Tem o recalque que dá os sintomas, inibições, angústias, etc…. como bom neurótico e o terceiro destino da pulsão sexual é arte. A sublimação que é uma forma de você canalizar o seu erotismo, não sexualizado. mais para produção da arte. Ao mesmo tempo, Freud escrevia horrorizado seus artigos sobre a guerra e a morte.

Tempos depois, demorou cinco anos, ele descobre a pulsão de morte. Na verdade, foi a Guerra e a continuação de tudo que ele via na análise, nos pacientes neuróticos, que existe alguma coisa do próprio sujeito que resiste a ser curado a ser curado dos seus sintomas. Então, ele começou perceber que nós não somos apenas regidos pelo princípio do prazer, ou seja que a gente tem o prazer, mas se a gente tem um pouco de dor, a gente recua um pouco, negocia, tenta fazer um pouco de prazer. Mas não tem algo dentro dos homens e das mulheres que é uma tendência destrutiva e que ele vai chamar de pulsão de morte.

Só que essa pulsão, junto de Eros e a pulsão de morte que ele percebe , que é aquilo que ele vai perceber que se manifesta no sujeito de uma forma, digamos neurótica e sintomática e que faz ele repetir sempre as mesmas coisas e os mesmos erros e também o masoquismo, do prazer na dor que existe e que é inerente a todo ser humano. Essa pulsão que vai contra o sujeito, vai contra o outro também, que é a pulsão de crueldade, que Freud chama também. Há uma pulsão de crueldade que volta para o próprio sujeito, mas vai também em direção ao outro.

Dr Freud por que a guerra? Freud responde: a guerra é uma orgia de gozo.

Isso é muito importante. Já nos anos 30, na a primeira guerra já passou há um tempo, mas já tem algo, o nazismo começa em 33, com Hitler avançando no poder, em 1930, ali no entre guerras, a toda uma série de intelectuais que se perguntam e vão pensar a questão da guerra. Porque a guerra desorientou todo mundo e ninguém sabia explicar o porquê da guerra, para além das conquistas territoriais e Einstein, então, escreve para Freud um texto que se chama: Dr Freud por que a guerra? Freud responde: a guerra é uma orgia de gozo. ( tô falando com os meus termos tá).

E aí o que que ele diz assim, que a guerra… a guerra desvelou uma coisa assim que é óbvio, que o outro, para cada um, não é apenas um objeto sexual para sua satisfação sexual, mas ele é também objeto da sua pulsão de crueldade e com isso ele pode humilhá-lo, torturá-lo, roubá-lo, abandoná-lo a sua própria sorte com uma carniça, sem sepultamento, sem nada, destruí-lo e matar. Freud diz que a guerra libera isso.

O que Freud nos mostra que o homem não é só Instinto animal, mas é porque nós somos seres de linguagem. Então tudo que é da ordem do instinto nosso vira pulsão. Bem mais complexo porque nós temos a lei simbólica, que é a lei do complexo de eixo, é a lei da linguagem. Nós somos seres legais e sociais. O que nos humaniza é a nossa civilidade. É o fato de nós podermos ser civilizados. O que que significa ser civilizado? Freud diz claro sobre o mal-estar na civilização: a civilização exige a renúncia pulsional. Se não existisse uma lei interna simbólica e uma lei da civilização – a gente saía aí trepando, transando com todo mundo e matando todo mundo. Não gostei dou um tiro. Mas não, nós somos seres civilizados, nós somos seres do laço social.

A guerra suspende essas interdições. Ela suspende essas civilidades e suspende o que é a solidariedade e a relação com o outro. Isso porque outra coisa que Freud mostra é que a pulsão de morte tende a desunião, a desagregação e a segregação. Eros que é outra pulsão que nós temos, tende a união ao amor, ao desejo. A união e a criação. Enquanto uma destrói, segrega e desune, a outra une. Só que isso faz parte do mesmo homem.

O que vemos hoje em dia, que é terrível, com o discurso desse fascismo atual, que é legitimação, quando tem um cara que ocupou o cargo mais alto de um estado, que tem como símbolo a arma na mão, já mostra que é para liberar aquilo que é de pior em nós. Eu digo pior, quando tem essa face de crueldade. Mas vou mostrar que não e só apenas a face de crueldade que tem essa pulsão de morte. Eu insisto muito, não sou do tipo, somos todos que votamos nesse aí. Não. Não somos todos que votamos nesse ai. O Brasil votou nesse aí. Não, não foi. Foram alguns, os incultos, e às vezes uns que sabiam o que estavam fazendo. Não é questão de falar disso agora.

Quero falar sobre a questão estrutural e de pensar que aquele, o mesmo homem que joga uma criança do sétimo andar é o mesmo que está com a outra mão impedindo que ela se esborrache no chão. Nós temos isso. Agora porque a gente não solta a mão. Quando está com raiva de seu filho porque não mata ele. Porque tem algo do amor que o impede e não quer ver aquilo destruído e não vai satisfazer seus impulsos assassinos. Evidentemente, você é um ser civilizado, é um ser ético.

O que nós vemos na guerra e podemos dizer, no fascismo, é algo muito próximo dessa pulsão que libera isso e estimula, e o que nós podemos dizer, é que a manifestação da pulsão de morte no indivíduo é uma coisa, no sujeito, na civilização e na cultura, é de outra ordem. Freud detectou no famoso livro dos anos 30, o mal-estar na cultura, que é o super-ego e o sentimento de culpa. Uma das maiores manifestações ai, dessa pulsão de morte porque o super-ego que cada um tem, castiga os próprios sujeitos, o ego, entende como sentimento de culpa. Isso parece na civilização e ele vai se desenvolver muito por aí.

