A ARTE E A CULTURA SÃO O NOSSO TERRITÓRIO

Hoje é dia Nacional da Cultura e só temos a comemorar. Seguimos vivos, lutando por um mundo melhor. Nada pode irritar mais um fascista que a felicidade alheia e nós estamos aqui para provocá-los.

A arte e a cultura são nosso território de ação e mesmo durante a difícil travessia da pandemia os artistas uniram-se para enfrentar o demo e de suas legiões de cultuadores do mal.

Rompemos as barreiras da infâmia, denunciamos “rachadinhas”,  “off shores” e outras mumunhas mais.

Eles não nos calaram e hoje, em nosso dia, frente aos desafios da reconstrução de um país desmantelado, dizemos “presentes!”.

Nós, com filmes, canções, peças de teatro, esculturas, livros, continuaremos lutando por um   mundo melhor e a ABI, Associação Brasileira de Imprensa, continuará dando voz e palanque aos que lutam o bom combate.

Os jornalistas são os irmãos siameses dos artistas e caminhando juntos derrotaremos o fascismo e todos os liberticidas que querem impor a dor como forma de viver.

No dia 5 de novembro de 2021 diante do regime necrófilo, proclamamos, citando Oswald de Andrade   que a “Alegria é a prova dos nove”

Texto Silvio Tendler.  Premiado cineasta carioca foi o principal motivador na criação dos Estados Gerais da Cultura. Tem as três maiores bilheterias do documentário brasileiro – “Os anos JK – Uma trajetória política”, O Mundo Mágico dos Trapalhões” e “Jango” – , além de 60 prêmios, entre eles seis Margaridas de Prata – C.N.B.B e o Prêmio Salvador Allende no Festival de Trieste, Itália, pelo conjunto da obra.

Publicado originalmente na Associação Brasileira de Imprensa, parceira do EGC

Uma pausa para reformular

Nascemos para confrontar um governo terraplanista. Nossa bandeira era a recriação do Ministério da Cultura, talvez o menor dos ministérios em termos de custo para a Nação, menos de 1% do orçamento geral, mas que rende bilhões em percentual, considerando a criação artística, a formação dos jovens e mesmo emprego e renda. Doce de leite e usufruto da vida não se fala.Vivemos uma era tão financeirizada que para justificar o apoio às atividades artísticas e culturais são obrigados a justificá -las como “economia criativa”.

Formamos uma trupe ampla, plural e abarcativa. Livres em suas militâncias individuais, plurais na prática das inquietações temáticas. Começamos discutindo entre nós, nosso destino coletivo, fomos para o Artigo 5º da Constituição e  caminhamos pelo Brasil afora mapeando nossa riqueza Cultural como saltimbancos enfrentando o dragão da maldade, que em sua fúria assassina ceifou mais de 600 mil vidas . No reinado de Caronte somos os arquitetos de um novo projeto de desenvolvimento.Estamos no momento de darmos uma parada, um freio de arrumação. Semana passada, anunciamos. Hoje agradecemos a todos os que de alguma forma participam dos Estados Gerais da Cultura, os que nos emocionaram e se emocionaram conosco, nossa gratidão. 

Os historiadores não trabalham com o acaso na história, nem com destino mas quis o destino que encerrássemos a primeira fase dos  Estados Gerais no dia do Saci, essa  emblemática figura da cultura  brasileira, símbolo da nossa Escola  Supeior de Paz e, não por acaso temos entre nós um dos maiores especialista em Saci que  quando o convidamos para a palestra de encerramento estava organizando sua coleção de Sacis.Hoje nosso Bon Meihy poderá falar sobre tudo isso. Se esse acaso não terá sido mais uma que o Saci aprontou com ele? Não reconstruímos Ministério da Cultura mas com humor e alegria estamos ajudando a construir uma outra sociedade, fiéis a nossa ideia de que “Com Arte, Ciência e Paciência, Mudaremos o Mundo”.

texto: Silvio Tendler

Pensata lida no encontro ‘Somos Todos Saci’ por Eduardo Tornaghi

“Portinari ajudou o Brasil a ver o Brasil de verdade”

Os retirantes – Cândido Portinari

A arte transforma e Portinari está aí para nos mostrar isso, um homem que teve a coragem, numa época muito mais difícil que a nossa, de olhar para o brasileiro invisível, ele nos mostrou quem nós éramos. Então, vou hackear um um outro poeta que também tinha os pés no chão de barro – o Manoel de Barros, que escreveu O Fotógrafo e transformar o poema em O Pintor.

