Desengaveta Rodrigo

Quando no futuro perguntarem aos nossos descendentes como conseguimos conviver com os genocidas que nos governam, dificilmente eles terão alguma explicação convincente. Pigarrearão e tentarão mudar de assunto.


Como explicar no futuro a reforma da previdência, a reforma trabalhista, o engavetamento de tantos pedidos de impeachments, como se o Estado brasileiro formasse um arquipélago de ilhas governadas por decisões monocráticas.


Quem conseguirá explicar que no coração da Amazônia, pulmão do mundo, as pessoas morrem asfixiadas por falta de oxigênio? Não se trata de uma metáfora desses filmes de ficção científica, através dos quais as pessoas são docilizadas por medo do futuro. Está acontecendo hoje, aqui, agora. Logo ali na Amazônia.


O país está se esfarinhando… e seguimos imobilizados. Precisamos de organização popular para enfrentarmos os genocidas. 

Precisamos de um projeto de reconstrução nacional para antagonizar o neoliberalismo criminoso.
Pela reconstituição do Estado de Bem estar Social, em Defesa do Sistema Ũnico de Saúde (SUS), da Pesquisa científica, artística, cultural e educacional financiada pelo Estado.


Pela reconstituição do Ministério da Cultura com funções de Estado. Cobrar o assédio moral praticado por gestores de órgãos públicos contra funcionários.


Eles asfixiaram as atividades artísticas e culturais, acadêmicas e científicas porque sabem que não somos cúmplices e estamos denunciando as necropolíticas  praticadas por Guedes, Salles, Araujo e demais da alcatéia de predadores e propomos a construção de um mundo mais justo, fraterno e solidário, onde a centralidade deve ser o ser humano e a natureza, não o cassino financeiro.

Pelos direitos sociais estendidos a todos e todas trabalhadores e trabalhadoras nas artes e na Cultura. Pelo reinício do financiamento público de todos os PROJETOS ARTÍSTICO-CULTURAIS.


Os Estados Gerais da Cultura, a Escola Superior de Paz e o Cineclube Muiraquitã assinam o pedido do Impeachment do capitão genocida com um grito: “Desengaveta Rodrigo!”. Antes tarde do que nunca!

Texto: Silvio Tendler

Pensata lida pelo ator Eduardo Tornaghi no encontro com Bira Carvalho – Fotografia e acessibilidade na periferia

Memória como bússola/ Poema Mário Lago

Para que serve a utopia? Para caminhar, respondeu Eduardo  Galeano. 

Abrigamos o passado em nossa memória — lembramos do que  queremos guardar. Que a memória nos sirva de bússola que nos oriente no caminho certeiro rumo ao  futuro e nos sirva como âncora.

Nos abrigue em Porto Seguro nos momentos de tormenta. O futuro representa uma busca  incessante e permanente. Este é o 17 encontro dos Estados Gerais da Cultura e hoje ouviremos o professor  e líder  comunista Mauro Iasi. Professor recém aposentado da UFRJ, mas comunista sempre, que nos falara sobre “Ser Comunista  em 2020”.

Para saudá-lo um poema de um comunista: Mário Lago ( alguns trechos)

O povo escreve a história nas paredes

Noite pesada… de tristeza imensa.
Noite de lágrimas e de descrença.
Noite de mil perguntas doloridas.
Noite de angústia pra milhões de vidas.(..)

E agora, meu companheiro?
Companheira, que fazer?
Fecharam nosso Partido…
Que mais vai acontecer?
E agora, meu companheiro?
Companheira, que fazer?

E agora, meu companheiro?
Como iremos escutar
palavras que indicam rumo
se ninguém pode falar? (…)

Fecharam a boca do povo,
Que mais vai acontecer?
Cortaram os braços do povo.
Que mais vai acontecer?
Quem mais vai defender o povo
Quando o mais acontecer? (..)

Outra noite pesada… de tristeza
imensa.
Outra noite de lágrimas e de
descrença,
Eles voltaram pras ruas,
delírio verde nos lábios,
delírio pardo nas almas,
delírio negro nas mãos.
E encheram de gritos as ruas,
porque o povo deixou as ruas
quando eles vieram pras ruas,
delírio verde nos lábios,
delírio pardo nas almas,
delírio negro nas mãos
ânsia de sangue na boca,
nos gestos, no coração.Cassação! Cassação!