Por isso que eu cunhei a expressão o ignorodio, que são as pessoas que tem ódio do saber do outro, tem ódio de quem faz conhecimento e que negam e são os negacionistas. Os negacionistas que essa pandemia – realmente o catastrófica – que é um desastre, que não é apenas uma gripezinha.

Só que hoje nós podemos dizer alguma outra coisa, as manifestações da pulsão de morte na civilização elas tendem a acabar com a civilização, a destruir a civilização. Elas se transformam em paixões. E aí eu queria trazer para vocês uma uma contribuição de Lacan e que tenho desenvolvido em outros lugares e acho muito apropriado. Lacan disse que existem três paixões do homem, o amor, o ódio e a ignorância. Sim, é surpreendente colocar a ignorância como uma paixão. Não é o que nós estamos vendo? A paixão que as pessoas têm de ser ignorantes, de negar a ciência, de negar o conhecimento; os terraplanistas e outros delirantes como tais, que não querem saber ,que não vão para debates, que não tem argumentação, que só tem memes e slogans, que são armas para destruir o conhecimento, que são formas de levantar a bandeira da ignorância contra o conhecimento e isso nós vemos que é uma paixão.

O anti-intelectualismo hoje virou uma grande paixão e o ataque, e o ódio junto. Eu diria que o amor está para Eros, assim como o ódio e a ignorância está para Tânato, a pulsão de morte. Por isso que eu cunhei a expressão o ignorodio, que são as pessoas que tem ódio do saber do outro, tem ódio de quem faz conhecimento e que negam e são os negacionistas. Os negacionistas que essa pandemia – realmente o catastrófica – que é um desastre, que não é apenas uma gripezinha. São os que tentam negar a realidade e negar o conhecimento e tem ódio de quem faz conhecimento e quem faz ciência. Então nós vemos que o ignoródio é uma manifestação na civilização dessa pulsão de morte. Terrível e regenciada. Nós sabemos que sendo regenciada com propósitos.

Nós sabemos que tem um propósito do capital devastador que veem tudo isso. Vai passar a boiada, vai acabando com a árvore, vai desmatando tudo e plantando soja. Então o que vamos pensar e quais são as manifestações que estão a céu aberto na nossa civilização de hoje? Na nossa de sensibilização no Brasil? São as políticas segregacionistas e é isso da pulsão de morte que tende a desunião. É um racismo que ataca, a misoginia o machismo, sexismo, homofobia, a transfobia, o cancelamento do outro como ser diferente.

Isso são manifestações dessa pulsão de morte e parece que não tem diques para conter… só que tem! Ai a gente pensa cadê a lei? Quais são os diques da civilização para conter isso? Nós temos a lei. Nós temos o judiciário. E Cadê o nosso judiciário? Nós temos a educação atacada como Escola sem Partido e temos a cultura, também muito atacada. Agora tem uma coisa interessante, entrando agora na parte propriamente dita da arte arte. A arte é uma forma de nós combatemos essas manifestações mortíferas, essa necrofilia do poder, essa necropolítica. É uma forma de ser um antídoto, talvez, um dique.

Mas mais do que isso e foi alguma uma coisa que Lacan percebeu e que desenvolveu de uma forma brilhante no seu Seminário a Ética da Psicanálise naonde que muito dedicado a questão da arte em que achei em Freud uma pequena passagem, quando responde a princesa Marie Bonaparte, que foi paciente dele e se transformou numa uma grande amiga, psicanalista, inclusive o salvou do nazismo em Viena e ajudou-o a se exilar em Londres, em que ele fala que a arte é uma forma de sublimar a pulsão de morte.

Então, é a partir de uma operação de esvaziamento daquilo que há, daquilo que é, que algo pode brotar dali, que não seria apenas as flores do mal, mas as flores da arte. As flores da arte nascem no campo devastado da pulsão de morte.

E Lacan desenvolve isso ao máximo. O que é arte? Qual é o campo propriamente da arte. Nós temos isso que é verdade, que Freud fala, que você coloca sua energia libidinal e erótica para criar. Mas tem algo que você realmente cria e não apenas copia, o que você faz. Tem que criar algo novo. O novo é o que é próprio da criação. O novo é criado do nada. ‘Ex-nihilo’ em latim. Então, é a partir de uma operação de esvaziamento daquilo que há, daquilo que é, que algo pode brotar dali, que não seria apenas as flores do mal, mas as flores da arte. As flores da arte nascem no campo devastado da pulsão de morte.

É do nada, para ter algo efetivamente novo. A criação vem da ordem do real lacaniano, pulsional, fora da linguagem, da ordem do afeto, fora da linguagem, que surge alguma coisa. Lacan vai trazer como exemplo disso a tragédia…. A tragédia grega e o primeiro livro sobre estética do mundo, sobre arte do mundo, que é poética de Aristóteles. É aonde tem a definição da tragédia de Aristóteles – só vou pegar alguns elementos – que é uma forma de colocação de uma ação em cena, que vai provocar na plateia, nos espectadores, a catarse do terror e da compaixão. Ou seja do medo, do terror, mais do que medo, o pânico, o terror, que inclui a pena, a piedade, a compaixão. Vai trazer esses elementos em cena. Encenar para os espectadores…

Freud o que diz, justamente a partir de Édipo – o rei, de Sófocles, aquilo o que o sujeito vê em cena é o seu inconsciente. Essas coisas terríveis que vemos fazem parte do nosso inconsciente. A arte é a possibilidade de transformar os terrores e horror cotidiano em arte. Não só como forma de sublimação de pulsão de morte, como também através da beleza estética que aquilo proporciona e do afeto que aquilo proporciona, tem algo de uma transmissão que a arte proporciona, que os gregos sabiam, um efeito didático, educativo, efeito moral, de uma transmissão, de uma lei.