O pintor (do orginal O fotógrafo, de Manoel de Barros)

Difícil pintar o silêncio.
Entretanto tentei. Eu conto:
Madrugada minha aldeia estava morta
não se ouvia um barulho, ninguém passava entre
as casas.
Eu estava saindo de uma festa.
Eram quase quatro da manhã.
Ia o Silêncio pela rua carregando um bêbado.
Preparei minha tela.
O silêncio era o carregador?
Estava carregando o bêbado.
Pintei esse carregador.
Tive outras visões naquela madrugada.
Preparei minha tela de novo.
Tinha um perfume de jasmim no beiral de um sobrado.
Pintei o perfume.
Vi uma lesma pregada na existência mais que na pedra.
Pintei a existência dela.
Vi ainda um azul-perdão no olho de um mendigo.
Pintei o perdão.
Olhei uma paisagem velha a desabar sobre uma casa.
Pintei o sobre.
Foi difícil pintar o sobre.
Por fim eu enxerguei a Nuvem de calça.
Representou para mim que ela andava na aldeia
de braços com Maiakovski — seu criador.
Pintei a Nuvem de calça e o poeta.
Ninguém outro poeta no mundo faria uma roupa
mais justa para cobrir a sua noiva.
O quadro ficou legal.

Ahhhh…. Portinari!

Portinari viu o perdão no olho do mendigo. Portinari viu o que o povo brasileiro não podia ver, o que estava escondido e mostrou para nós em suas telas. Portinari ajudou o Brasil a ver o Brasil de verdade. Não aquele que tentava imitar a capital dos colonizadores – o que nós éramos. A beleza do que nós somos!

Os Estados Gerais da Cultura homenagearam o pai de João Cândido, grande Cândido Portinari, que por intermédio de suas obras lembraremos sempre da nossa verdadeira face.

Pensata idealizada pelo ator Eduardo Tornaghi

Letramento Cuíer: Vilma viu a vulva

Por Bárbara Esmenia

Vilma viu a vulva.

Quando Vilma leu que alguém com seu próprio nome havia visto a vulva, levantou a mão y perguntou firme à professora na sala: mas de quem era a vulva que Vilma viu? a sua própria ou a de outra pessoa?

A professora, perplexa com pergunta nunca feita antes em todo seu histórico de maestria alfabetizadora, escorregou com a mão esquerda o óculos até a ponta do nariz, lançou a cabeça num ângulo 45 graus à direita e respondeu que nos aprendizados sobre a letra v na cartilha o que importava era reparação na sintaxe tema de estudos daquela aula.

Vilma viu a vulva. E não Vulva Vilma viu a.

Assim como as demais frases seguintes na cartilha, continuou falando a professora, agora já posicionando o óculos no topo do nariz, organizando no pescoço a cabeça bem retinha em sinal de compostura.

Siga lendo as próximas frases, disse.

Vera viajará no inverno.

Vania vacinou a vaca.

Eva vende no varejo.

Vanda venceu o vampiro.

Mas Vilma não estava convencida.

Professora, mas se a vulva não for de Vilma, como a gente sabe se havia consentimento para ser vista? e se foi mesmo Vilma quem viu a própria vulva, será que ela se reconheceu? será que tem amor pela sua corpa? Talvez Vilma possa ser cis lésbica. se for, quando ela vai à ginecologista, ela é maltratada pelo despreparo médico? Ou será que a vulva que Vilma viu é de seu namorado trans y Vilma nem vulva tem pois é uma mulher trans? Nossa professora, deve ser terrível quando o namorado de Vilma vai ao ginecologista. Ele deve ser muito maltratado, você já pensou nisso?

A professora não sabia nada disso.

Tampouco já havia pensado sobre.

Nesse tanto de perguntas não respondidas feitas pela estudante Vilma, ambas perceberam que Vilma sabia sobre tudo isso bem além do que a professora. Assim como a professora sabia das gramáticas bem mais do que Vilma, que ainda se perguntou por que essas importâncias da vida não se aprendiam na escola.

Refletindo depois, Vilma pensou que talvez fosse por isso que o namorado trans de Vilma y as amigas cis lésbicas fossem maltratadas nas consultas ginecológicas. Ficou com vontade de fazer as mesmas perguntas nas faculdades de medicina, mas não conhecia ninguém por lá.