Cassação! ção-ção!
Cassação! Cassação!
Cassação! ção-ção! (…)

Me dá tua mão, companheiro.
Companheira, me dá a mão.
Me dá tua mão,
meu irmão.
Responderei às perguntas,
perguntas que tens nos lábios;
nos olhos, no coração.(…)

Fecharam nosso Partido,
que é o partido do povo?
Cassaram nossos mandatos,
que são mandatos do povo?
Que importa, meu companheiro?
O povo, não morre, é eterno.
Passam os traidores do povo,
O povo não passa não.

Fecharam nosso Partido?
Cassaram nossos mandatos?
Se amanhã, desesperados,
fecharem nossos jornais?
Que importa? Que importa, irmão?
O povo sabe os caminhos
pra enfrentar a reação.

Não existem linotipos?
Não existem rotativas?
Que importa, meu companheiro?
Há sempre uma mão altiva
pegando um giz ou pincel.
E há muros pela cidade
se nos negarem papel.(..)

Fecham partidos? Pra frente!
Cassam mandatos? Pra frente!
Fecham jornais? Para frente!
Há muros onde escrevermos
a história de nossas fomes,
a história de nossas sedes.
Para a frente! Para a frente! (,…)

O povo escreve a história
nas paredes!

Pensata para reflexão durante o encontro com Mauro Iasi, cujo tema foi “Ser comunista nos dias de hoje”

“Tecendo o amanhã”

Texto: José Bulcão

Hoje não é um dia qualquer. Nem deveria se chamar domingo. Tem outro nome: desejo de mudança. 

E essa esperança vem de São Paulo, Recife, Porto Alegre, Belém, Vitória e de mais algumas grandes cidades do país. 

É a oportunidade de vermos o Brasil resgatar o compromisso com seus valores mais nobres. Chega de fundamentalismos. Estamos cansados de tanto descaso com nossa cultura, nossa saúde, nossa economia, nosso orgulho e nosso povo. 

Pensar o Brasil é colocar nossa capacidade transformadora à serviço do país e de sua libertação desse sistema de exploração que nos faz dependentes cíclicos do centro capitalista. 

O Brasil não precisa disputar espaço no centro do capitalismo mundial. Nosso papel como Estado e nação é maior. Subvertendo a singeleza aritimética, o que queremos é inverter a ordem dos fatores e colocar, no centro, a periferia. 

Entenda-se por periferia, tudo o que é genuinamente nacional, porque integra como nação o nosso território, o nosso povo a nossa cultura!

O Brasil será livre, independente e autônomo quando virmos nossas comunidades indígenas, quilombolas, imigrantes, todas as etnias e gêneros com acesso às mesmas oportunidades, com trabalho, saúde, escola, moradia, saneamento, transporte, dignos e de qualidade. O Brasil será feliz quando sua força criativa estiver a serviço do bem viver de todo o povo, indistintamente. 

Um Brasil que assume e tem orgulho de suas origens, de seu povo mestiço, é um Brasil do mundo. 

Que o Brasil da esperança tenha se reecontrado consigo mesmo a partir de hoje, do exercício básico da democracia,  pelas mãos de brasileiras e brasileiros, no  voto. 

Já nos disse uma vez o jornalista Walter Veltroni “O passado pode ser um bom refúgio. Mas o futuro é o único lugar que nos abrigará.”

Em nome de Celso Furtado, nosso homenageado de hoje, um brasileiro imprescindível, que nos forneceu base crítica e científica para corroborar essa esperança, encerramos com o também centenário, também nordestino e, acima de tudo, um brasileiro, cidadão do mundo, João Cabral de Melo Neto. 

TECENDO A MANHÃ

Um galo sozinho não tece uma manhã: 

ele precisará sempre de outros galos. 

De um que apanhe esse grito que ele 

e o lance a outro; de um outro galo 

que apanhe o grito de um galo antes 

e o lance a outro; e de outros galos 

que com muitos outros galos se cruzem 

os fios de sol de seus gritos de galo, 

para que a manhã, desde uma teia tênue, 

se vá tecendo, entre todos os galos.