Isso acontece, naquele campo de criação, que é um campo pode derivar a sua pulsão de morte a partir da criação estética. Não é à toa que nos momentos mais terríveis, de guerra, de ditadura, surge movimentos de criação de artistas, incríveis, derivação do medo, do terror, que brotam as flores da arte ao lado de todas as flores do mal, nesta floresta de devastação. Acontece com a pintura, o canto, algo que nos toca de real, do afeto. Só aquilo tem um poder, que não é só divertimento, vai muito mais do que isso.

Tomando o exemplo da Antigona, quero chamar atenção para esse campo que é o da pulsão de morte, que é o campo da tragédia propriamente falando e que o teatro, digo porque faço, do qual posso falar melhor. O teatro tem a particularidade, ao ser colocado em cena determinados conflitos, despertarem o espectador de uma maneira tal, que na rua está vendo a mendiga com o neném deitado no seu colo, que pode estar vivo ou morto, mas ele não é tão tocado porque é banalizado e de repente vai ao teatro e vê uma cena deste tipo e ele chora e é capaz de sair do teatro e ver a mesma cena e já a vê de outra maneira. Porque a arte tem essa propriedade de real, de tocar nos afetos e ao mesmo tempo transmitir alguma coisa intelectualmente.

Eu não acho que uma coisa seja independente da outra. Eu acho que toda a arte, ela é de uma certa forma didática além de tocar o sujeito. Didático no melhor sentido da palavra, não é para se opor ao artístico. Uso a palavra muito de transmissão de alguma coisa. Eu acho que a arte junta com o afeto com o intelecto. Então tem essa essa particularidade, de levar uma coisa banal a dignidade de uma coisa excepcional. De você ser tocado por aquilo. No surrealismo, no dadaísmo usava muito isso, André Breton trabalhou muito essa questão.

Então vamos tomar como exemplo a Antígona que já começa a peça com um erro trágico. O herói tem um erro trágico. O erro trágico dela é ter feito homenagens fúnebres ao irmão Polinices – dentro de uma luta fratricida entre Polinices e Etéocles, ele é o rei de Tebas depois da morte de Édipo e Polinices vem com um exército para tomar o reino porque Etéucles tinha prometido que eles iam fazer um revezamento do reino e não fez então eles tinha toda razão de atacar Tebas para para reaver o trono para ele. Nessa luta fratecida os dois morrem.

Creonte que é o irmão de Jocasta, na tio e cunhado de Édipo, toma o poder e ele proíbe que qualquer pessoa faça as honras fúnebres a Polinices e ainda faz todas as honras palacianas da morte Etéocles e Antígona faz as homenagens fúnebres ao seu morto querido irmão e vai contra a lei da cidade e ela diz que ela vai a partir da lei dos Deuses. Que na lei dos Deuses, que não se deixa uma pessoa morrer sem ser enterrada com o nome e sobrenome e lápide. Isso como não teve os nossos desaparecidos da ditadura, por isso que nós temos que retomar esse tema pensando nos nossos desaparecidos, nos sem lápide que não mereceram um o sepultamento porque isso é dito claramente porque quem não é sepultado com as honras fúnebres de um ser humano é uma carniça animal não ser humano.

Então Antigona faz esse ato de coragem de ir contra o tirano representado por Creonte e ela sabe que ela vai morrer. porque Creonte diz que quem fizesse isso morreria. Entãoa peça começa assim e vai até a morte dela. A peça é a trajetória de Antígona até o seu sepultamento porque ela é enterrada viva. Esse trajeto, percurso entre o ato e a morte efetiva da tumba, é esse campo aonde ela se desloca, que é esse campo do real, esse campo dessa pulsão de morte de devastação. Aonde aqui ela recebe como dizer, ela recebe o decreto da morte enquanto simbólica. Ela morreu ali. Mas ela não morreu completamente. Ela está no caminho, como diz Lacan, entre as duas mortes: entre a morte simbólica e a morte real. É ao longo disso que tem essa peça deslumbrante, essa obra de arte maravilhosa de Sofocles, que é o longo caminhar de Antígona entre as duas mortes.

Nisso o coro fica absolutamente extasiados as pessoas vem chamar Tirese, o povo vem falar com Creonte e ele diz que não. Ela vai ter que morrer porque descumpriu a minha ordem. Todos os dizendo que os deuses não permitiriam que fosse feito ao ser humano. Ela não tem ódio. Eu não sou feito para ódio, eu sou feito para Eros. Eu sou feita para amar. Então nesse aí e que tem algo também que vem chamando atenção que é muito bonito que o coro se refere a ela faz notar o brilho de Antígona, a beleza de Antígona. Não se trata de uma beleza física, ninguém sabe nem se a Antígona existiu, ela é um mito. Ela é uma personagem da peça, essa obra de arte que é a peça de Sófocles: Antígona. Ai fala de ineros que é o brilho de Eros, é o brilho do desejo. Ela brilha! Vejam o brilho no olhar de Antigona dessa e mulher prometida para o leito, para o amor, ela ia se casar, para o o amor ,está indo para tumba. Esse brilho, ato heróico propriamente porque é uma heroína que ela perpetrou com a coragem, audácia e que permitiu. Ela vai sem temor e sem piedade. Ela não teme a morte e também não tem autocompaixão.