Vilma viu a vulva.

E para além de uma vulva, Vilma questionou o mundo.

[esse texto é uma atualização-homenagem ao educador Paulo Freire, que fez Ivo ver muito mais que somente a uva. y saber que já sabia]

[a educação só é válida se corresponder às perguntas de seu próprio tempo, de sua história y pensar as perguntas do futuro]

[para ler o texto de Frei Betto sobre Paulo Freire y Ivo viu a uva, acesse: https://olma.org.br/2019/05/07/paulo-freire-a-leitura-do-mundo/]BarbaraEsmenia

Poesia, decolonialidade, lesbiandades, Teatro das Oprimidas, dissidências da monogamiaFollow

Texto reflexão crítica lido por Bárbara Esmenia no 49o. Diversidade e Resistência LGBTQIA+ no Brasil Atual

Bárbara Esmenia é poeta, dramaturga, curinga de Teatro da/os Oprimida/os, atualmente com a Grupa Ybyrá TO, formada por lésbicas e mulheres bissexuais. Integra a Publicar al Sur (México), coordenando as áreas de artes e feminismos. Faz parte da Rede Sem Fronteiras de Teatro da/os Oprimida/os e da Rede Magdalenas Internacional, formado por mulheres praticantes de TO.

Existe um poeta dentro de cada um de nós

Eduardo Tornaghi

Evoé, Silvio! Evoé! EGC, com arte, ciência e paciência, mudaremos o mundo. Hölderlin, um filosofo muito poeta disse assim: “o que dura fundam-nos poetas”. Existe um poeta dentro de cada um de nós e esse poeta se manifesta às vezes como ator, às vezes como músico, às vezes como produtor, às vezes como um bom cozinheiro numa cozinha bacana quando bota poesia em prática. O poeta dizia assim:

“Almejo sim, que meu texto tenha alguma relevância, que acerte alguém bem na testa a golpes de coração. Almejo atingir o ponto da minha insignificância que pode tocar o outro por ter o timbre de igual…. busco um olhar de menino, ingênuo por ser genuíno. Ah, vigor da primeira infância, a demolir cara feia, só castelos de areia em verdadeira…”

É isso que a arte quer. Tocar o outro, demolir cara feia e, meu Deus do céu, estamos no momento em que a primeira tarefa, pra construir um futuro que valha a pena, é demolir cara feia! E pra isso, a arte! Vamos como de costume começar com música para construir um ambiente artístico.

Texto transcrito por Ana Nogueira e comentado por Eduardo Tornaghi durante o encontro com os integrantes do Teatro Tuca, na peça Re-Acordar, cujo o roteiro trouxe para nós memórias de uma juventude que lutou contra a ditadura e foi perseguida.

A Flor e a Náusea

foto por Mari Weigert/2023

Carlos Drummond de Andrade

Preso à minha classe e a algumas roupas,
vou de branco pela rua cinzenta.
Melancolias, mercadorias espreitam-me.
Devo seguir até o enjoo?
Posso, sem armas, revoltar-me?

Olhos sujos no relógio da torre:
Não, o tempo não chegou de completa justiça.
O tempo é ainda de fezes, maus poemas, alucinações e espera.
O tempo pobre, o poeta pobre
fundem-se no mesmo impasse.

Em vão me tento explicar, os muros são surdos.
Sob a pele das palavras há cifras e códigos.
O sol consola os doentes e não os renova.
As coisas. Que tristes são as coisas, consideradas sem ênfase.

Vomitar esse tédio sobre a cidade.
Quarenta anos e nenhum problema
resolvido, sequer colocado.
Nenhuma carta escrita nem recebida.
Todos os homens voltam para casa.
Estão menos livres mas levam jornais
e soletram o mundo, sabendo que o perdem.

Crimes da terra, como perdoá-los?
Tomei parte em muitos, outros escondi.
Alguns achei belos, foram publicados.
Crimes suaves, que ajudam a viver.
Ração diária de erro, distribuída em casa.
Os ferozes padeiros do mal.
Os ferozes leiteiros do mal.

Pôr fogo em tudo, inclusive em mim.
Ao menino de 1918 chamavam anarquista.
Porém meu ódio é o melhor de mim.
Com ele me salvo
e dou a poucos uma esperança mínima.