E se encorpando em tela, entre todos, 

se erguendo tenda, onde entrem todos, 

se entretendendo para todos, no toldo 

(a manhã) que plana livre de armação. 

A manhã, toldo de um tecido tão aéreo 

que, tecido, se eleva por si: luz balão

(João Cabral de Melo Neto)

Como Ferreira Gullar: Digo Sim

foto via internet – Fronteiras do Pensamento

A cultura brasileira é resultado dessa fricção entre aqueles que as terras  de Ásia e de África andaram devastando de um povo por baixo. Primeiro os índios foram devastados…

Mas a gente toma banho. Vamos lembrar que quando os portugueses chegaram aqui, tomar banho era sinal de paganismo, era motivo pra fogueira.

Então quem é que ganhou?

Nesse momento ainda sombrio, mas com essa lufada… ufa… de ar que a gente teve, momento em que a decência se impôs… a gente às vezes duvidava da decência, da força da decência nos últimos tempos, não!  Foi ela que derrubou o Trump.

Então eu recorro a Guimarães Rosa que nos ensinava que o correr da vida embrulha tudo. A vida é assim: esquenta, esfria, aperta, daí afrouxa, sossega, depois desinquieta… o que ela quer da gente é coragem.

Pra chamar um homem com coragem acima de toda prova, Ferreira Gullar, que nos ensinou nos tempos sombrios da ditadura: um Digo sim.

Poderia dizer
que a vida é bela, e muito,
e que a revolução caminha com pés de flor
nos campos de meu país,
com pés de borracha
nas grandes cidades brasileiras
e que meu coração
é um sol de esperança entre pulmões
e nuvens

Poderia dizer que meu povo
é uma festa só na voz
de Clara Nunes
no rodar
das cabrochas no Carnaval
da Avenida.
Mas não. O poeta mente.

A vida nós a amassamos em sangue
e samba
enquanto gira inteira a noite
sobre a pátria desigual. A vida
nós a fazemos nossa
alegre e triste, cantando
em meio à fome
e dizendo sim
– em meio à violência e a solidão dizendo
sim

pelo espanto da beleza
pela flama de Thereza
pelo meu filho perdido
neste vasto continente
por Vianinha ferido
pelo nosso irmão caído
pelo amor e o que ele nega
pelo que dá e que cega
pelo que virá enfim,
não digo que a vida é bela
tampouco me nego a ela:
– digo sim

Coragem é dizer sim em tempos sombrios e temos aqui um exemplo. Vamos ouvir a voz de Celso Amorim que disse muito sim em tempos muito sombrios e construiu a melhor imagem e a maior respeitabilidade que o brasileiro já teve no mundo. Obrigado Celso!

Silvio Tendler

*Leitura feita no encontro com Celso Amorim que falou sobre As Relações do Brasil no Panorama Internacional Pós Eleições nos EUA

Para além da pulsão de morte: a paz como utopia

Psicanalista Glaucia Dunley – assina este texto

Pergunto-me como pode a psicanálise, aliada à arte, à cultura, à ciência, à afirmação da vida, ao sim dionisíaco à vida de que nos fala Niezstche, desenhar como possível, concretamente, isto é, sem ilusões, um pensamento sobre a paz?       

Na vigência de um presente tão dizimador no governo bolsonaro, tão destruidor de nossas vidas, de nosso território, das grandes conquistas, dos sonhos, como pensar esta paz como objeto de desejo do sujeito e da comunidade planetária contra o fundo poderoso das pulsões de morte que nos habitam?           

Entendo a paz não apenas como um estado político de não-guerra, de paz civil, mas como um estado ativo e contínuo de resistência pacífica e culturalmente transgressiva por parte dos cidadãos de uma sociedade democrática, principalmente quando eles se encontram sob a opressão de um Estado de Direito não pleno nos governos de extrema-direita, como o nosso.            

Resistência ativa e criativa, criadora de pensamentos e práticas capazes de sobrepujar a violência em todos os graus, a crueldade que vem indissociavelmente ligada à pulsão de morte, e as suas inúmeras formas de sofrer e fazer sofrer – racismos, discriminação. desigualdade social, truculência policial, guerras neocoloniais e seus milhões de refugiados, genocídios sem fim, comandados pelo capitalismo neoliberal.           