Aí eu acho que a tragédia tem esse lado de transmissão que a arte traz e que mostra a conjunção da arte e da ética que traz de forma bela. Uma coisa que Aristóles fala do efeito trágico, não basta ir ao teatro só para sofrer. Aristóteles dizia que quando está identificado com o personagem tem terror que isso pode lhe acontecer. Mas quando tem um mínimo de distanciamento mas tem uma identificação, tem uma compaixão, tem pena. Não basta isso para ser arte. O que precisa é que a pessoa não so sinta aquilo, não só expurgo, catarse não é expurgo, é sentir na pele o que é estar naquele lugar.

O poder da arte, de ser um derivado da pulsão de morte, é também um antídoto da pulsão de morte.

Você muitas vezes pode ter passado em situações assim de fato ou até subjetivo. Mas além do terror, tem o entusiasmo. Esse afeto que é o gozo artístico, é um gozo dessa ordem. Não é sexual, de ficar molhada. Não é sexualizado. O gozo artístico que é o entusiasmo, no aspecto Dionisíaco que faz a arte. A arte tem o texto, o desenvolvimento que é a transmissão da ordem do saber e tem o dionisíaco que é o entusiasmo, que proporciona e que uma coisa aliada a outra tem efeito muito poderoso. O poder da arte de ser um derivado da pulsão de morte é também um antídoto da pulsão de morte. Em termos da arte sai mais fortalecido se está aberto para aquilo pode ser transformador e que é muito importante.

Eu realmente acredito no poder transformador da arte!

Texto transcrito por Mari Weigert do Encontro com Antonio Quinet

1º de Maio. Nossa Homenagem!

foto by FreePik

Os Estados Gerais da Cultura homenageiam todos os trabalhadores e trabalhadoras neste 1º de maio de 2022 por intermédio da atriz Bete Mendes, que é a nossa voz nesta mensagem de estímulo e admiração ao povo que constroe com o seu labor, força de trabalho esse país de dimensões continentais. Em especial aos profissionais e artistas que mesmo durante todo o tipo de dificuldades enfrentadas pela pandemia e pelo desmantelamento da cultura brasileira por um governo necropolítico, nunca deixaram de criar, produzir arte, poetizar o mundo para que as pessoas não percam a capacidade de sonhar e acreditar em utopias. “Nós, com filmes, canções, peças de teatro, esculturas, livros, telas continuaremos lutando por um mundo melhor”, disse Silvio Tendler.

A atriz Bete Mendes, que os Estados Gerais da Cultura têm orgulho de ter como integrante, é voz atuante na luta pelos direitos humanos e figura entre as maiores estrelas da televisão brasileira. O vídeo é uma produção do coletivo EGC, com o apoio e organização da produtora cultural Janine Malanski, edição e montagem técnica do professor de Tecnologia do EBTT, Rubens Ragone.

Somos um movimento amplo e plural em defesa da arte e cultura como valores coletivos, públicos, um direito constitucional e universal. Somos pela liberdade e a paz dos povos, sem distinção de raça, credos e nacionalidade. Nosso lema é: “Com arte, ciência e paciência mudaremos o mundo”.

Boaventura: ser utópico é a única maneira de ser realista no século XXI

Diversas maneiras de entender a distância social

Boaventura de Sousa Santos é um sociólogo português, poeta e escritor que tem se dedicado nos últimos anos a analisar as consequências da pandemia no comportamento da humanidade.

“A ideia que há uma humanidade é uma grande armadilha. A humanidade é um projeto maravilhoso, mas  é uma utopia porque a humanidade que nós temos nas sociedades capitalistas, colonialistas e patriarcais não existem sem sua própria humanidade“(clique aqui)

Num encontro realizado em outubro de 2020, Boaventura ofereceu ao público uma verdadeira aula sobre o que representa da “distância social à física e à cultural’, assim como os equívocos cometidos pela mídia e redes sociais ao cunhar a expressão ‘distância social’ no lugar do ‘isolamento físico’. Um encontro que não perde jamais a atualidade enquanto o mundo continuar o mesmo.

Um pouco de seus pensamentos e palavras tentamos reproduzir aqui:

“Escolhi como tema a ideia da “distância física, à social e à distância cultural”. Distância é uma palavra que hoje explodiu na comunicação social, nas redes e em todos jornais. Distância metaforicamente pode ser usada para outros objetivos, como distância temporal, espacial. Assim que se desenvolvem certos conceitos e depois se usam metaforicamente para muitas formas. Por exemplo, a distância temporal ou a espacial ou a social.

A corrente do rio foi o termo que metaforicamente deu origem a corrente elétrica. na psicologia a corrente da consciência. Portanto, a distância física é aquela que a própria pandemia nos exige neste momento. Esta distância nada tem haver com a distância social. A grande proximidade cultural e social pode conviver com uma distância física. Por alguma razão, a distância física, como expressão, não colou e se fala em todo lado da distância social, uma palavra horrível se nós daqui pra diante temos em mente que a pandemia vai estar conosco.