Uma flor nasceu na rua!
Passem de longe, bondes, ônibus, rio de aço do tráfego.
Uma flor ainda desbotada
ilude a polícia, rompe o asfalto.
Façam completo silêncio, paralisem os negócios,
garanto que uma flor nasceu.

Sua cor não se percebe.
Suas pétalas não se abrem.
Seu nome não está nos livros.
É feia. Mas é realmente uma flor.

Sento-me no chão da capital do país às cinco horas da tarde
e lentamente passo a mão nessa forma insegura.
Do lado das montanhas, nuvens maciças avolumam-se.
Pequenos pontos brancos movem-se no mar, galinhas em pânico.
É feia. Mas é uma flor. Furou o asfalto, o tédio, o nojo e o ódio.

A nossa conversa é dedicada ao teatro neste 42o Encontro. Teatro acontece em tempo real.Teatro é aquele espaço onde se pode viver numa mesma situação e reagir juntos, descobrir quem são, o que pensam, como se sentem. É o lugar onde a gente cria a nossa mentalidade comum.

Teatro, a mágica! Ele diz aqui: Sob a pele das palavras, as cifras e códigos. Teatro é o lugar onde se decifram as cifras e códigos por trás das palavras. Teatro é ação. É uma coisa que acontece como a vida. é transformação. Que triste são as coisas sem ênfase. Teatro é onde você coloca ênfase e que permite enxergar o que é importante por trás do que aparece banal. Mas como fazer teatro sem poder aglomerar. O que significa um teatro em que eu rio e não sinto as gargalhadas à minha volta acomodando e aconchegando o meu riso, em que eu choro e me desespero e não sinto o tremor da plateia ao meu lado. Como fazer essa experiência viva a distância.

É isso é que vamos tentar responder hoje porque teatro é como essa flor. Ela nasce, ela atravessa a náusea o asfalto, enfrenta a polícia e nasce a cada vez para que a gente possa entender o que está acontecendo.

Pensata na voz de Eduardo e Tornaghi no tema Teatro Remoto e Resistência Artística.

Fogo no Museu

Rua 57 de Siron Franco

Nosso convidado do quadragésimo encontro dos Estados Gerais da Cultura, Siron Franco é uma definição da nossa missão: Com arte, ciência e paciência mudaremos o mundo. Com Arte, que é aquela capacidade de enxergar o além nas coisas, o outro lado, na beleza de transformar, criar algo que atraiam os olhares das pessoas e obriguem as suas cabeças a dor nó e duvidar das suas certezas e se espantar com o maravilhoso que está oculto nas coisas banais, muitas vezes.

Ciência, não como o termo que a sociedade ocidental se apropriou, ciência como compreensão do mundo. Isso está na obra de Siron o tempo todo. Ele está olhando para o mundo. Está conversando os fatos. Ele está mexendo com os problemas que existem e tomando ‘ciência’. Tomar ciência é conhecer e compreender, olhar para as coisas além de suas aparências. E paciência?

O cara está aí até hoje e este trabalho de transformação parece que não funciona nunca e a gente tem que pedalar, pedalar e pedalar.. Enfim, Siron Franco nosso exemplo para construção da cultura, para essa força transformadora que a militância cultural tem.

Siron Franco é um dos artistas mais importantes no cenário das artes plásticas do Brasil e também reconhecido internacionalmente. É pintor, escultor, ilustrador, desenhista, gravador e diretor de arte. Marcou em sua trajetória artística o testemunho de um tempo, sobretudo social e ambiental. Em 1974 foi considerado o melhor pintor nacional em sua participação na 12o. Bienal de São Paulo. No ano seguinte, com o prêmio viagem ao exterior, reside entre capitais européias e o Brasil.

Paulo Freire, o visionário da educação popular

Nosso encontro, o 41, relembra o Professor Paulo Freire, um visionário que entendeu a importância do conhecimento e da competência como alavanca fundamental da transformação da história e da tomada  em mãos pelos Homens e Mulheres do seu próprio destino.


As elites brasileiras também entenderam e deram o golpe de 1964 para evitar justamente que o povo construísse seu próprio caminho. Tinha 14 anos de idade quando a direção da escola reuniu os alunos e a professora de desenho saudou a ‘revolução” sem lagrimas nem sangue”, que havia deposto o governo constitucional, cassado, prendido, torturado, enviado para o exílio os que resIstiram ao golpe.