Este longo durar, da ditadura do dinheiro, destrói principalmente nossos valores éticos, e nos oferece em troca o conforto do consumismo que entorpece e nos compra a alma pelo gozo de um pífio bem-estar, que ainda assim não cessa de esconder nosso mal-estar. Este bem-estar, este gozo do consumir e da alienação, jamais será um bem-viver, pois este, como nos ensinaram os gregos, pressupõe um campo de valores éticos. Esta ditadura do dinheiro também nos empobrece subjetivamente, tornando-nos banalizadores do mal ao permitirmos, sem fazer resistência, os avanços de uma ideologia global de mercado cada dia mais cruel, excludente das pessoas e expropriadora dos bens e riquezas dos povos.       

Resumindo, esta ideia de PAZ nos convoca eticamente ao melhor de nós mesmos como cidadãos planetários rapidamente mortais, haja vista a atual pandemia, mas me parece uma difícil conquista.          

É a PAZ uma utopia? Sim, é uma utopia. Uma utopia do comum, que nasce enraizada na triste realidade do presente, revoltada contra os malfeitos da globalização financeira, que vem se apossando mundo afora de territórios pirateados pela ideologia do “dinheiro puro”.  Ao que se somam os fanatismos religiosos, os atentados terroristas, aos êxodos de milhares de pessoas das guerras neocoloniais nos países africanos e do Oriente médio em busca de paz e vida digna em outros lugares, a exacerbação das desigualdades, aos genocídios dos descartáveis por políticas de Estado de extermínio, como em nosso país.                   

A história da humanidade se faz de repetição. Só existe o novo fora dessa cadeia de repetição automática própria à pulsão de morte quando surgem utopias, que são desejos coletivos, transgressões da ordem estabelecida, como o foram o repúdio ao imperialismo  na Revolução Cubana, “os 30 anos Gloriosos” que uniram liberalismo e social-democracia na Europa do pós-guerra.  Onde se queria o quê? A reconstrução dos Estados de tal forma que se tentasse estabelecer A PAZ de forma mais duradoura, mas que sempre dependeria do equilíbrio das forças em questão. No Brasil, tivemos a utopia dos governos do PT, barrando a fome, a miséria e diminuindo a desigualdade social, estimulando o acesso ao conhecimento e a cultura para todos.           

A ONU, fundada em 1948, é apenas um frágil dique contra os truculentos interesses financeiros e territoriais dos Estados- Nação, sustentados pela pulsão de poder ou dominação e de crueldade.  A ONU precisaria ser reforçada ou encharcada  com utopias do comum, que propusessem inclusive a perda progressiva dos privilégios ancestrais da branquitude eurocêntrica. Em fim, para construir a PAZ, faz-se necessária uma mudança de mentalidade dos povos e Estados, um pensamento novo, uma outra globalização não perversa, como previu e escreveu  o grande utopista-de-campo, Milton Santos.                   

Segundo Freud, a violência é estrutural e primordial. Somos descendentes de uma horda de assassinos que foram se submetendo muito lentamente desde o paleolítico aos interditos civilizatórios do incesto e do parricídio, dos quais frequentemente o homem escapa. Haja Lei e força de Lei para barrar essa “natureza humana” violenta e fratricida, mas haja também cultura para reconciliá-la com as renúncias aos desejos mais prementes que a sociedade humana é obrigada a fazer compulsoriamente para se submeter ao processo civilizatório.         

 A cultura é assim o campo de atividades humanas capaz de transformar o horror de nossa constituição violenta em belo, em sublime, em humor, em convivência pacífica e solidária.  A cultura e a paz são obras de Eros e combatem o culto da violência e da morte.           

Para finalizar, e indo mais longe nessa busca para fazer da paz uma utopia planetária possível, desejável e necessária, penso em Jacques Derrida. Ele propõe que caminhemos na direção de um mais além da pulsão de morte, na direção do impossível, lançando mão de uma ética que delineia no horizonte as figuras dos “incondicionais impossíveis”: o perdão, o dom, a justiça, o talvez, a hospitalidade, a amizade, a vinda incondicional do outro, os indecidíveis, a utopia, a paz como utopia, acrescentaria eu. E onde o impossível não é negativo, mas aponta para um outro eu, para um eu ético, que seria capaz de perdoar o que não é possível perdoar, de fazer dom sem esperar de fato retribuição, de desejar e lutar pela paz toda vez que o mesmo retornar – a guerra. 