No livro  “Futuro começa Agora, da pandemia a utopia” procuro dar conta e falar sobre a sociedade que vamos entrar. Entrada do século XXI. Os séculos começam sempre com um acontecimento e nunca no primeiro ano. Algo, que dá marca que se inscreve no século e que depois, de alguma maneira, muda as formas de sociabilidade, políticas e econômicas desse tempo. Por exemplo, considera-se o século XIX, quando começou com a Revolução Industrial. Como se diz, que o século XX, começou com a primeira Guerra Mundial e a Revolução Russa. Dois acontecimentos que se inscreveram na matriz desse século passado.

A pandemia se inscreveu neste século porque há uma correlação com as mudanças climáticas, desmatamento na Amazônia, catástrofe ecológicas, mineração a céu aberto, tudo que sabemos que é o modelo capitalista dominante.

Esse modelo que está a destabilizar os habitats dos animais selvagens porque houve sempre vírus. Grandes mudanças na natureza destabilizam os ciclos da transmissão e o vírus que circulava apenas entre os animais selvagens chega ao homem que não tem imunidade.  A incidência das pandemias vai ser cada vez maior em função das eminentes catástrofes ecológicas em que nós nos encontramos. Vamos entrar num período de pandemia intermitente. Pode ser menos invasivo. Há muita coisa que não sabemos. Uma plataforma de incertezas que estamos a entrar, que é a marca do século XXI, que terão consequências econômicas, sociais e culturais.

Portanto devemos rever nossos conceitos. A distância social é aquela que é criada entre seres humanos num conjunto de relações sociais que decorre pela desigualdade de poder. Esta distância para ser legitimada deve ser transformada num sentido de vida, num senso comum e então transforma-se em distancia cultural. Estão relacionadas mas podem estar diferentes.  Eu posso estar distante da pessoa que amo fisicamente, mas não estar socialmente diferente dela. Pelo contrário, intensificar meu amor nesta distância. Como estar próximo fisicamente e socialmente distante.

Um exemplo: a primeira empregada doméstica que morreu de covid 19 foi porque trabalhava numa casa dos patrões que vieram da Itália infectados. Ela morreu porque já tinha outras condições de vulnerabilidade. A senhora estava próxima e vivia com eles, mas socialmente distante. Isso fez com que houvesse negligência porque era um corpo não tão importante mesmo que estivesse muito próximo. É a distância que determina que este corpo é distante socialmente mesmo muito próximo.

Durante a pandemia houve um isolamento forçado com pessoas que não ficavam confinadas, como é o caso dos casais e dos pais e seus filhos. Viver em casa com intensidade que não viviam antes. Obviamente foi algo que se deu como uma maior aproximação, Estudos mostram que os pais dedicam em média 20 minutos por dia no máximo aos seus  filhos, este tempo aumentou.

Grande parte da população não pode seguir as regras porque a vida não permitiu que isso ocorresse. Mas permitiu uma proximidade e uma outra cultura de intimidade. Exemplos: proliferaram os cursos de cozinha e outros tantos. O caso das mulheres que foram mais vítimas de violência aumentou e o próprio feminicidio. Leva crer que a proximidade aumentou e tiveram que denunciar a violência.

A distância social e física são duas coisas muito distintas. Bom de onde vem de nível macro na nossa sociedade e vem de muitas causas. Vou limitar em três grandes formas de dominação do poder desigual que existe na sociedade contemporânea deste o século XVII.

Capitalismo, colonialismo e patriarcado. 

Estas três formas existem hoje de maneira modificada e não como existiam no século XVII. Parto da ideia que as intendências não foram o fim do colonialismo, mas do fim do colonialismo histórico. O colonialismo se manteve de outras formas, como o racismo, a concentração de terras, as formas extrativistas em que o Brasil é hoje o protagonista mundial, para não falar do Estado que continuou colonial porque essas intendências na América Latina não foram conquistadas ou concedidas às populações nativas desses territórios e sim cedidos por eles esses territórios ao colonizador. Significa que vivemos em sociedades colonialistas e patriarcais.

A violência contra as mulheres está inscrita na sociedade contemporânea exatamente porque o capitalismo não funciona sem corpos racializados e sexolizados. Por que? Porque é uma maneira de realizar o trabalho. O capitalismo não funciona pagando, ainda que sempre explorando o trabalhador, um contrato com carteira assinada. Tem que ter sempre formas de exploração. Um trabalho mal pago é o racializado, de populações negras….

O não pago, o das mulheres, da alimentação, do cuidado, produz vida ao mais profundo nível.  Não é pago. Se esse trabalho fosse pago, o capitalismo não funcionaria. As formas de dominação são diferentes e criam importantes culturas: da exclusão.

O capitalismo é própria da cultura da exclusão e distância vai da exploração. O capitalismo exige que o trabalhador seja igual ao patrão em termos de cidadania. O colonialismo degrada as populações. Há uma degradação antológica, que mulheres e populações indígenas não foram nunca e durante muito tempo, em muitos países, em muitos contextos, consideradas plenamente humanas. Portanto, os corpos racializados são sub-humanos.