Cassado e perseguido o professor Freire foi exercer seu talento mundo afora. Reconstruímos a democracia e hoje, nós dos Estados Gerais da Cultura nos encontramos para celebrar seu centenário com a certeza  de que com “Arte, Ciência e  mudaremos o mundo”.


O dia 29 de maio, um dia antes deste encontro, foi um dia especial em nossas vidas. Milhares de brasileiros se expuseram ao terrível vírus que nos assola para dar um basta ao governo de vermes que tomou de assalto a república. 


Épico o dia 29 de maio. Ver nossos companheiros e companheiras velhinhos, lenços nos rostos, como nos antigos seriados que assistíamos nas matinês da nossa adolescência . Desta a vez afrontando a “república dos vermes milicianos’, com garra e tenacidade.  Aplaudi os mais jovens em seu levante contra a tirania.
Rendo minhas homenagens e solidariedade a vereadora de Recife Liana Cirne agredida com spray de pimenta pela PM.


Os crimes contra o povo, a violência policial não pode continuar impune. Marielle, Jacarezinho, a farsa da facada de juiz de fora devem ser apuradas com rigor.
Termino rendendo homenagens ao cineasta MAURICE Capovilla, falecido ontem.
Repito: Com Arte, Ciência e Paciência, mudaremos o mundo.

Texto de Sílvio Tendler lido por Eduardo Tornaghi no quadragésimo primeiro encontro dos Estados Gerais da Cultura.

Tambores

Ilustração de Angelino Neto

Poema de Salgado Maranhão dedicado a   Elton Medeiros

Sou da terra

dos tambores que falam.

E guardo no corpo a memória

que acorda o silêncio.

Eu vi a lua descer

para assistir minha mãe

dançar.

a camponesa que amava

latim.

eu vi a mão preta açoitar

o tambor; eu ouvi

roncar a madeira sagrada:

o rito da voz ancestral

antes do cogito e da parabólica.

Poema declamado por Eduardo Tornaghi

A cultura brasileira nasce de uma fricção entre um poder colonial que se orgulhava de as terras viciosas ir devastando com dizia Camões. Um povo que foi se formando com índios negros. e pobres. Mas somos um povo limpo, mas com toda a pressão do individualismo, da grana, do lucro, do desprezo pela vida humana, esses negros e índios conseguiram criar uma mentalidade de um povo que se abraça, que não é o europeu. Um povo que gosta de ficar amigo do estranho, que batuca e sacode, que solta o corpo, um povo que festeja a alegria antes do lucro.

Nós somos um povo lindo e devemos isso uma sabedoria ancestral que veio com algum negro que depois de 16 horas direito antes de entrar na senzala parou os companheiros e disse, não peraí gente, vamos sacudir o corpo aqui, batucar um pouquinho porque se a gente for deitar assim a vida vai ficar um inferno. Podem nos levar tudo, podem roubar tudo, não vão amargar a nossa alma. Não podem levar nossa alegria, nossa esperança. É dessa tradição, dessa sabedoria que estamos falando. Nós brasileiros precisamos olhar e aprender essa sabedoria que não é a europeia.

Cancelar o censo é confissão do fracasso

Presidente sem noção e ministro sem senso do ridículo desmantelam o país e, pela segunda vez, impedem Censo que revelará seus malfeitos.

“De tão gorda, a porca já não anda.”
Chico Buarque/Gilberto Gi

O Brasil está sendo sucateado a olhos vistos SUS, Artes, Cultura, Ciência, Educação, Empresas Estatais. Tudo construido com o esforço do Povo Brasileiro está sob ataque dos vampiros que querem tomar até a última gota do sangue dos que trabalham.

Enquanto o Povo passa fome, perde emprego e casa, engorda os bolsos dos pouquíssimos bilionários, cada vez mais ricos.

O cancelamento do Censo representa a confissão do fracasso do quase ex-super ministro que ainda corre o risco de ser processado por desmoralizar a – já superada pela realidade dos fatos – Escola de Chicago.

O que diria Milton Friedman da ação atabalhoada, mal intencionada e incompetente ido seu discípulo Guedes, que, no cinema, só poderia ser representado pelo talento de Jerry Lewis?

Estamos vivendo num país à deriva, sem vacinas, com um governo sem senso nenhum e, agora, o País, uma vez mais, sem Censo.

Hoje dizer “fora, genocida” deixou de ser retórica política para transformar-se em gênero de primeira necessidade.

Silvio Tendler