  • Encontro com o antropólogo Luiz Eduardo Soares – Dentro da Noite Feroz – O Fascismo no Brasil.

Carta do Coletivo Estados Gerais da Cultura ao Povo Brasileiro

GTO- Geraldo Teles de Oliveira( 1913-2006) foto de Ana Cristina Campos

Por que SOMOS “ESTADOS GERAIS DA CULTURA”? Porque estamos juntos  daqueles  que defendem a liberdade e a pluralidade da criação cultural brasileira nas suas diversas manifestações artísticas. Propomos que nossa participação nesta campanha eleitoral municipal de 2020, seja pautada pelo compromisso de eleitores  e candidatos em defesa de nossa Cultura que é a nossa  Identidade como brasileiros. 

Este legado  Cultural Nacional está ameaçado pelo atual processo político de desmonte e desconstrução de conquistas que fazem a beleza e a criatividade de nosso povo .

Um país não se limita às suas fronteiras físicas e geográficas. Ele é o seu povo. E o que caracteriza o povo é a sua cultura.  Somos milhões de trabalhadores da cultura paralisados, dispersos ou desempregados. O governo flerta com o totalitarismo e nos intimida com o poder miliciano. 

Estamos vivendo uma das maiores crises sanitárias de todos os tempos. Pandemia trágica para milhares de famílias brasileiras, em especial para as mais humildes, completamente abandonadas pelo poder central.  

Recolhidos em nossas casas, velhos e novos filmes, músicas, atividades artísticas nos fazem companhia nessa solidão imposta pela pandemia. Nesse momento as pessoas percebem a importância da arte em suas vidas.  

Queremos um mundo em que o Estado seja voltado para o bem-estar de seus cidadãos e cidadãs, ou que seja voltado para facilitar a acumulação de bens de uns poucos milionários?  Que futuro queremos no mundo que emergirá da pós-pandemia? Um mundo solidário em que a centralidade seja o ser humano e a natureza ou continuaremos reféns do cassino financeiro?  

O futuro é nosso, cabe a nós decidir.  A extinção do Ministério da Cultura é a tentativa de destruir nosso processo civilizatório nos trópicos para fragilizar nossa identidade como nação. A reconstrução do Ministério da Cultura é apenas um primeiro passo necessário para o restabelecimento da nossa unidade como agentes culturais.

Hoje assistimos ao desmantelamento da Cinemateca Brasileira, da Casa de Rui Barbosa, da FUNARTE e da ANCINE, entre outros. Este setor que gera arte, cultura ,civilidade e entretenimento, além de dividendos para o país , encontra no Ministério da Economia ultra-neoliberal o desprezo pela indústria criativa como um setor altamente rentável, que gera recursos e prestígio internacional para o Brasil. 

Portanto, esta  Carta do Estados Gerais da Cultura tem como objetivo colocar no mesmo espaço, de forma espontânea, pessoas das mais diversas áreas de atuação do conhecimento  interessadas no avanço rumo a um futuro de bem-estar social para todos. Um espaço que quer agregar  e abrir caminho aos mais diversos trabalhadores  do campo artístico cultural.

Convocamos todos a serem protagonistas da própria História, através de seus meios de expressão e ação. Utilizemos como instrumento de conscientização, luta e fortalecimento, tudo o que as ferramentas tecnológicas permitam, respeitando as nossas tradições e nosso patrimônio étnico- cultural.

Como disse o jornalista italiano Walter Veltrone, o passado é confortável, mas o único lugar que nos abrigará é o futuro. Estados Gerais da Cultura é um movimento coletivo, autônomo e independente, para atuar na construção desse futuro, somos os verdadeiros protagonistas da nossa História.   Com arte, ciência e paciência construiremos um mundo melhor.  

Texto: Ana Cristina Campos e integrantes do coletivo.