A ideia que há uma humanidade é uma grande armadilha. A humanidade é um projeto maravilhoso, mas  é uma utopia porque a humanidade que nós temos nas sociedades capitalistas, colonialistas e patriarcais não existe sem sua humanidade. Para ilustrar de uma forma que é muito evidente, na mesma semana em que o Brasil ultrapassou 100 mil mortes do covid 19 nada aconteceu. Não houve convulsão política, redes sociais não falavam dessa realidade. Uma certa banalização da vida de populações que são pobres, pretas e pardas. Tal é qual como os EUA. A possibilidade nos EUA de um preto morrer de covid é 3 a 4 vezes maior que um branco. Em São Paulo no Morumbi é menor do que no Campo Limpo bairro de favela, é muito maior. Temos assimetria porque o vírus não é democrático. Temos essas desigualdades. Neste momento existe um fato de uma menina de 10 anos, vítima de estupro, é uma histeria contra a retirada do feto. O que é isso? De um lado um 100 mil vidas, de outro lado um alarido. Há vidas e vidas. As 100 mil mortes são típicas das mortes e vidas severinas, vidas descartáveis. Ao passo que vida do embrião é uma vida manipulada por uma religião colonialista, cristã que deu um valor extraordinário a esse embrião transformado em fundamentalismo. Nem sequer da vida da criança interessava, era uma criança certamente parda,  Era uma vida que trazia com ela sem sua vontade. Portanto dois pesos e duas medidas. São duas imagens de uma mesma sociedade e tão perturbadora.

Os seres racializados e sexolizados são sub-humanos. É sabido que no Mediterrâneo morreram 20 mil pessoas que eram imigrantes e nunca houve nenhuma crise. Imaginem se fossem americanos ou europeus. Que morrem um ou dois americanos no Iraque enquanto outros aos milhares.

Vida que vale, vida que é descartável.

Estes formas de desigualdade de poder estão na origem da distância social em que nós nos encontramos. De alguma maneira a distância social agravou-se com a pandemia. Por que ? O vírus agravou as desigualdades sociais. Quem é que morre mais, os presos, as mulheres, os refugiados, as populações negras e pardas. Vamos classificar e dividir e estamos a falar da maioria da população mundial. Água para lavar às mãos quando não há água para beber ou para cozinhar. Confinamento com pouco distância física quando vivem 12 pessoas num barraco. Confinamento a quem pode fazer tele-trabalho. Aqueles que têm que ir para rua porque precisam ganhar para comer no dia seguinte.

A distância cultural legitima a distância social e o que dá sentido a vida. Uma cultura dominante é uma forma de legitimar a sociabilidade de uma sociedade. A cultura dominante pode designar o que é cultura e o que não é. Pode criar a distância cultural de uma maneira muito simples negar a existência de outra cultura. A negação total. Pode reconhecer a existência de outras culturas, de que somos completamente indiferente, obviamente, considerada inferior. Nossas diferenças na cultura dominante trazem hierarquias: homem e mulher, sociedade e natureza,. … A distinção entre arte e artesanato é uma forma de não considerar arte e não entrar no cânone cultural.

Os algoritimos, as mensagens personalizadas em massa e extremamente personalizadas que cada um de nós tem direito a sua própria publicidade e tudo fica de fora ao que não interessa ao consumo. O trabalho das mulheres, a economia informal, camponesa, indígena.

Cultura estatística é uma forma de criar a invisibilidade. A cultura sempre é uma característica da filha pobre ou enjeitada das políticas sociais.

Os projetos e ausência de garantia e a ideia de os criativos querem autonomia ‘numa sociedade capitalista não existe sem condições da autonomia. Muitas formas culturais, não só na produção, exige e é necessária presença. A pandemia impede muito dessa presença. Crise profunda de todos os produtores culturais. A cultura não é necessária, é um bem de luxo. O não presencial obrigou a uma adaptação muito grande. Esta situação online será muito difícil de se manter permanente.

Internet cria problema na cultura porque nós alimentamos o poder capitalista único.

Zoom é um exemplo, Amazon, o primeiro trilionário do mundo. Internet criou a divisão cultural que é uma drama extraordinário nos países. Cerca de 60 por cento das crianças vão sofrer da falta de presença nas escolas. Internet não existe em camadas mais pobres. Escola é a única refeição quente que a criança tinha, mas mantiveram abertas as cantinas. Nós estamos num momento em que as distâncias culturais avançaram. Nas últimas décadas foi possível passar do multiculturalismo indiferente, que tolera aceita imigrantes turcos, argelinos, mas nem pensar que essas culturas podem enriquecer a cultura europeia.

A Europa foi o continente mais violento do mundo. Não tem nenhuma lição dar no sentido da vida. 78 milhões de mortes.

O fundamentalismo religioso é algo que existiu desde o século 17. Agravou-se com a pandemia. Fundamentalismo religioso é forma de dominação cultural. Uma das grandes oportunidades que nos dá, é utopia que vem reabilitar a ideia de alternativa. Nós vivemos nos últimos 40 anos numa grande pandemia, a do neoliberalismo. A pandemia está a dar uma lição. Não é um inimigo, é um pedagogo porque ensina matando, que precisa mudar o modelo de desenvolvimento.

Não podemos ter vergonha de ser utópico. A única maneira de ser realista no século XXI é ser utópico.

Em defesa do #ArquivoNacionalNosso

Os Estados Gerais da Cultura apoiam o movimento em defesa do Arquivo Nacional e manifestam repúdio ao desmonte e a perseguição aos funcionários pela nova direção. O Arquivo Nacional vem sendo ameaçado na sua integridade e nas suas atribuições como instituição que preserva a memória e a história brasileira.

ATO EM DEFESA DO ARQUIVO NACIONAL – LOCAL: Escadaria do Arquivo Nacional. Praça da República, 173 – Centro. Dia: 11/01/22. Horas: 10:30 às 12hrs.

Contra o desmonte do Arquivo Nacional e a perseguição a trabalhadores do órgão, a sociedade civil e diversas entidades convocam para manifestação presencial em defesa da preservação da história e memória brasileiras.

Nossa homenagem a Bira Carvalho, o poeta da fotografia

foto by Bira Carvalho- todos os direitos reservados

Bira Carvalho partiu sem nos dar tempo para despedidas. Sabia ele, na sua simplicidade existencial, que despedidas são dolorosas e resolveu sair rapidamente de cena, assim como foi ágil e sensível em descobrir que a arte seria bálsamo e caminho para superar as limitações como cadeirante, em consequência de um tiro que levou na juventude. Grande artista, poeta da fotografia que colocou a favela em pauta ao retratar com carinho e paixão o lugar onde sempre viveu, a favela Nova Holanda, a rua, basicamente todo o Complexo de Favelas da Maré.

foto by Bira Carvalho/ Prêmio Pipa

Num depoimento emocionante, Bira Carvalho deixou claro que a arte é o caminho e a cura. “Eu, com a fotografia e com a arte comecei a perceber belezas aonde eu nem sempre via, na minha família, na favela onde moro, em mim mesmo”, falou Bira no vigésimo encontro dos Estados Gerais da Cultura. O seu trabalho colaborou no processo de colocar nas mãos dos moradores a narrativa da favela e não sendo feita por pessoas de fora. Para ele foi a grande revolução, silenciosa, porém potente. “O morador de favela se reconhece como morador da favela, que antes tinha vergonha, agora se vê belo, sendo ‘black’, gosta da cultura produzida na própria favela e também curte outras (…). Quando você começa ter acesso a isso, acontece o enraizamento, já não é tão fácil derrubar”.

Ana Maria Nogueira, que integra os Estados Gerais da Cultura, conta que conheceu Bira Carvalho no encontro dos EGC. “Me impressionou a maestria e sensibilidade das fotos dele”, afirma. “Minha primeira impressão foi de um homem forte, muito sensível e extremamente tímido. Lembro que ele quis se juntar a nós depois da live, num bate papo que fazíamos sempre para avaliar os encontros dos EGC. Foi uma surpresa agradável e claro que muito valiosa para o grupo, já que os comentários do Bira trouxeram a preciosa “visão de fora”.
A partir daí comecei a seguir o Bira no Instagram. E a trocar impressões com ele, fazer perguntas sobre as fotos. Sempre me respondia. O que me impressionou em suas fotos foi a delicadeza no registro do dia a dia da favela. As diferentes formas de trabalho, as brincadeiras de crianças, os homens e as mulheres. Peguei o hábito de dar uma olhada nas fotos do Bira todos os dias. E pretendo continuar a fazer isso. Bira merece uma exposição. Seu trabalho nos dá oportunidade de conhecer a intimidade de um lugar muito desconhecido da maioria dos brasileiros, demonizado ou romantizado, mas pouco conhecido”.

Os Estados Gerais da Cultura não poderiam deixar de prestar homenagem a esse poeta da imagem, a voz do povo e reforçar o que o Complexo da Maré todo diz: “cria da Maré não morre, vira lenda”. Seu depoimento emociona e preenche um pouco o vazio da falta física ao assistir de novo o seu depoimento sincero para perceber que suas ideias permanecem para sempre. Confiram abaixo:

A ARTE E A CULTURA SÃO O NOSSO TERRITÓRIO

Hoje é dia Nacional da Cultura e só temos a comemorar. Seguimos vivos, lutando por um mundo melhor. Nada pode irritar mais um fascista que a felicidade alheia e nós estamos aqui para provocá-los.

A arte e a cultura são nosso território de ação e mesmo durante a difícil travessia da pandemia os artistas uniram-se para enfrentar o demo e de suas legiões de cultuadores do mal.

Rompemos as barreiras da infâmia, denunciamos “rachadinhas”,  “off shores” e outras mumunhas mais.

Eles não nos calaram e hoje, em nosso dia, frente aos desafios da reconstrução de um país desmantelado, dizemos “presentes!”.

Nós, com filmes, canções, peças de teatro, esculturas, livros, continuaremos lutando por um   mundo melhor e a ABI, Associação Brasileira de Imprensa, continuará dando voz e palanque aos que lutam o bom combate.

Os jornalistas são os irmãos siameses dos artistas e caminhando juntos derrotaremos o fascismo e todos os liberticidas que querem impor a dor como forma de viver.

No dia 5 de novembro de 2021 diante do regime necrófilo, proclamamos, citando Oswald de Andrade   que a “Alegria é a prova dos nove”

Texto Silvio Tendler.  Premiado cineasta carioca foi o principal motivador na criação dos Estados Gerais da Cultura. Tem as três maiores bilheterias do documentário brasileiro – “Os anos JK – Uma trajetória política”, O Mundo Mágico dos Trapalhões” e “Jango” – , além de 60 prêmios, entre eles seis Margaridas de Prata – C.N.B.B e o Prêmio Salvador Allende no Festival de Trieste, Itália, pelo conjunto da obra.

Publicado originalmente na Associação Brasileira de Imprensa, parceira do EGC

Acima do Bem e do Mal, o Saci de Monteiro Lobato

Abre o artigo, ilustração de José Wash Rodrigues para a capa do livro adulto ‘O saci-Pererê: Resultado de um Inquérito’ por Monteiro Lobato. Acima, ilustração em nanquim feita por Monteiro Lobato para o seu livro infantil ‘O Saci’

Texto: José Carlos Sebe Bom Meihy

Muito tem se falado a respeito da figura do saci na obra de Monteiro Lobato. No aborrecido debate sobre o racismo, os extremos repontam garantido que o saci seria a primeira manifestação do “preconceito de marca” lobateano, mostrado como um marginal periférico; na outra ponta alguns entusiastas como igual extremismo o revelam como propositor do “primeiro herói negro da nossa literatura”. Exageros e polarizações à parte, resta notar a gênese da criação de um personagem capaz de motivar reflexões sobre a memória popular repontada na cultura moderna.