*Pensata lida por Ana Cristina Campos no encontro sobre A Cultura nas mãos de mulheres

O novo normal é uma falácia

Bienal de Veneza/ pavilhão Brasil – 2015. Antonio Manuel – Até que a Imagem Desapareça . foto: Mari Weigert

Necrofolia, pornografia, agora escatologia as novas formas de governar.
Com dinheiro no rabo e apartamentos comprados com fortunas ilícitas das rachadinhas fazem-se novos milionários. Que o Ministro da Economia explique de imediato o desmonte do Estado na medida vil para formar novos ricos no capital privado, enquanto 14 milhões de desempregados nos sinalizam o que para eles significa o novo normal que nada tem de novo e muito menos de normal.

O assédio praticado contra os servidores privados, inclusive das empresas que pertencem ao Estado como Banco do Brasil, cuja única função é facilitar o descarte da empresa para ser vendida por preço vil a milionários amigos, fecha o cerco. 

O Governo escatologicamente abre as portas do inferno para a morte dos mais pobres, dos mais humildes, dos mais vulneráveis. 

Enquanto o lobo Guará, animal homenageado na cédula de duzentos reais, morre asfixiado pelo incêndio nos cerrados onde vive, a cada dia mais desmatados e devastados, assim como nosso pantanal e nossas florestas tropicais, há quem pense em criar a nota de mil reais para facilitar o transporte e o depósito nos fundos ocultos e mal cheirosos dos mandatários. 

O criativo imaginário popular propõe como símbolo da nova cédula o Pacu, peixe originário de nossos biomas ameaçados e que se alimenta de detritos orgânicos, práticos para conviver com excrementos provenientes do desvio de verbas e das rachadinhas.

Somos utopistas!

O “novo normal” é uma falácia. O capitalismo oportuniza tudo, devora tudo. Segundo a Folha de São Paulo, em plena pandemia, a demanda por iates de luxo no país cresceu vertiginosamente, no mesmo período.  42 milionários brasileiros aumentaram a sua fortuna em 34 bilhões, de acordo com dados divulgados pela organização Oxfam, Só no Brasil já são 14 milhões de desempregados!

No governo Temer, fizeram uma reforma trabalhista prometendo mais empregos e oportunidades, mas o desemprego triplicou! No atual governo fizeram a Reforma da Previdência e só piorou a vida dos que trabalham.

Os Estados Gerais da Cultura estão aderentes à Internacional Progressista, juntamente com personalidades mundiais como Yanis Varoufakis, Bernie Sanders, Celso Amorim e Noam Chomsky, dentre outros nomes e coletivos do cenário político internacional, na construção de um mundo melhor e mais justo.

Seguimos em frente, com arte, ciência e com muita paciência. 

Como nos lembra Che: “Acima de tudo procurem sentir no mais profundo de vocês qualquer injustiça cometida contra qualquer pessoa em qualquer parte do mundo. É a mais bela qualidade de um revolucionário.”

Primo Levi, sobrevivente dos campos de concentração, disse o mesmo. Os humanistas se encontram na busca de um mundo melhor.

SOMOS TODOS ESTADOS GERAIS DA CULTURA! RESISTIREMOS!

Texto: Silvio Tendler

* Pensata lida durante o Encontro com o sociólogo português Boaventura de Sousa Santos


 

Brasil arde, Covid mata e o cassino financeiro continua…

Retirantes – Cândido Portinari/ 1944. Acervo MASP / São Paulo

O Brasil arde: todos os dias recebemos virais  falando das queimadas Brasil afora: Pantanal, Amazônia, Cerrado. A Covid matou mais de 150 mil brasileiros. 

O cassino financeiro que hoje nos domina  inventou um perigoso e lucrativo jogo que transfere renda dos mais pobres para concentrar nas mãos de 1% da população do planeta. Esse perigoso game se chama neoliberalismo e bem embalado se apresenta como alavanca da economia e da liberdade, onde vence o jogo quem mais transferir renda dos mais pobres para os mais ricos.

Através do voto, o povo vai se tornando seu próprio algoz. Em 1882 o Noruegues Henrik Ibsen escreveu  “Um Inimigo do Povo”, peça de extrema atualidade na qual o autor denuncia conivência entre governo, imprensa, comércio e a sociedade contra a verdade da ciência.

Se trocarmos as águas poluídas de uma estação termal pelo vírus da covid contra o qual a ciência determina o isolamento e o comércio precisa das aglomerações. A arte salva ao denunciar as mazelas da sociedade. 