Foi com empenho investigativo que entre os dias 27 de janeiro e 6 de março de 1917, nas páginas do jornal O Estado de São Paulo, Lobato fez estampar resultados de enquetes que, afinal, viraram seu primeiro livro “Saci-pererê: resultado de um inquérito”, publicado em 1918. Caracterizado o personagem, restava dar-lhe uma imagem. Foi neste sentido que o então estreante escritor propôs um concurso capaz de oficializar e sugerir uma forma tangível ao saci. Sobretudo, ao diabrete faltava uma figura, ou pelo menos o protótipo de imagem que deveria conter elementos básicos derivados das descrições colhidas.

Aspecto pouco notado na formulação folclórica, a junção descritiva aliada a imagem demandava resultados práticos e de efeitos estéticos captáveis, simples e eficientes. E sem uma figura básica, como marcar o saci na memória cultural brasileira? Convém não deixar para planos secundários que essa aventura remetia a um tempo em que a imagem passava a integrar os relatos jornalísticos. Os impressos então ganhavam função também por juntar texto e representações gráficas. Além disso, no momento da elaboração do “Inquérito”, o nascente escritor fazia vezes de crítico de arte, lance que exigia argumentos como satisfação aos leitores, em particular frente a um dos desafios maiores do tempo: a presença das artes plásticas junto à opinião pública. Uma dessas situações, por exemplo, diz respeito a um detalhe pouco explorado no conflito entre nossos modernistas e Monteiro Lobato. O virulento artigo “Paranoia ou mistificação”, escrito para comentar a Arte Moderna, transparecida na exposição de Anita Malfatti aberta em São Paulo em dezembro de 1917, tem servido como certidão do rompimento das partes. O que pouco se diz é que antes daquela rumorosa publicação, houve contatos bastante eloquentes entre Lobato e alguns personagens do Modernismo, como Oswald de Andrade e a própria Anita Malfatti. Um desses elos, aliás, se deu exatamente em função do saci, ou melhor do sentido do debate nacionalista que buscava fecundar a cultura com bases folclóricas.

No agitado contexto do “Inquérito sobre o saci”, Lobato propôs um concurso de pintura e escultura, cujo tema era a promoção da imagem do saci. Ainda que o certame fosse dirigido exclusivamente a artistas nacionais, o vencedor foi um imigrante radicado em São Paulo, o italiano Cipicchia, que apresentou uma figuração denominada “O Saci e a Cavalhada”. Anita Malfatti foi das poucas concorrentes a enviar um trabalho que, por difíceis explicações, desapareceu sem deixar vestígios físicos. Dela apenas se sabe exatamente pelo parecer de Lobato, em artigo publicado na Revista do Brasil, onde revelava que, no setor de pintura, o trabalho da concorrente fora desclassificado, mas segundo Cassiano Elek Machado mereceu extenso comentário, antecipando a insistência na questão dos “modismos”:

“A sra. Malfatti também deu sua contribuição emismo. Um viandante e o seu cavalo, em pacato jornadear por uma estrada vermelha degringolam-se numa crise de terror ao deparar-se-lhes pendente duma vara de bambu uma coisa do outro mundo. Degringola-se o cavaleiro, degringola-se o cavalo tentando arrancar-se do pescoço, qual estira-se longo como feito da melhor borracha do Pará. Gênero degringolismo. Comotodos os quadros do gênero ismo, cubismo, futurismo, impressionismo, marinetismo, está hors-concours”.

Num esforço de conciliação, sem se desmentir, mas abrindo caminho para algum diálogo, finalmente, Lobato pontificava:

“Não cabe à crítica falar dele porque o não entende: a crítica neste pormenor corre parelha com o público que também não entende. É de crer que os artistas autores entendam-nos tanto como a crítica e o público. Em meio deste não entendimento geral é de bom aviso tirar o chapéu e passar adiante”…

Ainda que o “Inquérito”, somado aos escritos para crianças, se porte como marco inaugurador da invenção do saci brasileiro, não há como escapar dos efeitos daquele certamente artístico que tanto remetia ao gosto de uma crescente classe média como de uma sociedade urbanizada em busca de padrões culturais próprios. Pela dimensão plástica, a iniciativa de Lobato dava forma a caracterizações que até então eram, majoritariamente, escritas ou oralizadas. Isso não bastava mais. A revelação da materialidade pela pintura, escultura, cinema e fotografia, revela também a obstinação de Lobato para a atualização do estatuto cultural brasileiro moderno integrando vários códigos. O apelo para o chamado folclore – ou como preferia Lobato “mitologia brasílica” – implicava escolhas de personagens assimiláveis pelo gosto geral e, nesse sentido, entende-se que a marca do estereótipo nacional entraria como argumento debelador das tradições importadas.

Mais do que discutir racismo em Lobato, antes de tudo há de se buscar fundamentos de sua obra e trajetória de seus personagens, condição capaz de tirar do limbo simplificações que não param incomodar. Tanto há a se explorar no campo da investigação sobre a obra do mais importante escritor latino-americano na área da literatura infantil que chega a ser exaustivo colocá-lo entre o bem e o mal. Lobato está acima disso. E o saci também.