Por isso eles não gostam de nós e tentam nos aniquilar, seja pela censura econômica, seja pela censura propriamente dita.Se não intervirmos nos destinos do Brasil, o País do futuro, breve se tornará uma nação esquartejada pelos predadores do cassino que pretendem destruir o Estado que mal ou bem nos protege.

Querem  privatizar tudo: De bancos públicos ao sistema de saúde passando pela educação, pelas águas, florestas e biomas.A última novidade é aumentar os investimentos nas forças armadas de 1,4% do PIB para 2%. e trazer indústrias de armamentos para o Brasil.

Para que em por que precisamos fabricar armas? Ciência, educação e cultura permanecem sob ataque violento. O ministro da economia finge desconhecer a importância destes setores. Aquele seu  hábito de passar a mão no nariz, cada vez que vai propor uma medida anti-povo, propor um ato de desmonte da nação, revela mais vício do que estratégia, o imperdoável vício de jogar nas mãos do cassino financeiro todas as riquezas construídas com o esforço do povo.

Sobrevivemos lutando. Com Arte, Ciência e Paciência, Mudaremos o Mundo

Texto: Silvio Tendler

Papa Francisco e Miguel Torga

Miguel Torga – Papa Francisco / Imagem internet

Abrimos o Oitavo encontro dos Estados Gerais da Cultura cumprimentando nosso companheiro Jorge Mario Bergoglio, codinome PAZ, Papa Francisco, por suas brilhantes palavras proferidas na ONU, onde defendeu com vigor a justiça social e os direitos da natureza em oposição a ação destruidora de governos e seus parceiros contra todos os seres vivos, movidos pela ganância, pela inépcia e pelo ódio à vida.

O amigo poeta e advogado, Antonio Carlos de Almeida Castro, o Kakay, apresentou a poesia do escritor português Miguel Torga que melhor exprime nossos sentimentos de semeadores da Utopia.  Lembramos que com Arte, Ciência e Paciência, mudaremos o mundo. Hoje acrescidos de uma infinito sentimento de indignação que o Papa Francisco vem expressar nestes tempos sombrios. Sejamos nós a mudança.

QUANTOS SEREMOS?

Não sei quantos seremos, mas que importa?!

Um só que fosse, e já valia a pena

Aqui, no mundo, alguém que se condena

A não ser conivente

Na farsa do presente

Posta em cena!

Não podemos mudar a hora da chegada,

Nem talvez a mais certa,

A da partida.

Mas podemos fazer a descoberta

Do que presta

E não presta

Nesta vida.

E o que não presta é isto, esta mentira

Quotidiana.

Esta comédia desumana

E triste,

Que cobre de soturna maldição

A própria indignação

Que lhe resiste.

Miguel Torga

Texto: Silvio Tendler

Caminhante não há caminho

Haruka – Yume Kori/ Bienal da Luz (2015). foto por Mari Weigert

“Caminhante não há caminho, se faz caminho ao andar” — Antonio Machado, poeta espanhol

Os Estados Gerais da Cultura caminham para sua sexta apresentação pública. Na semana passada um grupo de hienas, bárbaros virtuais, invadiu nossa reunião, na qual o professor José Bessa falaria da Cultura Amazônica. Que medo eles têm que falemos dos valores culturais de uma região riquíssima que  preferem destruir para transformar a maior biodiversidade do planeta em terra arrasada..

 Quando olhamos para alguns  governantes, aqui e acolá temo estarmos vivendo num mundo ocupado pela psicóticocracia; sem que nos inspirem a menor confiança, ora prometem respeitar as instituições democráticas ora ameaçam o Congresso, a justiça, a constituição.

Afinal o que é essa escola sem partido. Numa democracia as escolas são plurais respeitando a liberdade de cátedra de cada professor; Na arte e na cultura cada criador é autônomo, independente, não existindo pensamento único; Um deputado influenciado pela doutrina de um guru tresloucado e obsessivo pretende criminalizar o vermelho.

Talvez estejam tentando  implantar um regime furtacor onde se furta de tudo, bastante, até mesmo a cor dos sonhos e das ideias e da criação..

Os Estados Gerais da Cultura,aqui reunidos seguimos em frente com a proposta de com “Arte, Ciência E Paciência, Mudaremos o Mundo”.

 Bem vindos, bem vindas ao mundo da Utopia.

Texto: Silvio Tendler